sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

III Domingo do Advento

S. João da Cruz, presbítero de nossa Ordem e Doutor da Igreja
 
1ª Leitura (Is 35,1-6a.10):
Alegrem-se o deserto e o descampado, rejubile e floresça a terra árida, cubra-se de flores como o narciso, exulte com brados de alegria. Ser-lhe-á dada a glória do Líbano, o esplendor do Carmelo e do Saron. Verão a glória do Senhor, o esplendor do nosso Deus. Fortalecei as mãos fatigadas e robustecei os joelhos vacilantes. Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais: Aí está o vosso Deus, vem para fazer justiça e dar a recompensa. Ele próprio vem salvar-vos». Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos. Então o coxo saltará como um veado e a língua do mudo cantará de alegria. Voltarão os que o Senhor libertar, hão de chegar a Sião com brados de alegria, com eterna felicidade a iluminar-lhes o rosto. Reinarão o prazer e o contentamento e acabarão a dor e os gemidos.
 
Salmo Responsorial: 145
R. Vinde, Senhor, e salvai-nos.
 
O Senhor faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome e a liberdade aos cativos.
 
O Senhor ilumina os olhos dos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o Senhor ama os justos.
 
O Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão e a viúva e entrava o caminho aos pecadores.
 
O Senhor reina eternamente. o teu Deus, ó Sião, é rei por todas as gerações.
 
2ª Leitura (Tg 5,7-10): Irmãos: Esperai com paciência a vinda do Senhor. Vede como o agricultor espera pacientemente o precioso fruto da terra, aguardando a chuva temporã e a tardia. Sede pacientes, vós também, e fortalecei os vossos corações, porque a vinda do Senhor está próxima. Não vos queixeis uns dos outros, a fim de não serdes julgados. Eis que o Juiz está à porta. Irmãos, tomai como modelos de sofrimento e de paciência os profetas, que falaram em nome do Senhor.
 
Aleluia. O Espírito do Senhor está sobre mim: enviou-me a anunciar a boa nova aos pobres. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 11,2-11): Naquele tempo, ora, João Batista, estando na prisão, ouviu falar das obras do Cristo e mandou alguns discípulos para lhe perguntar: «És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?». Jesus respondeu-lhes: «Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu respeito!». Enquanto os enviados se afastavam, Jesus começou a falar às multidões sobre João: «Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Que fostes ver? Um homem vestido com roupas finas? Olhai, os que vestem roupas finas estão nos palácios dos reis. Que fostes ver então? Um profeta? Sim, eu vos digo, e mais do que profeta. Este é de quem está escrito: ‘Eis que envio meu mensageiro à tua frente, para preparar o teu caminho diante de ti’. Em verdade, eu vos digo, entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele».
 
«Entre todos os nascidos de mulher não surgiu quem fosse maior que João Batista»
 
Dr. Johannes VILAR (Köln, Alemanha)
 
Hoje, como no domingo anterior, a Igreja apresenta-nos a figura de João Baptista. Ele tinha muitos discípulos e uma doutrina clara e diferenciada: para os publicanos, para os soldados, para os fariseus e saduceus... O seu empenho consiste em preparar a vida pública do Messias. Primeiro enviou João e André, hoje envia outros para que O conheçam. Chegam com uma pergunta: «És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?» Mt 11,3) Bem sabia João quem era Jesus. Ele mesmo o testemunhava: «Eu não O conhecia, mas aquele que me mandou batizar com água disse-me: «Aquele sobre quem vires descer e permanecer o Espírito, esse é quem batiza no Espírito Santo» (Jo 1,33). Jesus responde com factos: os cegos veem e os coxos andam...
 
João tinha um caráter firme no seu modo de viver e de se manter na Verdade, o que lhe custou ser encarcerado e martirizado. Mesmo no cárcere fala eficazmente com Herodes. João ensina-nos a compaginar a firmeza de caráter com a humildade: «Não sou digno de lhe desatar as correias do calçado» (Jo 1,27); «Importa que ele cresça e que eu diminua» (Jo 3,30); alegra-se por Jesus batizar mais do que ele, pois considera-se somente “amigo do esposo”(cf Jo 3, 26).
 
Numa palavra: João ensina-nos a levar a sério a nossa missão na terra: ser cristãos coerentes, que se sabem e atuam como filhos de Deus. Devemos perguntar-nos: —Como se preparariam Maria e José para o nascimento de Jesus Cristo? Como preparou João os ensinamentos de Jesus? Como nos preparamos para o comemorar e para a segunda vinda do Senhor no final dos tempos? Pois, como dizia São Cirilo de Jerusalém: «Nós anunciamos a vinda de Cristo, não somente a primeira, mas também a segunda, muito mais gloriosa do que aquela. “Pois aquela esteve impregnada de sofrimento, mas a segunda trará o diadema da glória divina».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«João era uma voz provisória. E quando lhe perguntaram: ‘¿Quem és tu?’ Ele respondeu: ‘Eu sou a voz que grita no deserto: ¡Preparai o caminho do Senhor!’. O que significa: ‘Preparai o caminho’, senão: ‘Pensai com humildade’?» (São Agostinho)
 
«A Igreja, neste domingo, antecipa um pouco da alegria do Natal, e por isso é chamado “o domingo da alegria”. E a alegria do Natal é uma alegria especial. É uma alegria serena, tranquila, uma alegria que acompanha sempre ao cristão. Inclusive nos momentos difíceis. O cristão, quando é verdadeiro cristão, nunca perde a paz» (Francisco)
 
«Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia. Aí proclamava a Boa-Nova da vinda de Deus, nestes termos: "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo: convertei-vos e acreditai na Boa-Nova!" (Mc 1,15). Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos céus. Ora a vontade do Pai é “elevar os homens à participação da vida divina”. E fá-lo reunindo os homens em torno do seu Filho, Jesus Cristo. Esta reunião é a Igreja, a qual é na terra ‘o germe e o princípio’ do Reino de Deus» (269) (Catecismo da Igreja Católica, nº 541)
 
“Ide contar a João o que vedes e ouvis”
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm.
 
* Com esta passagem, Mateus abre a terceira secção do anúncio do Reino dos céus por Jesus em palavras e obras: o mistério do Reino (11,1-12,50).
Nela apresenta as atitudes de diferentes pessoas e grupos em relação a Jesus. O texto tem duas partes: a) a embaixada e pergunta de João Batista a Jesus (vv. 2-6); b) o juízo de Jesus sobre João (vv. 7-11).
 
* v. 2. Tendo João no cárcere ouvido falar das obras de Cristo, mandou, por meio dos seus discípulos. O episódio começa com a menção de João Batista, que está preso (14,3) na fortaleza de Maqueronte por ordem de Herodes Antipas, tetrarca da Galileia (4 a.C.–39 d.C.). O motivo oficial da prisão era político. Dele afirma Flávio Josefo: “Herodes, temendo que [João Batista], pela influência que exercia sobre [as multidões], viesse a suscitar alguma rebelião, porque o povo estava sempre pronto a fazer o que João ordenasse, julgou que devia prevenir o mal, para depois não ter motivo de se arrepender por ter esperado muito para remediá-lo. Por esse motivo, mandou prender João numa fortaleza, em Maqueronte… e ali ele foi morto” (Ant. 18,5,2). Na realidade, porém, Herodes mandara prender João por este o ter advertido que não podia viver com a sua cunhada, Herodíades (14,4; cf. Lv 20,21), que ele tinha roubado a seu irmão, Herodes Filipe, em Roma.
 
* No deserto (3,1), junto ao rio Jordão, João tinha anunciado a chegada iminente de “Cristo”, o Messias (he. “ungido”), que descrevera como juiz divino (3,7-12) e reconhecera em Jesus (3,14s). Jesus, porém, só inicia a sua missão quando João é preso (4,12), sendo, por isso, só na prisão que João ouve “falar das obras de Cristo”. “De Cristo” quer aqui dizer: não só de Jesus, mas também dos seus discípulos, que Ele tinha enviado (10,8) e através dos quais age. João não duvidava de Jesus e acreditava nele. Mas os gestos, palavras e obras deste tomaram um rumo tão novo, impossível de imaginar, que até João ficou perplexo, a ponto de duvidar de si mesmo e de se perguntar se não se teria equivocado (cf. Gl 2,2). Jesus mostra, de facto, tal amor, misericórdia e proximidade em relação a todos, mesmo aos pecadores, que todos ficam surpreendidos, até João.
 
* v. 3. Dizer-lhe: «És Tu O que vem ou devemos esperar outro?» João, porém, é humilde e profeta: deixa-se interpelar pelas pessoas, factos e acontecimentos, para neles escutar a voz de Deus, que fala na história. Neste caso, ainda com mais razão. Jesus é de tal modo novo, que ninguém O pode conhecer, se O não deixar falar, dizer-se a Si mesmo, revelar Quem é e qual é a sua missão. Envia então a Jesus uns discípulos seus para Lhe perguntar se Ele é “O que vem” (3,11; 21,9; 23,39; (Sl 118,26; At 19,4; Jo 11,27; Hb 10,37; Ap 1,4), ou seja, o Messias prometido (cf. Dt 18,15; Dn 7,13; 9,26), como rei pobre, humilde, justo e salvador (21,9p; 23,39p; Zc 9,9), realizar o eterno desígnio de Deus, anunciado as Escrituras, no qual é o próprio Deus que vem (Ml 3,1) com poder (Is 40,9ss), ou se devem esperar outro.
 
v. 4. Respondendo, Jesus disse‑lhes: «Ide e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Jesus responde, convidando os discípulos de João a ouvir e a ver. Primeiro a “ouvir”, porque a fé vem pelo ouvido (Rm 10,17; Gl 3,2.5); depois a “ver”, porque só é possível “ver” Jesus, conhecê-lo, pela fé, à luz da revelação e do desígnio do Pai (v. 27; 16,17), expresso nas Escrituras (as quais, por sua vez, só à luz de Cristo se compreendem).
 
v. 5. Cegos recuperam a vista, coxos andam, leprosos são purificados, surdos ouvem, mortos são ressuscitados e pobres são evangelizados. Primeiro, Jesus remete para as Escrituras, citando as passagens que anunciam a vinda do Reino de Deus, através do Messias,  num novo êxodo, em que se manifesta o poder divino, realizando prodígios, desta vez, não para castigar e matar os inimigos (como no caso de Moisés), mas para salvar. Depois, Jesus deixa que sejam as obras a falar (Jo 5,36): purificar leprosos (8,2; 2Rs 5,7) e dar vida a mortos (Is 26,19), o que só Deus podia fazer; fazer surdos ouvir, cegos ver e coxos andar (21,14; Is 29,18; 35,5s; 42,7.18); e evangelizar os pobres (5,3; Is 61,1; Lc 4,18s). São seis sinais, número que evoca a criação do homem (Gn 1,27.31). Jesus é o Messias que salva o homem, regenerando-o e fazendo dele uma nova criatura. Só O reconhece, porém, quem acredita no Evangelho, que é o próprio Jesus, na sua Pessoa, palavra e obras. Jesus convida, pois, João a acreditar na Boa Nova que lhe transmitirão os seus discípulos, convertidos agora em testemunhas e mensageiros seus: “Ide e anunciai a João o que ouvis e vedes” (28,8.10.19; 1Jo 1,2s).
 
v. 6. E bem-aventurado é aquele que não se escandalizar comigo». Jesus, no entanto, não é um Messias à medida humana. Quem pretender instrumentalizá-lo, pô-lo ao serviço dos seus próprios interesses, conformá-lo com as suas ideias, encaixá-lo nos seus esquemas, reduzi-lo à medida da sua própria razão, ainda não se abriu à fé e acabará por se “escandalizar” com Ele (13,57; 26,31; Jo 16,1), ou seja, por tropeçar nele e cair na revolta, incredulidade ou apatia, acabando por se afastar dele e O rejeitar (cf. Jo 6,61s).
 
v. 7. Quando eles partiram, Jesus começou a falar às multidões acerca de João: «Saístes para ver o quê no deserto? Uma cana agitada pelo vento? Na segunda parte, Jesus dá testemunho da figura e ação proféticas de João. Para isso, utiliza um dos recursos retóricos típicos dos rabinos: faz uma série de perguntas – aqui: “Saístes para ver o quê?”, três vezes – que convidam os ouvintes a interrogar-se sobre a realidade, para aí descobrirem o sentido mais profundo e oculto da verdade, de modo a corresponder-lhe na vida concreta. A resposta às duas primeiras perguntas é obviamente negativa: João, a quem saíram “para ver no deserto” (3,1.5p), não é “uma cana agitada pelo vento” (cf. Is 7,2; Dt 28,65; Pv 28,1; Sr 22,18; Ef 4,14; Tg 1,6), um pregador oportunista, cheio de medo, cuja mensagem segue as modas e se ajeita às conveniências para agradar aos homens e atrair a si (e não a Deus) os que o ouvem (cf. Gl 1,10; 1Ts 2,4).
 
v. 8. Mas saístes para ver o quê? Um homem vestido com roupas finas? Eis que aqueles que trajam roupas finas estão nas casas dos reis.
 
Menos ainda é uma pessoa mundana, refinada, que ambiciona comodidades, sucesso e luxo (3,4p). João é um dos pobres em espírito, dos perseguidos por causa da justiça, dos injuriados, de quem é o Reino dos Céus (cf. 5,3.10ss).
 
v. 9. Mas saístes para ver o quê? Um profeta? Sim, digo-vos, e mais do que profeta. João é o profeta (v. 13; 14,5; 21,26; 5,12; Lc 1,76) através do qual Deus pôs termo a 400 anos de silêncio profético. Mas também “é mais que profeta”, como Jesus diz.
 
v. 10. É dele que está escrito: “Eis que Eu envio o meu mensageiro diante da tua face”, “o qual preparará o teu caminho diante de ti”. Jesus explica o que acaba de dizer, apresentando João Batista a partir de duas passagens do AT, que cita: 1) Ex 23,20: ele é  “o anjo” (gr.), ou seja, o “mensageiro”, “enviado” (gr. apostéllô) por Deus como Precursor à frente de Cristo, o Messias que inaugurará o novo e definitivo êxodo, o da salvação; 2) Ml 3,1: ele é o mensageiro que vem no espírito de Elias, a preparar o caminho do Messias; ou seja, ele é o novo Elias que havia de vir (v. 14; 17,13; Ml 3,23s).
 
v. 11. Amém vos digo: entre os nascidos de mulher, não surgiu ninguém maior do que João Baptista; mas o menor no reino dos Céus é maior do que ele». Os “nascidos de mulher” (Jb 14,1; 15,14; 25,4; o que não é o caso de Adão) são os membros desta “geração má e adúltera” (12,39.45; 16,4; 17,17), a humanidade pecadora, nascida de Eva depois desta ter pecado (Gn 4,1). Apesar da grandeza (Lc 1,15) que lhe advém de ser o Precursor de Cristo, João faz parte dela; ele está à porta do Reino, mas ainda não entrou nele (Lc 16,16). Já os que renasceram de Deus, pela água e pelo Espírito Santo (Jo 3,3ss) o perdão dos pecados, passaram a ser filhos de Deus, membros de Cristo e templos do Espírito Santo. Tornados participantes da natureza divina, já vivem na terra no Reino dos céus, podendo fazer pela fé as mesmas obras de Cristo, e até maiores (Jo 14,12). Por isso, em virtude deste dom da graça, que transcende por completo o regime da Lei, mesmo o menor dos filhos de Deus é “maior” (cf. 18,1; Lc 22,24) do que João, o qual, entretanto, acabará também por entrar no Reino dos céus, graças ao “batismo de sangue” que receberá no seu martírio (cf.14,3-12).
 
MEDITAÇÃO
1. Quem são os cegos, coxos, leprosos, surdos e mortos a quem somos enviados? Preocupamo-nos em levar-lhes o amor de Deus e em anunciar-lhes a Boa Nova, por palavras, obras e gestos?
2. A minha vida é testemunho profético de Jesus ou tenho medo das críticas, deixando-me vencer pelos gostos e interesses do momento?
3. Sou daqueles que nunca se enganam, que têm o monopólio da verdade, ou escuto o Senhor e os irmãos, deixando-me interpelar pela sua Palavra e procurando, na oração, discernir a sua ação na minha vida, a fim de seguir com determinação e fidelidade o Seu caminho?

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