sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Domingo IV do Domingo do Advento

S. Pedro Canísio, presbítero e doutor da Igreja
 
1ª Leitura (Is 7,10-14):
Naqueles dias, o Senhor mandou ao rei Acaz a seguinte mensagem: «Pede um sinal ao Senhor teu Deus, quer nas profundezas do abismo, quer lá em cima nas alturas». Acaz respondeu: «Não pedirei, não porei o Senhor à prova». Então Isaías disse: «Escutai, casa de David: Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel».
 
Salmo Responsorial: 23
R. Venha o Senhor: é Ele o rei glorioso.
 
Do Senhor é a terra e o que nela existe, o mundo e quantos nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas.
 
Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração puro, que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso.
 
Este será abençoado pelo Senhor e recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face do Deus de Jacob.
 
2ª Leitura (Rom 1,1-7): Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por chamamento divino, escolhido para o Evangelho que Deus tinha de antemão prometido pelos profetas nas Sagradas Escrituras, acerca de seu Filho, nascido, segundo a carne, da descendência de David, mas, segundo o Espírito que santifica, constituído Filho de Deus em todo o seu poder pela sua ressurreição de entre os mortos: Ele é Jesus Cristo, Nosso Senhor. Por Ele recebemos a graça e a missão de apóstolo, a fim de levarmos todos os gentios a obedecerem à fé, para honra do seu nome, dos quais fazeis parte também vós, chamados por Jesus Cristo. A todos os que habitam em Roma, amados por Deus e chamados a serem santos, a graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.
 
Aleluia. A Virgem conceberá e dará à luz um Filho, que será chamado Emanuel, Deus conosco. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 1,18-24): Ora, a origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, pensou em despedi-la secretamente. Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: «José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados». Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: « Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: ‘Deus-conosco’». Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa.
 
«Não tenhas receio de receber Maria por tua esposa»
 
Pe. Edson RODRIGUES (Pesqueira, Pernambuco, Brasil)
 
Hoje, liturgia do Advento nos traz José que receberá de Deus uma missão: o Verbo de Deus, que irá nascer da virgem, ficará também aos seus cuidados paternos. «Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho» (Is 7,14), o profeta Isaías já o tinha anunciado cerca de 700 anos antes. Perplexo e movido pela incompreensão de tão grande mistério, José, temente a Deus e homem “justo e bom”, decide, em segredo, deixar Maria com seus pais. Ele encontra nas palavras do mensageiro as razões para desistir de sua decisão e aceitar o mistério e os planos de Deus: «Não tenhas medo de receber Maria por tua esposa!» (Mt 1,20). O Espírito Santo que, em Maria, gerou o Verbo encarnado, dá sentido e confirma o que o anjo disse a José que recebe a grande missão de dar nome e cuidar do menino-Deus gerado no seio virginal de jovem de Nazaré (cf. Mt 1,20-21).
 
São Bernardino de Sena diz que «quando a providência divina escolhe alguém para uma graça particular ou estado superior, também dá à pessoa assim escolhida todas os carismas necessários para o exercício de sua missão». E assim José, livre dos medos e temores, fez-se colaborador na obra da encanação, capacitado para assumir esta honrosa e desafiadora missão.
 
Hoje vivemos em meio a medos e inseguranças, em situações que, por vezes, nos desencorajam e nos levam a largar o barco, buscando na fuga as soluções para as difíceis realidades. Mas em meio à oração silenciosa e contemplativa, o Senhor também nos diz: «Não tenhais medo!» (cf. Mt 14,27), e nos encoraja para aceitar, confiantes e resolutos, os seus desígnios.
 
Em nossos dias, o Papa Leão XIV nos encoraja: «Deus ama a todos nós e o mal não prevalecerá. Estamos todos nas mãos de Deus e, sem medo, todos unidos à mão de Deus e uns aos outros, vamos em frente».
 
«Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado»
 
Rev. D. Pere GRAU i Andreu (Les Planes, Barcelona, Espanha)
 
Hoje a liturgia da Palavra convida-nos a considerar e a admirar a figura de são José, um homem verdadeiramente bom. De Maria, a Mãe de Deus se diz que era bendita entre todas as mulheres (cf. Lc 1,42). De José se escreveu que era justo (cf. Mt 1,19).
 
Todos devemos a Deus Pai Criador a nossa identidade individual como pessoas feitas à sua imagem e semelhança, com real liberdade e radical. Como a resposta a esta liberdade podemos dar glória a Deus, como se merece ou, também podemos fazer de nós mesmos, alguma coisa não agradável aos olhos de Deus.
 
Não duvidemos de que José, com o seu trabalho, com o seu compromisso familiar e social ganhou o “Coração” do Criador, consideremo-lo como homem de confiança na colaboração da Redenção humana por meio do seu Filho feito homem como nós.
 
Apreendemos, pois, de são José sua fidelidade — provada já desde o princípio — e o seu bom comportamento durante o resto da sua vida, unida — intimamente —a Jesus e a Maria.
 
É padroeiro e intercessor para todos os pais, biológicos ou não, que neste mundo ajudaram a seus filhos a dar uma resposta semelhante à de ele. É o padroeiro da Igreja, como identidade ligada estreitamente ao seu Filho e, continuamos a ouvir as palavras de Maria quando encontra o Menino Jesus que se havia “perdido” no Templo: «O teu pai e eu...» (Lc 2,48).
 
Com Maria, nossa Mãe, encontramos a José como pai. Santa Teresa de Jesus deixou escrito: «Tomei por advogado e senhor ao glorioso são José e encomendei-me muito a ele (...). Não me lembro que lhe haja suplicado alguma coisa que a haja deixado de fazer».
 
Especialmente é pai para aqueles que tendo escutado a chamada do Senhor a ocupar, pelo ministério sacerdotal, o lugar que nos cede Jesus Cristo para o bem da Igreja. —São José glorioso: protege as nossas famílias, protege as nossas comunidades; protege a todos aqueles que ouviram a chamada à vocação sacerdotal... E que haja muitos.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Ele, que tinha tido o poder de tudo criar a partir do nada, negou-se a refazer o que tinha sido profanado se Maria não participasse» (Santo Anselmo)
 
«São José é o modelo do homem “justo” que, em perfeita sintonia com a sua esposa, acolhe o Filho de Deus feito homem com uma atitude de total disponibilidade à Vontade Divina» (Bento XVI)
 
«Deus enviou o seu Filho» (GI 4, 4). Mas, para Lhe «formar um corpo» quis a livre cooperação duma criatura. Para isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe do seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré, na Galileia, «virgem que era noiva de um homem da casa de David, chamado José. O nome da virgem era Maria» (Lc1, 26-27) O Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para Mãe, precedesse a Encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida» (Catecismo da Igreja Católica, nº 488)
 
Tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados.”
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm.
 
*
O texto de hoje pertence ao género literário, já presente no AT, dos “relatos do nascimento” de um eleito de Deus: o nascimento do eleito é anunciado por um anjo, que dá a conhecer a missão que Deus lhe vai confiar (cf. Jz 13,3s), indicada pelo nome que lhe deverá ser imposto, depois de ter nascido (cf. Gn 17,19). O eleito é, deste modo, associado, de forma singular, à obra salvífica de Deus, que é Quem toma a iniciativa e age através dele, mostrando que a obra é Sua, que a Sua Palavra é verdadeira e se cumpre sempre.
 
v. 18. A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua Mãe, estava desposada com José e antes de terem vivido juntos, achou-se grávida por virtude do Espírito Santo. A conceção de Jesus é o primeiro episódio do “Livro da origem de Jesus Cristo” (v. 1). Depois de ter apresentado a origem humana de Jesus, mostrando que Ele é “filho de David” (vv. 117), ou seja, descendente de David, Mateus apresenta a origem divina de Jesus (vv. 18-25). Ao designá-la “nascimento”, génesis em grego (vv. 1.18), o nome do primeiro livro da Bíblia na tradução grega dos LXX, Mateus indica que em Jesus se inaugura uma nova criação. O título grego “Cristo” (Mt, 16x, 6+10 = yod+vav, uma das formas do nome divino), traduz o hebraico Messias, significando o “ungido” pelo Espírito Santo (Is 11,2),  prometido por Deus a David (2Sm 7,11-16), que seria sacerdote, profeta e rei (Lv 21,12; Dt 18,18; Is 45,1; 1QS 9,11) e havia de trazer a salvação definitiva ao seu povo. O título Cristo já é usado aqui por Mateus como um nome próprio: Jesus Cristo.
 
* Estamos em Nazaré. Maria e José estavam desposados (v. 16; Lc 1,27). O casamento em Israel processava-se em duas fases: na primeira, o desposório ou esponsais (he. 'arash), os noivos prometiam-se um ao outro em casamento mediante um contrato e desposavam-se, mas sem coabitarem. Numa segunda fase, decorrido um tempo mais ou menos longo, selavam o seu compromisso definitivo, o casamento propriamente dito (he. nissuin). O vínculo assumido no desposório tinha, no entanto, um caráter tão sério que eles já se chamavam “marido” e “mulher” e se uma das partes quisesse voltar atrás, sofria uma penalidade, sendo necessário recorrer ao divórcio para o dissolver. Se nesta fase fosse concebido um filho, ele era considerado filho legítimo de ambos, e se a noiva cometesse uma infidelidade, era tida como adúltera.
 
* É nesta fase que algo de absolutamente inédito acontece: sem ter coabitado com José, Maria, que vive em sua casa, acha-se grávida por virtude “do Espírito Santo” (cf. v. 20). O Espírito Santo é o amor de Deus em ação, a Sua força criadora que está na origem do universo (cf. Gn 1,2; Sl 104,30) e do homem (cf. Jb 33,4!; Ez 37,5s; Is 42,5). Jesus não será apenas ungido pelo Espírito Santo como Messias, mas é obra sua, desde o princípio. Ele é o Homem novo, no qual se inaugura a nova criação. Maria não diz nada a ninguém, nem sequer a José, pois confia a Deus a direção de tudo.
 
v. 19. Mas José, seu marido, que era justo e não queria difamá-la, resolveu repudiá-la em segredo. Entra então em cena José (he. “Ele acrescente”). Ele é “filho de Jacob” (v. 16), evocando José, filho do patriarca Jacob, o “homem dos sonhos” (Gn 30,24; 37,19), enviado por Deus à frente dos seus irmãos para “salvar” as suas vidas, em vista da “grande libertação” (Gn 45,7). É o que José fará com Maria e Jesus. Ao aperceber-se da gravidez de Maria, sendo o único a saber que a criança não é dele, não se atreve a denunciar Maria e, apesar do que vê, respeita o mistério daquela gravidez, que não compreende, recusando repudiá-la publicamente, como mandava a Lei, limitando-se a fazê-lo “em segredo”, ou seja, em privado, entregando-lhe uma certidão de divórcio (cf. Dt 24,1), a fim de não a acusar de adultério, "expondo-a" deste modo à morte por lapidação (cf. Dt 22,20s.24).
 
* José age assim porque “era justo”. Embora soubesse, em consciência, que não podia manter a sua relação com Maria, a sua “justiça” (o amor a Deus e ao próximo, que se traduz na obediência à Sua vontade), que supera a dos escribas e fariseus (cf. 5,20), já é evangélica: age “em segredo”, só para agradar a Deus (cf. 6,1), não julgando Maria (cf. 7,1), preferindo a misericórdia à letra da Lei, evitando desta forma condenar um inocente (cf. 12,7).
 
* José e Maria são chamados “marido” e “mulher” (gr. anêr, gunê: vv. 16. 19.20.24), tal como o primeiro casal (Gn 2,23; 3,6.16); mas ao invés dos nossos primeiros pais, em que a mulher e o homem pecaram e o homem depois acusou a mulher perante Deus, neste caso nem Maria pecou, nem José a acusa, aparecendo assim ambos como o casal exemplar da nova humanidade (cf. v. 24).
 
v. 20. Tendo ele assim pensado, eis que lhe apareceu, num sonho, um anjo do Senhor, dizendo: “José, filho de David, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Tendo José pensado em repudiar Maria “em segredo” (2,7), Deus associa-se a ele e fala-lhe também em segredo, “num sonho”, através de um anjo (gr. “mensageiro”), enquanto ele dorme, em sua casa. O termo “sonho” (gr. onár) só ocorre na Bíblia em Mateus (6x: 2,12.13.19.22.19). Era através de sonhos que Deus falava aos homens no AT (cf. Gn 20,3; 31,11; 37,6; 40,5; 41,1; Nm 12,6; 1Rs 3,5; Dn 4,13). “Anjo do Senhor” (2,13.19) designa no AT o próprio Deus que intervém na história para transmitir ao homem a Sua Palavra e lhe assegurar a Sua presença (Gn 16,11; 22,11.15; Ex 3,2), realçando assim a iniciativa divina, a verdade da sua Palavra, a transcendência da missão, o caráter sobrenatural da obra, a eficácia da ação. O anjo revela a José duas coisas totalmente novas: 1) o mistério da conceção virginal de Jesus; 2) declarando-lhe algo inaudito: que aquela “é do Espírito Santo” (v. 18; Lc 1,35).
 
v. 21. Dará à luz um Filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus, pois Ele salvará o seu povo dos seus pecados”. Se em Lucas a anunciação do nome é feita a Maria (Lc 1,31); em Mateus é a José que compete impor o nome ao filho, segundo a Lei (v. 25; ao oitavo dia, na circuncisão, quando o pai recebe a criança como seu filho, mesmo no caso deste ser adotivo: Gn 17,19; 21,3s; Lc 2,21). “Jesus” é a tradução grega do nome hebraico “Josué” (Ieoshuah), “Deus salva”. Em aramaico diz-se Ieshuah, a palavra usada em hebraico para “salvação”. É o nome do sucessor de Moisés, que introduziu Israel na Terra Prometida. Como o nome indica, a missão de Jesus será a de salvar “o seu povo”, agora, porém, não de inimigos terrenos (os egípcios), mas “dos seus pecados”, o que só Deus podia fazer (cf. Sl 130,8), não esperando ninguém que o Messias o fizesse (Str-B 1,70-74). É a terceira novidade: Jesus fá-lo-á (pelo Seu Sangue, derramado para remissão dos pecados: 26,28; Lv 17,11; Hb 9,14s; Ef 1,7; Cl 1,1), levando, como novo Josué, o novo povo de Deus, num novo êxodo, à sua verdadeira pátria, o Reino dos céus.
 
v. 22. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que tinha sido dito pelo Senhor por meio do profeta. É em Jesus que se “cumpre o que foi dito” por Deus nas Escrituras (plêrôthê tó rêthen, 10x: 2,15.17.23; 4,14; 8,17; 12,17; 13,35; 21,4; 27,9), embora ultrapassando-o muito. Este é um tema central em Mateus que escreve para cristãos de origem judaica, para quem era fundamental a prova escriturística, aduzida segundo o esquema promessa-cumprimento: Deus faz o que disse, cumpre o que prometeu (cf. Nm 23,19). E tudo o que Deus prometeu no AT realiza-se em Jesus Cristo e, por meio dele, naqueles que nele acreditam.
 
v. 23. “Eis que a virgem conceberá no ventre e dará à luz um filho, a quem chamarão Emanuel” o que, traduzido, é: “Deus conosco”. Revelam-se então mais duas boas novas: 1) Jesus, o Messias prometido, concebido pelo Espírito Santo, nascido de uma virgem, é quem redimirá o seu povo dos seus pecados; 2) Ele é o Emanuel prometido em Is 7,14 (8,8), ou seja, o “Deus conosco” (Is 8,10; 2Cr 32,8; Sl 46,8.12). A passagem de Is 7,14, aduzida por Mateus, não era, porém, uma passagem que no judaísmo se aplicasse ao Messias, mas apenas ao rei Ezequias (NuR 14,173a); mas é agora, porém, que se cumpre à letra, de forma inaudita, o que ela significava e que Deus tinha prometido através dos profetas: habitar no meio do seu povo (cf. Ex 29,45; Ez 37,27; Zc 2,10; 8,23; 2Cor 6,16), sendo Ele mesmo a fazê-lo em Jesus, o Deus-conosco. O tema, de capital importância para a autocompreensão do povo de Deus, já desde Moisés (cf. Ex 33,16; 34,9), é retomado por Mateus no final do seu Evangelho (28,20; cf. 26,29), de modo a formar uma “grande inclusão”, à volta da figura de Jesus, o “Deus conosco”.
 
v. 24. Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe tinha ordenado e recebeu a sua mulher. “Quando despertou do sono” (Gn 28,16), “José fez como o Anjo do Senhor lhe tinha ordenado” (gr. prostásso: 8,4; Js 5,14) e recebe Maria como esposa. Pela fé e obediência de José, “filho de Abraão” (v. 1), à Palavra de Deus, na qual se apoia, pondo toda a sua confiança em Deus, e não no que vê (cf. Gn 15,6) ou as leis da natureza dizem, as vidas de Maria e de Jesus são salvas e Jesus será “o Filho de David” (Mt, 9x: v. 1; 2,42.45 9,27; 12,23; 15,22; 20,30s; Rm 1,3; 2Tm 2,8; 2Sm 7,11-16), não graças à carne, pela força da Lei, mas em virtude da promessa, por obra do Espírito Santo. Deus compraz-se na colaboração do homem, reputando o que se faz ao mais pequenino dos irmãos do Seu Filho como sendo feito a Ele (cf. 25,40); é o que aqui agora literalmente acontece: o gesto que José tem em relação a Jesus (e Maria) é realmente feito a Ele.
 
MEDITAÇÃO
1. Tenho a mesma disponibilidade de Maria para acolher os desafios de Deus? Sou capaz de dizer cada dia “sim” a Jesus, para que Ele possa nascer em mim e chegar através de mim aos outros para os salvar?
2. Acolho os projetos de Deus com a mesma disponibilidade de José, na obediência total a Deus? Como reajo quando alguém não é como eu gostaria que fosse ou como acho que deveria ser?
 
Chamados a acolher o Deus conosco
 
Pe. Eduardo Caseiro
 
* Enquanto o Evangelho segundo São Lucas nos oferece o testemunho da Alegre notícia do Deus que vem a este mundo por meio do Seu Filho feito homem a partir do olhar de Nossa Senhora, o Evangelho de São Mateus oferece-nos uma visão complementar, a de São José.
José e Maria eram noivos, mas há algo que abala o seu caminho de preparação para o matrimónio: Maria encontra-se grávida. Acolhendo a Anunciação do Anjo e dando o seu sim, recebe no seu seio o Filho de Deus. Jesus, o Deus conosco, encontra no seio de Maria o primeiro lugar que o acolhe a este mundo. Ao receber esta notícia da parte de Maria, José fica confuso e pensa deixá-la em segredo. José tinha medo do desfecho daquela história. Mas eis que Deus age e anuncia a José que aquele menino que Maria gera no seu seio é o Filho de Deus, o Deus conosco. E que a sua família tinha sido escolhida para acolher esta dádiva de Deus ao mundo. José, que era um homem justo, acolhe este anúncio, e recebe Maria como sua esposa, tornando-se também ele protagonista desta história de amor entre Deus e os homens.
 
* A ação de Deus na nossa vida é, grande parte das vezes, desconcertante. Porque nos desafia a sair dos nossos esquemas mentais, dos nossos pequenos projetos, da nossa vida tantas vezes corrida, que não é saboreada. Quando Deus entra, tudo muda, porque a vinda de Deus à nossa vida traz sempre a novidade que só o infinito amor de Deus por nós pode trazer.
 
* Ao olharmos a vida de José e de Maria, que se preparavam para o matrimónio, não nos será difícil pensar que os seus projetos, os seus sonhos comuns, aquilo a que se dispunham viver como família não incluía acolher a vinda de Deus à nossa carne, não incluía de tal modo fazer parte do projeto de Deus para a vida do mundo que seriam o seio familiar onde Jesus nasceria, cresceria, aprenderia, em certo sentido, a ser homem.
 
* Mas Deus vem. Diz a Maria: ‘Não temas, porque achaste graça diante de Deus, e o que vai nascer será chamado Filho do Altíssimo’. Diz a José ‘Não temas receber Maria, pois o que nela se gerou é fruto do Espírito Santo’. Vem, desafia o seu modo de viver a vida e convida-os à confiança: o que Deus tem reservado para eles, para cada homem e mulher, é sempre maior do que aquilo que possamos pedir ou imaginar.
 
* Tinha ele assim pensado, quando lhe apareceu num sonho o Anjo do Senhor.
Acolher a vinda de Deus à nossa vida é receber a certeza de que os nossos projetos, os nossos desejos, a nossa maneira de olhar a vida, será profundamente alterada, porque imensamente enriquecida pelo amor transformante de Deus. 
Como estou a viver este tempo de Advento? Estou atento às vindas de Deus à minha vida? E sou capaz de o acolher, com tudo o que isso traz de desafio à transformação do meu olhar e da minha vida?
 
* Tudo isto aconteceu para se cumprir o que o Senhor anunciara por meio do Profeta.
Deus não esquece as suas promessas. Acreditamos num Deus atento à vida dos homens, um Deus que jamais deixa de se mostrar presente e de dar carne concreta à suas promessas. 
Sou capaz de olhar a minha vida como bênção de Deus? Como um lugar onde Deus cumpre as suas promessas?
 
* Quando despertou do sono, José fez como o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua esposa. Deus oferece-se à nossa vida. Mas não se impõe: espera a nossa resposta. Porque o amor não se impõe, mas espera pacientemente o sim da nossa liberdade. 
Como me coloco diante dos apelos que Deus me faz? Ofereço livremente a minha vida para ser um lugar onde Deus pode agir, por meio do qual Deus pode vir a este mundo?

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