1ª
Leitura (Mal 3,1-4): Assim fala o Senhor Deus: «Vou enviar o meu
mensageiro, para preparar o caminho diante de Mim. Imediatamente entrará no seu
templo o Senhor a quem buscais, o Anjo da Aliança por quem suspirais. Ele aí
vem – diz o Senhor do Universo –. Mas quem poderá suportar o dia da sua vinda,
quem resistirá quando Ele aparecer? Ele é como o fogo do fundidor e como a
lixívia dos lavandeiros. Sentar-Se-á para fundir e purificar: purificará os
filhos de Levi, como se purifica o ouro e a prata, e eles serão para o Senhor
os que apresentam a oblação segundo a justiça. Então a oblação de Judá e de
Jerusalém será agradável ao Senhor, como nos dias antigos, como nos anos de
outrora.
Salmo
Responsorial: 23
R. O Senhor do Universo é o Rei da glória.
Levantai, ó portas, os vossos
umbrais, alteai-vos, pórticos antigos, e entrará o Rei da glória.
Quem é esse Rei da glória? O
Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso nas batalhas.
Levantai, ó portas, os vossos
umbrais, alteai-vos, pórticos antigos, e entrará o Rei da glória.
Quem é esse Rei da glória? O
Senhor dos Exércitos, é Ele o Rei da glória.
2ª
Leitura (Hb 2,14-18): Uma vez que os filhos dos homens têm o mesmo
sangue e a mesma carne, também Jesus participou igualmente da mesma natureza,
para destruir, pela sua morte, aquele que tinha poder sobre a morte, isto é, o
diabo, e libertar aqueles que estavam a vida inteira sujeitos à servidão, pelo
temor da morte. Porque Ele não veio em auxílio dos Anjos, mas dos descendentes
de Abraão. Por isso devia tornar-Se semelhante em tudo aos seus irmãos, para
ser um sumo sacerdote misericordioso e fiel no serviço de Deus, e assim expiar
os pecados do povo. De facto, porque Ele próprio foi provado pelo sofrimento,
pode socorrer aqueles que sofrem provação.
Evangelho
(Lc 2,22-40): E quando se completaram os dias da purificação, segundo a
lei de Moisés, levaram o menino a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor,
conforme está escrito na Lei do Senhor: «Todo primogênito do sexo masculino
será consagrado ao Senhor”. Para tanto, deviam oferecer em sacrifício um par de
rolas ou dois pombinhos, como está escrito na Lei do Senhor. Ora, em Jerusalém
vivia um homem piedoso e justo, chamado Simeão, que esperava a consolação de
Israel. O Espírito do Senhor estava com ele. Pelo próprio Espírito Santo, ele
teve uma revelação divina de que não morreria sem ver o Ungido do Senhor.
Movido pelo Espírito, foi ao templo. Quando os pais levaram o menino Jesus ao
templo para cumprirem as disposições da Lei, Simeão tomou-o nos braços e louvou
a Deus, dizendo: «Agora, Senhor, segundo a tua promessa, deixas teu servo ir em
paz, porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os
povos: luz para iluminar as nações e glória de Israel, teu povo». O pai e a mãe
ficavam admirados com aquilo que diziam do menino. Simeão os abençoou e disse a
Maria, a mãe: «Este menino será causa de queda e de reerguimento para muitos em
Israel. Ele será um sinal de contradição — e a ti, uma espada traspassará tua
alma! — e assim serão revelados os pensamentos de muitos corações». Havia
também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Ela era
de idade avançada. Quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o
marido. Depois ficara viúva e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não
saía do templo; dia e noite servia a Deus com jejuns e orações. Naquela hora,
Ana chegou e se pôs a louvar Deus e a falar do menino a todos os que esperavam
a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo conforme a Lei do Senhor,
eles voltaram para Nazaré, sua cidade, na Galileia. O menino foi crescendo,
ficando forte e cheio de sabedoria. A graça de Deus estava com ele».
Hoje, aguentando o frio do
inverno, Simeão aguarda a chegada do Messias. Há quinhentos anos, quando se
começava a levantar o Templo, houve uma penúria tão grande que os construtores
se desanimaram. Foi então quando Ageu profetizou: «O esplendor desta casa
sobrepujará o da primeira - oráculo do Senhor dos exércitos» (Ag 2,9); e
completou que «sacudirei todas as nações, afluirão riquezas de todos os povos e
encherei de minha glória esta casa, diz o Senhor dos exércitos» (Ag 2,7). Frase
que admite diversos significados: «o mais apreciado», dirão alguns, «o desejado
de todas as nações», afirmará são Jerônimo.
A Simeão «Fora-lhe revelado pelo
Espírito Santo que não morreria sem primeiro ver o Cristo do Senhor» (Lc 2,26),
e hoje, «movido pelo Espírito», subiu ao Templo. Ele não é levita, nem escriba,
nem doutor da Lei, é somente um homem «Ora, havia em Jerusalém um homem chamado
Simeão. Este homem, justo e piedoso, esperava a consolação de Israel, e o
Espírito Santo estava nele» (Lc 2,25) O vento sopra onde quer e ouves a sua
voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim é também todo aquele
que nasceu do Espírito”. (cf. Jo 3,8).
Agora comprova com desconcerto
que não se tem feito nenhum preparativo, não se veem bandeiras, nem grinaldas,
nem escudos em nenhum lugar. José e Maria cruzam a esplanada levando o Menino
nos braços. «Levantai, ó portas, os vossos frontões, erguei-vos, portas
antigas, para que entre o rei da glória» (Sal 24,7), clama o salmista.
Simeão avança para saudar a Mãe
com os braços estendidos, recebe ao Menino e abençoa a Deus, dizendo: «Agora,
Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra. Porque os meus
olhos viram a vossa salvação. Que preparastes diante de todos os povos, como
luz para iluminar as nações, e para a glória de vosso povo de Israel» (Lc
2,29-32).
Depois diz a Maria: «E uma espada
traspassará a tua alma!» (Lc 2,35). Mãe! —digo-lhe— quando chegue o momento de
ir à casa do Pai, leva-me nos braços como Jesus, que também eu sou teu filho e
menino.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Chegou já aquela luz verdadeira que vindo para este mundo ilumina todo homem. Deixemos, irmãos, que esta luz nos penetre e nos transforme. Nenhum de nós ponha obstáculos para esta luz. Imitemos a alegria de Simeão e, como ele, cantemos um hino de ação de graças» (São Sofrônio)
«O anúncio de Simeão parece como
um segundo anúncio para Maria, porque lhe indica a concreta dimensão histórica
na qual o Filho vai cumprir sua missão, em outras palavras, na incompreensão e
na dor» (São João Paulo II)
* «Com Simeão e Ana, é toda a
espera de Israel que vem ao encontro de seu Salvador. Jesus é reconhecido
como o Messias tão esperado, “luz das nações” e “gloria de Israel”, mas é
também “sinal de contradição”. A espada de dor predita a Maria anuncia esta
outra oblação, perfeita e única, da cruz, que dará a salvação que Deus
“preparou diante de todos os povos”» (Catecismo da Igreja Católica, n°529)
O texto de hoje, exclusivo de
Lucas, é o penúltimo episódio das “narrativas da infância de Jesus”, nas quais
o evangelista apresenta Jesus a percorrer as diversas etapas da sua infância
segundo as normas da Lei (a Torah).
* v. 22. “Ao cumprirem-se os
dias”. “A lei de Moisés” (Lv 12,1-8) prescrevia que uma mãe se devia
“apresentar” (cf. 1,19; Nm 16,9; Dt 21,5 Jdt 11,13), isto é, subir ao Templo de
Jerusalém, à presença de Deus, no 40º dia do nascimento do seu filho, para se
“purificar” do contacto com o sangue no parto, oferecendo um sacrifício (v.
24). É o que acontece; mas Maria leva consigo também o Menino Jesus e José (cf.
1Sm 1,24). Entretanto, Lucas evoca neste gesto o cumprimento das setenta
semanas da profecia de Daniel (9,24-27): seis meses (6x30=180 dias) da gravidez
de Isabel (1,36); nove meses (9x30=270 dias) da gravidez de Maria (2,6) e 40
dias da purificação de Maria (180+270+40) dão 490 dias, ou seja, setenta
semanas (70x7).
“Jerusalém”: o evangelista usa a forma grega Hierosolyma (13,22; 19,28; 23,7; At, 25x), provavelmente para ligar a etimologia de “Hierosalem” (hieros, “santa ”+ Salem “paz”: vv. 25.38.41.43.45; Hb 7,2), a hieros, “santa”, (kat)alyma, “sala de hóspedes” (2,7; uma alusão ao cenáculo: 22,11).
* v. 23: Além da purificação
da mãe, a Lei prescrevia que todo o primogénito do sexo masculino “que rasga o
ventre materno” (nascendo de parto natural) “será consagrado ao Senhor”
(lit. “será chamado santo para o Senhor”: 1,35!; Ex 13,2.12.15). Segundo a
Lei, as primícias de tudo o que se tem são do Senhor. Isto aplica-se em
especial aos primogénitos machos, tanto dos homens, como dos animais: eles
pertencem a Deus e devem ser “resgatados” (libertados mediante um pagamento),
em agradecimento por Deus ter poupado os primogénitos de Israel na noite de
Páscoa, quando feriu de morte os primogénitos dos egípcios, tanto dos homens,
como dos animais (Ex 13,15s; 22,28; 34,19).
* Desta obrigação está isenta
a tribo de Levi (Nm 3,12-13.40ss.45), porque, segundo a tradição judaica, todos
os primogénitos de Israel tinham sido escolhidos pelo Criador para o sacerdócio
por terem sido poupados na última das dez pragas do Egito. No entanto,
quando os israelitas pecaram junto ao Sinai, oferecendo sacrifícios ao bezerro
de ouro, só os filhos de Levi se juntaram a Moisés para executar a sentença
divina (Ex 32,26-29), passando a ser apenas eles a assumir o sacerdócio. Desde
então foi instituído “o resgate do primogénito” (he. pidyon ha-ben: Nm 18,16;
gr. lytrôsis, “redenção”: v. 38; 1,68), como forma de resgatar o primogénito da
obrigação do sacerdócio. Isto deve fazer-se a partir do 30º dia do nascimento
dele (um mês civil) e antes de completar o segundo mês (Nm 18,16), o mais
tardar até aos cinco anos de idade (Lv 27,6). O filho deve ser resgatado pelo
seu pai que se pode dirigir a qualquer sacerdote em qualquer lugar da nação e
lhe entrega o filho, dizendo “Este meu primogénito é o primogénito da sua mãe e
o Santificado, bendito seja Ele, ordenou-nos que o resgatássemos”, pagando-lhe
5 siclos de prata pura (“segundo o ciclo do Santuário”, 5 x 11,4g: Nm 3,47;
18,16; Mek Ex 13,2, 22b; Mek Ex 22,29, 103a; SNu 18,15 §118, 38a).
* Lucas, que gosta de
sublinhar a pobreza (6,20; 9,3; 14,13.21; 18,22; At 3,6; 8,20; 20,33), e é
avesso ao dinheiro, não refere o pagamento, mas alude aqui ao rito e dá-o como
cumprido (v. 39), fazendo-o coincidir com a purificação de Maria (cf. v. 22: “a
purificação deles”), por razões de ordem prática. Destaca assim a piedade de
Maria e de José, que apresentam Jesus a Deus numa cena que evoca 1Sm 1,24-26 (a
apresentação de Samuel a Deus, por Ana, no templo de Silo).
* v. 24. “A Lei do Senhor”
prescrevia, no caso de a família ser pobre, que a mulher oferecesse em
sacrifício pela sua purificação apenas “um par de rolas ou duas pombinhas”
(Lv 12,6.8). É o caso da família de Jesus, que faz parte dos “pobres de
Israel”, o resto fiel a Deus que obedece de coração, com amor, à sua “Lei” (5x
aqui). Ao mesmo tempo, Lucas mostra que Jesus é desde o princípio “o Santo” de
Deus (v. 23: “consagrado”; 4,34), como o Anjo dissera a Maria (1,35),
decorrendo toda a sua vida segundo a Palavra de Deus, que nele se vai
realizando.
* v. 25. Duas personagens
acolhem Jesus no Templo: ambas são idosas, representando o antigo povo de Deus
que esperava ardentemente a restauração do reino de Deus e a libertação
(resgate, “redenção”) do seu povo. Bem ao estilo de Lucas, são um par: um homem
e uma mulher (4,25-28.31-39; 7,1-17.36-50; 23,55-24,35). Ambos “profetizam”, ou
seja, agem e falam em nome de Deus, sob moção do Espírito Santo. Lucas expressa
deste modo três temas fundamentais da sua obra: a) ambos, homem e mulher, estão
juntos na presença de Deus, sendo iguais em honra e graça, tendo os mesmos dons
e responsabilidades (Gn 1,27; Gl 3,28); b) em Jesus inauguram-se os tempos
messiânicos, marcados pela efusão do Espírito Santo e a irrupção do dom de
profecia (Nm 11,27; Jl 2,28), extinto há mais de 400 anos; 3) só é possível
encontrar Jesus e (re)conhecê-lo por ação do Espírito Santo.
* A primeira personagem é
Simeão (he. “Deus ouviu”). “Era um homem justo” (1,6.17; 23,50; At 10,22),
que fazia de coração a vontade de Deus (Is 51,7); “e piedoso”, cumprindo os
preceitos de Deus humilde e reverentemente (At 2,5; 8,2; 22,12); “que esperava”
(há longo tempo: Rt 1,13) a “consolação de Israel” (cf. v. 38) – ou seja, a
libertação do cativeiro e a salvação do Povo de Deus, disperso pelo exílio,
prometidas pelos profetas (cf. Is 40,1; 49,13; 51,12; 52,9; 61,2; 66,13; Jr
31,9; Zc 1,17) –, vivendo na esperança no cumprimento das promessas de
salvação, porque “o Espírito Santo estava sobre ele” (3,22; Nm 11,25.29),
animando a sua vida.
* v. 26. “Fora-lhe revelado”
(cf. Jr 36,2.4; At 10,20) “pelo Espírito Santo”. “Espírito Santo”
aparece aqui pela primeira vez em Lucas com o artigo (10,21; 12,10. 12), o que
só ocorre três vezes no AT (Sl 51,13; Is 63,10s). “Que não veria a morte”, que
não morreria (Sl 89,49; Hb 11,5; Jo 8,51), “sem antes ter visto (9,27) “o Cristo
do Senhor” (só em 2,11; 1Sm 24,11), ou seja, o “ungido (he. Messiah) de Deus”,
título que no AT designa o Sumo-sacerdote (Lv 21,12) e o rei (1Sm 24,6.10),
sagrados com o óleo da unção (cf. Ex 25,6; 30,23-32), bem como o Messias
prometido (Sl 2,2).
* v. 27. Simeão vai ao Templo
“no Espírito”, impelido por Ele (1,17; 4,1; 10,21; Mq 3,8; Zc 4,6; 7,12),
no momento em que “os pais trouxeram o Menino Jesus para fazerem segundo o
costume da Lei acerca dele”. Ao cumprirem o que a Lei prescrevia, levam a que
se cumpra também Ml 3,1: “De repente, virá ao seu Templo o Senhor, a quem
buscais, o Anjo da Aliança, a quem desejais”. Lucas chama aqui pela primeira
vez “pais” a José e Maria porque foi só na circuncisão que José assumiu a
paternidade legal sobre Jesus (vv. 21.33; 3,23), sendo pai legal dele.
* v. 28. Impelido pelo
Espírito (cf. At 8,29; 10,19; 11,12; 13,2), Simeão reconhece Jesus e
intervém com atos e palavras expressivos. Num gesto de amor, ternura e
gratidão, “recebe” o Menino nos braços (cf. Mc 9,36; 10,16) como um dom (gr.
dékomai: 9,48; 18,17; 22,17; Gn 33,10; Dt 32,11) e bendiz a Deus (1,42.64;
24,53; Sl 16,7; 34,2; 63,5; 96,2; 103,2; 134,2), profetizando.
* v. 29. “Agora” (gr.
nûn). É o “agora” do tempo da graça, do dia da salvação (22,18.69; 2Cor 6,2).
“Senhor” (gr. despótes, “mestre”, “soberano”: At 4,24; Gn 15,2.8; Js 5,14; Dn
9,15-19): é Deus quem dirige tudo. “Podes deixar partir em paz”, ou seja,
deixar morrer (Gn 15,15; 46,30; Tb 11,9), livre do medo da morte (Hb 2,14s). “O
teu servo” (gr. doulós, “escravo”: 1,38.48; Rm 1,1; 2Co 4,5; Gl 1,10; Fl 1,1;
2,7; Tt 1,1; Tg 1,1; 2Pd 1,1; Jd 1,1; Ap 1,1), ou seja, a mim, sobre quem podes
dispor, com direito de vida e de morte. “Segundo a tua Palavra” que me
prometeste pelo Espírito Santo (v. 26), e de acordo com o meu desejo (cf. Gn
47,30; Nm 14,20; 1Rs 3,12). O encontro com Jesus ilumina projeta uma nova luz
sobre a existência do homem e a sua morte, fazendo dela uma passagem para a
eternidade.
v. 30. Depois, declara no Templo de Jerusalém que os seus olhos “viram a salvação” (3,6; Sl 98,3; cf. Jb 42,5; Sl 67,3). O nome “Jesus” em aramaico é Ieshuah (“Deus salva”), a palavra hebraica para “salvação”: ver Jesus é ver a salvação.
* v. 31.”Que preparaste diante
de todos os povos” (gr. laós: Is 52,10), ou seja, que destinaste, começando
pelo teu povo, a toda a humanidade (Is 40,5 LXX).
* v. 32. A seguir, Simeão
anuncia o objetivo da obra de Jesus: levar a todos os homens a “luz” (Is
9,2; At 26,18) do Evangelho que se deve “revelar às nações”, isto é, aos
gentios (Is 42,6; 49,9.6; 51,4; At 13,47) e ser a “glória de Israel”, o
povo de Deus (Is 4,2; 46,13; 45,25; 60,1s.19). “Glória” alude à glória
divina da ressurreição de Jesus (9,26.31s; 21,27; 24,26), da qual participará o
novo Povo de Deus, o novo Israel (Rm 9,6ss; Gl 6,6; Fl 3,3). Jesus é o Servo de
Iavé que levará a salvação (através dos seus discípulos) a todos os povos da
terra, que nele serão irmanados, sem qualquer distinção, no único povo de Deus,
que participará da Sua glória. Emerge aqui, pela primeira vez, de forma
explícita, o tema, tão caro a Lucas, da universalidade da salvação (2,14;
24,47; At 1,8).
* v. 33. “Seu pai e sua Mãe”
(v. 27) ficam “admirados” com o que “se diz” (particípio presente) de
Jesus (1,63; 2,18.48). De fato, antes só tinha sido anunciada a missão de
Jesus em relação a Israel; agora é-lhes dito que Ele será glorificado e que a
sua missão se estenderá a todos os povos.
* v. 34. “Simeão abençoou-os”:
a Jesus, Maria e José (cf. Dt 18,5 LXX; Nm 6,23-26). Depois anuncia
profeticamente a Maria a divisão que Jesus irá provocar em Israel e no mundo
(cf. 4,16-30; 12,51), desvelando-lhe o seu destino: o anúncio e a obra da
salvação da humanidade passarão pelo sofrimento (“a cruz”: 24,7.44.46), de modo
que Jesus será “um sinal de contradição” para todos (7,23; At 28,22; Is 8,14;
28,16): para os que não acreditarem nele e o rejeitarem, será causa de queda e
de ruína (como acontecerá a Jerusalém no ano 70 d.C.: Dn 11,41 LXX; Mt 21,42;
Rm 9,32; 1Pd 2,7); para os que nele crerem, será fonte de “ressurreição” (gr.
anástasis), de vida nova, luz e salvação (At 26,23; Rm 6,5; 1Cor 1,23). É uma
alusão aos pontos centrais do querigma: a morte e ressurreição de Cristo e o
seu anúncio a todos os povos (9,20.22; 24,26. 46s; At 2,36; 4,10ss; 10,36-42;
17,3), missão esta que será acompanhada de hostilidade e de perseguições por
parte do seu próprio povo, não só em Israel, como também no Império Romano.
* v. 35. Tal como o
discípulo é associado à cruz (9,23; 14,27), também Maria será intimamente
associada à obra do seu Filho de modo singular, único, para a vida e para
morte, obra esta que “traspassará” como espada a sua alma (v. 48; Jo 19,25s.37;
Hb 4,12; Sl 124,5) de dor (cf. Am 5,17) “para que se revelem os pensamentos de
muitos corações” (cf. 5,22; 9,47; 16,15; 24,38; Sb 7,20; Jr 17,9s; Dn 2,22.30;
1Cor 3,13), pró ou contra Jesus, em última análise, pró ou contra Deus.
* v. 36. A segunda figura,
Ana, é toda ela simbólica. O seu nome, “Ana”, significa “graça”, “ternura”;
e o apelido, “Fanuel”, “rosto de Deus” (Gn 32,31): em Jesus, Deus mostra o seu
rosto e dá a sua graça. Ela é “profetiza” (cf. v. 25; Ex 15,20; Jz 4,4; 2Rs
22,14; 2Cr 34,22; Is 8,3), patenteando os tempos messiânicos da efusão do
Espírito (Jl 3,1; At 2,17s). Ana é de Asser (“feliz”), a tribo menor, afastada
e insignificante de Israel (Dt 33,24), no noroeste da Galileia.
* v. 37. A idade de Ana também
é simbólica: 7x12=84 anos, indicando 7 a perfeição e 12 o Povo de Deus. Ela
é “viúva”, figura daquele Israel pobre e sofredor que se manteve sempre fiel a
Iavé. Manteve-se viúva após a morte do marido (cf. Is 60,20; 61,3), ansiando,
suplicando e esperando o cumprimento das promessas de Deus, “Sem se afastar do
Templo” (cf. Sl 26,8; 27,4; 84,11), não porque nele pernoitasse (uma vez que as
portas deste se fechavam durante a noite: cf. 21,37; Sl 134,1), mas porque
vivia perto dele. “Prestando culto” a Deus (cf. Ex 3,12; 20,5; 23,25; Dt 6,13;
10,20; Js 24,14); ininterruptamente, “noite e dia” (Jt 11,37; At 20,31; 26,7;
1Ts 2,9; 3,10; 2Ts 3,8; 1Tm 5,5; 2Tm 1,3); “com jejuns e orações” (cf. 5,33; At
13,3; 14,23; Ne 1,4; Dn 9,3), uma prática regular dos judeus piedosos (Jt
8,6!), para implorar a vinda do Messias (cf. 5,33; Dn 10,3).
* v. 38. Ao ver Jesus, Ana não
só reconhece nele o Messias, mas põe-se a louvar a Deus (Sl 79,13; Dn 4,37) e a
falar profeticamente dele “a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém”
(cf. v. 25; Sl 111,19; 130,7; Is 43,1; 59,20; 63,4). A palavra “redenção” (gr.
lytrosis, “resgate”: cf. v. 23) é a mesma que é usada para falar da libertação
de Israel da escravidão do Egito (cf. Ex 6,6; 15,13; Dt 7,8; 2Sm 7,23) e para
designar o novo êxodo, o da salvação futura do povo de Deus (Is 41,14; 43,1;
44,6.22ss; 52,3; 62,12; 63,9; Jr 31,11; Os 13,14; Zc 10,8), levado a cabo pelo
Messias (Jesus: 9,31). Esta redenção, que se estendia a todo o povo eleito
(1,68; 24,21), interessava em primeiro lugar à sua capital, Jerusalém (cf. Is
52,9; 40,2), onde David se instalara como rei de Judá e de Israel (2Sm 5,9) e
Salomão construiu o Templo. Ana é figura do Israel pobre e fiel que põe toda a
sua esperança em Deus, se deixa guiar pelo seu Espírito e reconhece em Jesus o
Messias prometido, que a anuncia a todos os que esperam (receber) a redenção.
v. 39. O texto conclui com um
sumário da infância de Jesus. Cumpridos todos as prescrições da Lei a
respeito do Menino, “voltaram à sua cidade, Nazaré” (1,26; 2,4; Mt 2,23), donde
tinham partido.
* v. 40: v. 52; cf. At 7,10. “Entretanto, o Menino crescia” (1Sm 2,21.26) “e fortalecia-se” (cf. 1,80; Sl 80,18; Ef 3,16; 6,10). “Enchendo-se de sabedoria” (cf. 11,31; Is 11,2; 1Cor 1,24.30; Cl 1,9; 2,3; Tg 3,17), “e a graça de Deus estava com Ele” (cf. 4,22; Sl 45,2; Sb 3,9; Jo 1,14.17), dons estes que vêm de Deus (cf. Tg 1,17; 3,15) e que Jesus, diversamente de João Batista, possui como próprios, atestando a sua divindade.
MEDITAÇÃO:
1. Como conheci o Senhor? Já me senti conduzido por Ele? Vão ao encontro dele e reconheço‑o na pessoa dos pobres?
2. Deus ocupa o centro da minha vida? Deixo-me guiar pelo Seu Espírito e iluminar pela Sua Palavra? Levo a cabo a missão que Ele me confiou no batismo de ser sua testemunha e de O anunciar a todos?
3. Que contradições devem acabar em mim, porque me afastam de Jesus, e que aspetos devem receber vida nova para dele me aproximar?
R. O Senhor do Universo é o Rei da glória.
Aleluia. Luz para se revelar
às nações e glória de Israel, vosso povo. Aleluia.
«Agora, Senhor, segundo a tua
promessa, deixas teu servo ir em paz, porque meus olhos viram a tua salvação»
Rev. D. Lluís RAVENTÓS i Artés (Tarragona,
Espanha)
«Chegou já aquela luz verdadeira que vindo para este mundo ilumina todo homem. Deixemos, irmãos, que esta luz nos penetre e nos transforme. Nenhum de nós ponha obstáculos para esta luz. Imitemos a alegria de Simeão e, como ele, cantemos um hino de ação de graças» (São Sofrônio)
«Os meus olhos viram a vossa
salvação»
Fr. Pedro Bravo, O.Carm
“Jerusalém”: o evangelista usa a forma grega Hierosolyma (13,22; 19,28; 23,7; At, 25x), provavelmente para ligar a etimologia de “Hierosalem” (hieros, “santa ”+ Salem “paz”: vv. 25.38.41.43.45; Hb 7,2), a hieros, “santa”, (kat)alyma, “sala de hóspedes” (2,7; uma alusão ao cenáculo: 22,11).
v. 30. Depois, declara no Templo de Jerusalém que os seus olhos “viram a salvação” (3,6; Sl 98,3; cf. Jb 42,5; Sl 67,3). O nome “Jesus” em aramaico é Ieshuah (“Deus salva”), a palavra hebraica para “salvação”: ver Jesus é ver a salvação.
* v. 40: v. 52; cf. At 7,10. “Entretanto, o Menino crescia” (1Sm 2,21.26) “e fortalecia-se” (cf. 1,80; Sl 80,18; Ef 3,16; 6,10). “Enchendo-se de sabedoria” (cf. 11,31; Is 11,2; 1Cor 1,24.30; Cl 1,9; 2,3; Tg 3,17), “e a graça de Deus estava com Ele” (cf. 4,22; Sl 45,2; Sb 3,9; Jo 1,14.17), dons estes que vêm de Deus (cf. Tg 1,17; 3,15) e que Jesus, diversamente de João Batista, possui como próprios, atestando a sua divindade.
1. Como conheci o Senhor? Já me senti conduzido por Ele? Vão ao encontro dele e reconheço‑o na pessoa dos pobres?
2. Deus ocupa o centro da minha vida? Deixo-me guiar pelo Seu Espírito e iluminar pela Sua Palavra? Levo a cabo a missão que Ele me confiou no batismo de ser sua testemunha e de O anunciar a todos?
3. Que contradições devem acabar em mim, porque me afastam de Jesus, e que aspetos devem receber vida nova para dele me aproximar?
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