sexta-feira, 29 de setembro de 2023

XXVI Domingo do Tempo Comum

Sta. Teresa do Menino Jesus, Virgem de nossa Ordem e Doutora da Igreja
 
1ª Leitura (Ez 18,25-28):
Eis o que diz o Senhor: «Vós dizeis: ‘A maneira de proceder do Senhor não é justa’. Escutai, casa de Israel: Será a minha maneira de proceder que não é justa? Não será antes o vosso modo de proceder que é injusto? Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal e vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida. Se abrir os seus olhos e renunciar às faltas que tiver cometido, há-de viver e não morrerá».
 
Salmo Responsorial: 24
R. Lembrai-Vos, Senhor, da vossa misericórdia.
 
Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu Salvador: em vós espero sempre.
 
Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias e das vossas graças que são eternas. Não recordeis as minhas faltas e os pecados da minha juventude. Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência, por causa da vossa bondade, Senhor.
 
O Senhor é bom e reto, ensina o caminho aos pecadores. Orienta os humildes na justiça e dá-lhes a conhecer os seus caminhos.
 
2ª Leitura (Flp 2,1-11): Irmãos: Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma comunhão no Espírito, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração. Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus. Ele, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.
 
Aleluia. As minhas ovelhas ouvem a minha voz, diz o Senhor; Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 21,28-32): «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Dirigindo-se ao primeiro, disse: ‘Filho, vai trabalhar hoje na vinha!’ O filho respondeu: ‘Não quero’. Mas depois mudou de atitude e foi. O pai dirigiu-se ao outro filho e disse a mesma coisa. Este respondeu: ‘Sim, senhor, eu vou’. Mas não foi. Qual dos dois fez a vontade do pai?». Os sumos sacerdotes e os anciãos responderam: «O primeiro». Então Jesus lhes disse: «Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus. Pois João veio até vós, caminhando na justiça, e não acreditastes nele. Mas os publicanos e as prostitutas creram nele. Vós, porém, mesmo vendo isso, não vos arrependestes, para crer nele».
 
«Qual dos dois fez a vontade do pai?»
 
Dr. Josef ARQUER (Berlin, Alemanha)
 
Hoje, contemplamos o pai dono de uma vinha pedindo aos seus dois filhos: «Filho, vai trabalhar hoje na vinha!» (Mt 21,29). Um diz que “sim” e não vai. O outro diz que “não” e vai. Nenhum dos dois mantém a palavra dada.
 
Seguramente, o que diz “sim” e fica em casa não pretende enganar o seu pai. Será apenas preguiça, não apenas “preguiça para fazer”, mas também para refletir. O seu lema é: “O que me importa o que disse ontem?”.
 
O do “não”, sim que se importa com o que disse ontem. Tem remorsos pelo desaire com seu pai. Da dor arranca a valentia de retificar. Corrige a palavra falsa com o fato certo. “Errare, humanum est?”. Sim, mas ainda mais humano —e mais de acordo com a verdade interior gravada em nós— retificar. Mesmo que custe, porque significa humilhar-se, arrasar a soberba e a vaidade. Alguma que outra vez vivemos momentos assim: corrigir uma decisão precipitada, um juízo temerário, uma valorização injusta… Depois um suspiro de alívio: —Obrigado, Senhor!
 
«Em verdade vos digo que os publicanos e as prostitutas vos precedem no Reino de Deus» (Mt 21,31). S. João Crisóstomo realça a maestria psicológica do Senhor perante os “sumos sacerdotes”: «Não lhes atira à cara diretamente: Por que não acreditastes em João? Mas pelo contrário confronta-os —o que resulta muito mais pujante— com os publicanos e as prostitutas. Assim os recrimina com a força patente dos fatos, a malícia de um comportamento marcado pelos respeitos humanos e pela vanglória».
 
Inseridos na cena, provavelmente sentiremos a falta de um terceiro filho, dado às meias tintas, em cujo comportamento nos seria mais fácil reconhecer e pedir desculpa, envergonhados. Inventamo-lo com autorização de Senhor e ouvimo-lo responder ao pai, com voz apagada: `Pode ser que sim pode ser que não…” E há quem diga ter ouvido no final “o mais provável é que, talvez, quem sabe…”.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Nada há de tão fácil que a nossa tibieza não nos o apresente difícil e pesado» (s. João Crisóstomo)
 
«Nesta transformação do não´em sim´, nesta inserção da vontade da criatura na vontade do Pai, Ele transforma a humanidade e redime-nos. E convida-nos a entrar neste seu movimento: sair do nosso não ‘e entrar no sim´ do Filho» (Bento XVI)
 
«Deus é o Senhor soberano dos seus planos. Mas, para a realização dos mesmos, serve-Se também do concurso das criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas da grandeza e bondade de Deus omnipotente (...)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 306)
 
CHAMADOS A MUDAR TANTO COMO MATEUS
 
Dom Antônio Couto
 
1.
Mais uma parábola de Jesus, dita aos «chefes dos sacerdotes» e aos «anciãos» do povo, no seguimento de Mateus 21,23. São eles, os bem colocados na religião e na vida pública, que são interpelados por Jesus: «Que vos parece?» (Mateus 21,28); «Qual dos dois fez a vontade do Pai?» (Mateus 21,31). No final de duas parábolas em que a temática é a «vinha» (Mateus 21,28-46), são os «chefes dos sacerdotes» e os «fariseus» que reagem às interpelações de Jesus (Mateus 21,45-46).
 
2. Os fariseus aparecem no Evangelho de Mateus como aqueles que «dizem, mas não fazem» (Mateus 23,3). E «fazer», em oposição a dizer, é um tema fundamental neste Evangelho, assim expresso por Jesus no Discurso programático da Montanha: «Não todo aquele que me diz: “Senhor, Senhor” entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade do meu Pai que está nos céus» (Mateus 7,21).
 
3. Mais ainda: neste Evangelho de Mateus, o verdadeiro «fazer» traduz-se em «fazer fruto», como consequência da conversão ou mudança operada na nossa vida. Como é importante, a ideia é recorrente neste Evangelho: veja-se Mateus 3,8; 7,16-20; 12,33; 13,8; 21,41.43; 25,40.45.
 
4. Mas também a «justiça» é um termo recorrente em Mateus. E «justiça», no Evangelho de Mateus, indica o desígnio divino de salvação e a nossa obediência a esse desígnio. Dada a sua importância, esta nota da «justiça» faz-se ouvir por sete vezes neste Evangelho: veja-se Mateus 3,15; 5,6.10.20; 6,1.33; 21,32.
 
5. Posto isto, é agora mais fácil deixar entrar em nós a força da parábola de Jesus, contada a gente habituada apenas a dizer, dizer, dizer… O homem e pai, na parábola, é Deus. A vinha é dele, mas é também nossa. Nunca se fala, no corpo desta parábola, da «minha» vinha. A vinha é, portanto, campo aberto de alegria e de liberdade, onde todos os filhos de Deus podem encontrar um novo espaço relacional, porventura ainda inédito, de filialidade e fraternidade.
 
6. É dito que este Pai tem dois filhos, que são todos os seus filhos, nas suas semelhanças e diferenças. Somos todos nós, nas nossas semelhanças e diferenças. Ao primeiro, o Pai diz: «Filho, vai hoje trabalhar na vinha» (Mateus 21,28). Note-se o termo carinhoso «filho», o imperativo da liberdade «vai», que nos coloca na estrada de Abraão, o «hoje», que requer resposta pronta e inadiável, e a «vinha», símbolo da festa e da alegria. Note-se ainda a resposta tresloucada deste «filho»: «Não quero» (Mateus 21,29a), e a emenda: «mas, depois, arrependeu-se e foi» (Mateus 21,29b). Note-se também a resposta do segundo filho, depois de ter ouvido o mesmo convite do seu Pai: «Eu vou, Senhor» (Mateus 21,30a), e a constatação do narrador de que, de facto, não foi (Mateus 21,30b).
 
7. Como se vê, todos os filhos de Deus-Pai ouvem o mesmo convite e veem a mesma atitude de carinho. Respondem que não ou que sim, e ambos mudam! O que disse que não, de facto, vai HOJE fazer a vontade do PAI; o que disse que sim, ficou apenas em palavras, apenas mudando o sim em não.
 
8. Os interpelados por Jesus (chefes dos sacerdotes e anciãos), os que só dizem, dizem, dizem, têm de reconhecer que não é o que se DIZ, mas o que se FAZ, o que verdadeiramente conta. E ainda têm de reconhecer que João Batista bem que os tinha chamado à conversão (mudança de vida e atitude) para fazerem frutos de justiça (Mateus 3,8; 21,32) e obedecerem ao desígnio de Deus, mas nem por isso lhe deram qualquer atenção (Mateus 21,32). Entenda-se: o que fez João Batista é o que Jesus faz agora, e tampouco lhe prestam atenção, convertendo-se ou mudando de vida e de atitudes.
 
9. É aqui que são chamados a fazer contraponto os publicanos e as prostitutas. Estes ouviram João e ouvem agora Jesus, e estão a mudar a sua vida (Mateus 21,31-32)! Note-se sempre que nem isto podemos desmentir, pois o Autor destas páginas deslumbrantes que estamos a folhear, Mateus, era um publicano. E mudou tanto, que agora é um Apóstolo e Evangelista! E nós?
 
Vamos com alegria. Diz que vais! E faz o que dizes!
 
Pe Amaro Gonçalo – Paróquia N Sra. da Hora (Porto – Portugal)
 
Continuamos, neste Domingo, a escutar o convite do Pai a trabalharmos, como filhos queridos, na Sua vinha. A Vinha do Senhor é não é lugar de tormento, de castigo, mas praça da alegria. A Vinha não é apenas o espaço interior da Igreja, com os seus diversos grupos e movimentos. A Vinha é todo o campo deste mundo, onde os cristãos são chamados a colaborar na edificação do Reino de Deus. Somos chamados a fazê-lo, com a prontidão e a alegria do serviço, com gestos concretos e não com palavra vazias. Porque muitas vezes dizemos sim…, mas não agimos em coerência e em consequência, peçamos perdão.
 
Que vos parece?! Pergunta Jesus aos seus interlocutores, nesta parábola, tão simples, que quase nos parece um conto infantil! E eu vou dizer-vos o que me parece, neste início de ano escolar e pastoral!
 
1. O Pai não se cansa de nos convidar a trabalhar na vinha, que é d’Ele e é nossa, campo aberto de alegria e de liberdade: “Filho, vai hoje trabalhar na vinha” (Mt 21,28). Este Pai, que não é patrão, trata-nos a todos carinhosamente como filhos, com as nossas semelhanças e diferenças, mas nunca como assalariados! Pede-nos que dêmos uma resposta «hoje», pronta e inadiável, sem desculpas. Não importam a resposta que tu deste ontem ou antigamente, o que já fizeste noutros tempos, os anos que já deste à casa. Importa a tua resposta «hoje», na vinha do Senhor. Importa o que fazes, não o que dizes. Hoje, Deus espera o teu “sim”, “de facto”.
 
2. Trata-se, tal como no trabalho na vinha, de um serviço, onde predomina a festa e a alegria. Não podemos olhar para a nossa missão como um fardo, uma obrigação, um peso, uma penitência, mas como uma graça, uma oportunidade, uma chance, uma alegria. É também neste espírito que somos desafiados “a uma nova etapa evangelizadora marcada pela alegria do evangelho” (EG 1), a alegria do encontro com Cristo, que é também uma alegria missionária, uma alegria que se renova e comunica.  É a alegria de tomar parte na construção do Reino, a alegria do serviço, a alegria de dar, a alegria de dar alegria aos outros!
 
3. Somos chamados todos, todos, todos, a cuidar desta vinha, muito para lá do adro da Igreja. Numa Exortação Pastoral recente, o nosso Bispo do Porto recorda-nos a alegria do serviço do Reino de Deus, no vasto campo do mundo e a partir do coração da Igreja. Passo a citar livremente: Hoje, o tradicional voluntariado e associativismo está em crise e há Associações que desaparecem por falta de órgãos de direção: desde os Clubes de Futebol de aldeia aos Ranchos folclóricos, Grupos de teatro amador. Nesta linha, apelo a um rejuvenescimento da participação e do voluntariado social. Precisamos de gente séria que se comprometa com as Associações. São imensos os setores onde se pode colaborar para o bem comum: nos Bombeiros Voluntários, nas Ligas de Amigos ou Voluntariado dos Hospitais e prisões, na Animação Sénior, nos Grupos de intervenção ecológica, no Apoio a peregrinos e migrantes, nas Associações de Desenvolvimento Integrado, nas Redes de Apoio Familiar, no acompanhamento de pais e familiares de pessoas portadoras de deficiência, na integração dos sem-abrigo, na ajuda a organizações que fornecem refeições gratuitas ou económicas, na colaboração com Unidades de Cuidados Continuados.
 
4. Mas também, a partir do  coração da Igreja – diz-nos o nosso Bispo – precisamos de revitalizar – ou de criar! – com gente nova e decidida a dar tudo em prol do Reino – a Catequese e a Animação Juvenil, os Grupos Corais, os Grupos de Acólitos e de Leitores, a Equipa de Comunicação para a divulgação das atividades pastorais por intermédio das páginas web e redes sociais, o Grupo de Visitadores de Doentes, de velhinhos e sós, ou de pessoas enlutadas, os Conselhos Económicos e Pastorais, as Comissões de Obras, os Grupos de Caridade e de Ajuda Fraterna, as Equipas de preparação para os Sacramentos do Batismo e Matrimónio, o Voluntariado para manter abertas as igrejas em segurança, as Equipas de Acolhimento a quem  vem viver na área da paróquia e aos fiéis que frequentam as nossas celebrações. Não esqueçamos os Grupos de Oração e o compromisso vocacional, no sacerdócio ou na vida religiosa e missionária. Aí mesmo, tu és chamado a seres um humilde trabalhador da vinha do Senhor, a seres o rosto feliz do filho que honra o Pai, com os frutos do teu trabalho humano.
 
5. Irmãos e irmãs: em tudo o que somos, dizemos e fazemos, haja esta marca da alegria, como sal e sol da nossa vida; haja o sorriso feliz, de quem se sente chamado a dar tudo de si e de seu, pois há sempre mais alegria em dar do que em receber (At 20,35). Neste espírito – como nos desafia o lema do ano pastoral – “Vamos com alegria. Juntos por um caminho novo”! Diz que vais!  E faz o que dizes!

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