quinta-feira, 12 de setembro de 2024

14 de setembro: Exaltação da Santa Cruz

Ven João de São Sansão, religioso de nossa Ordem

1ª Leitura (Num 21,4b-9):
Naqueles dias, o povo de Israel impacientou-se e falou contra Deus e contra Moisés: «Porque nos fizeste sair do Egipto, para morrermos neste deserto? Aqui não há pão nem água e já nos causa fastio este alimento miserável». Então o Senhor mandou contra o povo serpentes venenosas que mordiam nas pessoas e morreu muita gente de Israel. O povo dirigiu-se a Moisés, dizendo: «Pecámos, ao falar contra o Senhor e contra ti. Intercede junto do Senhor, para que afaste de nós as serpentes». E Moisés intercedeu pelo povo. Então o Senhor disse a Moisés: «Faz uma serpente de bronze e coloca-a sobre um poste. Todo aquele que for mordido e olhar para ela ficará curado». Moisés fez uma serpente de bronze e fixou-a num poste. Quando alguém, era mordido por uma serpente, olhava para a serpente de bronze e ficava curado.
 
Salmo Responsorial: 77
R. Não esqueçais as obras do Senhor.
 
Escuta, meu povo, a minha instrução, presta ouvidos às palavras da minha boca. Vou falar em forma de provérbio, vou revelar os mistérios dos tempos antigos.
 
Quando Deus castigava os antigos, eles O procuravam, tornavam a voltar-se para Ele e recordavam-se de que Deus era o seu protetor, o Altíssimo o seu redentor.
 
Eles, porém, enganavam-no com a boca e mentiam-Lhe com a língua; o seu coração não era sincero, nem eram fiéis à sua aliança.
 
Mas Deus, compadecido, perdoava o pecado e não os exterminava. Muitas vezes reprimia a sua cólera e não executava toda a sua ira.
 
2ª Leitura (Fl 2,6-11): Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
 
Aleluia. Nós Vos adoramos e bendizemos, Senhor Jesus Cristo, que pela vossa santa cruz remistes o mundo. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 3,13-17): Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu: o Filho do Homem. Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também será levantado o Filho do Homem, a fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna. De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele».
 
«A fim de que todo o que nele crer tenha vida eterna»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho é uma profecia, isto é, uma olhada no espelho da realidade que nos introduz em sua verdade, mais além do que nos dizem nossos sentidos: a Cruz, a Santa Cruz de Jesus Cristo, é o Trono do Salvador. Por isso, Jesus afirma que «deve que ser levantado o Filho do homem» (Jo 3,14).
 
Bem sabemos que a cruz era o suplício mais atroz e vergonhoso de seu tempo. Exaltar a Santa Cruz não deixaria de ser um cinismo se não fosse porque ai está o Crucificado. A cruz, sem o Redentor, é simples cinismo; com o Filho do Homem é a nova árvore da sabedoria. Jesus Cristo, «oferecendo-se livremente à paixão» da Cruz abriu o sentido e o destino de nosso viver: subir com Ele à Santa Cruz para abrir os braços e o coração ao Dom de Deus, num intercâmbio admirável. Também aqui nos convém escutar a voz do Pai desde o céu: «Este é meu Filho (...), em quem me comprazo» (Mc 1,11). Encontrarmos crucificados com Jesus e ressuscitar com Ele: Eis aqui o porquê de tudo! Há esperança, há sentido, há eternidade, há vida! Nós os cristãos não estamos loucos quando na Vigília Pascal, de maneira solene, quer dizer, no Pregão Pascal, cantamos, louvando o pecado original: «Oh!, Culpa tão feliz, que tem merecido a graça de tão grande Redentor», que com sua dor tem impresso sentido à mesma dor.
 
«Olhai a árvore da cruz, foi sacrificado o Salvador do mundo: vem e adoremos» (Liturgia da sexta-feira Santa). Se conseguirmos superar o escândalo e a loucura de Cristo crucificado, não há nada mais que adorá-lo e agradecer-lhe seu Dom. E procurar decididamente a Santa Cruz em nossa vida, para termos a certeza de que, «por Ele, com Ele e Nele», nossa doação será transformada, nas mãos do Pai, pelo Espírito Santo, em vida eterna: «Derramada por vós e por muitos para o perdão dos pecados».
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Onde quer que um cristão gaste a sua vida honradamente, aí deve colocar, com o seu amor, a Cruz de Cristo, que atrai a Si todas as coisas» (S. Josemaria)
 
«O cristianismo não existe sem a Cruz e não existe Cruz sem Jesus Cristo. Assim um cristão que não se sabe glorificar em Cristo crucificado não percebeu o que significa ser cristão» (Francisco)
 
«A oração da Igreja venera e honra o Coração de Jesus, tal como invoca o seu santíssimo Nome. Adora o Verbo encarnado e o seu Coração que, por amor dos homens, Se deixou trespassar pelos nossos pecados. A oração cristã gosta de percorrer o caminho da cruz (Via-Sacra) no seguimento do Salvador. As estações, do Pretório ao Gólgota e ao túmulo, assinalam o caminho de Jesus que, pela sua santa cruz, remiu o mundo.» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.669)
 
Toda a nossa glória está na Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. N’Ele está a nossa salvação, vida e ressurreição. Por Ele fomos salvos e livres. (da liturgia da Festa)
 
*
É uma das mais antigas solenidades litúrgicas da Igreja; celebrava-se já em Jerusalém no tempo do Imperador Constantino Magno (337), logo a seguir à dedicação da Basílica do Santo Sepulcro, ou da Ressurreição, mandada edificar por esse imperador
 
* A Cruz que se exaltava neste dia não era exatamente a de Jesus a sofrer no Calvário mas antes a de Cristo glorioso subindo para o Pai, depois de vencer a morte e salvar o mundo. Quanto ao sentido da festa, Santo André de Creta diz: “Celebramos a festa da Cruz; por ela as trevas são repelidas e volta a luz. Celebramos a festa da Cruz e junto com o Crucificado somos levados para o alto para que, abandonando a terra com o pecado, obtenhamos os céus. A posse da Cruz é tão grande e de tão imenso valor que o seu possuidor possui um tesouro.”
 
* O que se recorda na festa de hoje é portanto o triunfo de Cristo e a mudança por ele causada na condição humana; isto tinha-o Jesus anunciado repetidamente. Por exemplo, quando dizia: «Quando elevardes o Filho do Homem, então sabereis quem sou» (Jo 8, 28); e ainda: «Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim também tem de ser levantado o Filho do Homem, a fim de que todo aquele que n ‘Ele crer tenha a vida eterna» (Jo 3, 14); e por fim: «Eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a Mim» (Jo 12,32).
 
* É marcado por este espírito que o Apóstolo Paulo assinala: “Quanto a mim, que de nada mais eu me glorie a não ser na Cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo” (Gl 6, 14). Torna-se muito importante resgatar uma sadia teologia e espiritualidade da Cruz. De um lado temos que superar uma pregação errada que identificava a Cruz com qualquer sofrimento, como se o sofrimento em si fosse um valor positivo. Quantas pessoas sofreram injustiças a vida toda, aguentando situações quase insuportáveis, por causa de tal pregação que levava à passividade diante das injustiças e opressões. No fundo, faziam de Deus um sádico! Do outro lado, na sociedade de hoje, a Cruz não está muito popular, pois o sacrifício, a autodoação em favor de outros, está na contramão da sociedade hedonista e consumista. Até dentro da Igreja muitas vezes há uma busca da Ressurreição e vitória, sem que se mencione que o triunfo de Jesus veio através de uma vida de doação que o levou à cruz - e como consequência dessa coerência, à Ressurreição.
 
* A festa de hoje celebra a Cruz, não o sofrimento. Jesus não nos salvou porque sofreu três horas na cruz - ele nos salvou porque a sua vida foi totalmente fiel à vontade do Pai. Por causa dessa fidelidade, as suas opções concretas o colocaram em conflito com as estruturas de dominação sociopolítico-religiosas, o que causou o seu assassinato judicial. A morte de Jesus foi muito mais do que uma tentativa de eliminar alguém que incomodasse! Era tentativa de aniquilar o seu movimento, a sua pregação, a visão de Deus e do projeto de Deus que Ele ensinava. A Cruz então se tornava o símbolo de doação total através de uma vida de fidelidade absoluta ao projeto do Pai. Era o último passo de coerência, consequência lógica da fidelidade à vontade de Deus.
 
* Assim, Jesus deixa bem claro nas páginas dos Evangelhos que a Cruz é a característica do discípulo/a. “Se alguém quer me seguir, renuncie-se a si mesmo, tome a sua cruz, e me siga.” (Mc 8, 24). Jesus não nos convida a buscar o sofrimento, mas a carregar a cruz - consequência de uma religião que é vivencial, que acarreta ações e atitudes coerentes com o Deus em que acreditamos, e que traz em seu bojo as sementes de conflito com todo poder opressor, pois “os meus projetos não são os projetos de vocês, e os caminhos de vocês não são os meus caminhos” (Is 55, 8).
 
* São Paulo descobriu que pregar Cristo sem a Cruz era esvaziar a evangelização. Assim declara à comunidade de Corinto: “Entre vocês eu não quis saber outra coisa a não ser Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado.”(1Cor 2, 2). A Cruz de Cristo é inseparável da sua vida, pois é a consequência dela. Mas, a Cruz também não se separa da Ressurreição, pois ela é o resultado de tal coerência e fidelidade. A festa de hoje nos desafia para que respondamos ao convite de Jesus para carregar a nossa cruz numa vida de discipulado e missionariedade, continuando a sua missão ao mundo. Pois, como diz o nosso texto hoje, “Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por meio dele” (Jo 3, 17)

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