sábado, 4 de janeiro de 2025

Segunda-Feira depois da Epifania

1ª Leitura (1Jo 3,22—4,6):
Caríssimos: Nós recebemos de Deus tudo o que Lhe pedirmos, porque cumprimos os seus mandamentos e fazemos o que Lhe é agradável. É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou. Quem observa os seus mandamentos permanece em Deus e Deus nele. E sabemos que permanece em nós pelo Espírito que nos concedeu. Caríssimos, não deis crédito a qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de Deus, porque surgiram no mundo muitos falsos profetas. Nisto conhecereis o espírito de Deus: todo o espírito que confessa a Jesus Cristo feito homem é de Deus; e todo o espírito que não confessa a Jesus não é de Deus. Este é o espírito do Anticristo, do qual ouvistes dizer que havia de vir e agora já está no mundo. Vós, meus filhos, sois de Deus e já os vencestes, porque Aquele que está no meio de vós é maior do que aquele que está no mundo. Eles são do mundo; por isso falam a linguagem do mundo e o mundo escuta-os. Nós somos de Deus e quem conhece a Deus escuta-nos; quem não é de Deus não nos escuta. Nisto distinguimos o espírito da verdade e o espírito do erro.
 
Salmo Responsorial: 2
R. Eu te darei os povos em herança.
 
Vou proclamar o decreto do Senhor. Ele disse-me: ‘Tu és meu filho, Eu hoje te gerei. Pede-me e te darei as nações em herança e os confins da terra para teu domínio’.
 
Agora, ó reis, tomai sentido, atendei, vós que julgais a terra. Servi o Senhor com temor, aclamai-O com reverência.
 
Aleluia. Jesus proclamava o Evangelho do reino e curava todas as doenças entre o povo. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 4,12-17.23-25): Quando soube que João tinha sido preso, Jesus retirou-se para a Galileia. Deixou Nazaré e foi morar em Cafarnaum, às margens do mar da Galileia, no território de Zabulon e de Neftali, para cumprir-se o que foi dito pelo profeta Isaías: «Terra de Zabulon, terra de Neftali, caminho do mar, região além do Jordão, Galileia, entregue às nações pagãs! O povo que ficava nas trevas viu uma grande luz, para os habitantes da região sombria da morte uma luz surgiu». Daí em diante, Jesus começou a anunciar: «Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo». Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, anunciando a Boa Nova do Reino e curando toda espécie de doença e enfermidade do povo. Sua fama também se espalhou por toda a Síria. Levaram-lhe todos os doentes, sofrendo de diversas enfermidades e tormentos: possessos, epiléticos e paralíticos. E ele os curava. Grandes multidões o acompanhavam, vindas da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judéia e da região do outro lado do Jordão».
 
«O Reino dos Céus está próximo»
 
Rev. D. Jordi CASTELLET i Sala (Vic, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, por assim di-lo, recomeçamos. «O povo que ficava nas trevas viu uma grande luz, para os habitantes da região sombria da morte uma luz surgiu» (Mt 4,16), nos diz o profeta Isaías, citado neste Evangelho de hoje e, que nos remete ao que escutávamos na Noite de Natal. Voltamos a começar, temos uma nova oportunidade. O tempo é novo, a ocasião o merece, deixemos —humildemente— que o Pai ingresse na nossa vida.
 
Hoje começa o tempo em que Deus dá-nos uma vez mais seu tempo para que o santifiquemos, para que estejamos perto Dele e, façamos de nossa vida um serviço de face aos outros. O Natal acaba-se, o fará o domingo próximo —se Deus quiser— com a festa do Batismo do Senhor e, com ela dá-se a pistolada de saída para o novo ano, para o tempo comum —tal como dizemos na liturgia cristã— para viver in extenso o mistério do Natal. A Encarnação do Verbo nos visitou nestes dias e, semeou nos nossos corações, de maneira infalível, sua Graça salvadora que nos encaminha, novamente até o Reino do Céu, o Reino de Deus que Cristo veio inaugurar entre nós, graças a sua ação e compromisso no seio da humanidade.
 
Por isso, disse São Leão Magno que «a providência e misericórdia de Deus que já tinha pensado ajudar —nos tempos recentes— ao mundo que se afundava, determinou a salvação de todos os povos por meio de Cristo».
 
Agora é o tempo favorável. Não pensemos que Deus atuava mais antes do que agora, que era mais fácil acreditar sob a existência de Jesus —fisicamente, quero dizer— já que agora não o vemos tal como ele é. Os sacramentos da Igreja e a oração comunitária dão-nos o perdão e a paz e a oportunidade de participar, novamente, na obra de Deus no mundo, através de nosso trabalho, estudo, família, amigos, divertimento ou convivência com os irmãos. Que o Senhor, fonte de todo dom e de todo bem, nos o faça possível!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Na solenidade anterior [Natal] o Senhor se mostrava como um menino débil, que testemunhava nossa própria imperfeição» (São Próclo de Constantinopla)
 
«Caminhar em trevas significa estar satisfeito de si mesmo, estar convencido de não ter necessidade de salvação. ¡Essas são as trevas!» (Papa Francisco)
 
«A doutrina sobre o pecado original – ligada à da redenção por Cristo – proporciona uma visão de lúcido discernimento sobre a situação do homem e da sua ação neste mundo (…). Ignorar que o homem tem uma natureza ferida, inclinada para o mal, dá lugar a graves erros no domínio da educação, da política, da ação social (300) e dos costumes» (Catecismo da Igreja Católica, nº 407)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* Uma breve informação sobre o objetivo do Evangelho de Mateus.
O Evangelho de Mateus foi escrito na segunda metade do primeiro século para animar as pequenas e frágeis comunidades de Judeus convertidos que vivam na região da Galileia e da Síria. Elas sofriam perseguições e ameaças da parte dos irmãos judeus pelo fato de aceitarem Jesus como messias e de acolherem os pagãos. Para fortalecê-las na fé, o evangelho de Mateus insiste em dizer que Jesus é realmente o Messias e que a salvação trazida por ele não é só para os judeus, mas para toda a humanidade. Logo no início do seu evangelho, na genealogia, Mateus já aponta para a vocação universal de Jesus, pois como “Filho de Abraão” (Mt 1,1.17) ele será “fonte de bênção para todas as nações do mundo” (Gen 12,3). Na visita dos magos, vindos do Oriente, ele sugere novamente que a salvação se dirige aos pagãos (Mt 2,1-12). No texto de evangelho de hoje, ele mostra como a luz que brilhou na “Galileia dos Gentios” brilha também fora das fronteiras de Israel, na Decápole e no além-Jordão (Mt 4,12-25). Mais adiante, no Sermão da Montanha, Jesus dirá que a vocação da comunidade cristã é ser “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-14) e pede amor aos inimigos (Mt 5,43-48). Jesus é o Servo de Deus que anuncia o direito às nações (Mt 12,18). Ajudado pela mulher Cananéia, o próprio Jesus ultrapassa as fronteiras da raça (Mt 15,21-28). Ultrapassa também as leis da pureza que impediam a abertura do Evangelho para os pagãos (Mt 15,1-20). E no final, quando Jesus envia seus discípulos a todas as Nações, fica ainda mais clara a universalidade da salvação (Mt 28,19-20). Da mesma maneira, as comunidades são chamadas a abrir-se para todos, sem excluir ninguém, pois todos são chamados a viver como filhos e filhas de Deus.
 
* O evangelho de hoje descreve como se iniciou esta missão universal. Foi a notícia da prisão de João Batista que levou Jesus a começar sua pregação. João tinha dito: "Arrependei-vos, porque o Reino de Deus está próximo!" (Mt 3,2). Por isso ele foi preso por Herodes. Quando Jesus soube que João foi preso, voltou para a Galileia anunciando a mesma mensagem: "Arrependei-vos, porque o Reino de Deus está próximo!" (Mt 4,17) Com outras palavras, desde o início, a pregação do evangelho trazia riscos, mas Jesus não recuou. Deste modo, Mateus anima as comunidades que estavam correndo os mesmos riscos de perseguição. E ele cita o texto de Isaías: "O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz!" Como Jesus, as comunidades são chamadas a ser "Luz dos povos".
 
* Jesus começa o anúncio da Boa Nova andando por toda a Galileia. Ele não fica parado, esperando que o povo chegue e vá até ele. Ele mesmo vai nas reuniões do povo, nas sinagogas, para anunciar sua mensagem. O povo leva a ele os doentes, os endemoniados, e Jesus acolhe a todos e os cura. Este serviço aos doentes faz parte da Boa Nova e revela ao povo a presença do Reino.
 
* Assim, a fama de Jesus se espalha por toda a região, atravessa as fronteiras da Galileia, penetra na Judéia, chega até Jerusalém, vai para o além Jordão e alcança a Síria e a Decápole. Era nestas mesmas regiões, que se encontravam as comunidades para as quais Mateus estava escrevendo o seu evangelho. Agora, elas ficam sabendo que, apesar de todas as dificuldades e riscos, elas já estão sendo essa luz que brilha nas trevas.
 
Para um confronto pessoal
1. Será que alguma luz se irradia de você para os outros?
2. Hoje, muitos se fecham na religião católica. Como viver hoje a universalidade da salvação?

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Epifania do Senhor

1ª Leitura (Is 60,1-6):
Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te iluminam. As nações caminharão à tua luz e os reis ao esplendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor.
 
Salmo Responsorial: 71
R. Virão adorar-Vos, Senhor, todos os povos da terra.
 
Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar e a vossa justiça ao filho do rei. Ele governará o vosso povo com justiça e os vossos pobres com equidade.
 
Florescerá a justiça nos seus dias e uma grande paz até ao fim dos tempos. Ele dominará de um ao outro mar, do grande rio até aos confins da terra.
 
Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes, os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas. Prostrar-se-ão diante dele todos os reis, todos os povos o hão de servir.
 
Socorrerá o pobre que pede auxílio e o miserável que não tem amparo. Terá compaixão dos fracos e dos pobres e defenderá a vida dos oprimidos.
 
2ª Leitura (Ef 3,2-3a.5-6): Irmãos: Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por uma revelação, foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo. Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.
 
Aleluia. Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorar o Senhor. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 2,1-12): Depois que Jesus nasceu na cidade de Belém da Judéia, na época do rei Herodes, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: «Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo». Ao saber disso, o rei Herodes ficou alarmado, assim como toda a cidade de Jerusalém. Ele reuniu todos os sumos sacerdotes e os escribas do povo, para perguntar-lhes onde o Cristo deveria nascer. Responderam: «Em Belém da Judéia, pois assim escreveu o profeta: «E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um príncipe que será o pastor do meu povo, Israel». Então Herodes chamou, em segredo, os magos e procurou saber deles a data exata em que a estrela tinha aparecido. Depois, enviou-os a Belém, dizendo: «Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo». Depois que ouviram o rei, partiram. E a estrela que tinham visto no Oriente ia à frente deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino. Ao observarem a estrela, os magos sentiram uma alegria muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, passando por outro caminho.
 
«Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Ajoelharam-se diante dele e o adoraram»
 
Rev. D. Joaquim VILLANUEVA i Poll (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o profeta Isaías anima-nos: «De pé! Deixa-te iluminar! Chegou a tua luz! A glória do SENHOR te ilumina» (Is 60,1). Essa luz que viu o profeta é a estrela que veem os Magos em Oriente, junto com outros homens. Os Magos descobrem seu significado. Os demais a contemplam como algo que admiram mas, que não lhes afeta. E, assim, não reagem. Os Magos dão-se conta de que, com ela, Deus envia-lhes uma mensagem importante e que vale a pena deixar a comodidade do seguro e se arriscar a uma viagem incerta: a esperança de encontrar o Rei leva-os a seguir essa estrela, que haviam anunciado os profetas e esperado o povo de Israel durante séculos.
 
Chegam a Jerusalém, a capital dos judeus. Acham que aí saberão lhe dizer o lugar exato onde nasceu seu Rei. Efetivamente, lhe responderam: «Em Belém da Judéia, porque assim está escrito por meio do profeta» (Mt 2,5). A notícia da chegada dos Magos e sua pergunta propaga-se por toda Jerusalém em pouco tempo: Jerusalém era na época uma pequena cidade e, a presença dos Magos com seu séquito foi vista por todos os habitantes, pois «Ao saber disso, o rei Herodes sobressaltou-se e, com ele toda a cidade de Jerusalém» (Mt 2,3), diz o Evangelho.
 
Jesus Cristo cruza-se na vida de muitas pessoas, a quem não interessa. Um pequeno esforço teria mudado suas vidas, teriam encontrado o Rei do Gozo e da Paz. Isso requer a boa vontade de procurar, de nos movimentar, de perguntar sem nos desanimar, como os Magos, de sair de nossa poltronaria, de nossa rotina, de apreciar o imenso valor de encontrar a Cristo. Se não o encontramos, não encontramos nada na vida, pois só Ele é o Salvador: encontrar Jesus é encontrar o Caminho que nos leva a conhecer a Verdade que nos dá a Vida. E, sem Ele, nada de nada vale a pena.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Que todos os povos venham a se incorporar à família dos patriarcas (...). Que todas as nações, na pessoa dos três Magos, adorem ao Autor do universo» (São Leão Magno)
 
«O mistério do Natal se irradia sobre a terra, se espalhando em círculos concêntricos: a Sagrada Família de Nazaré, os pastores de Belém e, finalmente, os Magos, que constituem as primícias dos povos pagãos» (Bento XVI)
 
«A epifania é a manifestação de Jesus como Messias de Israel, Filho de Deus e Salvador do mundo. Juntamente com o batismo de Jesus no Jordão e com as bodas de Caná, ela celebra a adoração de Jesus pelos “magos” vindos do Oriente (Mt 2,1). Nesses “magos”, representantes das religiões pagãs de povos vizinhos, o Evangelho vê as primícias das nações que acolhem a Boa Nova da salvação pela Encarnação (...)» (Catecismo da Igreja Católica, n° 528)
 
Virão adorar-vos, Senhor, todos os povos da terra.
 
Fr. Pedro Bravo, O.Carm
 
* O episódio da adoração dos magos, exclusivo de Mateus, é uma “narrativa da infância de Jesus” (1,18-2,23).
Mateus escreve para uma comunidade judeu-cristã siro-palestina da Galileia, apresentando-lhe Jesus, “o Cristo, o Filho de Deus vivo” (16,16), como o novo Moisés (cf. Dt 18,18). Para isso, aplica a Jesus um midrash (“conto” religioso que ilustra uma passagem bíblica) relativo ao nascimento de Moisés. Diz ele que os adivinhos e astrólogos egípcios avisaram o Faraó que uma mulher hebreia trazia no seio o libertador de Israel. Então o Faraó mandou matar os meninos hebreus, afogando-os no Nilo (Ex 1,22-2,10). Mas Moisés foi salvo das águas, para mais tarde libertar Israel do Egito passando através das águas (ExR 1,66d). O mesmo acontece agora: Herodes quer matar Jesus, mas Ele é salvo da morte, para mais tarde poder salvar a todos do poder da morte, passando por ela.
 
* v. 1. Mateus mostra que Jesus nasce em Belém de Judá, a cidade de David (cf. vv. 5-6). Isto acontece no fim do reinado de Herodes I (37-4 a.C.) por volta de 7/6 a.C. Os “magos” (Dn 1,20; 2,10.27; 4,4; 5,11), são, como no referido midrash, astrólogos, sábios adivinhos, da casta sacerdotal persa, vindos “do Oriente”. Ou seja: para os judeus são gentios que exercem uma profissão proibida pela Lei (cf. Lv 12,31; 20,6; Dt 18,14; Mq 3,7). Mas Jesus vem para todos, a começar para os pecadores (cf. 9,13).
 
* v. 2. Os magos “viram a sua estrela no Oriente”. O verbo “ver” (gr. oraô) indica aqui uma visão sobrenatural (cf. 3,16; 17,3; 28,8.17; Ex 3,3; Nm 24,16), não se referindo a nenhum fenómeno astronómico (como a tripla conjunção dos planetas Júpiter e Saturno em 7 a.C. ou algo semelhante em 6 a.C., como conjeturam Mark KIDGER, The Star of Bethlehem. An Astronomer’s View. 2ª ed. Princeton/NJ: Princeton University Press, 2017; e Michael MOLNAR, The Star of Bethlehem. The Legacy of the Magi. 2ª ed. New Brunswick: Rutgers University Press, 2013), mas é um “sinal” (12,38) dado por Deus a eles. Na Antiguidade, era costume associar o nascimento de uma pessoa ilustre ao aparecimento de uma estrela. Esta surge “no Oriente” (gr. anatolê), palavra que significa também “nascer/subir”. É uma referência à profecia de Balaão, vidente gentio (c. 1200 a.C.), que “viu” uma estrela “subir de Jacob” (Nm 24,17). Esta estrela era, no princípio, David, mas passou depois a designar o Messias, chamado “Oriente” na tradução grega da Bíblia, os LXX (cf. Jr 23,5; Zc 3,8; 6,12; Lc 1,78). É o que acontece. Deus fala a cada um na sua própria linguagem cultural: a José, em sonhos (vv. 13.19); aos judeus, nas profecias (v. 6); aos magos, na “visão” de uma estrela.
 
*
Supondo que o recém-nascido devia ser um filho do “rei Herodes”, os magos dirigem-se para Jerusalém, a capital da Judeia, para se “prostrarem” diante dele como rei (Sl 72,11) e “o adorarem” como Deus (Sl 86,9; Zc 14,16s; Is 66,23; Sr 50,17), como era habitual nos povos da Antiguidade.
 
* v. 3. A notícia põe não só Herodes, mas também Jerusalém em sobressalto. Por quê? Porque Herodes não era judeu, nem descendente de David, mas filho do idumeu Antipater e da nabateia Cipros, que fez judeu. Era, pois, um edomita judeu, a quem Roma dera o título de “rei” em 40 a.C. O Sumo Sacerdote na época também não era legítimo, pois já desde 152 a.C. deixara de ser um descendente de Sadoc (2Sm 15,24-29), para ser nomeado pelos governantes (1Ma 10,15-21). Devendo o Messias restaurar a realeza davídica (destituída em 587 a.C.), purificar o sacerdócio e instaurar o verdadeiro culto (Ml 3,3s; Zc 6,12s), os usurpadores sentem-se ameaçados.
 
* v. 4. Herodes reúne (gr. synagagô), então, os sumos sacerdotes e escribas para indagar “onde havia de nascer o Cristo”. v. 5. Estes respondem, citando as Escrituras: “Em Belém da Judeia”, v. 6, como diz Mq 5,1, passagem que Mateus combina aqui com 2Sm 5,2, para dizer que Jesus, “filho de David” (1,8) é o Messias, o Rei-Pastor que devia reinar sobre Judá e Israel (Ez 37,22-27), isto é, sobre todo o Povo de Deus.
 
v. 7. Herodes arquiteta então um plano ardiloso, inquirindo junto dos magos o tempo exato em que lhes tinha aparecido a estrela, v. 8, e pedindo-lhes que fossem até Belém (a 10 km de Jerusalém) descobrir onde se achava “o Menino” e que depois o informassem, para ele ir também lá adorá-lo. De facto, pretende matá-lo (v. 16). O mesmo fará Herodes Antipas, seu filho, que não se deslocará 16 km para ir de Tiberíades a Cafarnaum ver Jesus (cf. Lc 23,8). O termo “o Menino” (Mt 2: 9x) evoca Is 7,14ss; 9,5, designando Jesus como o Messias.
 
* v. 9. Guiados apenas pelo sinal da estrela, os magos não encontraram Jesus, mas agora, iluminados pela Palavra de Deus, já sabem para onde se dirigir e “partem” (Gn 22,6.19) para Belém. E eis que a estrela que tinham visto, reaparece e “ia à sua frente” (26,32; 28,7; Ex 17,5; Js 3,11), levando-os a Jesus, mostrando aos magos que é Ele quem rege os astros e não o oposto (Is 40,26; 47,13).
 
* v. 10. Ao vê-la, enchem-se de “enorme alegria” (Is 39,2; Lc 2,10), certos de que iriam encontrar o Messias (28,8; Lc 24,52).
 
* v. 11. Entrando “em casa”, veem o Menino com Maria, sua Mãe. A “casa” simboliza a Igreja (9,28; 13,36; 17,25; At 2,2.46; Rm 16,5) e Maria, a comunidade cristã (12,46-50), onde Jesus está presente no meio dos seus (18,20; 28,20).
 
* Ao ver o Menino, os magos reconhecem o Messias, não na figura de um rei poderoso, mas, pela fé, num bebé, pobre, ignorado pelos seus.
E vão mais longe do que os judeus (cf. 21,31): caem por terra e prostram-se (cf. 4,9; 18,26; 2Cr 7,3; 29,30; Jt 6,18; Dn 3,5.15) em adoração a Jesus, como Deus (v. 3). A fé leva à oração e à partilha e eles oferecem-lhe riquezas das suas terras, “ouro, incenso e mirra”: ouro, como a Rei (1Rs 10,2); incenso, usado no culto, como a Deus (Ex 30,34; Lv 2,1s.15s); e mirra, usada no culto (na sagração do Sumo-Sacerdote: Ex 30,23; Sl 45,9; Ct 3,6; Sr 24,15) e nos funerais (Jo 19,39), anunciando assim veladamente a paixão e morte de Jesus como Sumo-sacerdote. Cumprem-se deste modo as profecias que diziam que os gentios adorariam a Deus e obedeceriam ao Messias, pondo ao seu serviço as suas riquezas (cf. Is 49,23; 60,6.9; Jr 6,20; Sl 72,10-15; 86,9; 96,6; Ez 27,22; Zc 14,16).
 
* Uma tradição popular, que remonta ao séc. IV, viu nos magos três reis (Sl 72,10s; Is 60,3, tantos como os presentes), representantes das três grandes civilizações (e, mais tarde, dos três continentes conhecidos), dando-lhes nomes que indicam a missão que desempenham em nome de todos os gentios: Baltasar (“Deus manifesta o Rei”: Babilónia/Ásia), Gaspar (“o que vai verificar”: Pérsia/ Europa) e Melchior (“o meu Rei é luz”: Arábia/África).
 
* v. 12. Os magos, homens retos de espírito e puros de coração (cf. 5,8), não suspeitam da malícia de Herodes, mas Deus avisa-os “num sonho” (1,20; Gn 20,3.6; 31,24; Nm 12,6) para não retornarem a Herodes. Pela fé em Jesus, Deus já não fala aos gentios por sinais, mas passa-lhes a falar também em sonhos, como aos patriarcas, como aos membros do seu povo.
 
* E os magos regressam “por outro caminho”, porque a fé em Jesus dá novo rumo à vida. Mateus introduz aqui os grandes temas da sua obra: o chamamento dos pecadores; o cumprimento das Escrituras em Cristo; a universalidade da salvação pela fé em Cristo; o conhecimento de Deus, único Senhor e Criador de tudo, que tudo rege com o seu poder. Apresenta também as duas atitudes que irão ser tomadas em relação a Jesus: enquanto os grandes deste mundo e o seu povo o rejeitam e procuram dar-lhe a morte, os gentios, os afastados e pecadores, apesar das trevas em que vivem, vão ao seu encontro e acolhem-no com fé, pondo ao seu serviço as riquezas e dons das suas culturas.
 
MEDITAÇÃO:
1) Onde procuro Jesus, onde o encontro e como o reconheço?
2) O meu encontro com Ele mudou a minha vida? Levou-me à oração? Abriu-me à partilha? Estou disposto a segui-lo no seu caminho?
 
 «Viemos adorá-lo»
 
Pe. Marcelo de Moraes – Diocese de Leiria-Fátima
 
A oração coleta do Domingo da Epifania do Senhor coloca-nos diante de duas dimensões do conhecimento de Deus: a primeira aqui na terra, à luz do conhecimento de Deus pela fé, e a segunda na eternidade, onde estaremos face a face com Ele, no conhecimento perfeito, iluminados pelo seu Amor.  É justamente o brilho dessa Luz de Deus, referido a Jerusalém na primeira leitura, que nos é garantido, pela fé, aqui neste mundo, onde somos todos convidados a deixar brilhar em nós a luz de Cristo; e no céu, com a Jerusalém celeste, onde brilhará para sempre em nós a luz do Senhor. Somos convidados, então, desde já, no dinamismo da fé, a adorarmos o Senhor, como fizeram os magos vindos do oriente e como a Igreja o faz todos os dias. É na adoração ao Senhor que nós deixamos iluminar por Ele, para também nós podermos iluminar o mundo. Estamos neste mundo e aqui, diante d’Ele, diante de um sacrário onde Ele está presente, e diante do mundo podemos também dizer: “viemos adorá-lo”. 
 
Os magos, guiados por uma estrela (com luz própria), saem à procura do Rei de Israel. Deixam-se guiar, na noite, por aquela luz. Assim é a vida do Cristão que se deixa iluminar pela luz da Palavra de Deus à procura de Jesus. A Palavra de Deus tem luz própria, como aquela Estrela que revela o Salvador, que se manifesta humilde, e ilumina-nos e guia-nos nas noites da vida à procura do Senhor. Os magos deixam-se guiar, pela Estrela, pelos sonhos, pela convicção que têm dentro de si. Assim também nós, que temos dentro uma luz, uma certeza: o Senhor, que é o nosso Deus, é o nosso Rei e governa a nossa vida. A Ele somos chamados, como os magos. E para ele, como os magos que lhe trouxeram presentes, somos chamados a dar o melhor de nós. E, como os magos, somos chamados a adorar o nosso Deus: «Viemos adorá-lo». 
 
* «Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer?» À procura do Rei, os magos caminham. Querem saber… e procuram Jesus. Esta é a pergunta que os cristãos fazem em todos os momentos da vida. Onde está Jesus? Ir à sua procura deve ser uma constate da vida. 
 
– No meu dia a dia, procuro o Senhor? Onde posso encontrá-lo? 
 
* «Nós vimos a sua estrela». Uma estrela tem luz própria. Não é como a lua que reflete luz. A estrela brilha. Assim brilha o Senhor, assim brilha a “sua estrela”.
 
– Deixo-me guiar pela “sua estrela”? De que modo me deixo guiar por Jesus? Deixo-me iluminar por Jesus? De que modo Ele me ilumina?
 
* «o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém».  Há quem se deixa perturbar quando há uma luz, alguém, que ilumina mais, que brilha mais, que faz sombra. O cristão não pode deixar-se perturbar por inveja ou desgostos.
 
– O que me perturba? Na minha relação com os outros existem sentimentos contrários à fé e à caridade? Como vencê-los?
 
* «‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo nenhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’».  
Às vezes sentimo-nos pequenos, sem importância; parece que ninguém está por nós. Mas o Senhor escolhe sempre o que é fraco aos olhos do mundo. O Senhor ama os pobres e humildes de coração.
 
– Sinto-me pequenino? Confio a minha pequenez ao Senhor? Apresento-lhe o pouco que tenho para que Ele possa fazer muito em mim e através de mim?
 
* «e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo […] Entraram na casa, viram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-no. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes: ouro, incenso e mirra». Sabemos que Herodes mentia. Não era a sua intenção adorar o Menino. Os magos disseram antes, e com verdade, «viemos adorá-lo» e assim o fizeram diante d’Ele. A adoração é um ato de humildade. Colocamo-nos diante de Deus e submetemos a Ele a nossa vida… Adorar a Deus faz-nos bem. Deram-lhe presentes, porque diante de Deus só podemos ofertar o melhor de nós.
 
- Tenho procurado ser um adorador? Tenho adorado Jesus na Eucaristia, diante do Sacrário? Tenho procurado viver momentos de adoração na Igreja ou mesmo em casa quando estou sozinho? Elevo o meu pensamento ao Senhor e, no meu dia a dia, mesmo ocupado, penso no Senhor e adoro-O em espírito e verdade? Tenho feito da minha vida uma oferta a Deus?

quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

TEMPO DO NATAL

São Manuel González Garcia, bispo
 
1ª Leitura (1Jo 3,7-10):
Meus filhos, ninguém vos engane. Quem pratica a justiça é justo como Ele, Jesus, é justo. Quem comete o pecado é do Diabo, porque o Diabo é pecador desde o princípio. Foi para destruir as obras do Diabo que o Filho de Deus Se manifestou. Quem nasceu de Deus não comete o pecado, porque permanece nele uma semente divina; e não pode pecar, porque nasceu de Deus. Nisto se distinguem os filhos de Deus e os filhos do Diabo: quem não pratica a justiça e não ama o seu irmão não é de Deus.
 
Salmo Responsorial: 97
R. Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.
 
Ressoe o mar e tudo o que ele encerra, a terra inteira e tudo o que nela habita; aplaudam os rios e as montanhas exultem de alegria.
 
Diante do Senhor que vem, que vem para julgar a terra: julgará o mundo com justiça e os povos com equidade.
 
Aleluia. O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Àqueles que O receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 1,35-42): No dia seguinte, estava lá João outra vez com dois dos seus discípulos. E, avistando Jesus que ia passando, disse: Eis o Cordeiro de Deus. Os dois discípulos ouviram-no falar e seguiram Jesus. Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras? Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca da hora décima. André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que tinham ouvido João e que o tinham seguido. Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe: Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo). Levou-o a Jesus, e Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra).
 
«Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras? Vinde e vede»
 
Frei Josep Mª Massana i Mola OFM (Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho nos lembra as circunstâncias da vocação dos primeiros discípulos de Jesus. Para preparar-se ante a vinda do Messias, João e seu companheiro André haviam escutado e seguido durante um tempo a João Batista. Um bom dia, este aponta a Jesus com o dedo, chamando-o Cordeiro de Deus. Imediatamente, João e André o entendem: o Messias esperado é Ele! e, deixando a João Batista, começam a seguir a Jesus.
 
Jesus ouve os passos atrás Dele. Volta-se e fixa a olhada nos que o seguiam. As miradas se cruzam entre Jesus e aqueles homens simples. Eles ficaram extasiados. Esta olhada comove seus corações e sentem o desejo de estar com Ele: «Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras» (Jo 1,38), lhe perguntam. «Vinde e vede, respondeu-lhes ele. Foram aonde ele morava e ficaram com ele aquele dia. Era cerca da hora décima» (Jo 1,39), lhes responde Jesus. Os convida a ir com Ele e a ver, contemplar.
 
Vão e, o contemplam escutando-o. E convivem com Ele aquele anoitecer, aquela noite. É a hora da intimidade e das confidencias. A hora do amor compartilhado. Ficam com Ele até o dia seguinte, quando o sol se levanta por cima do mundo.
 
Acesos com a chama daquele «Graças à ternura e misericórdia de nosso Deus, que nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente, que há de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.» (cf. Lc 1,78-79). Excitados, sentem a necessidade de comunicar o que contemplaram e viveram aos primeiros que encontram ao seu passo: «Foi ele então logo à procura de seu irmão e disse-lhe: Achamos o Messias (que quer dizer o Cristo)» (Jo 1,41). Os santos também o têm feito assim. São Francisco, ferido de amor, ia pelas ruas e praças, pelas vilas e bosques gritando: «O Amor não está sendo amado».
 
O essencial na vida cristã é deixar-se ver por Jesus, ir e ver onde ele se aloja, estar com Ele e compartilhar. E, depois, anunciá-lo. O caminho e o processo que seguiram os discípulos e os santos. É nosso caminho.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Que dia maravilhoso passaram! Que magnífica noite! Edifiquemos ainda assim, nós próprios, nos nossos corações e façamos uma casa digna, onde o Senhor venha e nos instrua» (Santo Agostinho)
 
« Três vocações num só homem: preparar, discernir, deixar o Senhor crescer e rebaixar-se a si próprio. Um cristão não se anuncia a si mesmo, anuncia outro: o Senhor. E um cristão deve ser um homem que saiba humilhar-se para que o Senhor cresça na alma dos outros» (Francisco)
 
« O tema de Cristo Esposo da Igreja foi preparado pelos profetas e anunciado por João Baptista. O próprio Senhor Se designou como «o Esposo» (Mc 2,19). E o Apóstolo apresenta a Igreja e cada fiel, membro do seu Corpo, como uma esposa «desposada» com Cristo Senhor, para formar com Ele um só Espírito (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº796).
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* No evangelho de hoje, João Batista, novamente, aponta Jesus como “Cordeiro de Deus”.
E dois dos seus discípulos, animados pelo próprio João, foram em busca de Jesus e perguntam: “Onde o senhor mora?”. Jesus responde: "Venham e vejam!" É convivendo com Jesus, que eles mesmos poderão verificar e confirmar se era isto que estavam buscando. O encontro confirmou a busca, pois os dois nunca mais esqueceram a hora do encontro. Quase setenta anos depois, João lembra: “Eram quatro horas da tarde!”
 
* Quando uma pessoa é muito amada, ela costuma receber muitos apelidos, nomes ou títulos que expressam o carinho. No Evangelho de João, Jesus recebe muitos títulos e nomes que expressam o que ele significava para os primeiros cristãos. Estes nomes traduzem o desejo dos primeiros cristãos de conhecer melhor quem é Jesus para poder amá-lo com maior coerência. O quarto Evangelho é uma catequese muito bem-feita. Os títulos e nomes de Jesus, que vão aparecendo durante os encontros e as conversas das pessoas com ele, fazem parte desta catequese. Eles ajudam os leitores e as leitoras a descobrir como e onde Jesus se revela nos encontros do dia a dia da vida. Ao longo dos seus 21 capítulos, através destes nomes e títulos, o evangelista João nos vai revelando quem é Jesus.
 
* Também hoje, nossas comunidades devem poder dizer: "Venham e vejam!" É ver e experimentar para poder testemunhar. O apóstolo João escreve na sua primeira carta: "A vida se manifestou. Nós a vimos e dela damos testemunho!" (1Jo 1,2)
 
* As pessoas que vão sendo chamadas professam a sua fé em Jesus através de títulos como: Cordeiro de Deus (Jo 1,36); Rabi (Jo 1,38); Messias ou Cristo (Jo 1,41); “aquele de quem escreveram Moisés, na Lei, e os profetas” (Jo 1,45); Jesus de Nazaré, o filho de José (Jo 1,45), Filho de Deus (Jo 1,49); Rei de Israel (Jo 1,49); Filho do Homem (Jo 1,51). São oito títulos em apenas quinze versos! A cristologia dos primeiros cristãos não começa com reflexões teóricas, mas com nomes e títulos que exprimem o carinho, o compromisso e o amor.
 
* André descobriu que Jesus é o Messias. Ele gostou tanto do encontro, que partilhou sua experiência com o irmão e deu testemunho: "Encontramos o Messias!" Em seguida, conduziu o irmão até Jesus. Encontrar, experimentar, partilhar, testemunhar, conduzir até Jesus! É assim que a Boa Nova se espalha pelo mundo, até hoje! Conosco pode acontecer o que aconteceu com o irmão de André. No encontro com Jesus, ele teve seu nome mudado de Simão para Cefas (Pedra ou Pedro). Mudança de nome significa mudança de rumo. O encontro com Jesus pode produzir mudanças profundas na vida da gente. Deus queira!
 
Para um confronto pessoal
1. Como foi o chamado de Jesus em sua vida? Teve alguma mudança de rumo?
2. Você lembra a hora e o lugar de acontecimentos importantes da sua vida?

3 de janeiro

 São Ciríaco Elias Chavara
Presbítero de nossa Ordem
 
Nasceu em Kainakary (Kerala, Índia) a 10 de fevereiro de 1805. Entrou no Seminário em 1818 e foi ordenado sacerdote em 1829. Homem de profunda oração, cultivou especialmente as virtudes da simplicidade de coração, fé viva, fiel obediência, devoção ao Santíssimo Sacramento, à Imaculada Virgem Maria e a São José. Em 1831 fundou em Mannanam a Congregação dos Carmelitas de Maria Imaculada e emitiu os votos religiosos em 1855. Nomeado Vigário-Geral da Igreja sírio-malabar em 1861, trabalhou denodadamente em prol da renovação espiritual dos seus fiéis. Conservou uma extraordinária devoção à Santa Sé, tendo sofrido muito pela unidade da Igreja, particularmente durante o cisma de Rocos. Colaborou ainda na fundação da Congregação das Irmãs da Mãe do Carmelo, em 1866. Após dois anos de dolorosa enfermidade, expirou aos 65 anos, a 3 de janeiro de 1871, em Koonammavu. Antes da sua morte pôde declarar que nunca perdera a sua inocência batismal. Os seus restos mortais repousam desde 1899 em Mannanam. Foi beatificado por João Paulo II em Kottayam (Índia) a 8 de fevereiro de 1986. Canonizado pelo Papa Francisco em 2014
 
Salmodia, Leitura, Responsório breve e Preces do Dia Corrente.
 
Oração
Senhor, nosso Deus, que chamastes São Ciríaco Elias, sacerdote, para fortalecer a unidade da Igreja, concedei-nos, por sua intercessão, que, iluminados pelo Espírito Santo, saibamos discernir os sinais dos tempos e difundir entre os homens, por palavras e obras, a mensagem evangélica. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo
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quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

TEMPO DO NATAL: SANTÍSSIMO NOME DE JESUS

São Ciríaco Elias Chavara, presbítero de nossa Ordem

1ª Leitura (1Jo 2,29—3,6):
Caríssimos: Se sabeis que Deus é justo, compreendereis também que todo aquele que pratica a justiça nasceu d’Ele. Vede que admirável amor o Pai nos consagrou em nos chamarmos filhos de Deus. E somo-lo de facto. Se o mundo não nos conhece, é porque não O conheceu a Ele. Caríssimos, agora somos filhos de Deus e ainda não se vê o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Jesus Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque O veremos tal como Ele é. Todo aquele que tem n’Ele esta esperança torna-se puro como Ele é puro. Quem comete o pecado transgrede a lei, porque o pecado é a transgressão da lei. Mas vós sabeis que Jesus Se manifestou para tirar os pecados e n’Ele não existe pecado. Quem permanece n’Ele não peca; quem peca não O vê nem O conhece.
 
Salmo Responsorial: 97
R. Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.
 
Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai.
 
Cantai ao Senhor ao som da cítara, ao som da cítara e da lira; ao som da tuba e da trombeta, aclamai o Senhor, nosso Rei.
 
Aleluia. O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós. Àqueles que O receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 1,29-34): No dia seguinte, João viu que Jesus vinha a seu encontro e disse: «Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo. É dele que eu falei: ‘Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque antes de mim ele já existia’! Eu também não o conhecia, mas vim batizar com água para que ele fosse manifestado a Israel”. João ainda testemunhou: «Eu vi o Espírito descer do céu, como pomba, e permanecer sobre ele. Pois eu não o conhecia, mas aquele que me enviou disse-me: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, é ele quem batiza com o Espírito Santo’. Eu vi, e por isso dou testemunho: ele é o Filho de Deus!».
 
«Eu vi, e por isso dou testemunho: ele é o Filho de Deus»
 
Rev. P. Higinio Rafael ROSOLEN IVE (Cobourg, Ontario, Canadá)
 
Hoje, S. João Baptista dá testemunho do Batismo de Jesus. O Papa Francisco recordava que «o Baptismo é o sacramento no qual se alicerça a nossa própria fé, que nos enxerta como membros vivos em Cristo, na sua Igreja»; e acrescentava: «Não é uma formalidade. É um ato que toca profundamente na nossa existência. Uma criança batizada ou uma criança não batizada, não são a mesma coisa. Não é o mesmo uma pessoa estar batizada ou uma pessoa não estar batizada. Nós com o batismo, somos mergulhados nessa fonte inesgotável de vida que é a morte de Jesus, o maior ato de amor de toda a história; e graças a este amor, podemos viver uma vida nova, não já dependentes do mal, do pecado e da morte, mas na comunhão com Deus e com os irmãos».
 
Acabamos de ouvir os dois efeitos principais do Batismo ensinados no Catecismo da Igreja Católica (n. 1262-1266):
 
1º «Eis aqui o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo» (Jo 11,29). Uma consequência do Batismo é a purificação dos pecados, ou seja, todos os pecados são perdoados, tanto o pecado original e todos os pecados pessoais, bem como as penas do pecado.
 
2º «Descida do Espírito Santo», «batiza com o Espírito Santo» (Jo 1,34): o batismo torna-nos “uma nova criação”, filhos adotivos de Deus e partícipes da natureza divina, membros de Cristo, corredentores com Ele e templos do Espírito Santo.
 
A Santíssima Trindade —Pai, Filho e Espírito Santo— dá-nos a graça santificante, que nos torna capazes de acreditar em Deus, de esperar n´Ele e de O amar; de viver e de obrar sob a inspiração do Espírito Santo mediante os seus dons; de acreditar no bem através das virtudes morais.
 
Supliquemos, como nos exorta o Papa Francisco, «despertar a memória do nosso Batismo», «viver cada dia o nosso Batismo, como uma realidade atual na nossa existência».
 
«Eu vi, e por isso dou testemunho: ele é o Filho de Deus»
 
Rev. D. Antoni ORIOL i Tataret (Vic, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, esta passagem do Evangelho de São João imerge-nos plenamente na dimensão testemunhal que lhe é própria. Testemunha é a pessoa que comparece para declarar a identidade de alguém. Pois bem, João apresenta-se-nos como o profeta por excelência, que afirma a centralidade de Jesus. Vejamo-lo sob quatro pontos de vista.
 
Afirma-a, em primeiro lugar, como um vidente que exorta: «Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo» (Jo 1,29). Fá-lo, em segundo lugar, reiterando convictamente: «É dele que eu falei: ‘Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque antes de mim ele já existia’ (Jo 1,30). Confirma-o consciente da missão que recebeu: «Vim batizar com água para que ele fosse manifestado a Israel” (Jo 1,31). E, finalmente, voltando à sua qualidade de vidente, afirma: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, é ele quem batiza com o Espírito Santo’. Eu vi» (Jo 1,33-34).
 
Perante este testemunho, que conserva dentro da Igreja a mesma energia de há dois mil anos, perguntemo-nos, irmãos: —No meio de uma cultura laicista que nega o pecado, contemplo Jesus como Aquele que me salva do mal moral? —No meio de uma corrente de opinião que vê em Jesus somente um homem religioso extraordinário, creio nele como Aquele que existe desde sempre, antes de João, antes da criação do mundo? —No meio de um mundo desorientado por mil ideologias e opiniões, aceito Jesus como Aquele que dá sentido definitivo à minha vida? —No meio de uma civilização que marginaliza a fé, adoro Jesus como Aquele em Quem repousa plenamente o espírito de Deus?
 
E uma última pergunta: —O meu “sim” a Jesus é tão profundo que, como João, também eu proclamo aos que conheço e me rodeiam: «Dou-vos testemunho de que Jesus é o filho de Deus!»?
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Festejemos o dia afortunado no qual, “Quem” era o “Dia” imenso e eterno, descendeu hasta este dia nosso tão breve e temporal. Este transformou-se para nós em redenção» (Santo Agostinho)
 
«A terra fica restabelecida porque se abre a Deus, e recebe novamente a sua verdadeira luz. O canto dos anjos expressa a alegria porque o céu e a terra encontram-se novamente unidos; porque o homem está unido novamente a Deus» (Bento XVI)
 
«Depois de ter aceitado dar-Lhe o batismo como aos pecadores (464), João Baptista viu e mostrou em Jesus o ‘Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’ (465). Manifestou deste modo que Jesus é, ao mesmo tempo, o Servo sofredor, que Se deixa levar ao matadouro sem abrir a boca (466), carregando os pecados das multidões (467), e o cordeiro pascal, símbolo da redenção de Israel na primeira Páscoa (468), Toda a vida de Cristo manifesta a sua missão: ‘servir e dar a vida como resgate pela multidão’ (469)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 608)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
* No Evangelho de João história e símbolo se misturam.
No texto de hoje, o simbolismo consiste sobretudo em evocações de textos conhecidos do Antigo Testamento que revelam algo a respeito da identidade de Jesus. Nestes poucos versos (João 1,29-34) existem as seguintes expressões com densidade simbólica: 1) Cordeiro de Deus; 2) Tirar o pecado do mundo; 3) Existia antes de mim; 4) A descida do Espírito sob a imagem de uma pomba; 5) Filho de Deus.
 
* 1. Cordeiro de Deus. Este título evocava a memória do êxodo. Na noite da primeira Páscoa, o sangue do Cordeiro Pascal, passado nas portas das casas, tinha sido sinal de libertação para o povo (Ex 12,13-14). Para os primeiros cristãos Jesus é o novo Cordeiro Pascal que liberta o seu povo (1Cor 5,7; 1Pd 1,19; Ap 5,6.9).
 
* 2. Tirar o pecado do mundo. Evoca a frase tão bonita da profecia de Jeremias: “Ninguém mais precisará ensinar seu próximo ou seu irmãos dizendo: “Procure conhecer a Javé” Por que todos, grandes e pequenos, me conhecerão, pois eu perdoo suas culpas e esqueço seus erros” (Jer 31,34).
 
* 3. Existia antes de mim. Evoca vários textos dos livros sapienciais, nos quais se fala da Sabedoria de Deus que existia antes de todas as outras criaturas e que estava junto de Deus como mestre-de-obras na criação do universo e que, por fim, foi morar no meio do povo de Deus (Prov 8,22-31; Eclo 24,1-11).
 
* 4. Descida do espírito como imagem de uma pomba. Evoca a ação criadora onde se diz que “o espírito de Deus pairava sobre as águas “ (Gn 1,2). O texto de Gênesis sugere a imagem de um pássaro que fica esvoaçando em cima do ninho. Imagem da nova criação em andamento através da ação de Jesus.
 
* 5. Filho de Deus: é o título que resume todos os outros. O melhor comentário deste título é a explicação do próprio Jesus: “As autoridades dos judeus responderam: "Não queremos te apedrejar por causa de boas obras, e sim por causa de uma blasfêmia: tu és apenas um homem, e te fazes passar por Deus." Jesus disse: "Por acaso, não é na Lei de vocês que está escrito: 'Eu disse: vocês são deuses'? Ninguém pode anular a Escritura. Ora, a Lei chama de deuses as pessoas para as quais a palavra de Deus foi dirigida. O Pai me consagrou e me enviou ao mundo. Por que vocês me acusam de blasfêmia, se eu digo que sou Filho de Deus? Se não faço as obras do meu Pai, vocês não precisam acreditar em mim. Mas se eu as faço, mesmo que vocês não queiram acreditar em mim, acreditem pelo menos em minhas obras. Assim vocês conhecerão, de uma vez por todas, que o Pai está presente em mim, e eu no Pai." (Jo 10,33-39).