sábado, 30 de novembro de 2013

UMA IMAGEM PARA VIVENCIAR O ADVENTO,

Frei Jose Cláudio de Alencar Batista, O. Carm.adsense


Falou Elias a seu servo: sobe a montanha, olha pra o mar!
E a terra deu o mais novo fruto: nasce duma virgem quem vem salvar!  

A Igreja abre as portas do novo ano litúrgico celebrando o advento, tempo de espera ativa e vigilante d’Aquele “que era, que é e que há de vir” (cf. Ap 1,8).  Enquanto Carmelitas, depois da celebração do Capítulo Geral, em Roma, e com o advento do nosso Capítulo Provincial, que realizar-se-á em janeiro próximo, somos convidados a viver este tempo de espera, renovando a nossa vocação, diante de uma Igreja que, nas vicissitudes do tempo presente, animada pelo sopro do Espírito, busca ser fiel ao seu Mestre e Senhor; e diante de um mundo que continua sedento e faminto de felicidade, de renovação, de Deus…

No contexto do advento, uma figura bíblica e carmelitana me vem à memória como fonte de motivação para vivenciarmos este tempo oportuno para nossa salvação: o “servo de Elias”.  Numa situação de seca e fome, que assolava o povo de Deus, na época do reinado de Acab, este homem é um sinal de esperança.

Leiamos o texto (1Rs 18,43-45)[1]: 43. Depois disse ao seu servo: “Suba e olhe para o lado do mar”. O servo subiu, olhou e disse: “Não se vê nada”. Elias disse: “Volte até sete vezes”. 44. Na sétima vez, o servo disse: “Uma nuvenzinha, do tamanho da mão de uma pessoa, vem subindo do mar”. Então Elias mandou: “Vá dizer a Acab que atrele os cavalos no carro e desça, para que a chuva não o detenha”. 45. Num instante o céu ficou escuro, com nuvens trazidas pelo vento, e caiu uma chuva pesada. Acab subiu no seu carro e foi para Jezrael. 

Quem é este homem? O texto bíblico não nos apresenta o seu nome. A única informação que temos é que ele é servo (v. 43), servo de Elias. Talvez pudesse ser um dos seus discípulos, iniciado na escola dos profetas (cf. 1Rs 20,35; 2Rs 2,3-5). Não importa sabermos quem ele era. Certamente, a preocupação do autor não era tanto reconhecer a pessoa quanto a missão por ele desempenhada. De fato, aqueles que mais o bem fazem à humanidade vivem no anonimato; porém, seus nomes estão inscritos no livro da vida (cf. Fl 4,3). É-nos suficiente o qualificativo de “servo”: não qualquer servo, mas um servo que fez o que devia ser feito (cf. Lc 17,10).

O servo de Elias porta algumas características esperadas de um servidor. Aqui cito quatro: a prontidão, a obediência, a vigilância, a perseverança.

Ele tem o traço da prontidão: está desperto, atento ao seu senhor, ao que ele dizia e fazia; de modo que soube escutar atentamente a ordem do profeta (“Suba e olhe para o lado do mar ” (v.43); “Volte até sete vezes” (v.43), “Vá dizer a Acab… ”(v. 44)).

A prontidão à escuta é seguida da obediência, expressa pela disponibilidade e adesão ao mandado, ao profeta, a Deus: ele responde prontamente (“o servo subiu, olhou…” (v.43)).  À prontidão e obediência soma-se a vigilância: graças a ela, o servo soube observar atentamente o mar e perceber algum sinal do advento da chuva que fora predita (cf. v.44). Contudo, de nada adiantaria estas atitudes se ele não carregasse consigo a perseverança: ele só pôde conservar e praticar a prontidão, a obediência e a vigilância por “sete vezes”, porque conservou-se firme e constante no seu propósito, no seu obséquio.

Tomando a imagem deste servo (e que servo!), somos chamados a nos reconhecer nele. Eu, você, nós, somos esse servo. Somos carmelitas, leigos ou religiosos; e como tais, chamados por Cristo, o Servo dos Servos, a tornarmos servos seus. Como nossa Regra nos diz: somos vocacionados a “viver em obséquio de Jesus Cristo” [2]. É a ele que servimos, contemplando-o no próximo, no necessitado, nas inúmeras realidades de “sede e fome” (de justiça, dignidade, de espiritualidade, de vida…). A visibilidade de tantos contextos vitais no mundo em que vivemos, e os apelos que deles emergem, nos direcionam a realizar dois movimentos:  primeiro, o de  “subir a montanha e olhar para o mar”,  para contemplar e avistar os sinais de esperança;  e segundo, o de descer da montanha, para anunciar, em obras e palavras, a chuva, que é Jesus, a Boa-nova que vem irrigar a terra inteira, restaurando todas as coisas n’Ele (cf. Ef 1,9). Deste modo, podemos entender que a nossa vocação é “sermos servos da esperança”. Jesus é a Esperança!

Isso só será possível se, de fato, reafirmarmos nossa identidade de “servos carmelitas”, assumindo consciente, afetiva e efetivamente, a nossa missão de servir a Deus e ao próximo de acordo com o carisma com o qual Ele nos presenteou: sermos homens e mulheres de Deus no meio do povo. Lembremos que todo carisma é dom, dádiva, não para si, mas para os outros, para Deus.  Se não nos dispusermos a ser servos, negaremos a Cristo, que mesmo sendo Senhor fez-se servo. Que o Senhor nos livre de querermos inverter os papéis, tornando-nos senhores e querendo que os outros nos sirvam, pois, como diz Jesus: “entre vocês não deve ser assim; quem quiser ser o primeiro seja aquele que serve” (Mc 10,42). Cabe bem aqui aquele cântico das ofertas que diz: “Quem vive para si, empobrece o seu viver. Quem doar a própria vida, vida nova há de colher”.

Necessitamos, urgentemente, resgatar o sentido de nossa vocação/missão, entendida enquanto serviço, que nasce, cresce, mantêm-se, e renova-se no serviço de Cristo. Precisamos recuperar a mística do servo. Só a partir daí poderemos, em Cristo, cultivar as quatro características presentes no servo de Elias: a prontidão, a obediência, a vigilância, a perseverança. Não olvidemos que o Senhor pedirá contas de nossa administração. Oxalá que cada um de nós escute dele estas palavras: “Como foi fiel na administração de tão pouco, eu lhe confiarei muito mais. Venha participar da minha alegria” (Mt 25,21.23).

Aproveitemos o advento para repensar nossa caminha pessoal e comunitária, buscando a renovação de nossos pensamentos, sentimentos e atitudes. Olhemos para o futuro e aguardemos pressurosos Aquele que vem nascer em nossa vida. Busquemos cultivar estas quatro atitudes do servo de Elias: estando prontos para ouvir os apelos de Deus; disponíveis a obedecê-lo; vigilantes aos sinais de sua presença e perseverantes em nossas escolhas e convicções, portanto, no seu obséquio.

Para refletir:
1) O que o texto me diz? Quais os questionamentos e apelos suscitados?
2) Em que “o servo de Elias” ajuda-me, enquanto carmelita, cristão, a viver a minha vocação?
3) Percebo estas quatro características: prontidão, obediência, vigilância e perseverança em minha vida? Como reforçá-las ou desenvolvê-las ?
4) Como viver, pessoal ou comunitariamente, o advento a partir destas quatro palavrinhas? Criando uma sigla para memorizar estas palavras, podemos utilizar cada uma das iniciais: prontidão, obediência, vigilância e perseverança.

[1] Na tradição carmelitana, este texto é interpretado à luz do Novo Testamento:  Elias (ou o servo) avistam ao longe “uma nuvenzinha, do tamanho da mão de uma pessoa, (que) vem subindo do mar”.  A nuvenzinha é Maria, e a chuva é o próprio Jesus que vem irrigar a terra, trazendo a vida. É o que cantamos no Ofício de N.Sra. do Carmo: “Foi lá no Carmelo que a Virgem Surgiu. Do mar, numa nuvem, Elias a viu. Em chuva de graças a Mãe se mostrou, e todo o Carmelo feliz exultou.” É um texto que evoca todo o sentido do advento e que está em  paralelo, por exemplo, com o salmo 85 (84), de onde vem este tão belo canto: “Das alturas orvalhem os céus, e as nuvens, que chovam justiça. Que a terra se abra ao amor e germine o Deus Salvador”. 
[2] Obsequiar significa servir. Podemos traduzir essa expressão da regra como “viver no seguimento e no serviço de Jesus Cristo”. 

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