segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Quarta-feira da 4ª semana do Tempo Comum

 São João Bosco, Presbítero
 
1ª Leitura (2Sam 24,2.9-17):
Naqueles dias, David ordenou a Joab e aos chefes do seu exército: «Ide por todas as tribos de Israel, desde Dan até Bersabé, e fazei o recenseamento da população, para que eu saiba qual é o seu número». Nove meses e vinte dias depois, Joab apresentou ao rei o resultado do recenseamento: Israel contava oitocentos mil homens capazes de combater e Judá contava quinhentos mil. Feito o recenseamento do povo, David sentiu remorsos e disse ao Senhor: «Pequei gravemente ao proceder deste modo. Mas agora, Senhor, dignai-Vos perdoar a falta do vosso servo, pois cometi uma grave loucura». Na manhã seguinte, quando o rei se levantava, o Senhor dirigiu a palavra ao profeta Gad, vidente de David: «Vai dizer a David: Assim fala o Senhor: Proponho-te três castigos. Escolhe aquele que preferes e Eu o executarei». Gad foi ter com David e referiu-lhe esta mensagem: «Preferes três anos de fome no teu país, três anos de derrotas ante o inimigo que te perseguirá, ou três dias de peste no teu reino? Agora reflete e vê o que devo responder Àquele que me enviou». David respondeu a Gad: «Sinto-me em grande ansiedade. Antes cair nas mãos do Senhor, porque é grande a sua misericórdia, do que cair nas mãos dos homens». Então o Senhor enviou a peste a Israel, desde aquela manhã até ao dia fixado. Morreram setenta mil homens do povo, desde Dan até Bersabé. O Anjo estendeu também a mão sobre Jerusalém para a destruir, mas o Senhor compadeceu-se de tanta desgraça e disse ao Anjo que exterminava o povo: «Basta! Agora retira a tua mão!». O Anjo do Senhor estava junto à eira de Araúna, o jebuseu. Ao ver como o Anjo exterminava o povo, David disse ao Senhor: «Fui eu que pequei, sou eu o culpado. Mas estes, que são o rebanho, que mal fizeram? A vossa mão caia sobre mim e a minha família».
 
Salmo Responsorial: 31
R. Perdoai, Senhor, a culpa do meu pecado.
 
Feliz daquele a quem foi perdoada a culpa e absolvido o pecado. Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade e em cujo espírito não há engano.
 
Confessei-vos o meu pecado e não escondi a minha culpa. Disse: «Vou confessar ao Senhor a minha falta», e logo me perdoastes a culpa do pecado.
 
Por isso a Vós se dirige todo o fiel no tempo da tribulação. Quando transbordarem as águas caudalosas, só a ele não hão de atingir.
 
Vós sois o meu refúgio, defendei-me dos perigos, fazei que à minha volta só haja hinos de vitória.
 
Aleluia. As minhas ovelhas escutam a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 6,1-6): Saindo dali, Jesus foi para sua própria terra. Seus discípulos o acompanhavam. No sábado, ele começou a ensinar na sinagoga, e muitos dos que o ouviam se admiravam. «De onde lhe vem isso?», diziam. “Que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres realizados por suas mãos? Não é ele o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E suas irmãs não estão aqui conosco?» E ele se tornou para eles uma pedra de tropeço. Jesus, então, dizia-lhes: «Um profeta só não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na própria casa». E não conseguia fazer ali nenhum milagre, a não ser impor as mãos a uns poucos doentes. Ele se admirava da incredulidade deles. E percorria os povoados da região, ensinando.
 
«De onde lhe vem isso? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? E esses milagres realizados por suas mãos?»
 
Rev. D. Miquel MASATS i Roca(Girona, Espanha)
 
Hoje o Evangelho nos mostra como Jesus via à sinagoga de Nazaré, o lugar onde ele tinha sido criado. O sábado é o dia dedicado ao Senhor e os judeus se reúnem para escutar a Palavra d e Deus. Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. (cf. Mc 1,22).
 
Deus nos fala também hoje mediante a Escritura. Na sinagoga se leem as Escrituras e, depois, um dos entendidos se ocupava de comentá-las, mostrando seu sentido e a mensagem que Deus quer transmitir através delas. Atribui-se a Santo Agostinho a seguinte reflexão: «Assim como em oração nós falamos com Deus, na leitura é Deus quem nos fala».
 
O fato de que Jesus, Filho de Deus, seja conhecido entre seus concidadãos por seu trabalho, nos oferece uma perspectiva insuspeitada para nossa vida ordinária. O trabalho profissional de cada um de nós é meio de encontro com Deus e, portanto, realidade santificável e santificadora. Com palavras de São Josémaria Escrivá: «Vossa vocação humana é parte, e parte importante, de vossa vocação divina. Esta é a razão pela qual devemos santificá-lo contribuindo ao mesmo tempo, à santificação dos outros, de vossos semelhantes, santificando vosso trabalho e vosso ambiente: essa profissão ou ofício que enche vossos dias, que dá fisionomia peculiar a vossa personalidade humana, que é vossa maneira de estar no mundo; esse lar, essa vossa família; e essa nação, em que nascestes e a que amas».
 
Acaba a passagem do Evangelho dizendo que Jesus «Não pôde fazer ali milagre algum. Curou apenas alguns poucos enfermos, impondo-lhes as mãos. Admirava-se ele da desconfiança deles. E ensinando, percorria as aldeias circunvizinhas» (Mc 6,5-6). Também hoje o Senhor nos pede mais fé Nele para realizar coisas que superam nossas possibilidades humanas. Os milagres manifestam o poder de Deus e a necessidade que temos Dele na nossa vida de cada dia.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
"Em Deus poder, vontade e inteligência, sabedoria e justiça são um, de modo que não pode haver nada no poder divino que não possa estar na vontade justa de Deus ou na sua sábia inteligência" (São Tomás de Aquino)
 
«Jesus de Nazaré, o carpinteiro, ilumina com a sua vida de trabalho a vossa vida de trabalhadores cristãos. Você também ilumina seu ambiente de trabalho com a luz do Cristo" (São João Paulo II)
 
«O valor primordial do trabalho diz respeito ao próprio homem que é o seu autor e destinatário. Por meio de seu trabalho, o homem participa da obra da criação. Unidos a Cristo, trabalhem pode ser redentor" (Catecismo da Igreja Católica, n. 2.460)
 
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
 
*
O evangelho de hoje fala da visita de Jesus a Nazaré e descreve como o povo de Nazaré se fechou e não quis aceitá-lo (Mc 6,1-6). O evangelho de amanhã descreve como Jesus se abriu para o povo da Galileia enviando seus discípulos em missão (Mc 6,7-13).
 
* Marcos 6,1-2ª: Jesus volta para Nazaré. “Jesus foi para Nazaré, sua terra, e seus discípulos o acompanharam. Quando chegou o sábado, Jesus começou a ensinar na sinagoga”. Sempre é bom voltar para a terra da gente e reencontrar as pessoas amigas. Após longa ausência, Jesus também voltou e, como de costume, no dia de sábado, foi na sinagoga participar da reunião da comunidade. Jesus não era coordenador da comunidade, mesmo assim ele tomou a palavra e começou a ensinar. Sinal de que as pessoas podiam participar e expressar sua opinião.
 
* Marcos 6,2b-3: Reação do povo de Nazaré frente a Jesus. O povo de Cafarnaum tinha aceitado o ensinamento de Jesus (Mc 1,22), mas o povo de Nazaré não gostou das palavras de Jesus e ficou escandalizado. Motivo? Jesus, o moço que eles conheciam desde criança, como é que ele agora ficou tão diferente? Eles não aceitaram o mistério de Deus presente em Jesus, um ser humano comum como eles, conhecido de todos! Para poder falar de Deus ele teria que ser diferente deles! Como se vê, nem tudo foi bem-sucedido para Jesus. As pessoas que deveriam ser as primeiras a aceitar a Boa Nova, estas eram as que mais se recusavam a aceitá-la. O conflito não era só com os de fora de casa, mas também e sobretudo com os próprios parentes e o povo de Nazaré. Eles se recusaram a crer em Jesus, porque não conseguiam entender o mistério de Deus que envolvia a pessoa de Jesus: “De onde lhe vem tudo isso? Onde foi que arranjou tanta sabedoria? Ele não é o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, de Joset, de Judas e de Simão? E suas irmãs não moram aqui conosco?” Não deram conta de crer em Jesus!
 
* Os irmãos e as irmãs de Jesus A expressão “irmãos de Jesus” é causa de muita polêmica entre católicos e protestantes. Baseando-se neste e em outros textos, os protestantes dizem que Jesus teve mais irmãos e irmãs e que Maria teve mais filhos! Os católicos dizem que Maria não teve outros filhos. O que pensar disso? Em primeiro lugar, as duas posições, tanto dos católicos como dos protestantes, ambas têm argumentos tirados da Bíblia e da Tradição das suas respectivas Igrejas. Por isso, não convém brigar nem discutir esta questão com argumentos só de cabeça. Pois trata-se de convicções profundas, que têm a ver com a fé e com o sentimento de ambos. Argumento só de cabeça não consegue desfazer uma convicção do coração! Apenas irrita e afasta! Mesmo quando não concordo com a opinião do outro, devo sempre respeitá-la. Em segundo lugar, em vez de brigar em torno de textos, nós todos, católicos e protestantes, deveríamos unir-nos para lutar em defesa da vida, criada por Deus, vida tão desfigurada pela pobreza, pela injustiça, pela falta de fé. Deveríamos lembrar algumas outras frases de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida, e a tenham em abundância”(Jo 10,10). “Que todos sejam um, para que o mundo creia que Tu, Pai, me enviaste”(Jo 17,21). “Quem não é contra nós é a favor”(Mc 10,39.40).
 
* Marcos 6,4-6. Reação de Jesus diante da atitude do povo de Nazaré. Jesus sabe muito bem que “santo de casa não faz milagre”. Ele diz: “Um profeta só não é estimado em sua própria pátria, entre seus parentes e em sua família!” De fato, onde não existe aceitação nem fé, a gente não pode fazer nada. O preconceito o impede. Jesus, mesmo querendo, não pôde fazer nada e ele ficou admirado da falta de fé deles. Por isso, diante da porta fechada da sua própria comunidade, ele “começou a percorrer as redondezas, ensinando nos povoados”. A experiência de rejeição levou Jesus a mudar sua prática. Ele se dirige aos outros povoados e, como veremos no evangelho de amanhã, ele envolve os discípulos na missão dando instruções de como devem dar continuidade à missão.
 
Para um confronto pessoal
1. Jesus teve problemas com seus parentes e com a sua comunidade. Desde que você começou a viver melhor o evangelho, alguma coisa mudou no seu relacionamento com a sua família e seus parentes?
2. Jesus não pôde fazer muitos milagres em Nazaré porque faltou a fé. E hoje, será que ele encontraria fé em nós, em mim?

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