Sta.
Catarina de Alexandria, virgem e mártir
Bta.
Ana de Jesus Lobera, virgem de nossa Ordem
1ª
Leitura (Ap 14,1-3.4b-5): Eu, João, vi o Cordeiro de pé, no monte Sião.
Com Ele estavam os cento e quarenta e quatro mil que tinham gravados na fronte
o nome do Cordeiro e o nome de seu Pai. E ouvi uma voz, vinda do Céu,
semelhante ao fragor de águas caudalosas e ao ribombar de forte trovão; mas a
voz que eu ouvi era também semelhante ao som de harpistas, tocando as suas
harpas. Entoavam um cântico novo diante do trono e na presença dos quatro Seres
Vivos e dos Anciãos. Ninguém podia aprender esse cântico, senão os cento e
quarenta e quatro mil que foram resgatados da terra. São aqueles que seguem o
Cordeiro para onde quer que Ele vá. Foram resgatados de entre os homens como
primícias oferecidas a Deus e ao Cordeiro. Na sua boca nunca se encontrou
mentira: são irrepreensíveis.
Salmo
Responsorial: 23
R. Esta é a geração dos que
procuram o Senhor.
Do Senhor é a terra e o que nela
existe, o mundo e quantos nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a
consolidou sobre as águas.
Quem poderá subir à montanha do
Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração
puro, que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso.
Este será abençoado pelo Senhor e
recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que
procuram a face do Deus de Jacob.
Aleluia. Vigiai e estai
preparados, para vos apresentardes sem temor diante do Filho do homem. Aleluia.
Evangelho
(Lc 21,1-4): Naquele tempo, ao levantar os olhos, Jesus viu pessoas
ricas depositando ofertas no cofre. Viu também uma viúva necessitada que deu
duas moedinhas. E ele comentou: «Em verdade, vos digo: esta viúva pobre deu
mais do que todos os outros. Pois todos eles depositaram como oferta parte do
que tinham de sobra, mas ela, da sua pobreza, ofereceu tudo que tinha para
viver».
«Mas ela, da sua pobreza,
ofereceu tudo que tinha para viver»
Rev. D. Àngel Eugeni PÉREZ i
Sánchez (Barcelona, Espanha)
Hoje, como quase sempre, as
coisas pequenas passam ignoradas, pequenas esmolas, sacrifícios pequenos,
pequenas orações (jaculatórias), mas o que parece pequeno e sem importância
constitui muitas vezes a trama e também o remate das obras-primas: tanto das
grandes obras de arte como da obra máxima da santidade pessoal.
Pelo fato de essas coisas
pequenas passarem desconhecidas, a sua retidão de intenção está garantida: com
elas não procuramos o reconhecimento dos outros, nem a glória humana. Só Deus
as descobrirá no nosso coração, como só Jesus se apercebeu da generosidade da
viúva. É mais do que garantido que a pobre mulher não anunciou o seu gesto com
um toque de trompete e até é possível que se envergonhasse bastante e se
sentisse ridícula perante o olhar dos ricos, que deitavam grandes donativos no
cofre do templo e disso faziam alarde. Porém, a sua generosidade, que a levou a
tirar forças da fraqueza no meio da sua indigência, mereceu o elogio do Senhor,
que vê o coração das pessoas: «Em verdade, vos digo: esta viúva pobre deu mais
do que todos os outros. Pois todos eles depositaram como oferta parte do que
tinham de sobra, mas ela, da sua pobreza, ofereceu tudo que tinha para viver»
(Lc 21,3-4).
A generosidade da viúva pobre é
uma boa lição para nós, discípulos de Cristo. Podemos dar muitas coisas, como
os ricos que «depositavam as suas ofertas no cofre» (Lc 21,1), mas nada disso
terá valor se só dermos “daquilo que nos sobra”, sem amor e sem espírito de
generosidade, sem nos oferecermos a nós próprios. Diz Sto. Agostinho: «Eles
punham os olhos nas grandes oferendas dos ricos, louvando-os por isso. Porém,
embora tivessem logo visto a viúva, quantos viram aquelas duas moedas?... Ela
deu tudo o que possuía. Tinha muito, porque tinha Deus no seu coração. É muito
mais ter Deus na alma do que ouro na arca». É bem certo: se somos generosos com
Deus, muito mais o será Ele conosco.
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Nunca conteis o dinheiro que
dais, porque digo sempre: se quando dais esmola a mão esquerda não deve saber o
que faz a mão direita, então direita também não o deverá saber» (São José
Benedito Cottolengo)
«As Escrituras convidam-nos a
considerar a esmola com uma visão mais profunda, que transcende a dimensão
puramente material, e ensina-nos a ver que há mais felicidade em dar do que em
receber» (Bento XVI)
«O décimo mandamento proíbe a
cupidez desregrada, nascida da paixão imoderada das riquezas e seu poder»
(Catecismo da Igreja Católica, nº 2.552)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* No Evangelho de hoje, Jesus
elogia uma viúva pobre que soube partilhar mais que os ricos. Muitos pobres
de hoje fazem o mesmo. O povo diz: “Pobre não deixa pobre morrer de fome”. Mas
às vezes, nem isso é possível. Dona Cícera que veio do interior da Paraíba,
Brasil, para morar na periferia da cidade dizia: “No interior, a gente era
pobre, mas tinha sempre uma coisinha para dividir com o pobre na porta. Agora
que estou aqui na cidade, quando vejo um pobre que vem bater na porta, eu me
escondo de vergonha, porque não tenho nada em casa para dividir com ele!” De um
lado: gente rica que tem tudo, mas não quer partilhar. Do outro lado: gente
pobre que não tem quase nada, mas quer partilhar o pouco que tem.
* No início da Igreja, as
primeiras comunidades cristãs, na sua maioria, eram de gente pobre (1 Cor
1,26). Aos poucos, foram entrando também pessoas mais ricas, o que trouxe
consigo vários problemas. As tensões sociais, que marcavam o império romano,
começaram a marcar também a vida das comunidades. Isto se manifestava, por
exemplo, quando elas se reuniam para celebrar a ceia (1Cor 11,20-22), ou quando
faziam reunião (Tg 2,1-4). Por isso, o ensinamento do gesto da viúva era muito
atual, tanto para eles, como para nós hoje.
* Lucas 21,1-2: A esmola da viúva. Jesus estava em frente
ao cofre do Templo e observava como todo mundo colocava aí a sua esmola. Os
pobres jogavam poucos centavos, os ricos jogavam moedas de grande valor. Os
cofres do Templo recebiam muito dinheiro. Todo mundo trazia alguma coisa para a
manutenção do culto, para o sustento do clero e para a conservação do prédio.
Parte deste dinheiro era usada para ajudar os pobres, pois naquele tempo não
havia previdência social. Os pobres viviam entregues à caridade pública. As
pessoas mais necessitadas eram os órfãos e as viúvas. Elas dependiam em tudo da
caridade dos outros, mas mesmo assim, faziam questão de partilhar com os outros
o pouco que possuíam. Assim, uma viúva bem pobre colocou sua esmola no cofre do
templo. Dois centavos, apenas!
* Lucas 21,3-4: O comentário
de Jesus. O que vale mais: os poucos centavos da viúva ou as muitas moedas
dos ricos? Para a maioria, as moedas dos ricos eram muito mais úteis para fazer
caridade, do que os poucos centavos da viúva. Os discípulos, por exemplo,
pensavam que o problema do povo só poderia ser resolvido com muito dinheiro.
Por ocasião da multiplicação dos pães, eles tinham dado a sugestão de comprar
pão para dar de comer ao povo (Lc 9,13; Mc 6,37). Filipe chegou a dizer:
“Duzentos denários não bastam para dar um pouco para cada um!” (Jo 6,7). De
fato, para quem pensa assim, os dois centavos da viúva não servem para nada.
Mas Jesus diz: “Esta viúva depositou mais do que todos os outros”. Jesus tem
critérios diferentes. Chamando a atenção dos discípulos para o gesto da viúva,
ele ensina a eles e a nós onde devemos procurar a manifestação da vontade de
Deus, a saber, nos pobres e na partilha. E um critério muito importante é este:
“Todos os outros depositaram do que estava sobrando para eles. Mas a viúva, na
sua pobreza, depositou tudo o que possuía para viver”.
* Esmola, partilha, riqueza. A
prática de dar esmolas era muito importante para os judeus. Era considerada uma
“boa obra”, pois a lei do Antigo Testamento dizia: “Nunca deixará de haver
pobres na terra; por isso, eu te ordeno: abre a mão em favor do teu irmão, do
teu humilde e do teu pobre em tua terra”. (Dt 15,11). As esmolas, colocadas no
cofre do templo, seja para o culto, seja para os necessitados, órfãos ou
viúvas, eram consideradas como uma ação agradável a Deus (Eclo 35,2; cf. Eclo
17,17; 29,12; 40,24). Dar esmola era uma maneira de reconhecer que todos os
bens e dons pertencem a Deus e que nós somos apenas administradores desses
dons. Mas a tendência à acumulação continua muito forte. Cada vez de novo, ela
renasce no coração humano. A conversão é sempre necessária. Por isso Jesus
dizia ao jovem rico: “Vai, vende tudo o que tens, dá para os pobres” (Mc
10,21). A mesma exigência é repetida nos outros evangelhos: “Vendei vossos bens
e dai esmolas. Fazei bolsas que não fiquem velhas, um tesouro inesgotável nos
céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói” (Lc 12,33-34; Mt 6,9-20). A
prática da partilha e da solidariedade é uma das características que o Espírito
de Jesus quer realizar nas comunidades. O resultado da efusão do Espírito no
dia de Pentecoste era este: “Não havia entre eles necessitado algum. De fato,
os que possuíam terrenos ou casas, vendendo-os, traziam o resultado da venda e
o colocavam aos pés dos apóstolos” (At 4,34-35ª; 2,44-45). Estas esmolas
colocadas aos pés dos apóstolos não eram acumuladas, mas “distribuía-se, então,
a cada um, segundo a sua necessidade” (At 4,35b; 2,45). A entrada de ricos na
comunidade cristã possibilitou, por um lado, uma expansão do cristianismo,
dando melhores condições para as viagens missionárias. Mas, por outro lado, a
tendência à acumulação bloqueava o movimento da solidariedade e da partilha.
Tiago ajudava as pessoas a tomarem consciência do caminho equivocado: “Pois
bem, agora vós, ricos, chorai por causa das desgraças que estão a sobrevir. A
vossa riqueza apodreceu e as vossas vestes estão carcomidas pelas traças.” (Tg
5,1-3). Para aprender o caminho do Reino, todos precisam tornar-se alunos
daquela viúva pobre, que partilhou com os outros até o necessário para viver
(Lc 21,4).
Para um confronto pessoal
1. Quais as dificuldades e
alegrias que você já encontrou em sua vida ao praticar a solidariedade e a
partilha com os outros?
2. Como é que os dois
centavos da viúva podem valer mais que as muitas moedas dos ricos? Qual a
mensagem deste texto para nós hoje?
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