quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Sábado XXI do Tempo Comum

Santa Eufrásia do S. Coração de Jesus, virgem
Beato Alfredo Ildefonso Schuster, bispo
Beato Eustáquio van Lieshout, presbítero
 
1ª Leitura (1Tes 4,9-11):
Irmãos: Sobre o amor fraterno, não precisais que vos escreva, porque vós mesmos aprendestes de Deus a amar-vos uns aos outros. E assim fazeis com todos os irmãos na Macedónia. Nós vos exortamos, irmãos, a progredir cada vez mais, tendo como ponto de honra viver em paz, ocupando-vos dos vossos assuntos e trabalhando com as vossas próprias mãos, como vos ordenámos.
 
Salmo Responsorial: 97
R. O Senhor julgará os povos com justiça.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.
 
Ressoe o mar e tudo o que ele encerra, a terra inteira e tudo o que nela habita; aplaudam os rios e as montanhas exultem de alegria.
 
Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra: julgará o mundo com justiça e os povos com equidade.
 
Aleluia. Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 25,14-30): «O Reino dos Céus é também como um homem que ia viajar para o estrangeiro. Chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens: a um, cinco talentos, a outro, dois e ao terceiro, um — a cada qual de acordo com sua capacidade. Em seguida viajou. O servo que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles e lucrou outros cinco. Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas aquele que havia recebido um só, foi cavar um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu senhor. Depois de muito tempo, o senhor voltou e foi ajustar contas com os servos. Aquele que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco que lucrei’. O senhor lhe disse: ‘Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!’. Chegou também o que havia recebido dois talentos e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. O senhor lhe disse: ‘Parabéns, servo bom e fiel! Como te mostraste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da alegria do teu senhor!’. Por fim, chegou aquele que havia recebido um só talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ajuntas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. O senhor lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Sabias que eu colho onde não plantei e que ajunto onde não semeei. Então devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’. Em seguida, o senhor ordenou: ‘Tirai dele o talento e dai àquele que tem dez! Pois a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. E quanto a este servo inútil, lançai-o fora, nas trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes!’».
 
«Um homem que ia viajar para o estrangeiro, chamou os seus servos e lhes confiou os seus bens»
 
Rev. D. Albert SOLS i Lúcia (Barcelona, Espanha)
 
Hoje contemplamos a parábola dos talentos. Em Jesus apreciamos uma mudança do estilo na sua mensagem: o anúncio do Reino, já não se limita tanto em assinalar a sua proximidade, mas a descrever seu conteúdo através de narrações: é hora das parábolas!
 
Um grande homem decide empreender uma longa viagem, e confia todo seu patrimônio a seus servos. Podia tê-lo distribuído em partes iguais, mas não o fez assim. Deu a cada um conforme a sua capacidade (cinco, dois e um talentos). Com aquele dinheiro, cada criado podia capitalizar o início de um bom negócio. Os dois primeiros se lançaram à administração de seus depósitos, mas o terceiro —por medo ou por preguiça— preferiu guardá-lo, eludindo todo investimento: se fechou na comodidade de sua própria pobreza.
 
O senhor regressou e... Exigiu a prestação de contas (cf. Mt 25,19). Premiou a valentia dos dois primeiros, que duplicaram o depósito confiado. O trato com o criado “prudente” foi muito diferente.
 
Dois mil anos depois, a mensagem da parábola continua tendo atualidade. As modernas democracias caminham para uma separação progressiva entre a Igreja e os Estados. Isto não é mau, pelo contrário. Não obstante, esta mentalidade global e progressiva esconde um efeito secundário, perigoso para os cristãos: ser a imagem viva daquele terceiro servo a quem o amo (figura bíblica de Deus Pai) repreendeu com grande severidade. Sem malícia, por mera comodidade ou medo, corremos o perigo de esconder e reduzir a nossa fé cristã ao meio familiar e amigos íntimos. O Evangelho não pode ficar numa leitura e estéril contemplação. Devemos administrar com valentia e risco a nossa vocação cristã no próprio ambiente social e profissional, proclamando a figura de Cristo com as palavras e o testemunho.
 
Santo Agostinho comenta: «Quem predica a palavra de Deus aos povos, não está tão longe da condição humana e da reflexão apoiada na fé, que não possa advertir os perigos. Porém, “consola saber que onde resida o perigo por causa do ministério, aí temos a ajuda de vossas orações».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Um pouco desse amor puro é mais precioso perante Deus e a alma, e é mais proveitoso para a Igreja, embora parecendo nada fazer, do que todas estas obras juntas» (S. João da Cruz)
 
«O Senhor não dá a todos as mesmas coisas nem da mesma maneira: conhece-nos pessoalmente e confia-nos aquilo que é justo para nós; mas a todos atribui a mesma imensa confiança. Não O defraudemos!» (Francisco)
 
«Estas diferenças fazem parte do plano de Deus que quer que cada um receba de outrem aquilo de que precisa e que os que dispõem de «talentos» particulares comuniquem os seus benefícios aos que deles precisam (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.937)
 
Com os nossos talentos ao serviço
 
Do site do Opus Dei
 
* NUMA OCASIÃO, Jesus contou a história de um homem que “ia viajar para o estrangeiro.
Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens. A um deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade. Em seguida viajou” (Mt 25, 14-15). O que aquele homem pretendia era que os seus servos negociassem com o que tinham recebido, para obter um retorno quando voltasse. Cristo contou esta parábola para explicar a necessidade de corresponder aos dons naturais e sobrenaturais que Deus nos concedeu.
 
* Tal como aos servos da parábola, o Senhor deu-nos talentos únicos; capacidades que podemos pôr à sua disposição para dar fruto e tornar o nosso ambiente um lugar melhor. “Deus chama todo homem à vida e entrega-lhes talentos, confiando-lhes ao mesmo tempo uma missão para cumprir. Seria tolice pensar que estes dons são um direito, assim como renunciar a usá-los seria não cumprir o fim da própria existência”[Bento XVI, Ângelus, 13/11/ 2011]. O primeiro passo para aproveitá-los é reconhecê-los, ou seja, identificar qual é a minha contribuição específica para os outros. Às vezes, pode estar relacionado com o nosso temperamento: uma pessoa expansiva pode ter facilidade para animar ou fazer rir os outros, enquanto uma pessoa introvertida pode ter mais tendência para ouvir e reconhecer as necessidades dos que a rodeiam. Outras vezes, esses talentos estarão ligados às nossas competências profissionais, com as quais contribuímos para a melhoria da sociedade em que vivemos e que também podem dar forma às nossas relações.
 
* Em todo o caso, o decisivo não é tanto a magnitude do impacto que podemos deixar, mas o esforço para fazer render o talento, acompanhado pela graça divina. Na parábola, o Senhor louva tanto aquele que produziu cinco talentos como aquele que deu dois, pois reconheceu o esforço de ambos para dar bons frutos. Deste modo, Jesus quer que valorizemos o que recebemos e que sejamos gratos pelos dons dos outros. Enquanto a inveja nos leva a desprezar o que temos e a nos entristecermos com os talentos dos outros, a proposta de Cristo é muito mais entusiasmante: ele nos convida a pôr em jogo as nossas qualidades, sejam elas muitas ou poucas, e a gozar o bem que deriva de servir e deixar-se servir pelos dons dos outros. “Desenterra esse talento! Torna-o produtivo e saborearás a alegria de saber que, neste negócio sobrenatural, não importa que o resultado na terra não seja uma maravilha que os homens possam admirar. O essencial é entregarmos tudo o que somos e possuímos, procurarmos que o talento renda, e empenharmo-nos continuamente em produzir bom fruto”[São Josemaria, Amigos de Deus, n. 47.].
 
* UM DOS SERVOS da parábola recebeu um talento. Mas, em vez de negociar com ele para obter um retorno, “cavou um buraco na terra, e escondeu o dinheiro do seu patrão” (Mt 25,18). E quando o patrão voltou, explicou porque tinha feito aquilo: “Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso fiquei com medo e escondi o teu talento no chão” (Mt 25, 24-25).
 
* É normal que, perante a missão que Deus nos confia, sintamos, como o servo da parábola, um certo medo. Temos medo de não estar à altura da tarefa, de falhar, de ficar mal, de perder o talento que recebemos... Ter este sentimento não é um problema. Na verdade, é uma reação lógica: se, perante o que o Senhor nos pede, nos sentíssemos muito confiantes nas nossas capacidades, confiaríamos mais naquilo que podemos fazer do que na graça divina. O medo inicial é bom quando nos leva a nos abandonarmos em Deus, pois assim transforma-se em confiança. “Este servo não tem uma relação de confiança com o seu patrão, mas medo, e isso paralisa-o. O temor imobiliza sempre e, muitas vezes, leva a tomar decisões erradas. O medo dissuade de tomar iniciativa, induz a refugiar-se em soluções seguras e garantidas e, assim se acaba por não realizar nada de bom. Para ir em frente e crescer no caminho da vida, não se deve ter medo, é necessário ter confiança”[Francisco, Ângelus, 19/11/2017].
 
* O medo crônico pode ser devido a uma imagem deformada de Deus.
Às vezes, como o servo, podemos pensar no Senhor como um patrão severo que só quer castigar-nos. “Se dentro de nós houver esta imagem errada de Deus, então a nossa vida não poderá ser fecunda, porque viveremos com o medo e isso não nos levará a nada construtivo”[Francisco, Ângelus, 19/11/2017]. A Sagrada Escritura, pelo contrário, mostra-nos um “Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera e rico em clemência e fidelidade” (Ex 34, 6); em vez de um rei que castiga sem piedade os erros dos seus súditos, é um Pai que cobre de beijos o filho que regressa a casa e lhe prepara o melhor que tem (cf. Lc 15, 11-32). Neste sentido, São Josemaria comentava que Deus não é como um caçador que espera o menor descuido da caça para a abater, mas é como um jardineiro “que cuida das flores, as rega e as protege; e só as corta quando estão mais belas, cheias de louçania”[São Josemaria, citado em Andrés Vázquez de Prada, O Fundador do Opus Dei, vol. 3, Quadrante, São Paulo, p. 393].
 
* O SENHOR da parábola se dirige a cada um dos servos que deram fruto da seguinte forma: “Muito bem, servo bom e fiel! como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!” (Mt 25, 21). Ao contrário do que o terceiro servo poderia ter pensado, o patrão é bastante magnânimo, pois recompensa de forma desproporcional os esforços dos seus trabalhadores. Embora os servos tivessem feito pouco, receberiam algo muito maior do que humanamente se poderia esperar: uma vida junto do seu senhor.
 
* Cristo mostra que, para alcançar a vida eterna, não é necessário fazer coisas extraordinárias. É certo que a biografia de alguns santos é marcada por acontecimentos assim, mas Deus conduz a maioria das pessoas por um caminho normal de santidade. E esse caminho é caracterizado pelo amor com que realizamos as tarefas que o Senhor nos confiou: o cuidado da nossa família, o desempenho do nosso trabalho, as práticas de piedade... Todas estas realidades, como os talentos da parábola, podem assumir dimensões inimagináveis: sendo bons pais, esposos, cristãos e trabalhadores, podemos gozar da glória do céu.
 
* “A vida habitual não é algo sem valor. Se fazer as mesmas coisas todos os dias pode parecer chato, sem graça, sem inspiração, é porque falta amor. Quando há amor, cada novo dia tem outra cor, outra vibração, outra harmonia. Que façais tudo por Amor. Não nos cansemos de amar o nosso Deus: precisamos aproveitar cada segundo da nossa pobre vida para servir todas as criaturas, por amor de Nosso Senhor, porque o tempo da vida mortal é sempre pouco para amar, é tão breve como o vento que passa”[São Josemaria, Carta 1, n. 19]. A maior parte da vida da Virgem Maria foi passada na normalidade, como qualquer outra mulher da época. A ela podemos confiar os talentos que Deus nos deu, para que os saibamos fazer frutificar nas nossas realidades cotidianas.

 

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