sábado, 26 de julho de 2014

XVII Domingo do Tempo Comum


«Entendestes tudo isto? »

O Evangelho deste Domingo propõe-nos as 3 últimas parábolas do Reino – do tesouro, da pérola e da rede – que, juntamente com as 4 precedentes (do semeador, da cizânia, do grão de mostarda e do fermento) constituem a riqueza do Evangelho de S. Mateus. Ao todo são 7 parábolas que Jesus dirige em parte, sentado no barco, à multidão presente no Lago de Tiberíades, e outra parte aos seus discípulos.
Ir. Anabela Silva, fma.

Esta passagem evangélica apresenta-nos parte da pregação de Jesus. O Mestre quer explicar-nos através da comparação/semelhança o que é o Reino dos Céus, quais as atitudes a adoptar. Mas, como já ouvimos tantas vezes, Jesus quer sobretudo dizer que o Seu reino, aquele a que Ele deu início com a Sua vinda à terra, com as suas palavras, com os seus gestos, com a sua Páscoa, já está presente na história humana.

A liturgia convida-nos a pararmos para uma breve reflexão/meditação na parte final do discurso das parábolas. Na escuta atenta da Sua palavra e rezando-a podemos descobrir que o Seu reino é o que de mais precioso podemos desejar. Ele já começou e manifesta-se continuamente, mas ainda há um caminho a fazer e até que se concretize plenamente trará consigo algumas contradições. É preciso agir com uma opção clara e radical nos confrontos com o reino dos Céus. Se de facto tem a importância de um tesouro ou de uma pérola de grande valor é preciso segurá-lo, renunciando a muitas outras coisas, para sermos entre aqueles que beneficiarão plenamente da Eternidade.

Evangelho (Mt 13, 44-52) - Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. O Reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. O Reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lança-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isto? » Eles responderam-Lhe: «Entendemos. » Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas. »

«Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo. O homem que o encontrou tornou a escondê-lo e ficou tão contente que foi vender tudo quanto possuía e comprou aquele campo. »

Jesus conta uma breve parábola para explicar o que é o reino dos Céus. E compara-o a um grande tesouro, escondido, de difícil acesso e que é preciso procurar. Uma vez encontrado, e dado o seu valor, com toda a prontidão se está disposto a vender tudo para assegurar o tesouro. A parábola diz-nos que não se deseja apenas possuir o tesouro mas o campo onde ele estava escondido. Esta atitude que, aos olhos da lógica parece despropositada, é motivada pela alegria que esta descoberta desencadeou no coração de quem o encontrou.
O homem que encontrou o tesouro representa cada um de nós. Quem é que não sonha encontrar um grande tesouro que lhe assegure o futuro? Quantas vezes não nos encontramos a brincar ou a jogar à “caça ao tesouro”? Mas o tesouro de que nos fala a passagem bíblica é muito mais que isso: o tesouro é o próprio Jesus. Ele é a riqueza da vida cristã, é Ele que nos faz viver, mover e existir. Um tesouro que nos é dado como dom. Um tesouro incomparável para descobrir, guardar, viver e, como fez o homem da parábola, apostar tudo. Deixar tantas coisas supérfluas, sem hesitações, dúvidas… e apostar tudo para receber Tudo, Cristo. E nós, cristãos que fazemos com este dom?
Todos andamos à procura do mesmo: Encontrar a felicidade. Cristo pode ser o tesouro pelo qual tantos andamos à procura. E está à mão de semear.
Quem o encontra manifesta o encontro pela atitude de alegria. A alegria de se ter encontrado o tesouro mais valioso. E tudo se pode sintetizar a isto: ao encontrar Jesus, encontra-se a alegria e a certeza de que ao dar tudo se recebe muito mais. 

«O Reino dos Céus é semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, foi vender tudo quanto possuía e comprou essa pérola. »

Ainda uma simples parábola para nos dizer que o reino dos Céus é semelhante a uma pérola preciosa que um negociante procura, encontra e adquire-a pagando por ela um preço no valor de tudo quanto tem. Para a ter deve deixá-la por uns instantes e providenciar o dinheiro suficiente para a compra. Como o homem da primeira parábola, o negociante tenta rapidamente assegurar-se do precioso bem e não olha a despesas.
Se compararmos os dois homens podemos dizer que ambos se deixaram atrair pelo bem encontrado - o tesouro e a pérola. Um, fruto da sorte, outro, fruto do empenho. Ambos, perante realidades tão magníficas, tomam uma decisão definitiva e nessa decisão há um querer, há uma vontade.
O comportamento do negociante é imagem de quem procura, apaixonadamente, aquilo que dá sentido à sua vida. Quando realmente se encontra o que desde sempre o coração procura e deseja, vale a pena arriscar tudo. Por detrás existe uma vontade – eu quero. E tudo se faz para se viver com o bem que se encontra. O querer tanto algo e, sobretudo se é a razão da nossa alegria e do nosso viver, vende-se tudo. E o verdadeiro discípulo raramente fala do que deixou mas muito mais dá testemunho do que encontrou.

Beato Tito Brandsma, OCarm
Presbítero e Mártir
«O Reino dos Céus é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, apanha toda a espécie de peixes. Logo que se enche, puxam-na para a praia e, sentando-se, escolhem os bons para os cestos e o que não presta deitam-no fora. »

Continuamos com mais uma parábola: o reino dos Céus é semelhante a uma rede que é utilizada segundo as suas funções – recolher do mar toda a espécie de peixe. Depois da pesca, sentados e libertos do cansaço da procura e da espera nas águas, os pescadores rapidamente procedem à separação, subdividindo segundo o tipo, a grandeza, o valor de cada peixe, e atenção em distinguir o que é bom e o que é menos bom.
Depois do paralelismo entre tesouro e pérola, uma parábola sobre a pesca. Em cena temos os pescadores como protagonistas que fizeram uma apanha abundante. Eles não regressaram enquanto as redes não estavam cheias. Se quisermos falar em termos de cristianismo diríamos que este é o tempo da Igreja. O tempo em que todos nós vivemos, o tempo da rede. Tempo do anúncio da mensagem de Cristo; um anúncio direcionado a todos – um anúncio ad agentes – uma bela notícia que irrompe pela vida e que leva a aderir segundo o empenho de cada um. Nas comunidades cristãs há uma variedade de peixes e existem peixes bons e peixes menos bons. No nosso coração, nas nossas intenções também se vive a bondade, as luzes e a maldade, as trevas. Uma dicotomia constante. E que por vezes não deixa vir ao de cima a realidade do Reino. Este é o tempo da misericórdia e da paciência de Deus. E o momento da separação chegará, até lá purifiquemo-nos de tudo o que em nós impede de fazer crescer o Reino dos Céus.

«Assim será no fim do mundo: os Anjos sairão a separar os maus do meio dos justos e a lança-los na fornalha ardente. Aí haverá choro e ranger de dentes. »

No fim dos tempos os anjos serão os encarregados/ responsáveis por separar aqueles que viveram de um modo bom daqueles que viveram de um modo mau. Os tempos no futuro indicam que o momento ainda está para acontecer. Será o tempo dos anjos e de Deus, a dimensão eterna, e não a do homem, dimensão terrena. É o tempo em que o destino dos maus será traçado: serão lançados na “fornalha ardente”, lugar de choro e de sofrimento.
Mais uma vez encontramos o paralelismo com o final da parábola da cizânia e da rede. Depois do tempo da Igreja chegará o tempo do juízo final onde a inevitável mistura de bondade e maldade, de autenticidade e hipocrisia, de bem e de mal na vida do homem levará a caminhos diversos. Aqui fala-se apenas do destino dos maus, mas se recordarmos a parábola da cizânia lembraremos que o destino dos justos é a alegria plena. A opção pelo tesouro, pela pérola dá fruto. O risco de se desperdiçar a vida apostando em “tesouros” errados não está longe. No fim não importa muito se fomos bons ou maus mas seremos julgados pelo bem que realizamos, pelos dons que recebemos e o que fizemos para que dessem fruto. No mundo de hoje temos de marcar pela diferença: ou apostamos no verdadeiro sentido da vida ou nunca sairemos dos tormentos da mesma.

«Entendestes tudo isto? » Eles responderam-Lhe: «Entendemos. »

Interessante que Jesus conclui o discurso com uma interrogação, dirigida não à multidão em geral mas aos discípulos em particular. É uma questão aparentemente simples. Interroga-os para que se tornem conscientes da importância de compreender quanto ouviram dos seus lábios. Todos os discípulos, em uníssono, responderam afirmativamente. Esses compreenderam as coisas que vêm reveladas aos pequeninos, aos simples e não a todos. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça.
«Entendemos »… sim, quase poderíamos dizer. É a resposta a um renovado chamamento; é palavra agradável a Jesus o nosso “sim”. Os discípulos manifestaram que acolheram e entenderam bem a longa mensagem de Jesus, e intuíram o mistério do reino dos Céus. Chegou o tempo de passar à prática: trata-se de vivê-lo no quotidiano junto com Jesus, enquanto Ele permanece e vivê-lo depois, quando terão de dar razões do seu tesouro, da sua pérola que os conduziu a viver na rede da comunidade cristã. Sim, eles compreenderam que a verdadeira riqueza do seu viver é o reino. Não é muito diferente para nós. A mensagem continua a ser clara e transparente, o anúncio explícito. Talvez nos falte a audácia e a coragem se assumir uma vida que ao contrário do que possa parecer não nos pede renúncias mas que toquemos e acolhamos a verdadeira VIDA, a vida de Deus na nossa existência. 

«Disse-lhes então Jesus: «Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas. »

A finalizar uma breve semelhança a conclusão de uma perícope evangélica: todo o escriba formado na escola rabínica do Antigo Testamento e na tradição hebraica e que tenha escutado o ensinamento em parábolas de Jesus e se tornou discípulo do reino é semelhante a um pai de família que, no seu tesouro, sabe distinguir o que é antigo do que é novo.
É para isto, para a compreensão da mensagem de Jesus, que os discípulos são sujeitos a uma radical transformação da sua vida: tendo sido destinatários privilegiados da boa notícia do Evangelho, de hebreus observantes tornam-se cristãos convictos de serem depositários de uma nova e radical verdade. São eles os novos mestres da Lei que supera e cumpre a lei antiga. Saberão distinguir as coisas antigas e daquelas novas, património do seu tesouro existencial.
Graças à experiência com Jesus, à luz do Seu evangelho os discípulos de ontem e de hoje saberão, em cada tempo e lugar, ensinar a novidade da mensagem cristã: Deus é Amor, está no meio de nós, no nosso campo e nos chama a colaborar para fazer crescer o seu Reino.

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