quinta-feira, 25 de julho de 2024

Sábado XVI do Tempo Comum

São Tito Brandsma, Presbítero e Mártir Nossa Ordem
 
1ª Leitura (Jer 7,1-11):
Palavra que o Senhor dirigiu ao profeta Jeremias: «Vai à entrada do templo do Senhor e proclama ali a seguinte mensagem: Escutai a palavra do Senhor, vós todos, homens de Judá, que entrais por estas portas para adorar o Senhor. Assim fala o Senhor do Universo, o Deus de Israel: Emendai os vossos caminhos e as vossas ações e Eu vos deixarei habitar neste lugar. Não vos fiéis em palavras enganadoras, dizendo: ‘É o templo do Senhor, o templo do Senhor, o templo do Senhor!’. Mas se endireitardes os vossos caminhos e corrigirdes as vossas obras, se praticardes a justiça uns para com os outros, se não oprimirdes o estrangeiro, o órfão e a viúva, se não derramardes neste lugar sangue inocente, se não seguirdes outros deuses para vossa desgraça, então vos deixarei habitar neste lugar, na terra que dei a vossos pais desde há muito e para sempre. Mas vós fiais-vos em palavras enganadoras que para nada servem. Assim podeis roubar, matar, cometer adultério, jurar falso, queimar incenso a Baal, seguir deuses estrangeiros que não conheceis. Depois vindes aqui apresentar-vos diante de Mim, nesta casa em que é invocado o meu nome, e dizeis: ‘Estamos salvos’, para voltar a cometer todas essas abominações. Será porventura um covil de salteadores esta casa onde é invocado o meu nome? Eu também vi tudo isto».
 
Salmo Responsorial: 83
R. Como é agradável a vossa morada, Senhor do Universo!
 
A minha alma suspira ansiosamente pelos átrios do Senhor. O meu ser e a minha carne exultam no Deus vivo.
 
Até as aves do céu encontram abrigo e as andorinhas um ninho para os seus filhos, junto dos vossos altares, Senhor dos Exércitos, meu Rei e meu Deus.
 
Felizes os que moram em vossa casa: podem louvar-Vos continuamente. Felizes os que em Vós encontram a sua força, os que caminham para ver a Deus em Sião.
 
Um dia em vossos átrios vale por mais de mil longe de Vós. Antes quero ficar no vestíbulo da casa do meu Deus, do que habitar nas tendas dos pecadores.
 
Aleluia. Acolhei docilmente a palavra em vós plantada, que pode salvar as vossas almas. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 13,24-30): Jesus apresentou-lhes outra parábola: «O Reino dos Céus é como alguém que semeou boa semente no seu campo. Enquanto todos dormiam, veio seu inimigo, semeou joio no meio do trigo e foi embora. Quando o trigo cresceu e as espigas começaram a se formar, apareceu também o joio. Os servos foram procurar o dono e lhe disseram: ‘Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio? ’ O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os servos perguntaram ao dono: ‘Queres que vamos retirar o joio?’ ‘Não!’, disse ele. ‘Pode acontecer que, ao retirar o joio, arranqueis também o trigo. Deixai crescer um e outro até a colheita. No momento da colheita, direi aos que cortam o trigo: retirai primeiro o joio e amarrai-o em feixes para ser queimado! O trigo, porém, guardai-o no meu celeiro!'».
 
«Deixai crescer um e outro»
 
Rev. D. Manuel SÁNCHEZ Sánchez (Sevilla, Espanha)
 
Hoje consideramos uma parábola como uma ocasião para referir-nos à vida da comunidade onde se misturam, continuamente, o bem e o mal, o Evangelho e o pecado. A atitude lógica seria acabar com esta situação, tal como o pretendem os servos: «O dono respondeu: ‘Foi algum inimigo que fez isso’. Os servos perguntaram ao dono: ‘Queres que vamos retirar o joio?» (Mt 13,28). Mas a paciência de Deus é infinita, espera até o último momento — como um pai bom— a possibilidade de mudança: «Deixai crescer um e outro até a colheita» (Mt 13,30).
 
Uma realidade ambígua e medíocre, mas nela cresce o Reino. Trata-se de sentir-nos chamados a descobrir os sinais do Reino de Deus para potencializá-lo. E, por outro lado, não favorecer nada que ajude a contentar-nos na mediocridade. No entanto, o fato de viver em uma mescla de bem e de mal não deve impedir o progresso em nossa vida espiritual; o contrário seria converter nosso trigo em intriga. «Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?» (Mt 13,27). É impossível crescer de outro modo, nem podemos procurar o Reino em nenhum outro lugar, senão nesta sociedade em que vivemos. Nossa tarefa será fazer com que nasça o Reino de Deus.
 
O Evangelho nos chama a não acreditar nos “puros”, a superar os aspectos de puritanismo e de intolerância que possam existir na comunidade cristã. Facilmente ocorrem atitudes deste tipo em todas as coletividades, por mais sadias que tentem ser. Em frente a um ideal, temos todos a tentação de pensar que alguns já o alcançamos e que outros estão longe. Jesus constata que todos estamos no caminho, absolutamente todos.
 
Vigiemos para que o maligno não se introduza em nossas vidas, coisa que ocorre quando nos acomodamos ao mundo. Dizia Santa Ângela da Cruz que «não devemos dar ouvidos às vozes do mundo, de que em todos os lugares se faz isto ou aquilo; nós sempre fazemos o mesmo, sem inventar variações, e seguindo a maneira de fazer as coisas, que são um tesouro escondido; são as que nos abrirão as portas do céu». Que a Santíssima Virgem Maria nos conceda acomodar-nos somente ao amor.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Quando o mal tem gangrenado à multitude, não tem mais remédio que doer-se e gemer. Correger com amor quando se pode. E quando não se pode correger, sofrer com paciência até que a correção venha do alto» (Santo Agostinho)
 
«Jesus nos ensina a ver as coisas com realismo Cristiano e a afrontar cada problema com claridade de princípios, mas também com prudência e paciência. Isto supõe uma visão transcendente da história, no que se sabe que todo pertence a Deus» (São João Paulo II)
 
«No dia do Juízo, no fim do mundo, Cristo virá na sua glória para completar o trinfo definitivo do bem sobre o mal, os quais, como o trigo e o joio, terão crescido juntos no decurso da história» (Catecismo da Igreja Católica, n° 681)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
 
* O evangelho de hoje traz a parábola do joio e do trigo.
Tanto na sociedade como nas comunidades e na nossa vida familiar e pessoal, existe tudo misturado: qualidades boas e incoerências, limites e falhas. Nas nossas comunidades se reúnem pessoas de várias origens, cada uma com a sua história, com a sua vivência, a sua opinião, os seus anseios, as suas diferenças. Há pessoas que não sabem conviver com as diferenças. Querem ser juiz dos outros. Acham que só elas estão certas, e os outros erradas. A parábola do joio e do trigo ajuda a não cair na tentação de querer excluir da comunidade os que não pensam como nós.
 
* O pano de fundo da parábola do joio e do trigo. Durante séculos, por causa da observância das leis de pureza, os judeus tinham vivido separados das outras nações. Este isolamento marcou a vida deles. Mesmo depois de convertidos, alguns continuavam nesta mesma observância que os separava dos outros. Eles queriam a pureza total. Qualquer sinal de impureza devia ser extirpado em nome de Deus. “Não pode haver tolerância com o pecado”, assim diziam. Mas outros como Paulo ensinavam que a Nova Lei de Deus trazida por Jesus estava pedindo o contrário! Eles diziam: "Não pode haver tolerância com o pecado, sim, mas deve haver tolerância com o pecador!"
 
* Mateus 13,24-26: A situação: joio e trigo crescem juntos. A palavra de Deus que faz nascer a comunidade é semente boa, mas dentro das comunidades sempre aparecem coisas que são contrárias à palavra de Deus. De onde vem? Esta era a discussão, o mistério, que levou a conservar e lembrar a parábola do joio e do trigo.
 
* Mateus 13,27-28a: A origem da mistura que existe na vida. Os empregados perguntam ao patrão: “Senhor, não semeaste boa semente no teu campo? Donde veio então o joio?”  O dono respondeu: Um inimigo fez isso. Quem é este inimigo? O inimigo, o adversário, satanás ou diabo (Mt 13,39), é aquele que divide, que desvia. A tendência de divisão existe dentro da comunidade e existe dentro de cada um de nós. O desejo de dominar, de se aproveitar da comunidade para subir e tantos outros desejos interesseiros são divisionistas, são do inimigo que dorme dentro de cada um de nós.
 
*  Mateus 13,28b-30: A reação diferente diante da ambiguidade. Diante desta mistura do bem e do mal, os empregados queriam arrancar o joio. Pensavam: "Se deixarmos todo mundo dentro da comunidade, perdemos nossa razão de ser! Perdemos a identidade!" Queriam expulsar os que pensavam diferente. Mas esta não é a decisão do Dono da terra. Ele diz: "Deixa crescer juntos até a colheita!" O que vai decidir não é o que cada um fala e diz, mas sim o que cada um vive e faz. É pelo fruto produzido que Deus nos julgará (Mt 12,33). A força e o dinamismo do Reino se manifestam na comunidade. Mesmo sendo pequena e cheia de contradições, ela é um sinal do Reino. Mas ela não é dona nem proprietária do Reino, nem pode considerar-se totalmente justa. A parábola do joio e do trigo explica a maneira como a força do Reino age na história. É preciso ter uma opção clara pela justiça do Reino e, ao mesmo tempo, junto com a luta pela justiça, ter paciência e aprender a conviver e dialogar com as contradições e as diferenças. Na hora da colheita se fará a separação.
 
* O ensino em parábolas. A parábola é um instrumento pedagógico que usa o quotidiano para mostrar como a vida nos fala de Deus. Torna a realidade transparente e faz o olhar da gente ficar contemplativo. Uma parábola aponta para as coisas da vida e, por isso mesmo, é um ensinamento aberto, pois das coisas da vida todo mundo tem alguma experiência. O ensinamento em parábolas faz a pessoa partir da experiência que tem: semente, sal, luz, ovelha, flor, passarinho, mulher, criança, pai, rede, peixe, etc. Assim, ele torna a vida quotidiana transparente, reveladora da presença e da ação de Deus. Jesus não costumava explicar as parábolas. Ele deixava o sentido da parábola em aberto e não o determinava. Sinal de que acreditava na capacidade do povo de descobrir o sentido da parábola a partir da sua experiência de vida. De vez em quando, a pedido dos discípulos, ele explicava o sentido (Mt 13,10.36). Por exemplo, como fez com a parábola do joio e do trigo (Mt 13,36-43).
 
Para um confronto pessoal
1) Como a mistura do joio e do trigo se manifesta na nossa comunidade? Que consequências traz para a nossa vida?
2) Olhando no espelho da parábola, com quem sou mais parecido: com os empregados que querem arrancar o joio antes do tempo, ou com o dono que manda esperar até à hora da colheita?

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