terça-feira, 16 de outubro de 2012

Quarta-feira da 28ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Lc 11,42-46): Naquele tempo, o Senhor disse: «Ai de vós, fariseus, porque pagais o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixais de lado a justiça e o amor de Deus. Isto é que deveríeis praticar, sem negligenciar aquilo. Ai de vós, fariseus, porque gostais do primeiro assento nas sinagogas e de serdes cumprimentados nas praças. Ai de vós, porque sois como túmulos que não se vêem, sobre os quais as pessoas andam sem saber». Um doutor da Lei tomou a palavra e disse: «Mestre, falando assim, insultas também a nós!». Jesus respondeu: «Ai de vós igualmente, doutores da Lei, porque carregais as pessoas com fardos insuportáveis, e vós mesmos, nem com um só dedo, não tocais nesses fardos!».
 
Comentário: Rev. D. Joaquim FONT i Gassol (Igualada, Barcelona, Espanha)

 Isto é que deveríeis praticar, sem negligenciar aquilo
 
 

Hoje o Divino Mestre dá-nos algumas lições: entre elas, fala-nos dos dízimos e também da coerência que devem ter os educadores (pais, mestres e todo cristão apóstolo). No Evangelho segundo São Lucas da Missa de hoje, o ensino aparece de maneira mais sintética, mas nas passagens paralelas de Mateus (23,1ss.) é bastante extenso e concreto. Todo o pensamento do Senhor conclui em que a alma de nossa atividade deve de ser a justiça, a caridade, a misericórdia e a fidelidade (cf. Lc 11,42).
   Os dízimos no Antigo Testamento e nossa atual colaboração com a Igreja, segundo as leis e os costumes, vão na mesma linha. Mas dando o valor da lei obrigatória às pequenas coisas—como o faziam os Mestres da Lei— é exagerado e fadigoso: «Ai de vós igualmente, doutores da Lei, porque carregais as pessoas com fardos insuportáveis, e vós mesmos, nem com um só dedo, não tocais nesses fardos!» (Lc 11,46).
  É verdade que as pessoas que afinam tem delicadezas de generosidade. Tivemos vivências recentes de pessoas que da colheita trazem para a Igreja —para o culto e para os pobres— 10% (o dízimo); outros que reservam a primeira flor (as primícias), o melhor fruto do seu horto; ou também oferecem a mesma quantia que gastaram na viagem de lazer ou de férias; outros trazem o produto preferido do seu trabalho, tudo isso com o mesmo fim. Adivinha-se ai assimilado, o espírito do Santo Evangelho. O amor é engenhoso; das coisas pequenas obtém alegrias e méritos perante Deus.
   O bom pastor passa na frente do rebanho. Os bons pais são modelo: o exemplo arrasta. Os bons educadores esforçam-se em viver as virtudes que ensinam. Isso é a coerência. Não só com um dedo, senão com a mão toda: Vida de Sacrário, devoção à Virgem, pequenos serviços no lar, difundir bom humor cristão... «As almas grandes dão-se conta das pequenas coisas» (São Josemaria).
 
 Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
Reflexão
   *No Evangelho de hoje continua o relacionamento conflituoso entre Jesus e as autoridades religiosas da época. Hoje, na igreja acontece o mesmo conflito. Numa determinada diocese, o bispo convocou os pobres a participar ativamente. Eles atenderam ao pedido e em grande número começaram a participar. Surgiu um grave conflito. Os ricos diziam que foram excluídos e alguns sacerdotes começaram a dizer: “O bispo só faz política e esquece o evangelho!”
  
* Lucas 11,42: Ai de vocês, que deixam de lado a justiça e o amor
  “Ai de vocês, fariseus, porque vocês pagam o dízimo da hortelã, da arruda e de todas as outras ervas, mas deixam de lado a justiça e o amor de Deus. Vocês deveriam praticar isso, sem deixar de lado aquilo”.  Esta crítica de Jesus contra os líderes religiosos daquela época pode ser repetido contra muitos líderes religiosos dos séculos seguintes, até hoje. Muitas vezes, em nome de Deus, insistimos em detalhes e esquecemos a justiça e o amor. Por exemplo, o jansenismo tornou árida a vivência da fé, insistindo em observâncias e penitências que desviaram o povo do caminho do amor. A irmã carmelita Santa Teresa de Lisieux foi criada nesse ambiente jansenista que marcava a França no fim do século XIX. Foi a partir de uma dolorosa experiência pessoal, que ela soube recuperar a gratuidade do amor de Deus como a força que deve animar por dentro a observância das normas. Pois, sem a experiência do amor, as observâncias fazem de Deus um ídolo.
    A observação final de Jesus dizia: “Vocês deveriam praticar isso, sem deixar de lado aquilo”. Esta advertência  faz lembrar uma outra observação de Jesus que serve de comentário: "Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento. Eu garanto a vocês: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem sequer uma letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo aconteça. Portanto, quem desobedecer a um só desses mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazer o mesmo, será considerado o menor no Reino do Céu. Por outro lado, quem os praticar e ensinar, será considerado grande no Reino do Céu. Com efeito, eu lhes garanto: se a justiça de vocês não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, vocês não entrarão no Reino do Céu" (Mt 5,17-20) 
 
* Lucas 11,43: Ai de vocês, que gostam dos lugares de honra
   “Ai de vocês, fariseus, porque gostam do lugar de honra nas sinagogas, e de serem cumprimentados em praças públicas”.  Jesus chama a atenção dos discípulos para o comportamento hipócrita de alguns fariseus. Estes tinham gosto em circular pelas praças com longas túnicas, receber as saudações do povo, ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes (cf. Mt 6,5; 23,5-7). Marcos acrescenta que eles gostavam de entrar nas casas das viúvas e fazer longas preces em troca de dinheiro! Pessoas assim vão receber um julgamento mais severo (Mc 12,38-40). Hoje acontece o mesmo na nossa igreja.
 
* Lucas 11,44: Ai de vocês, túmulos escondidos
   “Ai de vocês, porque são como túmulos que não se vêem, e os homens pisam sobre eles sem saber". Lucas modificou a comparação. Em Mateus se diz: “Vocês são como sepulcros caiados: por fora parecem bonitos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e podridão! Assim também vocês: por fora, parecem justos diante dos outros, mas por dentro estão cheios de hipocrisia e injustiça” (Mt 23,27-28).  A imagem de “sepulcros caiados” fala por si e não precisa de comentário. Por meio dela, Jesus condena os que mantêm uma aparência fictícia de pessoa correta, mas cujo interior é a negação total daquilo que querem fazer aparecer para fora. Lucas fala em sepulcros escondidos: “Ai de vocês, porque são como túmulos que não se vêem, e os homens pisam sobre eles sem saber". Quem pisa ou toca num sepulcro torna-se impuro, mesmo quando o sepulcro existe escondido debaixo do chão. A imagem é muito forte: por fora, o fariseu de sempre parece justo e bom, mas esse aspecto é um engano, pois dentro dele existe um sepulcro escondido que, sem o povo se dar conta, espalha um veneno que mata, comunica uma mentalidade que afasta de Deus, sugere uma compreensão errada da Boa Nova do Reino. Uma ideologia que faz do Deus vivo um ídolo morto!
 
* Lucas 11,45-46: Crítica do doutor da lei e a resposta de Jesus
   “Um especialista em leis tomou a palavra, e disse: "Mestre, falando assim insultas também a nós!"  Na resposta Jesus não voltou atrás mas deixou bem claro que a mesma crítica valia também para os escribas: "Ai de vocês também, especialistas em leis! Porque vocês impõem sobre os homens cargas insuportáveis, e vocês mesmos não tocam essas cargas nem com um só dedo”. No Sermão da Montanha, Jesus expressou a mesma crítica que serve de comentário: “Os doutores da Lei e os fariseus têm autoridade para interpretar a Lei de Moisés. Por isso, vocês devem fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo” (Mt 23,2-4). 

  Para um confronto pessoal
1) A hipocrisia mantém uma aparência enganadora. Até onde atua em mim a hipocrisia? Até onde a hipocrisia atua na nossa igreja?
2) Jesus criticava os escribas que insistiam na observância disciplinar das coisas miúdas da lei como dízimo da hortelã, da arruda e de todas as ervas, e esqueciam de insistir no objetivo da lei que é a prática da justiça e do amor. Vale para mim esta crítica?

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