S.
João da Cruz, presbítero de nossa Ordem e Doutor da Igreja
1ª
Leitura (Is 35,1-6a.10): Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e
floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de
alegria. Ser-lhe-á dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e do Saron.
Verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus. Fortalecei as mãos
fatigadas e robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos corações perturbados:
«Tende coragem, não temais: Aí está o vosso Deus, vem para fazer justiça e dar
a recompensa. Ele próprio vem salvar-vos». Então se abrirão os olhos dos cegos
e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a
língua do mudo cantará de alegria. Voltarão os que o Senhor libertar, hão de
chegar a Sião com brados de alegria, com eterna felicidade a iluminar-lhes o
rosto. Reinarão o prazer e o contentamento e acabarão a dor e os gemidos.
Salmo
Responsorial: 145
R. Vinde, Senhor, e
salvai-nos.
O Senhor faz justiça aos
oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos.
O Senhor ilumina os olhos dos
cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos.
O Senhor protege os peregrinos,
ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores.
O Senhor reina eternamente. o teu
Deus, ó Sião, é rei por todas as gerações.
2ª
Leitura (Tg 5,7-10): Irmãos: Esperai com paciência a vinda do Senhor.
Vede como o agricultor espera pacientemente o precioso fruto da terra,
aguardando a chuva temporã e a tardia. Sede pacientes, vós também, e fortalecei
os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Não vos queixeis uns
dos outros, a fim de não serdes julgados. Eis que o Juiz está à porta. Irmãos,
tomai como modelos de sofrimento e de paciência os profetas, que falaram em
nome do Senhor.
Aleluia. O Espírito do Senhor
está sobre mim: enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres. Aleluia.
Evangelho
(Mt 11,2-11): Naquele tempo, ora, João Batista, estando na prisão, ouviu
falar das obras do Cristo e mandou alguns discípulos para lhe perguntar: «És
tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?». Jesus respondeu-lhes:
«Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista,
paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos
pobres se anuncia a Boa-Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu
respeito!». Enquanto os enviados se afastavam, Jesus começou a falar às
multidões sobre João: «Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento?
Que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Olhai, os que vestem roupas
finas estão nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim, eu
vos digo, e mais do que profeta. Este é de quem está escrito: ‘Eis que envio
meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho diante de ti’. Em
verdade, eu vos digo, entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse
maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que
ele».
«Entre todos os nascidos de
mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista»
Dr. Johannes VILAR (Köln,
Alemanha)
Hoje, como no domingo anterior, a
Igreja apresenta-nos a figura de João Baptista. Ele tinha muitos discípulos e
uma doutrina clara e diferenciada: para os publicanos, para os soldados, para
os fariseus e saduceus... O seu empenho consiste em preparar a vida pública do
Messias. Primeiro enviou João e André, hoje envia outros para que O conheçam.
Chegam com uma pergunta: «És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar
outro?» Mt 11,3) Bem sabia João quem era Jesus. Ele mesmo o testemunhava: «Eu
não O conhecia, mas aquele que me mandou batizar com água disse-me: «Aquele
sobre quem vires descer e permanecer o Espírito, esse é quem batiza no Espírito
Santo» (Jo 1,33). Jesus responde com factos: os cegos veem e os coxos andam...
João tinha um caráter firme no
seu modo de viver e de se manter na Verdade, o que lhe custou ser encarcerado e
martirizado. Mesmo no cárcere fala eficazmente com Herodes. João ensina-nos a
compaginar a firmeza de caráter com a humildade: «Não sou digno de lhe desatar
as correias do calçado» (Jo 1,27); «Importa que ele cresça e que eu diminua»
(Jo 3,30); alegra-se por Jesus batizar mais do que ele, pois considera-se
somente “amigo do esposo”(cf Jo 3, 26).
Numa palavra: João ensina-nos a
levar a sério a nossa missão na terra: ser cristãos coerentes, que se sabem e atuam
como filhos de Deus. Devemos perguntar-nos: —Como se preparariam Maria e José
para o nascimento de Jesus Cristo? Como preparou João os ensinamentos de Jesus?
Como nos preparamos para o comemorar e para a segunda vinda do Senhor no final
dos tempos? Pois, como dizia São Cirilo de Jerusalém: «Nós anunciamos a vinda
de Cristo, não somente a primeira, mas também a segunda, muito mais gloriosa do
que aquela. “Pois aquela esteve impregnada de sofrimento, mas a segunda trará o
diadema da glória divina».
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«João era uma voz provisória. E
quando lhe perguntaram: ‘¿Quem és tu?’ Ele respondeu: ‘Eu sou a voz que grita
no deserto: ¡Preparai o caminho do Senhor!’. O que significa: ‘Preparai o
caminho’, senão: ‘Pensai com humildade’?» (São Agostinho)
«A Igreja, neste domingo,
antecipa um pouco da alegria do Natal, e por isso é chamado “o domingo da
alegria”. E a alegria do Natal é uma alegria especial. É uma alegria serena,
tranquila, uma alegria que acompanha sempre ao cristão. Inclusive nos momentos
difíceis. O cristão, quando é verdadeiro cristão, nunca perde a paz»
(Francisco)
«Depois de João ter sido preso,
Jesus partiu para a Galileia. Aí proclamava a Boa-Nova da vinda de Deus, nestes
termos: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo:
convertei-vos e acreditai na Boa-Nova!" (Mc 1,15). Por isso, Cristo, a fim
de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos céus. Ora a
vontade do Pai é “elevar os homens à participação da vida divina”. E fá-lo
reunindo os homens em torno do seu Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a
Igreja, a qual é na terra ‘o germe e o princípio’ do Reino de Deus» (269)
(Catecismo da Igreja Católica, nº 541)
“Ide contar a João o que vedes
e ouvis”
Fr. Pedro Bravo, O.Carm.
* Com esta passagem, Mateus
abre a terceira secção do anúncio do Reino dos céus por Jesus em palavras e
obras: o mistério do Reino (11,1-12,50). Nela apresenta as atitudes de
diferentes pessoas e grupos em relação a Jesus. O texto tem duas partes: a) a
embaixada e pergunta de João Batista a Jesus (vv. 2-6); b) o juízo de Jesus
sobre João (vv. 7-11).
* v. 2. Tendo João no cárcere
ouvido falar das obras de Cristo, mandou, por meio dos seus discípulos. O
episódio começa com a menção de João Batista, que está preso (14,3) na
fortaleza de Maqueronte por ordem de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia (4
a.C.–39 d.C.). O motivo oficial da prisão era político. Dele afirma Flávio
Josefo: “Herodes, temendo que [João Batista], pela influência que exercia sobre
[as multidões], viesse a suscitar alguma rebelião, porque o povo estava sempre
pronto a fazer o que João ordenasse, julgou que devia prevenir o mal, para
depois não ter motivo de se arrepender por ter esperado muito para remediá-lo.
Por esse motivo, mandou prender João numa fortaleza, em Maqueronte… e ali ele
foi morto” (Ant. 18,5,2). Na realidade, porém, Herodes mandara prender João por
este o ter advertido que não podia viver com a sua cunhada, Herodíades (14,4;
cf. Lv 20,21), que ele tinha roubado a seu irmão, Herodes Filipe, em Roma.
* No deserto (3,1), junto
ao rio Jordão, João tinha anunciado a chegada iminente de “Cristo”, o Messias
(he. “ungido”), que descrevera como juiz divino (3,7-12) e reconhecera em Jesus
(3,14s). Jesus, porém, só inicia a sua missão quando João é preso (4,12),
sendo, por isso, só na prisão que João ouve “falar das obras de Cristo”. “De
Cristo” quer aqui dizer: não só de Jesus, mas também dos seus discípulos, que
Ele tinha enviado (10,8) e através dos quais age. João não duvidava de Jesus e
acreditava nele. Mas os gestos, palavras e obras deste tomaram um rumo tão
novo, impossível de imaginar, que até João ficou perplexo, a ponto de duvidar
de si mesmo e de se perguntar se não se teria equivocado (cf. Gl 2,2). Jesus
mostra, de facto, tal amor, misericórdia e proximidade em relação a todos,
mesmo aos pecadores, que todos ficam surpreendidos, até João.
* v. 3. Dizer-lhe: «És Tu O
que vem ou devemos esperar outro?» João, porém, é humilde e profeta:
deixa-se interpelar pelas pessoas, factos e acontecimentos, para neles escutar
a voz de Deus, que fala na história. Neste caso, ainda com mais razão. Jesus é
de tal modo novo, que ninguém O pode conhecer, se O não deixar falar, dizer-se
a Si mesmo, revelar Quem é e qual é a sua missão. Envia então a Jesus uns
discípulos seus para Lhe perguntar se Ele é “O que vem” (3,11; 21,9; 23,39; (Sl
118,26; At 19,4; Jo 11,27; Hb 10,37; Ap 1,4), ou seja, o Messias prometido (cf.
Dt 18,15; Dn 7,13; 9,26), como rei pobre, humilde, justo e salvador (21,9p;
23,39p; Zc 9,9), realizar o eterno desígnio de Deus, anunciado as Escrituras,
no qual é o próprio Deus que vem (Ml 3,1) com poder (Is 40,9ss), ou se devem
esperar outro.
v. 4. Respondendo, Jesus disse‑lhes:
«Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Jesus
responde, convidando os discípulos de João a ouvir e a ver. Primeiro a “ouvir”,
porque a fé vem pelo ouvido (Rm 10,17; Gl 3,2.5); depois a “ver”, porque só é
possível “ver” Jesus, conhecê-lo, pela fé, à luz da revelação e do desígnio do
Pai (v. 27; 16,17), expresso nas Escrituras (as quais, por sua vez, só à luz de
Cristo se compreendem).
v. 5. Cegos recuperam a vista,
coxos andam, leprosos são purificados, surdos ouvem, mortos são ressuscitados e
pobres são evangelizados. Primeiro, Jesus remete para as Escrituras,
citando as passagens que anunciam a vinda do Reino de Deus, através do
Messias, num novo êxodo, em que se
manifesta o poder divino, realizando prodígios, desta vez, não para castigar e
matar os inimigos (como no caso de Moisés), mas para salvar. Depois, Jesus
deixa que sejam as obras a falar (Jo 5,36): purificar leprosos (8,2; 2Rs 5,7) e
dar vida a mortos (Is 26,19), o que só Deus podia fazer; fazer surdos ouvir,
cegos ver e coxos andar (21,14; Is 29,18; 35,5s; 42,7.18); e evangelizar os
pobres (5,3; Is 61,1; Lc 4,18s). São seis sinais, número que evoca a criação do
homem (Gn 1,27.31). Jesus é o Messias que salva o homem, regenerando-o e
fazendo dele uma nova criatura. Só O reconhece, porém, quem acredita no Evangelho,
que é o próprio Jesus, na sua Pessoa, palavra e obras. Jesus convida, pois,
João a acreditar na Boa Nova que lhe transmitirão os seus discípulos,
convertidos agora em testemunhas e mensageiros seus: “Ide e anunciai a João o
que ouvis e vedes” (28,8.10.19; 1Jo 1,2s).
v. 6. E bem-aventurado é
aquele que não se escandalizar comigo». Jesus, no entanto, não é um Messias
à medida humana. Quem pretender instrumentalizá-lo, pô-lo ao serviço dos seus
próprios interesses, conformá-lo com as suas ideias, encaixá-lo nos seus
esquemas, reduzi-lo à medida da sua própria razão, ainda não se abriu à fé e
acabará por se “escandalizar” com Ele (13,57; 26,31; Jo 16,1), ou seja, por
tropeçar nele e cair na revolta, incredulidade ou apatia, acabando por se
afastar dele e O rejeitar (cf. Jo 6,61s).
v. 7. Quando eles partiram,
Jesus começou a falar às multidões acerca de João: «Saístes para ver o quê no
deserto? Uma cana agitada pelo vento? Na segunda parte, Jesus dá testemunho
da figura e ação proféticas de João. Para isso, utiliza um dos recursos
retóricos típicos dos rabinos: faz uma série de perguntas – aqui: “Saístes para
ver o quê?”, três vezes – que convidam os ouvintes a interrogar-se sobre a
realidade, para aí descobrirem o sentido mais profundo e oculto da verdade, de
modo a corresponder-lhe na vida concreta. A resposta às duas primeiras
perguntas é obviamente negativa: João, a quem saíram “para ver no deserto”
(3,1.5p), não é “uma cana agitada pelo vento” (cf. Is 7,2; Dt 28,65; Pv 28,1;
Sr 22,18; Ef 4,14; Tg 1,6), um pregador oportunista, cheio de medo, cuja
mensagem segue as modas e se ajeita às conveniências para agradar aos homens e
atrair a si (e não a Deus) os que o ouvem (cf. Gl 1,10; 1Ts 2,4).
v. 8. Mas saístes para ver o
quê? Um homem vestido com roupas finas? Eis que aqueles que trajam roupas finas
estão nas casas dos reis.
Menos ainda é uma pessoa mundana,
refinada, que ambiciona comodidades, sucesso e luxo (3,4p). João é um dos
pobres em espírito, dos perseguidos por causa da justiça, dos injuriados, de
quem é o Reino dos Céus (cf. 5,3.10ss).
v. 9. Mas saístes para ver o
quê? Um profeta? Sim, digo-vos, e mais do que profeta. João é o profeta (v.
13; 14,5; 21,26; 5,12; Lc 1,76) através do qual Deus pôs termo a 400 anos de
silêncio profético. Mas também “é mais que profeta”, como Jesus diz.
v. 10. É dele que está
escrito: “Eis que Eu envio o meu mensageiro diante da tua face”, “o qual
preparará o teu caminho diante de ti”. Jesus explica o que acaba de dizer,
apresentando João Batista a partir de duas passagens do AT, que cita: 1) Ex
23,20: ele é “o anjo” (gr.), ou seja, o
“mensageiro”, “enviado” (gr. apostéllô) por Deus como Precursor à frente de
Cristo, o Messias que inaugurará o novo e definitivo êxodo, o da salvação; 2)
Ml 3,1: ele é o mensageiro que vem no espírito de Elias, a preparar o caminho
do Messias; ou seja, ele é o novo Elias que havia de vir (v. 14; 17,13; Ml
3,23s).
v. 11. Amém vos digo: entre os
nascidos de mulher, não surgiu ninguém maior do que João Baptista; mas o menor
no reino dos Céus é maior do que ele». Os “nascidos de mulher” (Jb 14,1;
15,14; 25,4; o que não é o caso de Adão) são os membros desta “geração má e
adúltera” (12,39.45; 16,4; 17,17), a humanidade pecadora, nascida de Eva depois
desta ter pecado (Gn 4,1). Apesar da grandeza (Lc 1,15) que lhe advém de ser o
Precursor de Cristo, João faz parte dela; ele está à porta do Reino, mas ainda
não entrou nele (Lc 16,16). Já os que renasceram de Deus, pela água e pelo
Espírito Santo (Jo 3,3ss) o perdão dos pecados, passaram a ser filhos de Deus,
membros de Cristo e templos do Espírito Santo. Tornados participantes da
natureza divina, já vivem na terra no Reino dos céus, podendo fazer pela fé as
mesmas obras de Cristo, e até maiores (Jo 14,12). Por isso, em virtude deste
dom da graça, que transcende por completo o regime da Lei, mesmo o menor dos
filhos de Deus é “maior” (cf. 18,1; Lc 22,24) do que João, o qual, entretanto,
acabará também por entrar no Reino dos céus, graças ao “batismo de sangue” que
receberá no seu martírio (cf.14,3-12).
MEDITAÇÃO
1. Quem são os cegos,
coxos, leprosos, surdos e mortos a quem somos enviados? Preocupamo-nos em
levar-lhes o amor de Deus e em anunciar-lhes a Boa Nova, por palavras, obras e
gestos?
2. A minha vida é
testemunho profético de Jesus ou tenho medo das críticas, deixando-me vencer
pelos gostos e interesses do momento?
3. Sou daqueles que nunca
se enganam, que têm o monopólio da verdade, ou escuto o Senhor e os irmãos,
deixando-me interpelar pela sua Palavra e procurando, na oração, discernir a
sua ação na minha vida, a fim de seguir com determinação e fidelidade o Seu caminho?
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