quarta-feira, 13 de setembro de 2023

15 de setembro: Virgem Santa Maria das Dores

Primeira Leitura (Hb 5,7-9):
Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua entrega a Deus. Mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu. Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna para todos os que lhe obedecem. Palavra do Senhor. AS: Graças a Deus.
 
Salmo Responsorial 30(31)
R. Salvai-me pela vossa compaixão, ó Senhor Deus!
 
1. Senhor, eu ponho em vós minha esperança; que eu não fique envergonhado eternamente! Porque sois justo, defendei-me e libertai-me, apressai-vos, ó Senhor, em socorrer-me! – R.
 
2. Sede uma rocha protetora para mim, um abrigo bem seguro que me salve! Sim, sois vós a minha rocha e fortaleza; por vossa honra, orientai-me e conduzi-me! – R.
 
3. Retirai-me desta rede traiçoeira, porque sois o meu refúgio protetor! Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito, porque vós me salvareis, ó Deus fiel! – R.
 
4. A vós, porém, ó meu Senhor, eu me confio e afirmo que só vós sois o meu Deus! Eu entrego em vossas mãos o meu destino; libertai-me do inimigo e do opressor! – R.
 
5. Como é grande, ó Senhor, vossa bondade, que reservastes para aqueles que vos temem! Para aqueles que em vós se refugiam, mostrando, assim, o vosso amor perante os homens. – R.
 
Aleluia. Feliz a Virgem Maria, que, sem passar pela morte, do martírio ganha a palma, ao pé da cruz do Senhor! Aleluia.
 
Evangelho (Jo 19,25-27): Naquele tempo, perto da cruz de Jesus, estavam de pé a sua mãe, a irmã da sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena. Jesus, ao ver sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: “Mulher, este é o teu filho”. Depois disse ao discípulo: “Esta é a tua mãe”. Daquela hora em diante, o discípulo a acolheu consigo.
 
Amar na dor
 
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte
 
Neste dia, em que a Igreja nos propõe celebrar a memória de Nossa Senhora das Dores, peçamos ao Espírito Santo uma melhor compreensão das experiências de dor que, invariavelmente, todos nós vivemos.
 
Comumente, a não ser por algum desequilíbrio ou outra coisa desconhecida para mim, as pessoas não gostam de sentir dor. A medicina busca, incessantemente, formas de acabar com as dores, ou aliviá-las. Nos pacientes terminais, quando já não há solução conhecida para o mal, todo o esforço é para que eles não sofram mais, até o derradeiro suspiro.
 
Dentro da religião, muitas vezes, pode-se criar uma sensação de que sentir dores é bom, pois ajuda a pagar os pecados cometidos. Contudo, não há garantia nenhuma de que as dores e os sofrimentos levem ao perdão. Às vezes, pelo contrário, males que causam grande dor podem levar a um sofrimento muito grande, jamais superado, tornando a vida amargurada e rancorosa. Não se consegue experimentar o perdão de Deus, embora ele esteja lá para ser colhido.
 
O perdão é dom que Deus nos concede por ser todo misericordioso. Jesus já nos ensinava o perdão como prática permanente. Em vez de perdoar uma ou duas vezes, perdoar setenta vezes sete, ou seja, infinitamente.
 
Quando sentimos dor e conseguimos reconhecer que somos os responsáveis por causá-la, torna-se mais fácil não ficarmos presos ao sofrimento e conseguirmos, com maior facilidade, superá-la. Porém, quando a dor advém da ação de outros, costumamos ter mais dificuldade para nos livrarmos do sofrimento.
 
Ao contemplar a cena trazida pelo texto, podemos perceber pessoas com dores imensas e provocadas injustamente, sem nenhuma responsabilidade delas. No entanto, observar atentamente este quadro e o resultado advindo dessa experiência de dor nos dá a possibilidade de uma oração profunda e fortalecedora de nossa fé.
 
Jesus sofria, além da dor do quase completo abandono, também a dor física de estar pregado na cruz. Os poucos que o seguiram e que continuavam ao pé da cruz sofriam a amarga dor de contemplar aquele, no qual depositaram toda a esperança, morrer de forma inacreditável. A quem iriam recorrer depois de tudo isso? E a mãe de Jesus? Além da dor que os discípulos sofriam, ela que também era discípula, sofria a dor de mãe que custa a compreender porque seu filho, que só desejou o bem, morre exatamente por obedecer a vontade de Deus.
 
Contemplando este quadro, somos convidados a rezar para saber suportar, com a máxima dignidade, nossas experiências de dor. Jesus não abre a boca para reclamar ou causar comiseração de sua condição, mas para reconfortar. Diante da injustiça que sofre, Ele não se desespera, mas olha em volta em busca do que fazer para amenizar a dor dos que sofrem. Quem irá cuidar da minha mãe, que cuidou de mim com tanto carinho? Quem poderá orientar e reconfortar os discípulos que tanto me amam e que ficarão no mundo?
 
A dor não é desejada e é bonito fazermos todo o esforço possível para evitarmos causar dor, tanto em nós como nos outros, porém a dor é inevitável e ela é, de uma certa forma, uma prova para o cristão. Talvez, por esta razão, muitas vezes comete-se o engano de acreditar que o cristão procura a dor como motivo de expiação dos pecados. Como um estudante se prepara para as provas das disciplinas que estuda, também temos de estar preparados para viver as dores que a vida nos traz. No lugar do sofrimento, podemos, a exemplo de Jesus e de Maria, colocar o amor aos outros e a esperança na misericórdia do Pai, como forma de superar esses momentos difíceis. Olhar mais para as necessidades dos outros, ao invés de se voltar somente para o próprio umbigo, é uma tarefa a ser desempenhada sempre, inclusive nos momentos de dor.
 
Como tenho vivido minhas dores? Peço e penso somente em mim, ou lembro-me dos outros e de suas necessidades? Desenvolvo um sofrimento que dificulta a superação ou mantenho a confiança na misericórdia de Deus e reavivo minha esperança?
 
Maria, que experimentou tantas dores e soube se manter fiel ao amor e à esperança, caminhe conosco e nos ajude a superar os sofrimentos, fortalecidos pela confiança de que, no amor, a dor e a morte nunca têm a última palavra. Nele, tudo renasce. Amém!
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Assim como devemos estar agradecidos a Jesus pela Sua Paixão, suportada pelo Seu amor por nós, assim também devemos estar cheios de gratidão a Maria Santíssima pelo martírio que, ao morrer o Seu Filho, quis suportar voluntariamente para nos salvar» (Santo Alberto Magno)
 
«Aos pés da cruz, Maria junto a João, é testemunha das palavras de perdão que saem da boca de Jesus. Dirijamos a Ela a antiga e sempre nova oração da Salve Rainha, para que, nunca se canse de volver a nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto da misericórdia, o seu Filho, Jesus» (Francisco)
 
«Maria é a orante perfeita, figura da Igreja. Quando Lhe oramos, aderimos com Ela ao desígnio do Pai, que envia o seu Filho para salvar todos os homens. Como o discípulo amado, nós acolhemos em nossa casa a Mãe de Jesus que se tornou Mãe de todos os viventes. Podemos orar com Ela e orar-Lhe a Ela. A oração da Igreja é como que sustentada pela oração de Maria. Está-lhe unida na esperança» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.679)
 
Reflexão
 
*
Hoje, festa de Nossa Senhora das Dores, o evangelho do dia traz a passagem em que Maria, a mãe de Jesus, e o discípulo amado se encontram no calvário diante da Cruz. A Mãe de Jesus aparece duas vezes no evangelho de João: no começo, nas bodas de Caná (Jo 2,1-5), e no fim, ao pé da Cruz (Jo 19,25-27). Estes dois episódios, exclusivos do evangelho de João, têm um valor simbólico muito profundo. O evangelho de João, comparado com os outros três evangelhos é como quem tira raio-X onde os outros três só tiram fotografia. O raio-X da fé ajuda a descobrir dimensões nos acontecimentos que os olhos comuns não chegam a perceber. O evangelho de João, além de descrever os fatos, revela a dimensão simbólica que neles existe. Assim, nos dois casos, em Caná e na Cruz, a Mãe de Jesus representa simbolicamente o Antigo Testamento que aguarda a chegada do Novo Testamento e, nos dois casos, ela contribui para que o Novo chegue. Maria aparece como o elo entre o que havia antes e o que virá depois. Em Caná, ela simboliza o AT, percebe os limites do Antigo e toma a iniciativa para que o Novo possa chegar. Ela vai falar ao Filho: “Eles não tem mais vinho!” (Jo 2,3). E no Calvário? Vejamos:
 
* João 19, 25: As mulheres e o Discípulo Amado junto à Cruz. Assim diz o Evangelho: “A mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena estavam junto à cruz”. A “fotografia” mostra a mãe junto do filho, em pé. Mulher forte, que não se deixa abater. “Stabat Mater Dolorosa!” Ela é uma presença silenciosa que apoia o filho na sua entrega até à morte, e morte de cruz (Flp 2,8). Além disso, o “raio-X” da fé mostra como se realiza a passagem do AT para o NT. Como em Caná, a Mãe de Jesus representa o AT. O Discípulo Amado representa o NT, a comunidade que cresceu ao redor de Jesus. É o filho que nasceu do AT, a nova humanidade que se forma a partir da vivência do Evangelho do Reino. No fim do primeiro século, alguns cristãos achavam que o AT já não era necessário. De fato, no começo do segundo século, Márcion recusou todo o AT e ficou só com uma parte do NT. Por isso, muitos queriam saber qual a vontade de Jesus a este respeito.
 
* João 19,26-28 : O Testamento ou a Vontade de Jesus. As palavras de Jesus são significativas. Vendo sua mãe e, ao lado dela, o discípulo que ele amava, disse à mãe: "Mulher, eis aí o seu filho." Depois disse ao discípulo: "Eis aí a sua mãe." Os Antigo e o Novo Testamento devem caminhar juntos. A pedido de Jesus, o discípulo amado, o filho, o NT, recebe a Mãe, o AT, em sua casa. É na casa do Discípulo Amado, na comunidade cristã, que se descobre o sentido pleno do AT. O Novo não se entende sem o Antigo, nem o Antigo é completo sem o Novo. Santo Agostinho dizia: “Novum in vetere latet, Vetus in Novo patet”. (O Novo está escondido no Antigo. O Antigo desabrocha no Novo). O Novo sem o Antigo seria um prédio sem fundamento. E o Antigo sem o Novo seria uma árvore frutífera que não chegou a dar fruto.
 
*  Maria no Novo Testamento . De Maria se fala pouco no NT, e ela mesma fala menos ainda. Maria é a Mãe do silêncio. A Bíblia conservou apenas sete palavras de Maria. Cada uma destas sete palavras é como uma janela que permite olhar para dentro da casa de Maria e descobrir como ela se relacionava com Deus. A chave para entender tudo isso é dada por Lucas nesta frase: “Felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática." (Lc 11,27-28)
1ª Palavra: "Como pode ser isso se eu não conheço homem algum!" (Lc 1,34)
2ª Palavra: "Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!" (Lc 1,38)
3ª Palavra: "Minha alma louva o Senhor, exulta meu espírito em Deus meu Salvador!" (Lc 1,46-55)
4ª Palavra: "Meu filho por que nos fez isso? Teu pai e eu, aflitos, te procurávamos" (Lc 2,48)
5ª Palavra: “Eles não têm mais vinho!" (Jo 2,3)
6ª Palavra: "Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5)
7ª Palavra:  O silêncio ao pé da Cruz, mais eloquente que mil palavras! (Jo 19,25-27)
 
Para um confronto pessoal
1) Maria ao pé da Cruz. Mulher forte, silenciosa. Como é minha devoção a Maria, a Mãe de Jesus?
2) Na Pietá de Miguelangelo, Maria aparece bem jovem, mais jovem que o próprio filho crucificado, quando já devia ter no mínimo em torno de 50 anos. Perguntado porque tinha esculpido o rosto da Maria tão jovem, Miguelangelo respondeu: “As pessoas apaixonadas por Deus não envelhecem nunca”. Apaixonada por Deus! Existe paixão por Deus em mim?

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