quinta-feira, 24 de maio de 2012


SANTA MARIA MAGDALENA DE PAZZI,
virgem de nossa Ordem
 FESTA
Tudo do  Comum das Virgens , exceto
Antífona do Cântico Evangélico de Laudes:
- O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi concedido. Aleluia.

Oração:
Ó Deus, que amais a virgindade e cumulastes de graças santa Maria Madalena de Pazzi, abraçada de amor por vós, fazei que, celebrando hoje sua festa, imitemos seus exemplos de caridade e pureza. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

Antífona do Cântico Evangélico das Vésperas:
- Conuzir-te-ei ao deserto e falar-te-ei ao coração.  Desposar-te-ei para sempre na misericórdia e no amor, e conhecerás o Senhor.  Aleluia.

P. Alberto Yubero Perdices, O.Carm.
I. DATOS HISTÓRICOS 
     Nasce em Florença aos dois de abril de 1566. É curioso notar que no dia seguinte, teria lugar o providencial encontro, em Medina del Campo, entre Teresa de Jesus e João da Cruz.
A monja Maria Pacífica Tovaglia, escrevendo sobre ela em 1598 dirá que a infância de Catarina repetete os relatos com os quais as biografias religiosas descrevem comumente esta idade da vida dos santos, tais como: a seriedade, a prudência, inclinação à solidão e ausência de atos o gestos pueris.
Magdalena teria em comum com sua mãe os gostos pela vida espiritual. Mas a mãe, mesmo vendo que sua filha era muito dada às abstinências e vigílias, não favorecia, em absoluto, a tendência que via nela para a vida religiosa.
Seu pai, em razão de seu cargo [foi nomeado de comissário em Cortona] teve que mudar-se de Florença, mas antes recomenda os cuidados da filha pequena ao mosteiro de São João dos Cavaleiros da Ordem de Malta. Ali se observava estritamente a obediência e a pobreza, e uma característica importante era a prática assídua da Eucaristia, por influência dos Jesuítas.
Embora Catarina fosse convidada a permanecer neste mosteiro, seu diretor espiritual [o jesuíta Pe. Blanca] lhe sugeriu que ingressasse em outro mosteiro mais observante, como era o convento carmelita de Santa Maria dos Anjos.
Estas eram as características deste mosteiro: leitura devota, exame de consciência, comunhão freqüente, ofício em coro e meditação em comum.
Assim, aos dezesseis anos, foi viver na hospederia do mosteiro, para conhecer mais de perto o estilo de vida das Carmelitas. O fato das monjas tinham o privilégio de comungar diariamente seria o que lhe moveria, de maneira especial, a ingressar no Carmelo, no início do Advento de 1582. Em 8 de dezembro desse mesmo ano, foi aceita pelas monjas na comunidade. Mais adiante exclamaria: “não há tempo mais favorável para inflamar-se no amor que o que se segue à comunhão”.
Na ocasião da tomada de hábito, 30 de janeiro de 1583, mudaria o nome para o de Maria Magdalena. O ano de noviciado havia de concluir-se, portanto, nos fins de janeiro de 1584. Como no mosteiro acostumavam fazer as profissões por grupos, ela pediu que lhe deixassem professar com o grupo que havia começado um pouco antes dela. Como ela não tinha ainda um ano de noviciado, não lhe permitiram. Porém não se veria obrigada a esperar o grupo seguinte já que, no início de março, caiu gravemente doente e a priora e o confessor decidiram que faria a profissão, uma vez que pensavam que não ia sair desta enfermidade.
A partir do dia da profissão começaram os êxtases de uma maneira mais ou menos continuada a tal ponto que a chamariam “a Santa dos Êxtases”. Em alguns destes êxtases, entre soluços e lágrimas exclamava: “Oh Amor! Não és conhecido nem amado! Quão ofendido estás!”. Nota-se, em seus escritos, a influencia de São Paulo, pois nos diz no livro “Quarenta dias”: “Não sabia se estava morta ou viva, se no corpo ou em alma, se na terra ou no céu. Só via a Deus, todo glorioso, amar a si mesmo, ser Trindade indivisa na Unidade...”
Os êxtases começariam cada dia, após receber a comunhão. Seu rosto se iluminava e só podia exclamar: “Oh meu Jesus! Dá-me uma voz potente que seja ouvida no mundo inteiro. O pérfido amor próprio nos impede conhecer-te, Senhor. Amor faz com que tuas criaturas não amem outra coisa além de  Ti!”.
Normalmente as visões duravam até o meio da tarde. Depois lhe voltava o mal-estar e a febre. Em um de seus delírios místicos manifestou o valor purificador do sofrimento: “Entendi que todas as almas que padecem neste mundo e deixam fluir o Sangue de Jesus sobre elas, ficam, ante sua Divina Majestade, puras e belas. Se uma alma pudesse compreender a grandeza do amor que Deus demonstra ao permitir o sofrimento, permaneceria em inefável doçura”. Daí seu lema: “PATI, NON MORI” -  padecer, não morrer.
Sofreria ao longo de sua vida, fortes tentações, quando ela estava no que chamava “a cova dos leões”. Todas estas graças, porém, lhe traziam pesares, torturas, lutas, assaltos do diabo, cansaço e fastio: “Deus não existe, os santos não se lembram de ti, és louca se buscas a Jesus na Eucaristia”. Porém ela conhecia o texto da carta aos Hebreus: “Jesus, Pontífice misericordioso, tendo sido tentado, pode ajudar os que são tentados” [Heb 2, 17-18].
Também lhe ajudaria o texto de seu “padre” Santo Agostinho: “Cristo sacerdote ora por nós e em nós”.
Longo foi o tempo da prova. Como lhe havia anunciado o Verbo se viu privada durante cinco anos “do sentimento e gosto da graça”.
Apesar de sua juventude, ela teve que ocupar cargos de responsabilidade com as noviças. Como mestra ensinava às “plantas noveles”, como costumava chamá-las, os caminhos para chegar à união com Deus, tendo em conta, o que lhe dizia o Senhor: “Muitas almas querem meu Amor, mas o querem conforme lhes agrada e, portanto, se tornam incapazes de consegui-lo”.
Vem a ser o mesmo que dizia São Bernardo: “Vês uma pessoa perturbada? A causa é que nesse momento não pode fazer o que lhe apetece a sua vontade”. Para não cair nisto Magdalena diz que “devemos endereçar nossas súplicas a pedir a Deus luz e força para fazer sua vontade”.
Assim transmite às suas noviças a mensagem sobre a humildade: “A humildade é alegrar-se no próprio desprezo”; “Humildade é a contínua persuasão de não ser nada e o contínuo alegrar-se em ser desprezado”. Costumava dizer que “no inferno pode haver apóstolos ou virgens, porém não poderá haver nunca almas humildes”.
Tinha também um claro conceito da obediência. Dizia: “prefiro obedecer a fazer oração, pois obedecendo estou segura de fazer a vontade de Deus. Mas não estou tão segura se me meto em outro exercício”. E chegava ao extremo de afirmar que “a perfeita obediência pede uma alma sem juízo”.  Pouco amor mostrariam a Deus as noviças se não fossem capazes de renunciar a si mesmas por amor, estimando muito mais as obras feitas por obediência e amor, ainda que fossem baixas e humildes em si mesmas, do que outras de grande perfeição.

II. SITUAÇÃO DA IGREJA

Para compreender o conteúdo das “Cartas da Renovação” e o espírito que as anima, é preciso situar-se no contexto eclesial do século XVI.
Quando nasce Magdalena em 1566, a reforma do Concílio de Trento apenas havia começado. Era o pontificado de Pio V que passou para a história tanto por sua santidade, como por seus dotes especiais de governo num momento crítico em todas as frentes.
A França está vivendo suas guerras de religião, com o triste massacre dos huguenotes na tristemente famosa “noite de São Bartolomeu”. Na Inglaterra os conflitos religiosos culminam com a solene excomunhão da Rainha Isabel, por Pio V, o último passo para a ruptura definitiva com Roma.
O Império Otomano ameaça cada vez mais a Europa cristã. Carlos V, na Paz de Augsburgo, se vê obrigado a fazer concessões aos protestantes para assegurar sua ajuda contra os muçulmanos que dominam os Bálcãs e o Mediterrâneo.
Tem lugar também neste tempo a famosa batalha de Lepanto com o triunfo sobre os turcos. E isto como se diz, sucedeu graças à intercessão da Virgem e aos méritos de um pontífice santo: um homem que parece querer esquecer as implicações políticas para deixar seu nome unido à reforma litúrgica e ao novo catecismo do Concílio de Trento: o Catecismo de São Pio V [1566].
Depois de Pio V, veio Gregório XIII, que seguiu a linha de seu predecessor, com a colaboração de São Carlos Borromeu.
Porém, o Papa sob quem Magdalena vive a plenitude de sua vida espiritual é Xisto V. Ela o vê durante um êxtase, poucos dias depois de ser eleito, e mostra ter confiança em seu zelo: “Levava na mão uma grande cruz. Andando, indicava com ela o caminho, pelo qual as pessoas para poderiam caminhar com segurança”.

III. A IGREJA FLORENTINA DO SÉCULO XVI

Vamos a dar uma olhadela na Igreja florentina, que Maria Magdalena encontrou ao vir ao mundo e na qual viveu, dentro dos muros de seu mosteiro.
No século XV havia-se concluído com a condenação à fogueira [23 de maio de 1498] de Jerônimo Savonarola, uma personagem marcada para sempre pelo difícil equilíbrio entre valores humanos e valores da fé. Porém, a força de seu espírito seguiu influenciando lugares e pessoas do século XVI florentino.
Entre estas é emblemática a venerável Domingas do Paradiso (1473-1553), uma mística muito próxima, à linguagem, de Magdalena. É uma espécie de monja laica, dividida entre impulsos místicos de vida eremítica e dotes concretos de líder que a levam a construir a seu redor um cenáculo, centro de vida espiritual e política, radicada na realidade em que vive. Funda também o mosteiro de “la Crocetta”, para onde Maria Magdalena se havia dirigido antes de escolher definitivamente o de Santa Maria dos Anjos.
Domingas é uma mulher inquieta que anda sempre “em busca de não fáceis equilíbrios entre ação e contemplação, renovação da Igreja e reforma interior, o amor do mundo e sua relativização, importância da razão e proeminência do amor”.
As ânsias de reforma correm o risco de levar a sentir saudades de Savonarola, e a aplaudir Lutero. Porém a vigilância contra a heterodoxia é férrea. Sabe-se que em janeiro de 1552 “foram encarceradas em Florença muitas pessoas acusadas de heresia luterana”. Fez-se um auto de fé contra vinte e duas pessoas, que foram obrigas a atravessar a cidade vestidas com capas pintadas com cruzes e figuras demoníacas.
Chegadas a Santa Maria dei Fiore, tiveram que benzer-se publicamente após o ato de contrição. Ao mesmo tempo, na praça se queimavam os escritos heréticos que pertenciam a elas.
São cenas que parecem servir de fundo às imagens e à linguajem de Maria Magdalena quando, durante os êxtases, falava dos hereges que tanto sofrimento causam à “esposa Igreja”.

IV. UMA VIDA RELIGIOSA EM DECADÊNCIA

Em Florença havia, em 1552, diversos mosteiros, 15 masculinos e 45 femininos com 2.786 monjas, para uma população de 60.000 habitantes.
Impunha-se uma reforma porque “hábitos de vida fácil haviam apagado a vitalidade do carisma original”.
A situação é grave quando se trata de mosteiros femininos que não estão unidos a nenhuma congregação ou Ordem religiosa: a indisciplina, a interferência de famílias senhoriais, a entrada forçada na vida religiosa, a inobservância da clausura e do retiro por causa da permanência no convento de mulheres nobres com seu séquito, tornam irreconhecíveis estes mosteiros, enquanto a má fama que os rodeia induz em muitos casos a intervenção judicial das autoridades civis e eclesiásticas.
Denunciava-se, naquela época que com o pretexto de visitá-las para celebrar os ofícios divinos, não poucos sacerdotes e frades vão fazer banquetes e consumir o pouco que têm os mosteiros, passando o resto do dia em vãs conversas nos locutórios.  Nas celas de alguns frades da Santa Cruz, os enviados do vigário arquiespicopal relataram terem encontrado “certos sonetos mui lascivos”.
Diante deste panorama Irmã Maria Magdalena podia sentir-se bastante satisfeita de seu mosteiro de Santa Maria dos Anjos. A documentação histórica dá fé que ali a vida era sóbria e exemplar. E, sobretudo havia um sincero desejo de melhorar, sem o qual toda a vida cristã desmorona.
Maria Magdalena é consciente de que o impulso interior que agora a impele para uma ação externa nasceu nela da contemplação do “conselho [desígnio] de salvação” escondido durante séculos e revelado em Cristo, como diz São Paulo. E agora sente que Deus quer servir-se dela para que, aquilo ela recebeu do seu Senhor, seja expresso no “exterior”.
“Chegou o tempo determinado e predestinado ‘ab aeterno’ na mente de Deus, desejado por seus servos passados e presentes: o tempo de renovar sua esposa Igreja”.
“Impelida e obrigada pela doce Verdade” é Deus quem a sustenta no anúncio do desígnio de renovação que outras pessoas esperaram no passado. Talvez, aqui, Maria Magdalena ouça algum eco da renovação pregada por Savonarola. Porém agora é o de Catarina de Siena, de quem toma forma e modos, para a obra que vai começar.
Agora toca a ela dar a conhecer a renovação universal querida por Deus: “Não anuncia nem busca a doce Verdade que se realize tal renovação em uma só cidade ou em um castelo, mas em todo o universo”.
É uma obra que exige especial dedicação por parte daqueles aos quais Maria Magdalena dirige suas cartas: o Papa, os cardeais da Cúria, o Arcebispo Alexandre de Médicis, o reitor dos jesuítas, o guardião dos Mínimos de São Francisco de Paola, as monjas Verônica de Cortona e Catarina de Ricci.
Não se trata de um vago projeto, mas de uma verdadeira reforma. Maria Magdalena tinha consciência de que devia realizar uma obra concreta, levada a cabo através de sua intervenção e, esta, não puramente mística. Sente como um “peso”, uma força que interiormente a impulsiona: o “doce querer” de Deus.
Porém a renovação pretendida por ela ainda não se realizou totalmente. Assim, o grito de Magdalena chega até nossos dias, até nós.

V. RENOVAÇÃO DA IGREJA

Maria Magdalena de Pazzi era uma grande admiradora de Santa Catarina de Siena e tinha em comum com ela, entre outras coisas, o zelo pela reforma da Igreja.
Quem ia pensar que Deus encomendaria uma missão tão importante a uma monja contemplativa? Pareceria-nos normal que um Concílio ou um Papa levasse adiante tal missão, mas não uma monja de clausura, sem contato algum com a sociedade.
O pensamento de levar adiante essa tarefa de conscientizar a Hierarquia da necessidade de reformar a Igreja era algo que lhe oprimia, até o ponto de desejar morrer mil vezes a enviar sua mensagem às altas Hierarquias. Em algum momento também lhe passou pela cabeça que seria obra do demônio. Daí consultar-se com autoridades competentes que lhe assegurariam o caráter sobrenatural desta missão. Ela consultaria tanto os dominicanos como os jesuítas e todos lhe afirmariam o mesmo: que as revelações não eram produto de uma mente enferma. Só então se entregou a ela superando a natureza, as forças e a vontade.
Para a obra da renovação da Igreja, Deus escolhe uma monja sem formação e que permanecerá fechada entre os muros do mosteiro.
Na introdução às doze cartas que escreveu, Maria Madalena diz que “este livro foi escrito por revelação do Senhor, sobre a obra da renovação da Igreja”. Com esta finalidade escreveu algumas cartas em êxtase ao sumo Pontífice e a outros prelados e servos de Deus.
Em todas as cartas vibra sua paixão pela Igreja e são dirigidas a pessoas que estão em pontos chave e devem pôr em marcha sua obra de renovação.

CARTA  A  XISTO V. Lamenta, com humildade o fato de ser ela a chamada a impulsar a reforma da Igreja, pois vê que esta tarefa seria mais bem realizada pela Hierarquia e pelos que a representam. Os religiosos e sacerdotes hão de ser meros colaboradores. Por isso não exorta a estes, em primeiro lugar, a renovar a Igreja, mas a renovarem-se a si mesmos para que possam ser dignos colaboradores do Papa e dos Bispos. Cinco são as características dos que se pusessem a trabalhar na restauração da Igreja: pobreza, caridade, pureza, paciência e perseverança. A renovação da Igreja será precedida da renovação de cada um, começando pelo Papa.
Apesar de o Papa ter um bom programa de renovação nem sempre foi capaz de colocá-lo em prática, sobretudo no que se referia à atenuação das penas que se impunham, ou ao combate às riquezas, o nepotismo e o deixar-se aconselhar pelos outros. Por isso, a renovação da Igreja não passou, em muitos aspectos, de um simples desejo. E termina a carta ao Papa: “Vos peço perdão por tudo o que possa ir além da inspiração e da vontade de Deus; se, além do mais, parecer que não se trata da vontade de Deus, peço penitência por isso... Como serva inútil vos peço vossa santa bênção”.

CARTA AOS CARDEAIS DA CÚRIA. Uma semana depois de escrever ao Papa envia outra carta aos Cardeais da Cúria. Utiliza uma linguagem bastante diplomática para ver se, assim, consegue chegar mais a eles e convencê-los. Uma vez que os chamou “ministros e membros principais da Igreja”, talvez para satisfazer sua vaidade, pede-lhes que sejam obedientes ao Papa e que se despojem de toda comodidade terrena e do respeito humano. A exemplo de Pedro os exorta a buscarem em tudo, principalmente, a salvação dos homens.
Recorda-lhes que a renovação da Igreja há de começar, e só será eficiente, se iniciada pela renovação de seus filhos mais ilustres, além disso, lhes propõe como exemplo “esse que, em nossos dias, deixou um grande exemplo de santidade, como sabeis melhor que eu, porque que devem ter falado e conversado com ele: o beatíssimo cardeal Borromeu”.
Pede-lhes que sejam membros sadios porque “devem saber que, às vezes a cabeça não pode cumprir seu dever porque os membros estão enfermos”. Anima-os a trabalhar para o maior bem da Igreja e termina oferecendo-lhes suas orações para que possam cumprir sua nobre missão.

AO CARDEAL DE FLORENÇA.  Ao seu Arcebispo, o Cardeal de Florença chegou a escrever três cartas. Seu costume era começar pedindo perdão pelo atrevimento de sua parte por dirigir-se aos mandatários da Igreja ou aos que representavam a autoridade nas Ordens religiosas. No caso de seu Cardeal, descupa-se por convidá-lo a vir ao mosteiro. Ela quer comunicar-lhe algumas verdades, que não serão exortações ou conselhos humanos, pois melhor lhe poderiam dar outros, mas verdades que vêm de Deus. Ele, em um claro discernimento poderá “esclarecê-la e ver se tal coisa procede de Deus ou de seu inimigo”. Ela está disposta, a todo o momento, a aceitar tudo.
Não recebeu resposta alguma a esta carta e ela insiste enviando-lhe outra na qual lhe roga que, “como amante de Deus e ansioso zelador da salvação das almas” venha ao mosteiro para esclarecer-lhe a verdade e que, como se trata de algo muito importante que “não interponha mais tempo” para “fazer o que Deus quer em sua santa Igreja, dada a vós, em especial custódia”. Sem “oportunar-lo” nem “provocar-lo” mais se despede pedindo humildemente sua benção.
Esta carta teria a mesma sorte da anterior. Sem dar-se por vencida, dispõe-se a enviar-lhe uma terceira. Ela está disposta a “repetir as muitas notícias já dadas, apesar de não conhecidas por vós... Impele-me o amor que O levou a permanecer no Santíssimo Sacramento”. Termina a carta dizendo-lhe que “não repare nem em bens, nem em honra, nem no corpo, nem na vida, para cumprir a doce vontade de Deus”.
O mais provável é que as cartas não foram lidas pelo Arcebispo, porque não chegaram às suas mãos. Magdalena, porém teve ocasião de falar com o cardeal, não como conseqüência de alguma das três cartas, mas porque ele teve que ir ao mosteiro para presidir a eleição da Priora. Todos os esforços para evitar o encontro, por parte da comunidade e do confessor, foram inúteis. Caiu em êxtase desde a manhã e apesar das tentativas de retirá-la da sala capitular não conseguiram o intento. Nem as religiosas mais fortes puderam fazer nada. Magdalena teve a oportunidade de falar ao Cardeal, por meia hora, da reforma dos religiosos. O Cardeal ficou assombrado com o que ela dizia e comentou ao seu séquito: “Nesta filha, na verdade, falou a Pessoa do Espírito Santo”.
Como São Felipe Neri, nossa Santa revelou ao Arcebispo que ocuparia a sede de Pedro, porém que só permaneceria nela uns poucos dias. Efetivamente a profecia se cumpriu. Ele foi eleito em 1º de abril de 1605 e tomou o nome de Leão XI. No dia 26 do mesmo mês, faleceu.

CARTAS AOS RELIGIOSOS. Santa Maria Magdalena dizia que, renovação espiritual sem preocupar-se primeiramente em transformar os religiosos, era começar a construção do teto, esquecendo-se de pôr os alicerces e levantar as paredes. “São eles que traem, açoitam, crucificam” o Verbo humanado, “rompendo o voto de obediência... o de pobreza... o de castidade”. Mas há também aqueles que observam a castidade embora, “com seu orgulho, crucificam” o seu Senhor, e os que observam os três votos, mas O ofendem “com o amor próprio”.
Magdalena sabia que os religiosos tinham um posto de primeiro plano na Igreja, pois o povo os seguia com maior docilidade que a seus próprios pastores. Em Florença haviam tido o exemplo de um religioso [Savonarola] capaz de arrastar com sua pregação a multidões. Ela era consciente disto como o  era também da repugnância de muitos religiosos em aceitar as reformas tridentinas, especialmente em matéria dos votos.
Confiava nos Dominicanos, Jesuítas e Mínimos e a eles les escreveu também.

CARTA AO PADRE ANGEL, dominicano. Com veementes palavras se dirige a ele e lhe diz que “chegou o momento de seus servos porem em execução o que Ele quer” e denuncia a “as esposas desunidas [as religiosas] com todos os demais religiosos que hoje vivem nos mosteiros de modo tão contrario à vocação para a qual Deus os chamou, não observando os votos que haviam prometido.”  Convida-o a que proceda “com a sabedoria e a prudência que Deus lhe deu”.

CARTA AO PADRE FABRINI, jesuíta. Exorta a que faça conhecer ao Cardeal “a situação na qual se acham suas ovelhas, especialmente as consagradas a Deus mediante os três votos emitidos na profissão, prometidos por muitos e observados por poucos”. Como se vê insiste una vez mais no cumprimento dos votos. Ao Padre Blanca, também jesuíta diz claramente que a renovação da Igreja “há de começar pelos que administram o mesmo Sangue que ministrais vós e pelas suas desunidas esposas que prometeram os mesmos votos que vós e eu”.

AO PADRE GUARDIÃO DOS MÍNIMOS, faz ver que chegou o tempo da renovação da Igreja, e, portanto, se deve “ajudar a preparar as criaturas para a renovação da santa Igreja...  agora é chegado o momento determinado. E se deve começar pelos religiosos e  religiosas consagrados a Deus, fazendo que se observem os votos principais que prometeram em sua profissão... trate de fazê-los saber e compreender o quanto possível, que os religiosos e religiosas devem observar seus três votos... e dêem exemplo menos com suas palavras e mais com o seu exemplo”.

Sendo ela monja de clausura também dirigiu às contemplativas três cartas: uma a Verônica de Cortona e duas a Catarina de Ricci.  A situação nos mosteiros de clausura era bastante parecida com aquela vivida nos tempos de Santa Teresa de Jesus e que a levaria à Reforma do Carmelo. Isso se fazia notar de maneira especial naqueles mosteiros que não estavam unidos a Ordem alguma.
“A indisciplina, a interferência de famílias senhoriais, a entrada forçada na vida religiosa, a inobservância da clausura e do retiro por causa da permanência no convento de mulheres nobres com seu séquito fazem irreconhecíveis a estes mosteiros”.
Foi isso que disse a Verônica de Cortona: “Ah, se os religiosos que se afastaram dele [o Verbo] esquecendo os votos prometidos compreendessem isto, observariam a pobreza, a obediência e as demais promessas que fizeram. Mas, ao contrário, contradizem a Palavra da Verdade e fazem ver que é impossível observar os mandamentos, porque não conhecem a doçura e a suavidade que nela se acha. Se chegassem a conhecer quão leve é a carga de Deus, a levariam com uma imensa alegria. A carga que Deus nos dá não é senão a observância de seus mandamentos, que consistem, todos, em amar”.
A SANTA CATARINA DE RICCI, diz: “não nos deixemos vencer pelas esposas do mundo, que tratam de assemelhar-se em tudo a seus esposos e se esforçam por compreender sua vontade. Assim nós temos de fazer: parecer-nos cada vez mais com nosso esposo, Jesus Cristo crucificado, e tratar de fazer sua vontade”. Ela vê claramente como também as monjas de clausura podem fazer apostolado por meio da oração, mediante seus sacrifícios e com sua imolação dentro do mosteiro, porque “se Deus é comunicativo, também nós temos de ser comunicativas para comunicar as iluminações que recebemos de Deus, especialmente as que podem ajudar a levar até Ele as suas criaturas. Temos de recordar e ter na mente o que disse o enamorado Paulo: “chorai com os que choram, alegrai-vos com os que estão alegres e tornai-vos fracos com os fracos” [Rom 12, 15].

VI. CONCLUSÃO

Maria Magdalena de Pazzi se sentiu “estimulada pelo Espírito Santo, forçada e impelida pelo Verbo humanado” a trabalhar pela renovação da Igreja. Era consciente de que, para levar a cabo essa renovação, haveria que começar pela renovação de sua mente e do seu coração. Havia de esquecer-se da própria comodidade, do orgulho e da superficialidade, para poder dedicar-se plenamente às coisas espirituais e atender devidamente às almas. Ela, enclausurada em seu mosteiro, “sofreu em seu corpo martirizado e em sua alma apaixonada, as dores de Cristo crucificado”. Imolou-se no silêncio do mosteiro como vítima voluntária e grata a Deus.
Maria Magdalena, embora sendo uma perfeita contemplativa (que inclusive beijava os muros  de seu mosteiro pela alegria espiritual que eles lhe proporciovavam), sentia também o atrativo apostólico e missionário em alto grau. Como o amor a Deus é, por sua natureza, contagiosa, não se pode, disse ela “ser sozinhos” em amar a Jesus, porque “o verdadeiro amante, não se contenta com ser o único a amar o seu amado, mas deseja dá-lo a conhecer e amar por todas as criaturas”. Ela mesma estava disposta a deixar o mosteiro para ir às missões e trabalhar mais diretamente na conversão da humanidade.
Sendo membros de um pós-concílio como ela foi, sua doutrina é muito atual. E é atual porque sua mensagem não é outra que esta: a Igreja há de estar sempre em estado e atitude de renovação. Toda renovação, para que seja autêntica, há de começar sempre pela conversão individual de todos e da cada um dos membros do Povo de Deus.
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“Quando lemos a descrição sobre o modo como a Santa cuidava de das novicias e se relacionava com as outras irmãs do mosteiro, suas “obras” a presentam como mensageira da “caridade fraterna”.
Era constante e continuo o chamado que faz ao amor mútuo entre as irmãs. Em uma época como a sua, na qual se insistia em uma orientação puramente vertical na relação pessoal com Deus, ela abre caminho e afirma que se há que contemplar a “Deus em as criaturas”. Dar-se ao próximo como prova autêntica de seu verdadeiro amor a Deus. Daqui suas contínuas chamadas à caridade fraterna: “Vivamos unidas, façamos profissão de unidade, conversemos em unidade”.
Durante sua vida, a santa interrompia os momentos extáticos para fazer obras de caridade. Desta maneira põe em relevo que, sem fraternidade, de nada serve a experiência cristã. Compreende-se, pois, porque a santa afirme que “o beijo místico se deve dar com dois lábios: com o do amor a Deus e com o do próximo, com a contemplação e com a ação”. Deste modo nos descobre a síntese harmoniosa entre o amor a Deus e amor ao próximo”. P. Joseph Chalmers, O.Carm., El amor de Cristo excede a todo conocimiento (Edizioni Carmelitane; Roma 14 de noviembre de 2006).

PARA A REFLEXÃO, ALGUNS PENSAMENTOS DE STA. MARIA MADALENA DE PAZZI

“Ó Deus Amor, Amor não amado nem conhecido, Amor, Amor, não me saciarei de chamar-te Amor. O meu coração e meu corpo exultem em Ti, meu Amor. Ó Amor, dá-me uma voz tal que, chamando Amor, eu seja ouvida do Oriente ao Ocidente, e em todos os lugares do mundo, a fim de que por todos Tu sejas conhecido e amado, Amor.

Amor, Amor, Tu és forte e poderoso. Ó Amor, Tu és Deus e homem. Ó Amor, faze com que todas as criaturas te amem, Amor; mas, meu amor, apressa-te, pois como és tão pouco amado!

Ó Amor, por que desejaste fazer aquela tua última Ceia? Ah! Amor, por que querias mostrar o amor que tinhas pela tua criatura!

Ó Amor, Amor, é possível que Tu não tenhas outro nome além de Amor? Entretanto, és tão pobre de nome, ó Amor! Na verdade, tens nomes, e quantos, Amor, mas te agrada mais ser chamado com este de Amor, pois neste Tu mais te deste a conhecer à criatura. Também os santos no céu te chamam por este nome: Amor; dizem sempre Amor, Amor. Jamais cessam de dizer Sanctus, Sanctus, e acrescentam, Amor.

Ó Amor, Amor, feliz e bem-aventurada a alma que tem a ti, Amor, Amor, Amor por tão poucos amado e conhecido.

Quem, Amor, tem amor bastante para louvar-te, Amor?

Se todas as línguas dos homens juntamente com os Anjos, e todas as estrelas do céu, a areia do mar, as plantas da terra, as gotas de água, os pássaros do céu se tornassem línguas para louvar-te, Amor, não seriam suficientes para louvar-te, Amor.

Amor, Amor, concede-o a todas as criaturas e faz, Amor, que todas, todas, todas te amem, Amor, te desejem, Amor, procurem somente a ti, Amor.

Nada mais sei que pedir senão o amor, pois se tenho o amor tenho tudo, e se não o tenho, tudo me falta. Amor, Amor!”


LEIA, ABAIXO, A MEDITAÇÃO DO 25º DIA DO MÊS DE MARIA E A NOVENA DE PENTECOSTES.

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