Sta.
Úrsula e suas 11 companheiras, virgens e mártires.
Beato Carlos de Habsburgo, leigo imperador
1ª
Leitura (Ef 2,1-10): Irmãos: Vós estáveis mortos pelas faltas e pecados
em que vivestes outrora, segundo o modo de ser deste mundo e obedecendo ao
príncipe do mal que impera nos ares, esse espírito que atua nos homens
rebeldes. Todos nós, que também éramos como eles, vivíamos antigamente
submetidos aos desejos da nossa carne, satisfazendo os caprichos dos instintos
e da imaginação e sendo por natureza filhos da ira, como os outros. Mas Deus,
que é rico em misericórdia, pela grande caridade com que nos amou, a nós, que
estávamos mortos por causa dos nossos pecados, restituiu-nos à vida com Cristo
– é pela graça que fostes salvos – e com Ele nos ressuscitou e com Ele nos fez
sentar nos Céus. Assim quis mostrar aos séculos futuros a abundante riqueza da
sua graça e da sua bondade para conosco, em Jesus Cristo. De facto, é pela
graça que fostes salvos, por meio da fé. A salvação não vem de vós: é dom de
Deus. Não se deve às obras: ninguém se pode gloriar. Na verdade, nós somos obra
de Deus, criados em Jesus Cristo, em vista das boas obras que Deus de antemão
preparou, como caminho que devemos seguir.
Salmo
Responsorial: 99
R. O Senhor nos criou,
pertencemos ao Senhor.
Aclamai o Senhor, terra inteira,
servi o Senhor com alegria, vinde a Ele com cânticos de júbilo.
Sabei que o Senhor é Deus, Ele
nos fez, a Ele pertencemos, somos o seu povo, as ovelhas do seu rebanho.
Entrai pelas suas portas, dando
graças, penetrai em seus átrios com hinos de louvor, glorificai-O, bendizei o
seu nome.
Porque o Senhor é bom, eterna é a
sua misericórdia, a sua fidelidade estende-se de geração em geração.
Aleluia. Bem-aventurados os
pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus. Aleluia.
Evangelho
(Lc 12,13-21): Alguém do meio da multidão disse a Jesus: Mestre, diz ao
meu irmão que reparta a herança comigo. Ele respondeu: Homem, quem me
encarregou de ser juiz ou árbitro entre vós?. E disse-lhes: Atenção!
Guardai-vos de todo tipo de ganância, pois mesmo que se tenha muitas coisas, a
vida não consiste na abundância de bens. E contou-lhes uma parábola: A terra de
um homem rico deu uma grande colheita. Ele pensava consigo mesmo: Que vou
fazer? Não tenho onde guardar minha colheita. Então resolveu: Já sei o que
fazer! Vou derrubar meus celeiros e construir maiores; neles vou guardar todo o
meu trigo, junto com os meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: Meu caro,
tens uma boa reserva para muitos anos. Descansa, come, bebe, goza a vida! Mas
Deus lhe diz: Tolo! Ainda nesta noite, tua vida te será retirada. E para quem
ficará o que acumulaste? Assim acontece com quem ajunta tesouros para si mesmo,
mas não se torna rico diante de Deus.
«A vida não consiste na
abundância de bens»
Frei Lluc TORCAL Monge do Monastério de Sta. Mª de Poblet (Santa Maria de Poblet, Tarragona, Espanha)
Hoje, o Evangelho, se não nos
tapamos os ouvidos e não fechamos os olhos, provocará em nós uma grande comoção
pela sua clareza: E disse então ao povo: Guardai-vos escrupulosamente de toda a
avareza, porque a vida de um homem, ainda que ele esteja na abundância, não
depende de suas riquezas (Lc 12,15). Que é o que garante a vida do homem?
Sabemos muito bem em que está
garantida a vida de Jesus, porque Ele mesmo disse: Pois como o Pai tem a vida
em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter a vida em si mesmo (Jo 5,26).
Sabemos que a vida de Jesus não somente procede do Pai, mas que consiste em
fazer sua vontade, já que este é seu alimento, e a vontade do Pai equivale a
realizar sua grande obra de salvação entre os homens, dando a vida por seus
amigos, signo do mais sublime amor. A vida de Jesus é, pois, uma vida recebida
totalmente do Pai e entregada totalmente ao mesmo Pai e, por amor ao Padre, aos
homens. A vida humana poderá ser então suficiente em si mesma? Poderá negar-se
que nossa vida é um dom, que a recebemos e que, somente por isso, já devemos
agradecer? Que ninguém pense que é dono de sua própria vida (São Jerônimo).
Seguindo esta lógica, só falta
perguntar-nos: Que sentido pode ter nossa vida se se encerra em si mesma, se
tem prazer ao dizer: E direi à minha alma: ó minha alma, tens muitos bens em
depósito para muitíssimos anos; descansa, come, bebe e regala-te (Lc 12,19) Se
a vida de Jesus é um dom recebido e entregue sempre em amor, nossa vida; que
não podemos negar ter recebido; deve converter-se, seguindo à de Jesus, em uma
doação total a Deus e aos irmãos, porque, Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas
quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna (Jo 12,25).
Pensamentos para o Evangelho
de hoje
«Minha presunção exagerada me
decepcionou, meu Cristo: caí muito baixo das alturas. Mas levanta-me de novo
agora, pois vejo que me enganei a mim próprio» (São Gregório de Nazianzo)
«As realidades da verdade e do
amor —nosso autêntico caminho— não se encontram no mundo das quantidades»
(Bento XVI)
«A economia da Lei e da Graça
desvia o coração dos homens da cobiça e da inveja (…). O Deus das promessas
desde sempre pôs o homem em sentinela contra a sedução daquilo que, desde as
origens, aparece como ‘bom para comer, de atraente aspecto e precioso para
esclarecer a inteligência’ (Gn 3, 6)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.541)
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm.
* O episódio narrado no evangelho de hoje só se
encontra no Evangelho de Lucas e não tem paralelo nos outros evangelhos.
Ele faz parte da longa descrição da viagem de Jesus, desde a Galileia até
Jerusalém (Lc 9,51 a 19,28), na qual Lucas colocou a maior parte das
informações que ele conseguiu coletar a respeito de Jesus e que não se
encontram nos outros três evangelhos (cf. Lc 1,2-3). O evangelho de hoje traz a
resposta de Jesus à pessoa que lhe pediu para ser mediador na repartição de uma
herança.
* Lucas 12,13: Um pedido para
repartir herança. “Do meio da multidão, alguém disse a Jesus: "Mestre,
dize ao meu irmão que reparta a herança comigo". Até hoje, a distribuição
da herança entre os familiares sobreviventes é sempre uma questão delicada e,
muitas vezes, ocasião de brigas e tensões sem fim. Naquele tempo, a herança
tinha a ver também com a identidade das pessoas (1Rs 21,1-3) e com a sua
sobrevivência (Nm 27,1-11; 36,1-12). O problema maior era a distribuição das
terras entre os filhos do falecido pai. Sendo a família grande, havia o perigo
de a herança se esfacelar em pequenos pedaços de terra que já não poderiam
garantir a sobrevivência de todos. Por isso, para evitar o esfacelamento ou
desintegração da herança e manter vivo o nome da família, o mais velho recebia
o dobro dos outros filhos (Dt 21,17; cf. 2Rs 2,11).
* Lucas 12,14-15: Resposta de
Jesus: cuidado com a ganância. “Jesus respondeu: "Homem, quem foi que
me encarregou de julgar ou dividir os bens entre vocês?" Na resposta de
Jesus transparece a consciência que ele tinha da sua missão. Jesus não se sente
enviado por Deus para atender ao pedido de arbitrar entre os parentes que
brigam entre si por causa da repartição da herança. Mas o pedido do homem
despertou nele a missão de orientar as pessoas, pois “ele falou a todos:
Atenção! Tenham cuidado com qualquer tipo de ganância. Porque, mesmo que alguém
tenha muitas coisas, a sua vida não depende de seus bens". Fazia parte da
sua missão esclarecer as pessoas a respeito do sentido da vida. O valor de uma
vida não consiste em ter muitas coisas mas sim em ser rico para Deus (Lc
12,21). Pois, quando a ganância toma conta do coração, não há como repartir a
herança com equidade e paz.
* Lucas 12,16-19: Parábola que
faz pensar no sentido da vida. Em seguida, Jesus conta uma parábola para
ajudar as pessoas a refletirem sobre o sentido da vida: "A terra de um
homem rico deu uma grande colheita. E o homem pensou: O que vou fazer? Não
tenho onde guardar minha colheita”. O homem rico está totalmente fechado dentro
da preocupação com os seus bens que aumentaram de repente por causa de uma
colheita abundante. Ele só pensa em acumular para garantir-se uma vida
despreocupada. Ele diz: “Já sei o que fazer! Vou derrubar meus celeiros e
construir outros maiores; e neles vou guardar todo o meu trigo, junto com os
meus bens. Então poderei dizer a mim mesmo: meu caro, você possui um bom
estoque, uma reserva para muitos anos; descanse, coma e beba, alegre-se!”
* Lucas 12,20: Primeira
conclusão da parábola. “Mas Deus lhe disse: Louco! Nesta mesma noite você
vai ter que devolver a sua vida. E as coisas que você preparou, para quem vão
ficar?” A morte é uma chave importante para redescobrir o sentido verdadeiro da
vida. Ela relativiza tudo, pois mostra o que perece e o que permanece. Quem só
busca o ter e esquece o ser perde tudo na hora da morte. Aqui transparece um
pensamento muito frequente nos livros sapienciais: para que acumular bens nesta
vida, se você não sabe para quem vão ficar os bens que você acumulou, nem sabe
o que vai fazer o herdeiro com aquilo que você deixou para ele (Ecle
2,12.18-19.21).
* Lucas 12,21: Segunda
conclusão da parábola. “Assim acontece com quem ajunta tesouros para si
mesmo, mas não é rico para Deus”. Como tornar-se rico para Deus? Jesus deu
várias sugestões e conselhos: quem quer ser o primeiro, seja o último (Mt
20,27; Mc 9,35; 10,44); é melhor dar que receber (At 20,35); o maior é o menor
(Mt 18,4; 23,11; Lc 9,48) preserva vida quem perde a vida (Mt 10,39; 16,25; Mc
8,35; Lc 9,24).
Para um confronto pessoal
1) O homem pediu a Jesus
para ajudar na repartição da herança. E você, o que você pede a Deus nas suas
orações?
2) O consumismo cria
necessidades e desperta em nós a ganância. Como você faz para não ser vítima da
ganância provocado pelo consumismo?
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