segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Quarta-feira da 31ª semana do Tempo Comum

S. Nuno de Santa Maria (Álvares Pereira), viúvo e religioso de nossa Ordem.
S. Zacarias e Sta. Isabel, pais de S. João Batista.
Bto Mariano de La Mata, presbítero da OSA
 
1ª Leitura (Flp 2,12-18):
Caríssimos: Obedientes como sempre tendes sido, trabalhai com temor e tremor para a vossa salvação, não só como fazíeis na minha presença, mas agora muito mais na minha ausência. Na verdade, é Deus que opera em vós o querer e o agir segundo os seus desígnios de amor. Fazei tudo sem murmurar nem discutir, para serdes irrepreensíveis e puros, filhos de Deus sem mancha, no meio duma geração perversa e depravada, onde brilhais como estrelas no mundo, ostentando firmemente a palavra da vida. Será esse o meu título de glória no dia de Cristo, por eu não ter corrido inutilmente, nem ter trabalhado em vão. Mas ainda que eu tenha de derramar o meu sangue em libação sobre o sacrifício e a oblação da vossa fé, alegro-me e congratulo-me com todos vós. E vós também, alegrai-vos e congratulai-vos comigo.
 
Salmo Responsorial: 26
R. O Senhor é a minha luz e a minha salvação.
 
O Senhor é minha luz e salvação: a quem hei de temer? O Senhor é protetor da minha vida: de quem hei de ter medo?
 
Uma coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para gozar da suavidade do Senhor e visitar o seu santuário.
 
Espero vir a contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos. Confia no Senhor, sê forte. Tem coragem e confia no Senhor.
 
Aleluia. Felizes de vós, se sois ultrajados pelo nome de Cristo, porque o Espírito de Deus repousa sobre vós. Aleluia.
 
Evangelho (Lc 14,25-33): Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele lhes disse: Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo. De fato, se algum de vós quer construir uma torre, não se senta primeiro para calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, ele vai pôr o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso começarão a zombar: Este homem começou a construir e não foi capaz de acabar! Ou ainda: um rei que sai à guerra contra um outro não se senta primeiro e examina bem se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia uma delegação, enquanto o outro ainda está longe, para negociar as condições de paz. Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!
 
«Quem não carrega sua cruz e não caminha após mim, não pode ser meu discípulo»
 
Rev. D. Joan GUITERAS i Vilanova (Barcelona, Espanha)
 
Hoje contemplamos Jesus no caminho até Jerusalém. Ai entregará a sua vida para a salvação do mundo. Grandes multidões acompanhavam Jesus (Lc 14,25): Os discípulos, ao andar com Jesus que os precede, devem aprender a ser homens novos. É esta a finalidade das instruções que o Senhor expõe e propõe aos que o seguem na sua ascensão à Cidade da paz.
 
Discípulo significa seguidor. Seguir as pisadas do Mestre, ser como Ele, pensar como Ele, viver como Ele... O discípulo convive com o Mestre e o acompanha. O Senhor ensina com atos e com palavras. Viram claramente a atitude de Cristo entre o Absoluto e o relativo. Ouviram muitas vezes da sua boca que Deus é o primeiro valor da existência. Admiraram a relação entre Jesus e o Pai celestial. Viram a dignidade e a confiança com que orava ao pai. Admiraram a sua pobreza radical.
 
Hoje o Senhor fala-nos com termos claros. O autêntico discípulo há de amar com todo o seu coração e toda a sua alma a nosso Senhor Jesus Cristo, por cima de todo o vínculo, inclusive do mais íntimo: Se alguém vem a mim, mas não me prefere... até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo (Lc 14,26-17). Ele ocupa o primeiro lugar na vida do seguidor. Diz Santo Agostinho: Respondamos ao pai e à mãe: Eu vos amo em Cristo, não no lugar de Cristo. O seguimento precede inclusive ao amor pela própria vida. Seguir Jesus, ao fim e ao cabo, implica abraçar a cruz. Sem cruz não há discípulo.
 
O chamamento evangélico exorta à prudência, quer dizer, à virtude que dirige a atuação adequada. Quem quer construir uma torre deve calcular se a poderá terminar. O rei que tem que combater decide se vai à guerra ou pede a paz depois de considerar o número de soldados de que dispõe. Quem quer ser discípulo do Senhor tem que renunciar a todos os seus bens. A renúncia será a melhor aposta!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«O nosso nascimento espiritual é o resultado de uma escolha livre e, de certa forma, somos os nossos próprios pais, criando-nos como queremos ser e formando-nos pela nossa vontade segundo o modelo que escolhemos» (S. Gregório de Nissa)
 
«Para os cristãos, carregar a cruz não é algo opcional, mas uma missão a ser abraçada por amor. No nosso mundo de hoje, Cristo não deixa de a todos nos propor o seu claro convite: quem quiser ser meu discípulo, renuncie ao seu egoísmo e carregue a sua cruz comigo» (Bento XVI)
 
«Jesus impõe aos seus discípulos que O prefiram a tudo e a todos e propõe-lhes que `renunciem a todos os seus bens´ (Lc 14,33) por causa d'Ele e do Evangelho. Pouco antes da sua paixão, deu-lhes o exemplo da pobre viúva de Jerusalém que, da sua penúria, deu tudo o que tinha para viver. O preceito do desapego das riquezas é obrigatório para entrar no Reino dos céus» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.544)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

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O evangelho de hoje fala sobre o discipulado e apresenta as condições para alguém poder ser discípulo ou discípula de Jesus. Jesus está a caminho de Jerusalém, onde vai ser preso e morto na Cruz. Este é o contexto em que Lucas coloca as palavras de Jesus sobre o discipulado.
 
* Lucas 14,25: Exemplo de catequese. O evangelho de hoje é um exemplo bonito de como Lucas transforma as palavras de Jesus em catequese para o povo das comunidades. Ele diz: “Grandes multidões acompanhavam Jesus. Voltando-se, ele disse”. Jesus fala para as grandes multidões, isto é, fala para todos, para o povo das comunidades do tempo de Lucas e inclusive para nós hoje. No ensinamento que segue, ele coloca as condições para alguém poder ser discípulo de Jesus.
 
* Lucas 14,25-26: Primeira condição: odiar pai e mãe. Alguns diminuem a força da palavra odiar e traduzem “dar preferência a Jesus acima dos pais”. O texto original usa a expressão “odiar os pais”. Em outro lugar Jesus manda amar e honrar os pais (Lc 18,20). Como explicar esta contradição? Será que é uma contradição? No tempo de Jesus a situação social e econômica levava as famílias a se fechar sobre si mesmas e as impedia de cumprir a lei do resgate (goel), isto é, de socorrer os irmãos e as irmãos da comunidade (clã) que estavam ameaçados de perder sua terra ou de cair na escravidão (cf. Dt 15,1-18; Lev 25,23-43). Fechadas sobre si mesmas, as famílias enfraqueciam a vida em comunidade. Jesus quer refazer a vida em comunidade. Por isso pede que se rompa a visão estreita da pequena família que se fecha sobre si mesma e pede para que as famílias se abram e se unam entre si na grande família, na comunidade. Este é o sentido de odiar pai e mãe, mulher filhos, irmãos e irmãs. Jesus mesmo, quando os parentes da sua pequena família queiram levá-lo da volta para Nazaré, não atendeu ao pedido deles. Ignorou ou odiou o pedido deles e alargou a família, dizendo: “Meu irmão, minha irmã, minha mãe é todos aquele que faz a vontade do Pai” (Mc 3,20-21.31-35). Os vínculos familiares não podem impedir a formação da Comunidade. Esta é a primeira condição.
 
* Lucas 14,27: Segunda condição: carregar a cruz. “Quem não carrega sua cruz e não caminha atrás de mim, não pode ser meu discípulo”. Para entender bem o alcance desta segunda exigência devemos olhar o contexto em que Lucas coloca esta palavra de Jesus. Jesus está indo para Jerusalém onde será crucificado e morto. Seguir Jesus e carregar a cruz atrás dele significa ir com ele até Jerusalém para ser crucificado com ele. Isto evoca a atitude das mulheres que “haviam seguido a Jesus e servido a ele, desde quando ele estava na Galileia. Muitas outras mulheres estavam aí, pois tinham subido com Jesus a Jerusalém” (Mc 15,41). Evoca também a frase de Paulo na carta aos Gálatas: “Quanto a mim, que eu não me glorie, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por meio do qual o mundo foi crucificado para mim, e eu para o mundo. Crucificado para o mundo” (Gl 6,14)
 
* Lucas 14,28-32: Duas parábolas. As duas têm o mesmo objetivo: levar as pessoas a pensar bem antes de tomar uma decisão. Na primeira parábola ele diz: “Se alguém de vocês quer construir uma torre, será que não vai primeiro sentar-se e calcular os gastos, para ver se tem o suficiente para terminar? Caso contrário, lançará o alicerce e não será capaz de acabar. E todos os que virem isso, começarão a caçoar, dizendo: Esse homem começou a construir e não foi capaz de acabar!” Esta parábola não precisa de explicação. Ela fala por si: que cada um reflita bem sobre a sua maneira de seguir Jesus e se pergunte se calculou bem as condições antes de tomar a decisão de ser discípulo de Jesus.
 
* A segunda parábola:
“Se um rei pretende sair para guerrear contra outro, será que não vai sentar-se primeiro e examinar bem, se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil? Se ele vê que não pode, envia mensageiros para negociar as condições de paz, enquanto o outro rei ainda está longe”. Esta parábola tem o mesmo objetivo que a precedente. Alguns perguntam: “Como é que Jesus foi usar um exemplo de guerra?” A pergunta é pertinente para nós que conhecemos as guerras de hoje. Só a segunda guerra mundial (1939 a 1945) causou a morte de 54 milhões de pessoas! Naquele tempo, porém, as guerras eram como a concorrência comercial entre as empresas de hoje que lutam entre si para ter mais lucro.
 
* Lucas 14,33: Conclusão para o discipulado. A conclusão é uma só: ser cristão, seguir Jesus, é coisa séria. Hoje, para muita gente, ser cristão não é opção pessoal nem decisão de vida, mas um simples fenômeno cultural. Não lhes passa pela cabeça de fazer uma opção. Quem nasce brasileiro é brasileiro. Quem nasce japonês é japonês. Não precisa optar. Já nasce assim e vai morrer assim. Muita gente é cristão porque nasceu assim e morre assim, sem nunca ter tido a ideia de optar e de assumir o que já é por nascimento.
 
Para um confronto pessoal
1) Ser cristão é coisa séria. Devo calcular bem minha maneira de seguir Jesus. Como isto acontece na minha vida?
2) “Odiar os pais”; Comunidade ou família! Como você combina as duas coisas? Consegue unir as duas em harmonia?

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