domingo, 10 de novembro de 2024

Terça-feira da 32ª semana do Tempo Comum

São Josafat, bispo e mártir
 
1ª Leitura (Tit 2,1-8.11-14):
Caríssimo: Ensina o que é conforme à sã doutrina. Os homens idosos devem ser sóbrios, dignos, ponderados, fortes na fé, na caridade e na perseverança. De maneira semelhante, as mulheres idosas devem ter um procedimento digno de pessoas santas: Não devem ser maldizentes nem dadas ao vinho; pelo contrário, sejam capazes de dar bons conselhos, ensinando as jovens a amar os seus maridos e filhos e a serem prudentes e honestas, bondosas, dóceis aos maridos, para que a palavra de Deus não seja desacreditada. Aconselha igualmente os jovens a serem ponderados em tudo. E apresenta-te a ti mesmo como exemplo de boas obras, na pureza de doutrina, dignidade, linguagem sã e irrepreensível, para que os nossos adversários fiquem confundidos, não tendo nenhum mal a dizer de vós. Na verdade, manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo, que Se entregou por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e preparar para Si mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras.
 
Salmo Responsorial: 36
R. A salvação dos justos vem do Senhor.
 
Confia no Senhor e pratica o bem, possuirás a terra e viverás tranquilo. Põe no Senhor as tuas delícias e Ele satisfará os anseios do teu coração.
 
O Senhor conhece os dias dos bons e a herança deles será eterna. O Senhor consolida os passos do homem e aprova os seus caminhos.
 
Afasta-te do mal e pratica o bem e permanecerás para sempre. Os justos possuirão a terra e nela habitarão para sempre.
 
Aleluia. Se alguém Me ama, guardará a minha palavra, diz o Senhor; meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 17,7-10): Naquele tempo, o Senhor disse: «Se alguém de vós tem um servo que trabalha a terra ou cuida dos animais, quando ele volta da roça, lhe dirá: Vem depressa para a mesa. Não dirá antes: Prepara-me o jantar, arruma-te e serve-me, enquanto eu como e bebo. Depois disso, tu poderás comer e beber. Será que o senhor vai agradecer o servo porque fez o que lhe havia mandado. Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer».
 
«Fizemos o que devíamos fazer»
 
Rev. D. Jaume AYMAR i Ragolta (Badalona, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, a atenção do Evangelho não se dirige à atitude do senhor, mas à dos servos. Jesus convida os seus apóstolos, através do exemplo de uma parábola a considerar a atitude de serviço: o servo tem que cumprir o seu dever sem esperar recompensa: «Será que o senhor vai agradecer o servo porque fez o que lhe havia mandado?» (Lc 17,9). Não obstante, esta não é a única lição do Mestre acerca do serviço. Jesus dirá mais adiante aos seus discípulos: «Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai.» (Jo 15,15). Os amigos não passam contas. Se os servos têm que cumprir o seu dever, muito mais os apóstolos de Jesus, seus amigos, devemos cumprir com a missão encomendada por Deus, sabendo que o nosso trabalho não merece nenhuma recompensa, porque o fazemos por gosto e porque tudo quanto temos e somos é um dom de Deus.
 
Para o crente tudo é sinal, para o que ama tudo é dom. Trabalhar para o Reino de Deus é a nossa recompensa; por isso não devemos dizer com tristeza nem desânimo: «Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer» (Lc 17,19), mas com a alegria daquele que foi chamado a transmitir o Evangelho.
 
Nestes dias temos também presente a festa de um grande santo, de um grande amigo de Jesus, muito popular na Catalunha, São Martinho de Tours, que dedicou a sua vida ao serviço do Evangelho de Cristo. Dele escreveu Suplicio Severo: «Homem extraordinário, que não foi dobrado pelo trabalho nem vencido pela própria morte, não teve preferência por nenhuma das partes, não temeu a morte, não recusou a vida! Levantados os seus olhos e as suas mãos para o céu, seu espírito invicto não deixava de orar». Na oração, no diálogo com o Amigo, encontramos, efetivamente, o segredo e a força do nosso serviço.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Reconheçamos a graça sem esquecer a nossa natureza; não seja vaidoso se você serviu bem, porque você cumpriu o que tinha que fazer. O sol faz seu trabalho, a lua obedece; os anjos cumprem a sua missão» (Santo Ambrósio)
 
«Se fizermos a vontade de Deus todos os dias, com humildade, sem exigir nada Dele, será o próprio Jesus que nos serve, que nos ajuda, que nos encoraja, que nos dá força e serenidade» (Bento XVI)
 
«Na medida em que o homem faz mais bem, também se torna mais livre. Não há verdadeira liberdade a não ser a serviço do bem e da justiça. A escolha da desobediência e do mal é um abuso da liberdade e leva à "escravidão do pecado"» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.733)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz uma parábola que só se encontra no evangelho de Lucas, sem paralelo nos outros evangelhos.
A parábola quer ensinar que nossa vida deve caracterizar-se pela atitude de serviço. Ela começa com três perguntas e, no fim, Jesus mesmo dá a resposta.
 
*  Lucas 17,7-9: As três perguntas de Jesus. Trata-se de três perguntas tiradas da vida de cada dia, para as quais os ouvintes já adivinhavam a resposta. As perguntas são formuladas de tal maneira que elas reenviam cada ouvinte a consultar sua própria experiência e, a partir dela, dar a sua resposta. A primeira pergunta: “Se alguém de vocês tem um empregado que trabalha a terra ou cuida dos animais, por acaso vai dizer-lhe, quando ele volta do campo: Venha depressa para a mesa?” Todo mundo responderá: “Não!” Segunda pergunta: “Pelo contrário, não vai dizer ao empregado: Prepare-me o jantar, cinja-se e sirva-me, enquanto eu como e bebo; depois disso você vai comer e beber?” Todo mundo responderá: “Sim! Claro!” Terceira pergunta: “Será que vai agradecer ao empregado, porque este fez o que lhe havia mandado?” Todo mundo responderá: “Não!”  Pela maneira de Jesus fazer as perguntas, a gente já percebe em que direção ele quer orientar nosso pensamento. Ele quer que sejamos servidores uns dos outros.
 
* Lucas 17,10: A resposta de Jesus. No fim, Jesus mesmo tira a conclusão que já estava implícita nas perguntas: “Assim também vocês: quando tiverem cumprido tudo o que lhes mandarem fazer, digam: Somos empregados inúteis; fizemos o que devíamos fazer". Jesus, ele mesmo, deu o exemplo quando disse: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45). O serviço é um tema do agrado de Lucas. O serviço representa a forma como os pobres do tempo de Jesus, os anawim, esperavam o Messias: não como Messias glorioso rei, sumo sacerdote ou juiz, mas como o Servo de Javé, anunciado por Isaías (Is 42,1-9). Maria, a mãe de Jesus, se apresentou ao anjo: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). Em Nazaré, Jesus se apresenta como o Servo, descrito por Isaías (Lc 4,18-19 e Is 61,1-2). No batismo e no transfiguração, ele foi confirmado pelo Pai que cita as palavras dirigidas por Deus ao mesmo Servo (Lc 3,22; 9,35 e Is 42,1). Aos seus seguidores Jesus pede: “Quem quer ser o primeiro seja o servo de todos” (Mt 20,27). Servos inúteis! É a definição do cristão. Paulo fala disso aos membros da comunidade de Corinto quando escreve: “Eu plantei, Apolo regou, mas era Deus que fazia crescer. Assim, aquele que planta não é nada, e aquele que rega também não é nada: só Deus é que conta, pois é ele quem faz crescer” (1Cor 1,6-7). Paulo e Apolo nada são; são apenas instrumentos, “servidores”. O que vale é o próprio Deus, só Ele! (1Cor 3,7).
 
*  Servir e ser servido. Aqui, neste texto, o servo serve ao senhor, e não, o senhor ao servo. Mas em outro texto de Jesus se diz o contrário: “Felizes dos empregados que o senhor encontra acordados quando chega. Eu garanto a vocês: ele mesmo se cingirá, os fará sentar à mesa, e, passando, os servirá” (Lc 12,37). Neste texto, é o senhor que serve ao servo, e não o servo ao senhor. No primeiro texto, Jesus falava do presente. No segundo texto, Jesus estava falando do futuro. Este contraste é uma outra maneira para dizer: ganha a vida que está disposto a perdê-la por amor a Jesus e ao Evangelho (Mt 10,39; 16,25. Quem serve a Deus nesta vida presente, Deus servirá a ele na vida futura!
 
Para um confronto pessoal
1) Como defino minha vida?
2) Faça para você as mesmas três perguntas de Jesus? Será que vivo como um servo inútil?

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