quarta-feira, 26 de julho de 2023

XVII Domingo do Tempo Comum

São Pedro Crisólogo, bispo e doutor da Igreja
 
1ª Leitura (1Re 3,5.7-12):
Naqueles dias, o Senhor apareceu em sonhos a Salomão durante a noite e disse-lhe: «Pede o que quiseres». Salomão respondeu: «Senhor, meu Deus, Vós fizestes reinar o vosso servo em lugar do meu pai David e eu sou muito novo e não sei como proceder. Este vosso servo está no meio do povo escolhido, um povo imenso, inumerável, que não se pode contar nem calcular. Dai, portanto, ao vosso servo um coração inteligente, para governar o vosso povo, para saber distinguir o bem do mal; pois, quem poderia governar este vosso povo tão numeroso?». Agradou ao Senhor esta súplica de Salomão e disse-lhe: «Porque foi este o teu pedido, e já que não pediste longa vida, nem riqueza, nem a morte dos teus inimigos, mas sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer o teu desejo. Dou-te um coração sábio e esclarecido, como nunca houve antes de ti nem haverá depois de ti».
 
Salmo Responsorial: 118
R. Quanto amo, Senhor, a vossa lei!
 
Senhor, eu disse: A minha herança é cumprir as vossas palavras. Para mim vale mais a lei da vossa boca do que milhões em ouro e prata.
 
Console-me a vossa bondade, segundo a promessa feita ao vosso servo. Desçam sobre mim as vossas misericórdias e viverei, porque a vossa lei faz as minhas delícias.
 
Por isso, eu amo os vossos mandamentos, mais que o ouro, o ouro mais fino. Por isso, eu sigo todos os vossos preceitos e detesto todo o caminho da mentira.
 
São admiráveis as vossas ordens, por isso, a minha alma as observa. A manifestação das vossas palavras ilumina e dá inteligência aos simples.
 
2ª Leitura (Rom 8,28-30): Irmãos: Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam, dos que são chamados, segundo o seu desígnio. Porque os que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o Primogénito de muitos irmãos. E àqueles que predestinou, também os chamou; àqueles que chamou, também os justificou; e àqueles que justificou, também os glorificou.
 
Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.
 
Evangelho (Mt 13,44-52): «O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo. Alguém o encontra, deixa-o lá bem escondido e, cheio de alegria, vai vender todos os seus bens e compra aquele campo». O Reino dos Céus é também como um negociante que procura pérolas preciosas. Ao encontrar uma de grande valor, ele vai, vende todos os bens e compra aquela pérola. O Reino dos Céus é ainda como uma rede lançada ao mar e que pegou peixes de todo tipo. Quando ficou cheia, os pescadores puxaram a rede para a praia, sentaram-se, recolheram os peixes bons em cestos e jogaram fora os que não prestavam. Assim acontecerá no fim do mundo: os anjos virão para separar os maus dos justos, e lançarão os maus na fornalha de fogo. Aí haverá choro e ranger de dentes. Entendestes tudo isso?». —«Sim», responderam eles. Então ele acrescentou: «Assim, pois, todo escriba que se torna discípulo do Reino dos Céus é como um pai de família, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas».

«Um tesouro escondido num campo um negociante que procura pérolas preciosas»
 
Rev. D. Enric PRAT i Jordana (Sort, Lleida, Espanha)
 
Hoje, o Evangelho quer ajudar-nos a olhar para dentro, a encontrar algo escondido: «O Reino dos Céus é como um tesouro escondido num campo» (Mt 13,44). Quando falamos de tesouro referimo-nos a algo de valor excepcional, de apreciação máxima, não a coisas ou situações que, ainda que amadas, não deixam de ser fugazes e bijuteria barata, como as satisfações e prazeres temporais: aquilo com que tanta gente se extenua procurando no exterior, e com o que se desencanta uma vez encontrado e experimentado.
 
O tesouro que Jesus propõe está enterrado no mais profundo da nossa alma, no próprio núcleo da nossa alma. É o Reino de Deus. Consiste em encontrar-nos amorosamente, de maneira misteriosa, com a Fonte da vida, da beleza, da verdade e do bem, e em permanecer unidos à mesma Fonte até que, cumprido o tempo da nossa peregrinação, e livres de toda a bijuteria inútil, o Reino do céu que procuramos no nosso coração e que cultivamos na fé e no amor, se abra como uma flor e apareça o brilho do tesouro escondido.
 
Alguns, como São Paulo ou o próprio bom ladrão, encontraram-se subitamente com o Reino de Deus ou de maneira inesperada, porque os caminhos do senhor são infinitos, mas normalmente, para chegar a descobrir o tesouro, há que procurá-lo intencionalmente: «O Reino dos Céus é também como um negociante que procura pérolas preciosas» (Mt 13,45). Talvez este tesouro só seja encontrado por aqueles que não se dão por satisfeitos facilmente, pelos que não se contentam com pouca coisa, pelos idealistas, pelos aventureiros.
 
Na ordem temporal, dos inquietos e inconformados dizemos que são pessoas ambiciosas, e no mundo do espírito, são os santos. Eles estão dispostos a vender tudo para comprar o campo, como diz São João da Cruz: «Para chegar a possuir tudo, não queiras possuir algo em nada»
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Considerem, meus filhos: o tesouro do homem cristão não está na terra, mas no céu. Portanto, o nosso pensamento deve estar sempre orientado para onde está o nosso tesouro» (São João Mª Vianney)
 
«A pessoa de Jesus é o tesouro escondido, é a pérola de grande valor. Ele é a descoberta fundamental, que pode dar um rumo decisivo à nossa vida, enchendo-a de sentido» (Francisco)
 
«(…) A fé dos fiéis é a fé da Igreja recebida dos Apóstolos, tesouro de vida que se enriquece na medida em que é partilhada» (Catecismo da Igreja Católica, nº 949)
 
O TESOURO
 
Teresa Power
 
*
Hoje, Jesus continua a falar-nos do Reino dos Céus, com imagens belíssimas. Mas será que o Reino dos Céus suscita em nós este entusiasmo ardente, este desejo de deixar tudo para o alcançar?
 
* “O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido num campo.” O Reino dos Céus é, naturalmente, um tesouro. Mas onde está o campo? Porque o tesouro só será nosso se, primeiro, vendermos tudo quanto possuímos para comprar o campo. Reconhecemo-lo? O campo da família, do matrimónio, de cada uma das nossas vocações… Ter-nos-emos dado conta de que comprávamos um campo de valor inestimável, naquele dia sagrado em que prometemos fidelidade até à morte um ao outro, ou em que nos consagrámos inteiros ao Senhor? Seremos capazes de descobrir o tesouro escondido no campo pouco vistoso do nosso cônjuge, daquele filho problemático, da paróquia onde vivemos, do nosso trabalho? Quando o campo do vizinho parece mais bonito que o nosso, a tentação é a de abandonarmos ou deixarmos devassar o único campo que esconde o tesouro que procurávamos: o nosso. Mas tudo o que precisamos é, de mãos calejadas, sem medo ao trabalho, escavar até encontrar… Se já “vendemos tudo”, não voltemos atrás!
 
* No fundo, não há nenhum campo, por mais desprezível que pareça, que não esconda um tesouro, desde que estejamos dispostos a vender tudo por ele. “Nós sabemos que Deus concorre em tudo para o bem daqueles que O amam”, diz S. Paulo. “Em tudo”… Nenhuma circunstância da nossa vida está fora do alcance deste “tudo”, como S. Paulo explicará no próximo domingo: nem a morte, nem a vida, nem o sofrimento, nem a desilusão, nem o fracasso, nem uma vocação falhada, nem sequer o pecado passado, que ainda nos fere, mas que já foi sobejamente perdoado e redimido. Tudo, absolutamente tudo na nossa vida concorre para o nosso bem, se – e este “se” é a resposta livre que nos é pedida – de facto amamos a Deus e estamos dispostos a “comprar” – vendendo tudo – o campo que Ele nos quiser oferecer.
 
* Talvez por isso mesmo, Jesus tenha contado a parábola da pérola. Apenas mais uma comparação? A Palavra de Deus é minuciosa. As pérolas não são um tesouro qualquer: as pérolas formam-se nas ostras que se deixam ferir. Quando um pequeno grão de areia penetra a casca e a fere, a ostra reage produzindo camadas e mais camadas daquilo que virá a ser uma pérola, cicatrizando, assim, a ferida. Seremos capazes de fazer o mesmo? Quando a dor nos atinge, seremos capazes de a envolver em camadas sucessivas de amor, perdão, paciência, misericórdia? Assim fez Jesus na Cruz, e das Suas feridas, jorrou a nossa salvação. Façamo-lo nós também, chamados a ser conformes à imagem de Jesus, como nos diz S. Paulo. E um dia, todas as nossas feridas serão transformadas em pérolas preciosas – “pois àqueles que justificou, também os glorificou”. Nesse dia, teremos encontrado o Reino dos Céus.
 
* Descobrir tesouros nos campos que habitamos, permitir que se formem pérolas a partir de cada uma das nossas feridas, eis a verdadeira sabedoria do coração, que Salomão pediu a Deus como o maior dos dons. Na verdade, de que nos serve a riqueza, a longa vida, o sucesso, a glória, se não tivermos essa inteligência divina – a inteligência dos simples, diz o salmista – que nos habilita a descobrir o Reino, lá onde ele se esconde?
 
* “Entendestes tudo isto?”
Pergunta Jesus aos discípulos. “Entendemos”, respondem. Naquele momento, entenderam com a cabeça. Mais tarde, entenderão com o coração. Por causa do Reino dos Céus, todos eles irão, de facto, vender tudo, escavar a terra do seu campo com as mãos, transformar perseguições, dores e trabalhos em pérolas e, por fim, entregar a própria vida. E como valeu a pena!
 
* “Por isso, todo o escriba instruído sobre o reino dos Céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas”. Todos somos chamados à paternidade ou maternidade, se não biológica, certamente espiritual. Quando, ao fim do dia, reúno a minha família para rezar, lembro-me muitas vezes deste versículo do Evangelho. É preciso que os pais distribuam o tesouro das Escrituras pelos filhos, que não os privem das Palavras Novas e Velhas, do Antigo e do Novo Testamentos. E é preciso que estejam dispostos a vasculhar o tesouro da Tradição da Igreja, construindo a novidade da sua cultura familiar sobre os alicerces antigos: os sacramentos, o Terço, as vidas dos santos… Equipemos os filhos ou os que nos são confiados espiritualmente, para que também eles descubram o verdadeiro Tesouro e rezem, como o salmista: “A minha herança é cumprir as vossas palavras.”
 
* Hora da missa. Poucos sabem, Senhor, que nesta hora nos é dado realmente vislumbrar, tocar, penetrar no Reino dos Céus! Tu, único Tesouro que vale a pena procurar, Tu, única Pérola que vale a pena encontrar, Tu dás-Te todo de graça sobre este altar, e tão poucos capazes de Te receber! Dá-nos, Senhor, um coração verdadeiramente sábio, para que nem nos passe pela cabeça hesitar na hora de deixar tudo e vir aqui. Amém!

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