sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Imaculada Conceição da Virgem Maria

1ª Leitura (Gen 3,9-15.20):
Leitura do Livro do Génesis Depois de Adão ter comido da árvore, o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?». Ele respondeu: «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me». Disse Deus: «Quem te deu a conhecer que estavas nu? Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?». Adão respondeu: «A mulher que me destes por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi». O Senhor Deus perguntou à mulher: «Que fizeste?» E a mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi». Disse então o Senhor Deus à serpente: «Por teres feito semelhante coisa, maldita sejas entre todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens. Hás de rastejar e comer do pó da terra todos os dias da tua vida. Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta te esmagará a cabeça e tu a atingirás no calcanhar». O homem deu à mulher o nome de ‘Eva’, porque ela foi a mãe de todos os viventes.
 
Salmo Responsorial: 97
R. Cantai ao Senhor um cântico novo: o Senhor fez maravilhas.
 
Cantai ao Senhor um cântico novo, pelas maravilhas que Ele operou. A sua mão e o seu santo braço Lhe deram a vitória.
 
O Senhor deu a conhecer a salvação, revelou aos olhos das nações a sua justiça. Recordou-Se da sua bondade e fidelidade em favor da casa de Israel.
 
Os confins da terra puderam ver a salvação do nosso Deus. Aclamai o Senhor, terra inteira, exultai de alegria e cantai.
 
2ª Leitura (Ef 1,3-6.11-12): Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos Céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu, antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença. Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade, a fim de sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo, para louvor da sua glória e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho. Em Cristo fomos constituídos herdeiros, por termos sido predestinados, segundo os desígnios d’Aquele que tudo realiza conforme a decisão da sua vontade, para sermos um hino de louvor da sua glória, nós que desde o começo esperámos em Cristo.
 
Aleluia. Ave, Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois Vós entre as mulheres. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 1,26-38): Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria. O anjo entrou onde ela estava e disse: «Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo». Ela perturbou-se com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse: «Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim». Maria, então, perguntou ao anjo: «Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?». O anjo respondeu: «O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível». Maria disse: «Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra». E o anjo retirou-se».
 
«Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo»
 
Rev. D. David COMPTE i Verdaguer (Manlleu, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho toca um acorde de três notas. Três notas, nem sempre bem afinadas na nossa sociedade: a do fazer, a da amizade e a da coerência de vida. Hoje em dia, fazemos muitas coisas, mas, temos um projeto? Hoje, que navegamos na sociedade da comunicação, cabe nos nossos corações a solidão? Hoje, na era da informação, esta permite-nos formar a nossa personalidade?
 
Um projeto. Maria, uma mulher «prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi» (Lc 1,28). Maria tem um projeto. Evidentemente, de proporções humanas. Porém, Deus irrompe na sua vida para apresentar-lhe outro projeto... de proporções divinas. Também hoje, quer entrar em nossa vida e dar proporções divinas ao nosso dia a dia humano.
 
Uma presença. «Não tenhas medo, Maria!» (Lc 1,30). Não construamos de qualquer jeito! Não seja que a adição ao “fazer” esconda um vazio. O matrimônio, a vida de serviço, a profissão não têm de ser uma fuga para diante. «Cheia de graça! O Senhor está contigo» (Lc 1,28). Presença que acompanha e dá sentido. Confiança em Deus, que — por conseguinte— nos leva à confiança com os outros. Amizade com Deus que revigora a amizade com os outros.
 
Formar-nos. Hoje, recebemos tantos estímulos muitas vezes opostos, que é preciso dar forma e unidade à nossa vida. Maria, diz São Luís Maria Grignion, «é o molde vivo de Deus». Existem duas maneiras de fazer uma escultura, expõe Grignion: uma, a mais difícil, à base de batidas de cinzel. A outra, usando um molde. Esta é mais simples do que a primeira. Mas o sucesso depende de que a matéria seja maleável e o molde desenhe com perfeição a imagem. Maria é o molde perfeito. Procuramo-la, sendo matéria maleável?
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Deus é o pai das coisas criadas; e Maria é a mãe das cosas recriadas. Pois Deus engendrou àquele por quem tudo foi feito; e Maria deu à luz àquele por quem tudo foi salvo» (São Anselmo)
 
«O cumprimento do anjo está entretecido com os fios do Antigo Testamento. Maria é o rebento que, na escura noite invernal da história, floresce do tronco abatido de David: de Ela germina a árvore da redenção. Deus não tem fracassado, como podia parecer no início da história: Deus salvou e salva o seu povo» (Bento XVI)
 
«Este esplendor de uma santidade de todo singular, com que foi enriquecida desde o primeiro instante da sua conceição (141), vem-lhe totalmente de Cristo: foi remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho (142)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 492)
 
“Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo”
 
*
A primeira palavra da parte de Deus aos homens, quando o Salvador se aproxima do mundo, é um convite à alegria. É o que escuta Maria: Alegra-te.
 
* Jürgen Moltmann, o grande teólogo da esperança, expressou-se assim: “A palavra última e primeira da grande libertação que vem de Deus não é o ódio, mas a alegria; não é a condenação, mas a absolvição. Cristo nasce da alegria de Deus e morre e ressuscita para trazer a sua alegria a este mundo contraditório e absurdo”.
 
* O Concílio Vaticano II apresenta Maria, Mãe de Jesus Cristo, como “protótipo e modelo para a Igreja”, e descreve-a como mulher humilde que escuta Deus com confiança e alegria. A partir dessa mesma atitude devemos escutar Deus na Igreja atual.
 
* Entretanto, a alegria não é fácil. Não se pode obrigar ninguém a estar alegre nem lhe impor a alegria pela força. A verdadeira alegria deve nascer e crescer no mais íntimo de nós mesmos. Do contrário, será riso exterior, gargalhada vazia, euforia fabricada, quem sabe, num “salão de festas”, porém a alegria ficará fora, à porta do nosso coração.
 
* A alegria é um dom bonito, porém também muito vulnerável. Um dom que se deve saber cultivar com humildade e generosidade no fundo da alma. Hermann Hesse explica os rostos atormentados, nervosos e tristes de tantos homens e mulheres, desta maneira muito simples: “É porque a felicidade somente pode senti-la a alma, não a razão, não o ventre, nem a cabeça, nem a bolsa”.
 
* Alegra-te. É a primeira coisa que Maria escuta de Deus e a primeira coisa que devemos escutar também hoje. Entre nós falta alegria. Com frequência deixam-nos contagiar pela tristeza. Jesus não é mais a Boa Notícia? Não sentimos alegria de ser seus seguidores? Quando falta a alegria, a fé perde frescura, a cordialidade desaparece, a amizade entre os crentes esfria. Tudo se torna mais difícil. É urgente despertar a alegria nas nossas comunidades e recuperar a paz que Jesus nos deixou como herança.
 
* O Senhor está contigo. Não é fácil a alegria na Igreja dos nossos dias. Somente pode nascer da confiança em Deus. Não estamos órfãos. Vivemos invocando, cada dia, um Deus Pai que nos acompanha, nos defende e busca sempre o bem de todo o ser humano. Esta Igreja, às vezes tão desconcertada e perdida, que não consegue voltar ao Evangelho, não está sozinha. Jesus, o Bom Pastor, procura-nos. O seu Espírito atrai-nos. Contamos com o seu alento e compreensão. Jesus não nos abandonou. Com Ele tudo é possível.
 
* Não temas. São muitos os medos que paralisam os seguidores de Jesus. O medo causa muitos estragos. Impede-nos de caminhar para o futuro com esperança. Fecha-nos na conservação estéril do passado. Crescem os nossos fantasmas. Desaparece o realismo sadio e a sensatez cristã. É urgente construir uma Igreja da confiança.
 
* Darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Também a nós, como a Maria, nos é confiada uma missão: contribuir a pôr luz na noite escura. Não somos chamados a julgar o mundo, mas a semear esperança. A nossa tarefa não é apagar o pavio que se extingue, mas estimular a fé que, em muitos, quer brotar.
 
* A partir das nossas comunidades, cada vez menores e mais humildes, podemos ser fermento de um mundo mais sadio e fraterno. Estamos em boas mãos. Deus não está em crise. Somos nós que não nos atrevemos a seguir Jesus com alegria e confiança!
 
* Ao contrário de nós, Maria, visitada por Deus, não foge, não se esconde de si mesma, não se esconde de Deus, não esconde Deus na sua vida. Tinha consagrado a Deus toda a sua vida, a sua virgindade. Maria não se esconde de Deus nem esconde Deus. Expõe-se, na sua verdade e simplicidade, ao imenso clarão de Deus. É assim que se expõe a Deus e que expõe Deus, recebendo e aceitando com amor intenso a sua nova Vocação que lhe vem de Deus. Maria vai ser a Mãe, não de um filho, mas do Filho há muito ansiado, esperado e anunciado nas páginas da Escritura Santa Antiga. É o Filho de Deus, totalmente consubstancial a Deus, e é o Filho de Maria, totalmente consubstancial à sua Mãe. Por isso, «Alegra-te, Maria, não tenhas medo», «o Senhor está contigo»
 
* «Eis a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua Palavra». Deus chama, mas não impõe. A Maria, e a cada um de nós. Podemos sempre aceitar Deus ou esconder-nos de Deus. Deixar Deus entrar, ou fechar-lhe a porta. Maria aceitou, e, por isso, todas as gerações a proclamarão Bem-aventurada.
 
* Esta celebração da Mãe de Deus e nossa Mãe é um desafio imenso para o homem que se esconde de si mesmo, que continua a esconder-se de Deus, e que pretende esconder Deus, retirando-o da via pública e da vida pública.

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