quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Domingo XXII do Tempo Comum

 São Raimundo Nonato, presbítero e cardeal
 
1ª Leitura (Si 3,17-18.20.28-29):
Filho, em todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem generoso. Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante do Senhor. Porque é grande o poder do Senhor e os humildes cantam a sua glória. A desgraça do soberbo não tem cura, porque a árvore da maldade criou nele raízes. O coração do sábio compreende as máximas do sábio e o ouvido atento alegra-se com a sabedoria.
 
Salmo Responsorial: 67
R. Na vossa bondade, Senhor, preparastes uma casa para o pobre.
 
Os justos alegram-se na presença de Deus, exultam e transbordam de alegria. Cantai a Deus, entoai um cântico ao seu nome; o seu nome é Senhor: exultai na sua presença.
 
Pai dos órfãos e defensor das viúvas, é Deus na sua morada santa. Aos abandonados Deus prepara uma casa, conduz os cativos à liberdade.
 
Derramastes, ó Deus, uma chuva de bênçãos, restaurastes a vossa herança enfraquecida. A vossa grei estabeleceu-se numa terra que a vossa bondade, ó Deus, preparara ao oprimido.
 
2ª Leitura (Heb 12,18-19.22-24a): Irmãos: Vós não vos aproximastes de uma realidade sensível, como os israelitas no monte Sinai: o fogo ardente, a nuvem escura, as trevas densas ou a tempestade, o som da trombeta e aquela voz tão retumbante que os ouvintes suplicaram que não lhes falasse mais. Vós aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste, de muitos milhares de Anjos em reunião festiva, de uma assembleia de primogénitos inscritos no Céu, de Deus, juiz do universo, dos espíritos dos justos que atingiram a perfeição e de Jesus, mediador da nova aliança.
 
Aleluia. Tomai o meu jugo sobre vós, diz o Senhor, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 14,1.7-14): Num dia de sábado, Jesus foi comer na casa de um dos chefes dos fariseus. Estes o observavam. Jesus notou como os convidados escolhiam os primeiros lugares. Então contou-lhes uma parábola: «Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado alguém mais importante, e o dono da casa, que convidou os dois, venha a te dizer: ‘Cede o lugar a ele’. Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar. Ao contrário, quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar. Quando chegar então aquele que te convidou, ele te dirá: ‘Amigo, vem para um lugar melhor! ’ Será uma honra para ti, à vista de todos os convidados. Pois todo aquele que se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado». E disse também a quem o tinha convidado: «Quando ofereceres um almoço ou jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes podem te convidar por sua vez, e isto já será a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos! Então serás feliz, pois estes não têm como te retribuir! Receberás a recompensa na ressurreição dos justos».
 
«Os convidados escolhiam os primeiros lugares»
 
Rev. D. Enric PRAT i Jordana (Sort, Lleida, Espanha)
 
Hoje, Jesus nos dá uma lição magistral: Não busqueis o primeiro lugar. «Quando fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar» (Lc 14,8). Jesus Cristo sabe que gostamos de situar-nos no primeiro lugar: nos atos públicos, nas reuniões, em casa, na mesa… Ele conhece da nossa tendência a sobrevalorizar-nos por vaidade e, ainda pior, por orgulho mal dissimulado. Estejamos prevenidos com os honores!, Já que «o coração fica encadeado aí onde encontra possibilidade de fruição» (São Leão Magno).
 
Quem nos disse que, não existem colegas com mais méritos ou categoria pessoal? Não se trata, pois, de algo esporádico, mas de uma atitude assumida de nos sentir melhores, mais importantes, com mais méritos, os que sempre temos razão; isso é uma pretensão que supõe uma visão estreita sobre nós e sobre o que nos rodeia. De fato, Jesus convida-nos a praticar uma humildade perfeita, que consiste em não nos julgar nem julgar aos outros e, de conscientizar-nos sobre a nossa insignificância individual respeito ao cosmos e à vida.
 
Então, o Senhor, propõe que, por precaução, escolhamos o último lugar, porque se bem desconhecemos a realidade íntima dos outros, sabemos que nós somos irrelevantes se comparados com o espetáculo do universo. Por conseguinte, situar-nos no último lugar, é atuar com certeza. Não seja que o Senhor, que nos conhece a todos desde nossa intimidade, deva dizer-nos: «‘Cede o lugar a ele’. ‘Então irás cheio de vergonha ocupar o último lugar´» (Lc 14,9).
 
Na mesma linha de pensamento, o Mestre convida-nos a colocar-nos com humildade ao lado dos preferidos de Deus: pobres, inválidos, coxos, cegos, e a nos igualar com eles até nos encontrar no meio de aqueles que Deus ama com especial ternura e, a superar toda repugnância e vergonha em compartir a mesa e amizade com eles.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Honras a ti, meu Senhor Jesus Cristo que, com todo o teu glorioso corpo ensanguentado, foste condenado à morte da cruz, carregaste sobre os teus ombros o madeiro, foste levado inumanamente ao lugar do suplicio» (Santa Brígida)
 
«Cristo ocupou o último lugar no mundo —a cruz—, e foi precisamente com essa humildade radical que nos redimiu» (Bento XVI)
 
«(...) A inveja nasce do orgulho; o batizado exercitar-se-á a viver na humildade» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.540)
 
Nós que nos considerávamos dentro e seguros...
 
Do site da  Ordem do Carmo em Portugal
 
*
A palavra do Evangelho proclamado neste Domingo XXI (Lucas 13,22-30) se dirige fortemente a NÓS, os que nos consideramos de dentro, e continua a desconcertar a nossa miopia no que às coisas de Deus diz respeito. «Comemos e bebemos contigo», «ouvimos os teus ensinamentos» (Lucas 13,26)! É como quem diz: frequentámos a Igreja e os sacramentos, comungámos tantas vezes, ouvimos proclamar a tua palavra, conhecemos-te muito bem, somos praticantes de longa data e até talvez… beatos!
 
* Ficaremos espantados quando percebermos bem que os títulos que orgulhosamente ostentamos são falsos, há muito caducados, e não garantem o acesso a lugar nenhum no banquete do Reino dos Céus, pois não basta dizer «Senhor, Senhor!». É preciso «fazer a vontade do meu Pai que está nos céus!», diz-nos Jesus (Mateus 7,21).
 
* Salta à vista que o texto de Lucas 13,22-30 se divide claramente em duas partes; Lucas 13,22-24 e Lucas 13,25-30. A primeira parte abre com o aceno ao caminho crucial de Jesus, que, desde Lucas 19,51, se dirige sem hesitação para Jerusalém. Lucas 13,22 apresenta-nos a segunda menção deste caminho para Jerusalém. É neste contexto do caminho, que surge a nossa pergunta: «Senhor, é pequeno o número dos que se salvam?» (Lucas 13,23). Como é seu hábito, Jesus não responde diretamente «sim» ou «não». Em vez disso, deixa uma forte interpelação (Lucas 13,24) e conta uma parábola (Lucas 13,25-30).
 
* Eis a interpelação: «Lutai com todas as forças por entrar pela porta estreita» (Lucas 13,24). O verbo empregado implica luta e empenho extremo, não assim. A parábola é ainda mais desconcertante para nós. É mesmo tão desconcertante, que corremos o risco de nem sequer levarmos a sério o que ouvimos. Da porta estreita, Jesus passa para a casa e para o dono da casa que fecha a porta (Lucas 13,25). E, pelos vistos, nós não estamos dentro da casa, estamos fora, a bater à porta e a gritar: «Senhor, abre-nos!». E, de dentro, vem a resposta do dono da casa: «Não vos conheço!» (Lucas 13,25).
 
* Ao contrário, e para novo e ainda maior espanto nosso, NÓS, de fora, veremos a casa cheia de gente que vem de longe, do norte, do sul, do nascente e do poente. E perguntaremos atravessados por um último espanto: então, NÓS, que somos padres, sacristães, ministros da comunhão, catequistas, acólitos, leitores, membros do conselho económico, do conselho pastoral, do grupo coral e não sei de quantas irmandades, NÓS, que estávamos sempre do lado de dentro, como é que agora estamos do lado de fora?! Então, e estes desconhecidos, pagãos, não praticantes, que antes tinham de nos pedir licença para entrar, como é que agora estão lá dentro, e nós cá fora?!
 
* A razão é clara: o dono da casa não nos conhece (Lucas 13,25). Reside, então, aqui o problema. Estamos tantas vezes dentro das igrejas, tagarelamos uns com uns com os outros, ocupamos ciosamente os nossos lugares, mas será que prestamos alguma atenção ao dono da casa? Será que chegamos a dar pela Presença que habita aquela Casa e que dá sentido à nossa vida? Falamos com Ele? Fazemos com Ele aquele caminho crucial?
 
* É neste caminho que acontecem coisas importantes, e não podemos andar nele distraídos, inativos, de braços caídos. A página de Mateus 25 explicita bem o tom do Evangelho de hoje: «Afastai-vos de MIM (…), pois tive fome e não ME destes de comer, tive sede e não ME destes de beber, era estrangeiro e não ME acolhestes, nu e não ME vestistes, estive doente e na prisão e não ME visitastes. (…) Em verdade vos digo: cada vez que não o fizestes a UM destes, os mais pequenos, também a MIM o NÃO FIZESTES”» (Mateus 25,42-43.45).
 
* Salta à vista que é urgente começar AGORA a compreender que é preciso validar, com a vida, o bilhete que dá acesso à mesa do Reino dos Céus. A compreender e a fazer. É a inação que nos desclassifica. Jesus manda-nos lutar: «Lutai com todas as forças, até agonizar, por entrar pela porta estreita» (Lucas 13,24). Podemos ouvi-lo, de outra maneira, da boca de Pedro em Cesareia Marítima: «Na verdade, Deus não faz acepção de pessoas, mas em qualquer nação, quem o teme e pratica a justiça é bem aceite por Ele» (Atos dos Apóstolos 10,34-35).
 
* Hoje, como sempre, é de santos e de justos que o nosso mundo precisa. Deles é o Reino dos Céus. E NÓS? Eles não perdem tempo em acudir às necessidades dos seus irmãos, sejam eles quem forem. E NÓS? Alguém dizia, não há muito tempo, que «os cristãos meramente praticantes estão em fim de linha. Hoje, precisamos de cristãos enamorados!». O cristão meramente praticante é aquele que está sempre a dizer: «Posso estar descansado: hoje cumpri todos os meus deveres». O cristão enamorado é aquele que não pára de dizer: «Sim, fiz alguma coisa; mas ainda tenho tanta coisa para fazer!».
 
* Lutai com todas as vossas forças em todos os momentos. A porta é estreita e está aberta pouco tempo. É o espaço e o tempo da nossa vida. Sede cristãos enamorados! E não vos esqueçais que o amor verdadeiro (agápê) é uma luta (agôn), sendo que agápê e agôn têm a mesma etimologia (António Couto).
 
* Segundo Lucas, um desconhecido interrompe a marcha de Jesus e pergunta-lhe pelo número dos que se salvarão: serão poucos?, serão muitos?, salvaram-se todos?, só os justos? Jesus não responde diretamente à sua pergunta. O importante não é saber quantos se salvarão. O decisivo é viver com atitude lúcida e responsável para acolher a salvação desse Deus Bom. Jesus recorda-o a todos: «Esforçai-vos por entrar pela porta estreita».
 
* Desta forma, corta pela raiz a reação de quem entende a Sua mensagem como um convite ao laxismo. Seria escarnecer do Pai. A salvação não é algo que se recebe de forma irresponsável de um Deus permissivo. Não é tampouco o privilégio de alguns eleitos. Não basta ser filhos de Abraão. Não é suficiente ter conhecido o Messias.
 
* Para acolher a salvação de Deus é necessário esforçar-nos, lutar, imitar o Pai, confiar no Seu perdão. Jesus não reduz as Suas exigências: «Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso»; «Não julgueis e não sereis julgados»; «Perdoai setenta vezes sete» como o vosso Pai; «Buscai o reino de Deus e a sua justiça».
 
* Para entender corretamente o convite para «entrar pela porta estreita», temos de recordar as palavras de Jesus que podemos ler no evangelho de João: «Eu sou a porta; se alguém entrar por mim será salvo» (João 10,9). Entrar pela porta estreita é «seguir Jesus»; aprender a viver como Ele; tomar a sua cruz e confiar no Pai que o ressuscitou.
 
* Neste seguir a Jesus, nem tudo vale, nem tudo é igual; temos de responder ao amor do Pai com fidelidade. O que Jesus pede não é rigor legalista, mas amor radical a Deus e ao irmão. Por isso, a Sua chamada é fonte de exigência, mas não de angústia. Jesus Cristo é uma porta sempre aberta. Ninguém a pode fechar, só nós se nos fechamos ao Seu perdão (J. A. Pagola).

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO