sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

O Batismo do Senhor

1ª Leitura (Is 42, 1-4.6-7):
Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».
 
Salmo Responsorial: 28
R. O Senhor abençoará o seu povo na paz.
 
Tributai ao Senhor, filhos de Deus, tributai ao Senhor glória e poder. Tributai ao Senhor a glória do seu nome, adorai o Senhor com ornamentos sagrados.
 
A voz do Senhor ressoa sobre as nuvens, o Senhor está sobre a vastidão das águas. A voz do Senhor é poderosa, a voz do Senhor é majestosa.
 
A majestade de Deus faz ecoar o seu trovão e no seu templo todos clamam: Glória! Sobre as águas do dilúvio senta-Se o Senhor, o Senhor senta-Se como Rei eterno.
 
2ª Leitura (At 10, 34-38): Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele».
 
Aleluia. Abriram-se os céus e ouviu-se a voz do Pai: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». Aleluia.
 
Evangelho (Lc 3,15-16.21-22): Como o povo estivesse na expectativa, todos se perguntavam interiormente se João era ou não o Cristo, e ele respondia a todos: «Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desatar a correia de as suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo». Enquanto todo o povo estava batizado. Quando Jesus, também batizado, se pôs em oração, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele, em forma corpórea, como uma pomba. E do céu veio uma voz: «Tu és o meu filho amado; em ti está meu pleno agrado».
 
«Tu és o meu filho amado; em ti está meu pleno agrado»
 
Pe. Joan BUSQUETS i Masana (Sabadell, Barcelona, Espanha)
 
Hoje contemplamos Jesus já adulto. O menino da Manjedoura faz-se homem completo, maduro e respeitável e, chega o momento em que deve trabalhar na obra que o Pai lhe confiou. É assim como o encontramos no Jordão no momento de começar este labor. Outro mais na fila daqueles contemporâneos seus que iam ouvir a João e lhe pedir o banho do batismo, com signo de purificação e renovação interior.
 
Ali, Jesus é descoberto e assinalado por Deus: «Enquanto todo o povo estava batizado Quando Jesus, também batizado, se pôs em oração, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele, em forma corpórea, como uma pomba. E do céu veio uma voz: “Tu és o meu filho amado; em ti está meu pleno agrado» (Lc 3,21-22). É o primeiro ato da sua vida pública, sua investidura como Messias.
 
É também o prefácio de seu modo de agir: Não agirá com violência, nem com gritos e aspereza, senão com silêncio e suavidade. Não cortará a canha quebrada, senão que a ajudará a se manter firme. Abrirá o olhos aos cegos e liberará os cativos. Os sinais messiânicos de que descrevia Isaías, se cumprirão nele. Nós somos os beneficiários de tudo isso porque, como lemos hoje na carta de São Paulo: «Ele nos salvou, não por causa dos atos de justiça que tivéssemos praticado, mas por sua misericórdia, mediante o banho da regeneração e renovação do Espírito Santo. Este Espírito, ele o derramou copiosamente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador para que, justificados pela sua graça, nos tornemos, na esperança, herdeiros da vida eterna» (Tit 3,5-7).
 
A festa do Batismo de Jesus deve nos ajudar a lembrar nosso próprio Batismo e compromissos que por nós tomaram nossos pais e padrinhos ao nos apresentar na Igreja para nos fazer discípulos de Jesus: «O Batismo nos liberou de todos os males, que são os pecados, mas com a graça de Deus devemos cumprir com bondade» (San Cesáreo de Arles).
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Reconhece, cristão, a tua dignidade e, visto que foste feito partícipe da natureza divina, não penses em regressar com um comportamento indigno às velhas vilezas... O teu preço é o sangue de Cristo!» (São Leão Magno)
 
«No Batismo somos consagrados pelo Espírito Santo. A palavra “cristão” significa isto: consagrado como Jesus, no mesmo Espírito. Se quiserem que os vossos filhos se tornem cristãos autênticos, os ajudem a crescer no calor do amor de Deus, na luz da sua Palavra» (Francisco)
 
«Pelo Batismo, o cristão é sacramentalmente assimilado a Jesus que, no seu baptismo, antecipa a sua morte e ressurreição. Deve entrar neste mistério de humilde abatimento e de penitência, descer à água com Jesus, para de lá subir com Ele, renascer da água e do Espírito para se tornar, no Filho, filho amado do Pai e ‘ viver numa vida nova’ (Rm 6, 4) (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 537).

“Tu és o meu Filho muito amado”
 
* O texto de hoje tem duas secções:
o anúncio do Messias por João Batista (vv. 15s; omitem-se os 17-20 ) e o batismo de Jesus (vv. 21s).
 
* v. 15. Lucas situa o batismo de Jesus no quadro da “expectativa” da vinda de “Cristo” (gr., he. Messias, “ungido”: Sl 2,2; Dn 9,25s; Jo 1,41; 4,25), tida então como iminente, perguntando-se muita gente do povo se João Batista não seria o Messias.
 
* v. 16. João nega-o, declarando que se limita a batizar “com água”. “Batizar” (gr., he. tabal) significa “mergulhar”, “tomar banho”, “imergir” na água até ficar encharcado (2Rs 5,14; cf. Jdt 12,7; Sr 34,25). “O batismo de João” (7,29; 20,4p; At 1,22; 18,25; 19,3) é apenas um sinal de arrependimento que exprime o desejo de ser purificado dos pecados, mas não confere a “remissão dos pecados” (v. 3; 1,77; 24,47), que só Deus pode dar graças à efusão do Espírito Santo (Ez 36,25ss) pelo Messias (Dn 9,24), cuja pessoa e missão João anuncia, ambas em dois pontos.
 
A) O Messias é: 1) “Aquele que vem”, uma alusão: a) ao Rei manso e humilde (Zc 9,9) b) que vem em nome do Senhor (19,38p; Sl 118,26), c) em quem se anuncia a vinda do próprio Deus (Ml 3,1), d) como Senhor e Salvador do universo (Sl 96,13); e) e que, como Rei e pastor, reconduzirá o seu povo, disperso pelo pecado, à sua terra (Is 40,9ss).
2) “O mais forte”, título dado a Deus salvador (Is 40,10; Js 4,24; 2Sm 22,32; Is 27,1; 53,12; Jr 27,34; 39,18; Dn 9,4) e também ao Messias (Is 9,5). Jesus é o mais forte porque vencerá Satanás, o pecado e a morte (11,21) e transformará o coração do homem. Perante Ele, João não se sente “digno” (1,43) de lhe “desatar a correia das suas sandálias”, o serviço mais humilde que um escravo estrangeiro podia prestar ao seu senhor (bKid 22b Bar; bBB 53b), considerado, porém, tão humilhante que nenhum escravo israelita podia ser obrigado a fazê-lo (Mek Ex 21,2, 82b; bKet 96ª).
 
B) 1) O objetivo da missão do Messias é “batizar no Espírito Santo”. “O Espírito Santo” é o dom messiânico por excelência, que será derramado no coração do homem para o purificar do pecado, o transformar e infundir nele o amor de Deus, tornando-o capaz de obedecer aos seus mandamentos (Is 9,5s; 11,2; Nm 11,29; Pv 1,23; Is 32,15; 44,3; 59,19; 63,14; Ez 11,19; 36,26ss; 37,5s.14; 39,29; Jl 3,1s; Zc 12,10). O batismo no Espírito Santo de Jesus sobrepor-se-á ao batismo com água de João, completando-o.
 
2) O batismo será também “no fogo”. O tema do “fogo” aparece em Ml 3, onde se fala no retorno de Elias (que acontecerá com João Batista: 1,17; 7,27; Ml 3,22s), ligado à figura do Messias: João é o “mensageiro” que preparará a vinda do “Anjo da Aliança” (Ml 3,1), o Messias, que inaugurará o “Dia do Senhor” (Ml 3,2; Jl 2,3; 3,3; Sf 1,18), no qual terá lugar o julgamento divino de todos os ímpios (3,9.17) que serão consumidos pelo fogo (Ml 3,2.19; Is 64,1; 66,15; cf. Lc 9,54; 17,29; Dt 32,22; Sl 21,10; Is 5,24; Sf 3,8; 1Cor 3,13; 2Ts 1,8; 2Pd 3,7). Assim, o anúncio do Messias e do juízo final andarão sempre ligados na pregação apostólica (At 10,42; 17,31; 24,25; 1Ts 1,10; Hb 6,2). Jesus também liga a sua missão ao batismo e ao fogo (12,49s), mas só fala do “batismo no Espírito Santo” (At 1,5; 11,16). O anúncio do “batismo no Espírito Santo e no fogo” começará a cumprir-se no dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os discípulos em línguas de fogo (At 2,3).
v. 21. Na segunda secção (vv. 21-22: Mt 3,13-17; Mc 1,9ss; Jo 1,29-34) narra-se o batismo de Jesus. Ao invés das autoridades religiosas, o povo simples (“todo o povo”: 7,29; 2,10) acolheu com fé o apelo de Deus, arrependeu-se e recebeu o batismo de João. Jesus enfileira-se, anónima e humildemente, entre ele, ocupando “o último lugar” (14,10), para também ser batizado por João Batista, mostrando que o batismo na água, unido ao batismo no Espírito, é a porta de entrada no Reino de Deus.
 
* Batizado, já em terra (Mt 3,16p), Jesus ora. É uma nota exclusiva de Lucas que sempre destaca a oração (5,16; 6,12; 9,18. 28s; 11,1s; 22,32.39-46; 23,34), sendo com ela que começa e termina a vida e o ministério de Jesus, bem como o seu Evangelho (1,9s; 22,41; 23,46; 24,53).
 
* A resposta do Pai à oração é o dom do Espírito Santo (cf. 11,13). Dá-se assim durante a oração de Jesus uma teofania (“manifestação divina”: 9,28s.34s), em que pela primeira vez se manifesta a Santíssima Trindade. Trata-se de uma visão (Lucas não diz por quem; Mc 1,10; Mt 3,16: por Jesus: Jo 1,32: por João Batista) em que se vê o céu “abrir-se” (Ez 1,1; At 7,56; cf. Gn 7,11) e o Espírito Santo descer sobre Jesus, cumprindo-se assim Is 63,19.
 
* v. 22. O Espírito Santo, com artigo, é designado como Pessoa divina. Ele “desce” (gr. katabaíno) “sobre” (gr. epi: Is 11,2; 61,1) Jesus, como Cabeça da Igreja, para o capacitar e guiar na sua missão, para depois por Ele ser infundido nos membros do seu Corpo, para os capacitar e guiar na sua missão (cf. Nm 11,17.25; Is 63,14).
 
* “Em forma corpórea”: o Espírito assume a forma que simboliza o que faz. Aqui, a “forma corpórea” indica que, tal como foi Ele que gerou o corpo de Jesus no seio de Maria (1,35), também será Ele a formar o Corpo de Cristo, que é a Igreja, pelo batismo (1Cor 12,13). A forma da pomba alude: a) à pomba que no judaísmo simboliza o Espírito de Deus que “no princípio adejava sobra as águas” (Gn 1,2; bHag 15a): em Jesus irrompe a nova criação; b) à pomba, libertada por Noé após o dilúvio, que, não tendo encontrado terra firme, voltou à arca (Gn 8,8-12): só em Jesus se encontra a salvação, inaugurando-se nele a paz messiânica em que o “céu” (no singular, como em grego) e a terra se unem (1,79; 2,14.29; Is 9,6s; 11,6-9; Mq 5,4; Zc 9,10); c) à pomba, símbolo do Povo de Deus (Ct 6,9; Os 6,11; Sl 68,14; Midr Ct 1,15; 2,14; 4,1; Sanh 95ª; Ber 53b; Shab 49ª; 130ª): em Cristo forma-se o novo povo de Deus, que, por Ele, tem “acesso ao Pai num só Espírito” (Ef 2,18).
 
* A “voz do céu” é a voz de Deus (bat kol, “a filha da voz”: Dt 4,12), que, segundo os rabinos, só ressoava em momentos extraordinários da história do Povo de Deus. Não havendo rei desde 561 a.C., nem profetas, desde Malaquias (c. 520 a.C.), nem Sumo-sacerdote legítimo desde 152 a.C. (cf. 1Ma 10,20), tinha de ser o próprio Deus a ungir e dar a conhecer o seu Messias, sacerdote, profeta e rei (Zc 6,13; Dt 18,18; Sl 2,7; 110,4). É o que acontece aqui: com a fórmula do Sl 2,7: “Tu és o meu Filho”, Deus investe Jesus como Rei‑Messias, revelando-se como Pai e dando a conhecer Jesus (10,22), não apenas como o Messias prometido a David (1,32; 2Sm 7,13; 1Cr 17,13; 22,10; Sl 89,27; Hb 1,5), mas também como o seu Filho (com artigo), em sentido próprio, pessoal, divino (9,35; 10,22; 22,70; cf. 4,3.9.41; 8,28).
 
* O Filho é “o Amado” (gr. agapétos, 20,13: “amado”, “único”), título que evoca: a) Isaac (Gn 22,12.16). É em Jesus, imolado, ao invés de Isaac, no monte Moriá (Jerusalém: Gn 22,2; 2Cr 3,1), que serão abençoadas todas as nações da terra; b) o Rei-Esposo (Sl 45,1G); c) o Unigénito que vai ser morto e traspassado (Zc 12,10).
 
* Esta nota é reforçada pela conclusão: “em Ti Me comprazo” (Mt 3,17p; 12,18; 17,5p; 2Pd 1,17). É uma referência ao Servo de Iavé em Is 42,1G: “Eis o meu servo, em quem me comprazo; sobre ele pus o meu Espírito”. “Servo” em grego (pais) significa também “filho”. Jesus é o Filho de Deus, o único que agrada plenamente ao Pai (Sl 68,17; Ag 1,8), o qual confere à sua humanidade a plenitude do Espírito Santo, para que Ele, como Cabeça da Igreja, o possa derramar em plenitude sobre os membros do seu Corpo. A missão de Jesus, porém, não será levada a cabo triunfalmente, mas à maneira do Servo de Iavé, com humildade, mansidão e constância, devendo Ele enfrentar a oposição dos homens, que lhe darão a morte, que Ele sofrerá em favor de todos (Is 53,5-12), para, ressuscitado, derramar o Espírito Santo, criando uma nova humanidade.
 
MEDITAÇÃO
1. Na nossa comunidade, o batismo é ocasião de aproximação, aceitação e acolhimento dos que vivem à margem das “leis da Igreja” ou motivo de exclusão e ocasião de maior afastamento deles?
2. Procuro viver o meu batismo, seguindo os passos de Jesus?
3. Na oração, abro-me à ação do Espírito Santo, nutro-me da Palavra de Deus, uno-me a Jesus, cresço no amor do Pai, discirno a sua vontade, recebo força e luz para a pôr em prática?

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