quarta-feira, 17 de outubro de 2012

18 de outubro: São Lucas, evangelista



Evangelho (Lc 10,1-9): O Senhor escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois, à sua frente, a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir. E dizia-lhes: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois, ao Senhor da colheita que mande trabalhadores para sua colheita. Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não vos demoreis para saudar ninguém pelo caminho! Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa! ’ Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; senão, ela retornará a vós. Permanecei naquela mesma casa; comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador tem direito a seu salário. Não passeis de casa em casa. Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, curai os doentes que nela houver e dizei: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’».

Comentário: Fray Lluc TORCAL Monje del Monastério de Sta. Mª de Poblet (Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)

O Reino de Deus está próximo de vós

   Hoje, na festa de São Lucas —o Evangelista da mansidão de Cristo — a Igreja proclama este Evangelho que nos apresenta as características centrais do apóstolo de Cristo.

   O apóstolo é, no primeiro lugar, aquele que foi chamado pelo Senhor, designado por Ele mesmo, com o propósito de ser enviado no seu nome: É Jesus quem chama a quem quer para lhe confiar uma missão concreta! «O Senhor escolheu outros setenta e dois e enviou-os, dois a dois, à sua frente, a toda cidade e lugar para onde ele mesmo devia ir» (Lc 10,1).

   O apóstolo pode ter sido chamado pelo Senhor, mas também depende totalmente Dele. «Não leveis bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não vos demoreis em saudar ninguém pelo caminho!» (Lc 10,4). Esta proibição de Jesus aos discípulos indica, acima de tudo, que eles deixarão em suas mãos aquilo que é mais essencial para viver:

   O Senhor, que veste os lírios dos campos e dá alimento aos pássaros, quer que seu discípulo busque, em primeiro lugar, o Reino dos céus e não, que, «não fiqueis ansiosos com o que comer ou beber. Não vos inquieteis! Os pagãos deste mundo é que vivem procurando todas essas coisas, mas o vosso Pai sabe que delas precisais» (Lc 12,29-30).

   O apóstolo é, também, quem prepara o caminho do Senhor, anunciando sua paz, curando os enfermos e manifestando, assim, a vinda do Reino. A tarefa do apóstolo é, então, fundamental em e para a vida da Igreja, porque dela depende a futura acolhida ao Mestre entre os homens.

   O melhor testemunho que nos pode oferecer a festa de um Evangelista, daquele que narrou o anuncio da Boa Nova, é fazer-nos mais conscientes da dimensão apostólico-evangelizadora de nossa vida cristã.

MEDITAÇÃO:

A minha e a tua missão-Lc-10,1-9

   Em Lucas 9,1-6 encontramos o envio dos doze apóstolos. Mas, estes, apesar de formarem o núcleo da jovem Igreja, não foram mandados como precursores de Jesus, já que não tinham ainda identificado como Messias aquele que os enviara como se pode ver em no versículo 20 do mesmo capítulo. Agora, Lucas narra que Jesus envia um novo grupo: o dos setenta e dois discípulos; estes, sim, são enviados “na frente” de Jesus. Sua missão específica é: Curem os doentes daquela cidade e digam ao povo dali: O Reino de Deus chegou até vocês. Portanto, são enviados como precursores, como preparadores da chegada do reino de Deus que eles anunciam na pessoa de Jesus.

   Lucas nos apresenta 72 discípulos enviados. Este número é simbólico e indica a universalidade da missão. Todo o povo de Deus está chamado a se lançar na missão de anunciar a Boa do Reino. Esta missão, não é uma tarefa somente do papa, de bispos, sacerdotes e diáconos. Mas sim, uma obra de todos os batizados. Portanto, a missão é universal desde a sua origem e compreende todos.

   As instruções para os dois grupos de missionários são praticamente as mesmas. O texto especifica que Jesus envia “dois a dois”, pois o anúncio do Evangelho não é uma tarefa pessoal, mas de uma comunidade. O fato de serem enviados pelos menos dois também quer mostrar a credibilidade do testemunho, além do fato do encorajamento que um pode dar ao outro no caso de desânimo diante das dificuldades.

   Em seguida, Jesus, depois de ter falado em semente e em arado, fala agora de colheita. Esta é imensa, mas os trabalhadores disponíveis são poucos. E a situação é a mesma, ontem e hoje. É um trabalho gigantesco, e nunca haverá trabalhadores suficientes; só o Pai pode chamá-los e enviá-los, por isso, é necessário rezar a Ele, pedindo que chame mais pessoas. É justamente por causa da extensão da missão que Jesus chama mais este grupo de ajudantes, e, mesmo assim, são poucos diante da imensidão da missão que ele tem pela frente e da qual nos torna participantes.

   Jesus faz o envio: “Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos”. É a imagem clássica da fraqueza diante da violência. A missão é uma obra difícil e perigosa. Aqueles que ele enviou devem cumprir fielmente o seu trabalho, mas não devem exigir demasiado de si mesmos nem entrar em pânico diante da grandeza da missão. Devem, sim, ter consciência que não será uma tarefa fácil e que nem sempre serão recebidos de braços abertos. Devem fazer sua parte com competência e perseverança, pois, em último caso, a responsabilidade é de Deus, e Ele não vai deixar cair em ruínas a sua messe, mandando trabalhadores necessários para isto.

   A mensagem a ser levada é o dom da paz, no sentido mais completo, para as pessoas e às famílias, e, sobretudo, a mensagem de que é “o Reino de Deus está próximo de vós”. O reino de Deus é antes de tudo uma pessoa: Jesus. Quem o acolhe encontra a vida, a alegria, a missão de anunciá-lo. O gesto de bater, sacudir a poeira dos pés, era um gesto simbólico dos israelitas que, ao ingressar de novo no próprio país, depois de terem estado em terra pagã, não queriam ter nada em comum com o modo de vida dos pagãos. Libertar-se da poeira que se grudou aos pés enquanto estavam em território pagão significava ruptura total com aquele sistema de vida. Fazendo isso, os discípulos transferem toda responsabilidade pela rejeição da Palavra àqueles que os acolheram mal e rejeitaram o anúncio do evangelho. E a paz oferecida não se perde, mas volta a quem oferece.

   O estilo da missão de Jesus e dos discípulos é o oposto daquele dos poderosos que o mundo de hoje idolatra. Não se baseia sobre a vontade de dominar, a arrogância ou a ambição, mas sobre a proposta humilde. Os enviados não devem levar nada de material, mas devem contar com a providência divina e com a hospitalidade fortemente praticada naquela época; eles devem ser respeitosos, atentos aos mais fracos; devem curar os doentes; devem fazê-lo gratuitamente sem buscar outras recompensas. O Evangelho de Jesus é uma mensagem de vida verdadeira para quem confia somente em Deus. A fé e a missão começam no coração e devem terminar nos lábios e nas ações. Não podemos deixar que o receio atrapalhe a nossa missão cristã de anunciar o Reino de Deus que está presente entre nós.

Lucas 10,1-3: A Missão. Jesus envia os discípulos nos lugares onde ele queria ir. O discípulo é o porta-voz de Jesus. Não é o depositário da Boa Nova. Ele os envia dois a dois. Isto favorece a ajuda recíproca, porque a missão não é individual, mas comunitária. Duas pessoas representam melhor a comunidade.

Lucas 10,2-3: A corresponsabilidade. A primeira tarefa é rezar para que Deus mande trabalhadores. Todos os discípulos e as discípulas devem se sentir responsáveis pela missão. Por isso devem rezar o Pai pela continuidade da missão. Jesus envia os seus discípulos como cordeiros em meio aos lobos. A missão é uma tarefa difícil e perigosa, porque o sistema em que vivem os discípulos e em que vivemos era e continua sendo contrário à reorganização do povo em comunidades ativas.

Lucas 10,4-6: A hospitalidade. Contrariamente aos outros missionários, os discípulos e as discípulas de Jesus não deviam levar nada, nem bolsa, nem sandálias, mas deviam levar a paz. Isto significa que devem ter confiança na hospitalidade do povo. Porque o discípulo que vai sem nada, levando só a paz, demonstra ter confiança nas pessoas. Pensa que será acolhido, e as pessoas sentem-se respeitadas e confirmadas. Através desta prática o discípulo critica as leis da exclusão e resgata os antigos valores da convivência comunitária. Não saudar ninguém pelo caminho significa que não se deve perder tempo com as coisas que não fazem parte da missão.

Lucas 10,7: A partilha. Os discípulos não devem ir de casa em casa, mas permanecer na mesma casa. Isto é devem conviver de modo estável, participar da vida e do trabalho das pessoas e viver com aquilo que recebem em troca, porque o operário é digno de seu salário. Isto significa que devem ter confiança na partilha. Assim, através desta nova prática, resgata uma antiga tradição do povo, criticam a cultura de acúmulo que caracterizava a política do Império Romano e anunciam um novo modelo de convivência.

Lucas 10,8: A comunhão ao redor da mesa. Quando os fariseus iam em missão, iam prevenidos. Pensavam que não podiam confiar no alimento do povo que nem sempre era “puro”. Por isso carregavam sacola e dinheiro, para poderem ter o próprio alimento. Assim, em lugar de ajudar a superar as divisões, a observância da Lei da pureza enfraquecia ainda mais o tecido dos valores comunitários. Os discípulos de Jesus deviam comer o que as pessoas lhes ofereciam. Não podiam viver separados, comendo sua própria comida. Isto significa que deviam aceitar a partilha ao redor da mesa. Em contato com o povo, não podem ter medo de perder a pureza legal. Agindo assim, criticam as leis em vigor, e anunciam um novo caminho de pureza, isto é a intimidade com Deus.

Lucas 10,9a: A acolhida dos excluídos. Os discípulos devem se interessar pelos doentes, cuidar dos hansenianos e expulsar os demônios (Mt 10,8). Isto significa que devem acolher na comunidade aqueles que foram excluídos. Esta prática solidária critica a sociedade que exclui e aponta algumas soluções concretas. É o que hoje faz a pastoral dos excluídos, dos migrantes e dos marginalizados.

Lucas 10,9b: A vinda do Reino. Se estas exigências forem respeitadas, então os discípulos podem e devem gritar aos quatro cantos: O Reino chegou! Anunciar o Reino não é em primeiro lugar ensinar verdades e doutrinas, mas levar para um novo modo de viver e de conviver entre irmãos e irmãs, começando pela Boa Nova que Jesus nos proclamou: Deus é Pai e Mãe de todos nós.

Para uma avaliação pessoal
• O que é para mim ser cristão ou ser cristã? Em entrevista na tevê, um pessoa conceituada respondeu assim ao jornalista: “Sou católico, procuro viver o evangelho, mas não participo da comunidade da Igreja”. E o jornalista comentou: “Então o senhor se considera um jogador de futebol, mas sem time!” É o meu caso?

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