sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

I Domingo do Advento

São Francisco Xavier, presbítero.
 
1ª Leitura (Is 63,16b-17.19b; 64,2b-7):
Vós, Senhor, sois nosso Pai e nosso Redentor, desde sempre, é o vosso nome. Porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos e endurecer o nosso coração, para que não Vos tema? Voltai, por amor dos vossos servos e das tribos da vossa herança. Oh se rasgásseis os céus e descêsseis! Ante a vossa face estremeceriam os montes! Mas vós descestes e perante a vossa face estremeceram os montes. Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram que um Deus, além de Vós, fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam. Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça e recordam os vossos caminhos. Estais indignado contra nós, porque pecámos e há muito que somos rebeldes, mas seremos salvos. Éramos todos como um ser impuro, as nossas ações justas eram todas como veste imunda. Todos nós caímos como folhas secas, as nossas faltas nos levavam como o vento. Ninguém invocava o vosso nome, ninguém se levantava para se apoiar em Vós, porque nos tínheis escondido o vosso rosto e nos deixáveis à mercê das nossas faltas. Vós, porém, Senhor, sois nosso Pai e nós o barro de que sois o Oleiro; somos todos obra das vossas mãos.
 
Salmo Responsorial: 79
R. Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos.
 
Pastor de Israel, escutai, Vós que estais sentado sobre os Querubins, aparecei. Despertai o vosso poder e vinde em nosso auxílio.
 
Deus dos Exércitos, vinde de novo, olhai dos céus e vede, visitai esta vinha. Protegei a cepa que a vossa mão direita plantou, o rebento que fortalecestes para Vós.
 
Estendei a mão sobre o homem que escolhestes, sobre o filho do homem que para Vós criastes; e não mais nos apartaremos de Vós: fazei-nos viver e invocaremos o vosso nome.
 
2ª Leitura (1Cor 1,3-9): Irmãos: A graça e a paz vos sejam dadas da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. Dou graças a Deus, em todo o tempo, a vosso respeito, pela graça divina que vos foi dada em Cristo Jesus. Porque fostes enriquecidos em tudo: em toda a palavra e em todo o conhecimento; e deste modo, tornou-se firme em vós o testemunho de Cristo. De fato, já não vos falta nenhum dom da graça, a vós que esperais a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele vos tornará firmes até ao fim, para que sejais irrepreensíveis no dia de Nosso Senhor Jesus Cristo. Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor.
 
Aleluia. Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia e dai-nos a vossa salvação. Aleluia.
 
Evangelho (Mc 13,33-37): Naquele tempo, disse Jesus aos discípulos: «Cuidado! Ficai atentos, pois não sabeis quando chegará o momento. É como um homem que, ao viajar, deixou sua casa e confiou a responsabilidade a seus servos, a cada um sua tarefa, mandando que o porteiro ficasse vigiando. Vigiai, portanto, pois não sabeis quando o senhor da casa volta: à tarde, à meia-noite, de madrugada ou ao amanhecer. Não aconteça que, vindo de repente, vos encontre dormindo. O que vos digo, digo a todos: vigiai!».
 
«A todos os digo: ¡Cuidai!»
 
Mons. José Ángel SAIZ Meneses, Arcebispo de Sevilha (Sevilla, Espanha)
 
Hoje iniciamos com toda a Igreja um novo Ano Litúrgico com o primeiro domingo de Advento. Tempo de esperança, tempo no qual se renova em nossos corações a lembrança da primeira vinda do Senhor, em humildade e ocultação, e se renova a esperança do retorno de Cristo na glória e majestade.
 
Este domingo de Advento está profundamente marcado por uma chamada à vigilância. San Marcos inclui até três vezes nas palavras de Jesus o mandamento de “cuidar”. E a terceira vez o faz com uma certa solenidade: «O que vos digo, a todos os digo: Cuidai! » (Mc 13,37). Não é só uma recomendação ascética, e sim um chamado a viver como filhos da luz e do dia.
 
Este chamado está dirigido não somente a seus discípulos, mas a todos os homens e mulheres de boa vontade, como uma exortação que nos lembra que a vida não tem só uma dimensão terrenal, está projetada para um “mais além”. O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, dotado de liberdade e responsabilidade, capaz de amar, terá que prestar contas de sua vida, de como desenvolveu as capacidades e talentos que de Deus recebeu; se os guardou egoistamente, ou se os fez frutificar para a glória de Deus e ao serviço dos irmãos.
 
A disposição fundamental que devemos viver e a virtude que devemos exercitar é a esperança. O Advento é, por excelência, o tempo de esperança, e a Igreja inteira está chamada a viver na esperança e a chegar a ser um sinal de esperança para o mundo. Nós preparamos para comemorar o Natal, o início de sua vinda: a Encarnação, o Nascimento, seu passo por a terra. Mas Jesus não nos deixou nunca; permanece conosco de diversas maneiras até a consumação dos séculos. Mas isto, «com Jesus Cristo sempre nasce e renasce a alegria!» (Papa Francisco).
 
«Ficai atentos, pois não sabeis quando chegará o momento»
 
Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)
 
Hoje, neste primeiro domingo do Advento, a Igreja começa a percorrer um novo ano litúrgico. Entramos, portanto, em dias de especial expectativa, renovação e preparação.
 
Jesus adverte que ignoramos «quando chegará o momento» (Mc 13,33). Sim, nesta vida existe um momento decisivo. Quando será? Não o sabemos. O Senhor nem sequer quis revelar o momento em que deverá ocorrer o fim do mundo.
 
Enfim, tudo isto nos conduz a uma atitude de expectativa e de consciencialização: «Não aconteça que, vindo de repente, vos encontre dormindo» (Mc 13, 36). O tempo desta vida é tempo para a entrega, para o amadurecimento da nossa capacidade de amar; não é um tempo para diversão. É um tempo de “noivado” como preparação para o tempo de “bodas” no mais além, em comunhão com Deus e com todos os santos.
 
Mas a vida é um constante começar e recomeçar. O facto é que passamos por muitos momentos decisivos: talvez cada dia, cada hora e cada minuto deva converter-se em tempo decisivo. Muitos ou poucos dias, horas e minutos, mas definitivamente: é aí, no momento concreto, que o Senhor nos espera. «Na nossa vida, na vida dos cristãos, a primeira conversão - esse momento único, que cada um de nós recorda, em que advertimos claramente tudo o que o Senhor nos pede - é importante; mas ainda mais importantes e mais difíceis são as conversões sucessivas» (São Josemaria).
 
Neste tempo litúrgico preparamo-nos para celebrar o grande “advento”: a vinda do Nosso Amo. “Natal”, “Nativitas”: Tomara que cada jornada da nossa existência seja um “nascimento” para a vida de amor! Talvez fazendo da nossa vida um permanente “Natal” seja a melhor maneira de não dormir. Nossa Mãe Santa Maria vele por nós!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Chegou, amadíssimos irmãos, aquele tempo tão importante e solene, que, como disse o Espírito Santo, é tempo favorável, dia da salvação, da paz e da reconciliação» (São Carlos Borromeu)
 
«A esperança dos cristãos orienta-se ao futuro, mas está sempre bem enraizada num acontecimento do passado e nos serve de guia no presente» (Bento XVI)
 
«Ao celebrar em cada ano a Liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta expectativa do Messias. Comungando na longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo da sua segunda vinda (218). Pela celebração do nascimento e martírio do Precursor, a Igreja une-se ao seu desejo: ‘Ele deve crescer e eu diminuir’ (Jo 3,30)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 524)
 
Levantemo-nos do sono!
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal

A linguagem usada neste trecho evangélico pode dar lugar a interpretações extravagantes (ou até mesmo disparates) sobre o fim do mundo e os castigos de Deus; pode também ser reduzida ao convite a estarmos prontos, porque a morte pode chegar de forma imprevista e apanhar-nos sem a devida preparação. Estas interpretações têm origem numa deficiente compreensão do género literário apocalíptico, que era muito usado no tempo de Jesus, mas que é bastante estranho à nossa mentalidade e cultura.
 
Há um princípio que se deve ter sempre presente: o Evangelho é, pela sua natureza, boa notícia, anúncio de alegria e esperança. Quem dele se serve para meter medo e criar angústias está a usá-lo de forma incorreta, afastando-se do verdadeiro sentido do texto.
 
No trecho de hoje, sem dúvida, o tom é ameaçador: cataclismos, destruições, perigos de morte. A linguagem é propositadamente dura e incisiva, as imagens são as do juízo punitivo porque Jesus quer pôr em guarda acerca do grave perigo de que se percam as oportunidades de salvação que o Senhor oferece. Quem perde a cabeça pelas realidades deste mundo e se deixa absorver pelos negócios, quem vive no torpor, no embotamento, na procura dos prazeres, vai ao encontro de um dramático despertar.
 
Para Mateus, a vinda do Senhor é certa, embora ninguém saiba o dia nem a hora (cf. Mt 24,36); aos crentes resta estar vigilantes, preparados e Activos. Para transmitir esta mensagem, Mateus usa três quadros.
 
O primeiro (vers. 37-39) é o quadro da humanidade na época de Noé: os homens viviam, então, numa alegre inconsciência, preocupados apenas em gozar a sua “vidinha” descomprometida; quando o dilúvio chegou, apanhou-os de surpresa e impreparados. Se o “gozar” a vida ao máximo for para o homem a prioridade fundamental, ele arrisca-se a passar ao lado do que é importante e a não cumprir o seu papel no mundo.
 
O segundo (vers. 40-41) coloca-nos diante de duas situações da vida quotidiana: o trabalho agrícola e a moagem do trigo. Os compromissos e trabalhos necessários à subsistência do homem também não podem ocupá-lo de tal forma que o levem a negligenciar o essencial: a preparação da vinda do Senhor.
 
O terceiro (vers. 43-44) coloca-nos frente ao exemplo do dono de uma casa que adormece e deixa que a sua casa seja saqueada pelo ladrão. Os crentes não podem, nunca, deixar-se adormecer, pois o seu adormecimento pode levá-los a perder a oportunidade de encontrar o Senhor que vem.
 
A questão fundamental é, portanto, esta: o crente ideal é aquele que está sempre vigilante, atento, preparado, para acolher o Senhor que vem. Não perde oportunidades, porque não se deixa distrair com os bens deste mundo, não vive obcecado com eles e não faz deles a sua prioridade fundamental. Mas, dia a dia, cumpre o papel que Deus lhe confiou, com empenho e com sentido de responsabilidade.
 
Hoje não nos faltam sinais dos tempos negativos e positivos. O problema é estar atento aos sinais e saber interpretá-los! O nosso critério sempre será Jesus, a sua pessoa e o seu projeto de fidelidade com a vontade do Pai. Os sinais têm que passar pelo crivo da fidelidade a Jesus, que veio "para que todos tenham a vida e a tenham em plenitude"(Jo 10,10).
 
Assim, somos convidados hoje, pela Palavra de Deus, anunciada neste 1º Domingo do Advento à vigilância. Essa deve ser uma característica do cristão e da comunidade cristã. Se não o fizermos o “ladrão” entra na nossa casa por falta da vigilância.
 
Advento
 
Vinda do Latim, a palavra Advento significa vinda ou chegada. Era inicialmente utilizada para falar da chegada festiva de um rei, após batalha vitoriosa.
 
Em contexto cristão, ela aplica-se à preparação da vinda de Jesus Cristo e pode entender-se em três dimensões ou aspectos diversos, ainda que relacionados entre si:
 
Advento histórico: preparação da chegada de Jesus Cristo antes do seu nascimento. Neste sentido, podemos dizer que o tempo do Antigo Testamento é o advento da entrada de Jesus Cristo na história da humanidade.
Advento litúrgico: período de tempo (quatro semanas) que antecede o Natal, em que a liturgia ajuda os cristãos a prepararem-se para a celebração litúrgica do nascimento de Jesus.
Advento escatológico: espera da última vinda de Jesus (Parusia) na plenitude da sua glória.
A vinda histórica de Jesus já passou e a escatológica ainda não chegou. O tempo litúrgico do Advento, situado entre o já e o ainda não tem como finalidade despertar-nos a atenção para que, iluminados pelas figuras do Advento histórico (Isaías, João Baptista, Maria, etc.), nos preparemos bem para o Advento escatológico ou para olharmos a vida em perspectiva de Advento.
 
Num tempo de escuta da Palavra de Deus, a mensagem dos quatro domingos do Advento é sugestiva: vigiai (I Domingo), preparai-vos (II Domingo), acolhei-o (III Domingo), alegrai-vos (IV Domingo). Entre a vigilância e a celebração se desenha o percurso cristão do Advento litúrgico e escatológico.
 
Porque as grandes festas requerem intensas preparações, o Natal será autêntico e fará sentido se, em tempo de Advento, nos prepararmos para acolher Jesus Cristo. Ele vem a nós no irmão que precisa de ser acolhido.

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