sexta-feira, 28 de abril de 2023

IV Domingo da Páscoa

São Pio V, Papa
São José Benedito Cottolengo, presbítero
 
1ª Leitura (At 2,14a.36-41):
No dia de Pentecostes, Pedro, de pé, com os onze Apóstolos, ergueu a voz e falou ao povo: «Saiba com absoluta certeza toda a casa de Israel que Deus fez Senhor e Messias esse Jesus que vós crucificastes». Ouvindo isto, sentiram todos o coração trespassado e perguntaram a Pedro e aos outros Apóstolos: «Que havemos de fazer, irmãos?». Pedro respondeu-lhes: «Convertei-vos e peça cada um de vós o Baptismo em nome de Jesus Cristo, para vos serem perdoados os pecados. Recebereis então o dom do Espírito Santo, porque a promessa desse dom é para vós, para os vossos filhos e para quantos, de longe, ouvirem o apelo do Senhor nosso Deus». E com muitas outras palavras os persuadia e exortava, dizendo: «Salvai-vos desta geração perversa». Os que aceitaram as palavras de Pedro receberam o Baptismo e naquele dia juntaram-se aos discípulos cerca de três mil pessoas.
 
Salmo Responsorial: 22
R. O Senhor é meu pastor: nada me faltará.
 
O Senhor é meu pastor: nada me falta. Leva-me a descansar em verdes prados, conduz-me às águas refrescantes e reconforta a minha alma.
 
Ele me guia por sendas direitas por amor do seu nome. Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos, não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo: o vosso cajado e o vosso báculo me enchem de confiança.
 
Para mim preparais a mesa à vista dos meus adversários; com óleo me perfumais a cabeça e o meu cálice transborda.
 
A bondade e a graça hão de acompanhar-me, todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor para todo o sempre.
 
2ª Leitura (1Pe 2,20-25): Caríssimos: Se vós, fazendo o bem, suportais o sofrimento com paciência, isto é uma graça aos olhos de Deus. Para isto é que fostes chamados, porque Cristo sofreu também por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos. Ele não cometeu pecado algum e na sua boca não se encontrou mentira. Insultado, não pagava com injúrias; maltratado, não respondia com ameaças; mas entregava-Se Àquele que julga com justiça. Ele suportou os nossos pecados no seu Corpo, sobre o madeiro da cruz, a fim de que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas chagas fomos curados. Vós éreis como ovelhas desgarradas, mas agora voltastes para o pastor e guarda das vossas almas.
 
Aleluia. Eu sou o bom pastor, diz o Senhor: conheço as minhas ovelhas e elas conhecem-Me. Aleluia.
 
Evangelho (Jo 10,1-10): «Em verdade, em verdade, vos digo: quem não entra pela porta no redil onde estão as ovelhas, mas sobe por outro lugar, esse é ladrão e assaltante. Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas escutam a sua voz, ele chama cada uma pelo nome e as leva para fora. E depois de fazer sair todas as que são suas, ele caminha à sua frente e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. A um estranho, porém, não seguem, mas fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos». Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que ele queria dizer. Jesus disse então: «Em verdade, em verdade, vos digo: eu sou a porta das ovelhas. Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. Eu sou a porta. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará pastagem. O ladrão vem só para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância».
 
«Eu sou a porta das ovelhas»
 
P. Pere SUÑER i Puig SJ (Barcelona, Espanha)
 
Hoje no Evangelho, Jesus utiliza duas imagens referentes a si mesmo: Ele é o pastor. E Ele é a porta. Jesus é o bom pastor que conhece as ovelhas. «Ele chama cada uma pelo nome» (Jo 10,3). Para Jesus, não somos um número; tem um contacto pessoal com cada um de nós. O Evangelho não é só uma doutrina: é a adesão pessoal de Jesus conosco.
 
E, não só nos conhece pessoalmente. Também pessoalmente ama-nos. “Conhecer”, no Evangelho de são João, não significa simplesmente um ato do entendimento, senão um ato de adesão à pessoa conhecida. Jesus leva-nos a cada um no seu coração. Nós também lhe devemos conhecer assim. Conhecer Jesus não implica só um ato de fé, senão também de caridade, de amor. «Examinai-vos se conheceis —diz-nos são Gregório Magno, comentando este texto— se lhe conheceis não pelo fato de crer, senão pelo amor». E o amor mostra-se com as obras.
 
Jesus é também a porta. A única porta. «Quem entrar por mim será salvo» (Jo 10,9). E mais adiante realça: «Ninguém vai ao Pai senão por mim» (Jo 14,6). Hoje um ecumenismo mal-entendido faz que alguns pensem que Jesus é um de tantos salvadores: Jesus, Buda, Confúcio..., Maomé, que mais dá! Não! Quem se salva, se salvará por Jesus Cristo, ainda que nesta vida não o saiba. Quem luta por fazer o bem, o saiba ou não, vai por Jesus. Nós, pelo dom da fé, sim que o sabemos. Agradecemos-lhe. Esforcemo-nos por atravessar esta porta, que se bem é estreita, Ele nos a abrirá de par em par. E demos testemunho de que toda a nossa esperança está posta Nele.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Entra pela porta aquele que entra por Cristo, aquele que imita a paixão de Cristo, aquele que conhece a humildade de Cristo, que sendo Deus se fez homem por nós» (Santo Agostinho)
 
«Jesus Cristo promete conduzir as ovelhas aos “pastos”, às fontes da vida. Mas qual é o alimento do homem? Ele vive da verdade e de ser amado pela Verdade. Ele precisa de Deus, do Deus que se aproxima dele e lhe mostra o caminho da vida» (Bento XVI)
 
«Assim a Igreja é o redil, cuja única e necessária porta é Cristo (Jo 10,1-10). E também o rebanho, do qual o próprio Deus predisse que seria o pastor (cf. Is 40,11) e cujas ovelhas, ainda que governadas por pastores humanos, são, contudo, guiadas e alimentadas sem cessar pelo próprio Cristo, bom Pastor e Príncipe dos pastores, o qual deu a vida pelas suas ovelhas» (Catecismo da Igreja Católica, nº 754)
 
Eu sou o bom pastor.
 
Do site da Ordem do Carmo em Portugal
 
O Evangelho deste Domingo coloca diante de nós a figura tão familiar do bom pastor. Falando das ovelhas do redil de Deus, Jesus utiliza diversas imagens para descrever a conduta dos que se ocupam do rebanho. O texto da liturgia estende-se desde o versículo 1 a 10. No comentário acrescentamos os versículos 11 a 18, porque contêm a imagem do bom pastor que ajuda a entender melhor o sentido dos versículos 1 a 10.
 
As palavras de Jesus sobre o pastor (Jo 10, 1-18) é como um ladrilho colocado numa parede quase pronta. Imediatamente antes, em João 9, 40-41, Jesus falava da cegueira dos fariseus. Imediatamente depois, em João 10, 19-21, encontramos a conclusão da discussão sobre a cegueira. Deste modo, as palavras sobre o bom pastor ensinam-nos como fazer para retirar dos olhos a cegueira. Com este ladrilho a parede fica mais forte e mais bela.
 
João 10, 1-5: A semelhança entre o salteador e o pastor. Jesus começa o seu discurso com a semelhança da porta: “Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outro lado, é um ladrão e salteador. Aquele que entra pela porta é o pastor das ovelhas”. Para entender esta semelhança devemos recordar o que se segue. Naquele tempo, os pastores ocupavam-se do rebanho durante todo o dia. Quando chegava a noite, levavam as ovelhas para um grande redil ou recinto comunitário, bem protegido contra os salteadores e os lobos. Todos os pastores de uma mesma região conduziam os seus rebanhos para aí. Um guarda ocupava-se do redil durante toda a noite. Pela manhã vinha o pastor, batia as palmas das mãos na porta e o guarda abria-a. O pastor aproximava-se e chamava as suas ovelhas pelo seu nome. As ovelhas reconheciam a voz do pastor, levantavam-se e saiam atrás dele para pastar. As ovelhas dos outros pastores ouviam a voz, mas ficavam onde estavam, porque não conheciam a voz. Os perigos de assalto eram diários. Os ladrões entravam por uma abertura, tirando as pedras do muro que rodeava o redil, para roubar as ovelhas. Não entravam pela porta, porque ali encontrava-se o guarda vigiando.
 
João 10, 6-10: A semelhança com a porta das ovelhas. Os que escutavam, os fariseus (Jo 9, 40-41), não entendiam o que significava “entrar pela porta”. Então Jesus explica-lhes: “Eu sou a porta! Todos os que vieram antes de mim são ladrões e salteadores”. A quem se refere Jesus com esta frase tão dura? Provavelmente, pela sua maneira de falar dos salteadores, referia-se aos chefes religiosos que arrastavam as pessoas atrás deles, mas não respondiam às suas esperanças. Não estavam interessados no bem do povo, mas antes no dinheiro e nos seus interesses. Enganavam as pessoas e abandonavam-nas à sua sorte. O critério fundamental para discernir entre o pastor e o salteador é a defesa da vida das ovelhas. Jesus diz: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”! Entrar pela porta significa imitar a conduta de Jesus na defesa da vida das ovelhas. Jesus pede às pessoas para que não sigam a quem se apresenta como se fosse pastor, mas não está interessado na vida das pessoas.
 
João 10, 11-15: A semelhança com o bom pastor . Jesus muda a semelhança. Antes era a porta , agora é o pastor. Todos sabiam o que era um pastor e como vivia e trabalhava. Mas Jesus não é um pastor qualquer: é o bom pastor! A imagem do bom pastor vem do Antigo Testamento. Ao dizer que é o bom pastor, Jesus apresenta-se como aquele que vem cumprir as promessas dos profetas e as esperanças do povo. Há dois pontos em que insiste: 1) – Na defesa da vida das ovelhas: o bom pastor dá a sua vida. 2) – No mútuo entendimento entre o pastor e as ovelhas: o pastor conhece as suas ovelhas e elas conhecem o pastor.
 
O falso pastor, que quer vencer a sua cegueira, deve confrontar a sua própria opinião com a opinião das pessoas. Isto era o que os fariseus não faziam. Eles desprezavam as ovelhas e chamavam-nas gente maldita e ignorante (Jo 7, 49; 9, 34). Pelo contrário, Jesus diz que as pessoas têm uma percepção infalível para saber quem é o bom pastor porque reconhecem a voz do pastor (Jo 10, 4). “Elas conhecem-me” (Jo 10, 14). Os fariseus pensavam que possuíam a certeza de discernir as coisas de Deus. Mas na realidade eram cegos.
 
O discurso sobre o bom pastor encerra duas importantes regras para retirar a cegueira farisaica dos nossos olhos: 1) – Os pastores devem estar muito atentos aos comportamentos das ovelhas porque elas reconhecem a voz do pastor. 2) – As ovelhas devem prestar muita atenção à conduta dos que se dizem pastores para verificar se verdadeiramente lhes interessa a vida das ovelhas, ou se não, ou se são capazes de dar a vida pelas ovelhas. E os pastores de hoje?
 
João 10, 16-18: A meta a que Jesus quer chegar: um só rebanho e um só pastor . Jesus abre o horizonte e diz que tem outras ovelhas que não são deste redil. E elas não ouvem a voz de Jesus, mas quando a ouvirem reconhecerão que Ele é o pastor e segui-lo-ão. Aqui aparece o comportamento ecuménico das comunidades do “Discípulo Amado”.
 
A imagem do pastor na Bíblia -  Na Palestina a sobrevivência do povo dependia em grande parte da posse de cabras e de ovelhas. A imagem do pastor que guia o seu rebanho para as pastagens era muito conhecida, como hoje conhecemos o condutor de autocarros ou o maquinista de comboios. Era normal o uso da imagem do pastor para indicar a função de quem governava ou conduzia o povo. Os profetas criticam os reis porque eram pastores que não se preocupavam com a sua grei e não a conduzia a pastar (Jer 2, 8; 10, 21; 23, 1-12). Esta crítica aos maus pastores aumentou de tal medida que, por culpa dos reis, o povo viu-se arrastado para a escravidão (Ez 34, 1-10; Zac 11, 4-17).
 
Perante a frustração sofrida por causa da ausência de guia por parte dos maus pastores, crescia o desejo ou a esperança de ter, um dia, um pastor que fosse verdadeiramente bom e sincero, que imitasse Deus no modo de conduzir o povo. Nasce assim o salmo: “O Senhor é o meu pastor, nada me falta” (Sal 23, 1-6; Jer 48, 15)! Os profetas esperam que no futuro o próprio Deus seja o pastor que guie o rebanho (Is 40, 11; Ez 34, 11-16). E espera que a partir disto o povo saiba reconhecer a voz do seu pastor: “Escutai hoje a sua voz!” (Sal 95, 7). Esperam que Deus venha na qualidade de Juiz que julgue as ovelhas do rebanho (Ez 34, 17). Nasce o desejo e a esperança de que um dia Deus suscite bons pastores e que o Messias seja um pastor para o povo de Deus (Jer 3, 15; 23, 4).
 
Jesus muda esta esperança em realidade e apresenta-se como o bom pastor, diante dos salteadores que roubavam o povo. Ele apresenta-se como um Juiz que, no fim, julgará como um pastor que separa as ovelhas das cabras (Mt 25, 31-46). Em Jesus cumpre-se a profecia de Zacarias, segundo a qual o bom pastor será perseguido pelos maus pastores, incomodados pela denúncia que Ele faz: “Ferirão o pastor e o rebanho dispersar-se-á” (Zac 13, 7). E finalmente Jesus é tudo: é a porta, o pastor e o cordeiro!
 
Palavra para o caminho - Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância (Jo 10,10). São muitos os cristãos que não chegam, sequer, a suspeitar que a fé é, precisamente, um princípio de vida, e vida sadia. Falta-lhes descobrir, por experiência pessoal, que Deus não é alguém ao qual convém ter em conta por acaso, mas que Deus é, precisamente e antes de mais nada, “alguém que faz viver”.

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