sábado, 15 de abril de 2023

II Domingo da Páscoa

1ª Leitura (At 4,32-35):
A multidão dos que haviam abraçado a fé tinha um só coração e uma só alma; ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas tudo entre eles era comum. Os Apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus com grande poder e gozavam todos de grande simpatia. Não havia entre eles qualquer necessitado, porque todos os que possuíam terras ou casas vendiam-nas e traziam o produto das vendas, que depunham aos pés dos Apóstolos. Distribuía-se então a cada um conforme a sua necessidade.
 
Salmo Responsorial: 117
R. Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia.
 
Diga a casa de Israel: é eterna a sua misericórdia. Diga a casa de Aarão: é eterna a sua misericórdia. Digam os que temem o Senhor: é eterna a sua misericórdia.
 
A mão do Senhor fez prodígios, a mão do Senhor foi magnífica. Não morrerei, mas hei de viver, para anunciar as obras do Senhor. Com dureza me castigou o Senhor, mas não me deixou morrer.
 
A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio do Senhor: é admirável aos nossos olhos. Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria.
 
2ª Leitura (1Jo 5,1-6): Caríssimos: Quem acredita que Jesus é o Messias, nasceu de Deus, e quem ama Aquele que gerou ama também Aquele que nasceu d’Ele. Nós sabemos que amamos os filhos de Deus quando amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos, porque o amor de Deus consiste em guardar os seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados, porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. Esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o vencedor do mundo senão aquele que acredita que Jesus é o Filho de Deus? Este é o que veio pela água e pelo sangue: Jesus Cristo; não só com a água, mas com a água e o sangue. É o Espírito que dá testemunho, porque o Espírito é a verdade.
 
Aleluia. Disse o Senhor a Tomé: «Porque Me viste, acreditaste; felizes os que acreditam sem terem visto». Aleluia.
 
Evangelho (Jo 20,19-31): Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, os discípulos estavam reunidos, com as portas fechadas por medo dos judeus. Jesus entrou e pôs-se no meio deles. Disse: «A paz esteja convosco». Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos, então, se alegraram por verem o Senhor. Jesus disse, de novo: «A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou também eu vos envio». Então, soprou sobre eles e falou: «Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ficarão retidos». Tomé, chamado Gêmeo, que era um dos Doze, não estava com eles quando Jesus veio. Os outros discípulos contaram-lhe: «Nós vimos o Senhor!». Mas Tomé disse: «Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos, se eu não puser a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, os discípulos encontravam-se reunidos na casa, e Tomé estava com eles. Estando as portas fechadas, Jesus entrou, pôs-se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão e coloca-a no meu lado e não sejas incrédulo, mas crê!». Tomé respondeu: «Meu Senhor e meu Deus!». Jesus lhe disse: «Creste porque me viste? Bem-aventurados os que não viram, e creram!». Jesus fez diante dos discípulos muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.
 
«Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados»
 
Rev. D. Joan Ant. MATEO i García (Tremp, Lleida, Espanha)
 
Hoje, segundo Domingo da Páscoa, completamos a oitava deste tempo litúrgico, uma das oitavas —juntamente com a do Natal— que a renovação litúrgica do Concílio Vaticano II manteve. Durante oito dias, contemplamos o mesmo mistério a aprofundamo-lo à luz do Espírito Santo.
 
Por desígnio do Papa João Paulo II, a este Domingo chama-se o Domingo da Divina Misericórdia. Trata-se de algo que vai muito mais além de uma devoção particular. Como explicou o Santo Padre na sua encíclica Dives in misericórdia, a Divina Misericórdia é a manifestação amorosa de Deus em uma história ferida pelo pecado. A palavra “Misericórdia” tem a sua origem em duas palavras: “Miséria” e “Coração”. Deus coloca a nossa miserável situação devida ao pecado no Seu coração de Pai, que é fiel aos Seus desígnios. Jesus Cristo, morto e ressuscitado, é a suprema manifestação e atuação da Divina Misericórdia. «Tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito» (Jo 3,16) e entregou-O à morte para que fossemos salvos. «Para redimir o escravo sacrificou o Filho», temos proclamado no Pregão pascal da Vigília. E, uma vez ressuscitado, constituiu-O em fonte de salvação para todos os que creem nele. Pela fé e pela conversão, acolhemos o tesouro da Divina Misericórdia.
 
A Santa Madre Igreja, que quer que os seus filhos vivam da vida do Ressuscitado, manda que —pelo menos na Páscoa— se comungue na graça de Deus. A cinquentena pascal é o tempo oportuno para cumprir esta determinação. É um bom momento para confessar-se, acolhendo o poder de perdoar os pecados que o Senhor ressuscitado conferiu à sua Igreja, já que Ele disse aos Apóstolos: «Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, ficarão perdoados» (Jo 20,22-23). Assim iremos ao encontro das fontes da Divina Misericórdia. E não hesitemos em levar os nossos amigos a estas fontes de vida: à Eucaristia e à Confissão. Jesus ressuscitado conta conosco.
 
Pensamentos para o Evangelho de hoje
«E a Vós, Senhor, que vedes claramente, com os vossos olhos, os abismos da consciência humana o que, de mim, Te poderia passar despercebido, mesmo que me recusasse a confessá-lo?» (Santo Agostinho)
 
«Muitas vezes pensamos que confessar-nos é como ir à lavandaria. Mas Jesus, no confessionário, não é uma lavandaria. A confissão é um encontro com Jesus que nos espera tal qual somos» (Francisco)
 
«Cristo age em cada um dos sacramentos. Ele dirige-Se pessoalmente a cada um dos pecadores: “Meu filho, os teus pecados são-te perdoados” (Mc 2, 5); Ele é o médico que Se inclina sobre cada um dos doentes com necessidade d'Ele para os curar: alivia-os e reintegra-os na comunhão fraterna. A confissão pessoal é, pois, a forma mais significativa da reconciliação com Deus e com a Igreja» (Catecismo da Igreja Católica, nº 1.484)
 
Tomé e o seu misterioso gémeo
 
P. Manuel João, missionário comboniano
 
Hoje, o segundo Domingo da Páscoa, é a Páscoa de São Tomé! Os temas que o Evangelho nos propõe são muitos: o Domingo (o primeiro dia da semana), a Paz do Ressuscitado e a alegria dos apóstolos, a Missão dos apóstolos (segundo o Evangelho de João), o Pentecostes Joanino, o dom e a tarefa confiada aos apóstolos para perdoar os pecados (pelo qual, há já alguns anos, celebramos o Domingo “da Divina Misericórdia”), a comunidade (da qual Tomé se tinha ausentado!), mas sobretudo o tema da fé. Vou apenas deter-me sobre a figura de Tomé.
 
Tomé, o nosso gémeo - O seu nome, Tomé, significa ‘duplo’ ou ‘gémeo’ (da raiz hebraica Ta’am, grego Dídimo). Tomé ocupa um lugar de destaque entre os apóstolos; talvez seja por isso que lhe foram atribuídos os Atos e o Evangelho de Tomé, apócrifos do século IV, “importantes para o estudo das origens cristãs” (Bento XVI, 27.9.2006).
 
Gostaríamos de saber quem é o gémeo de Tomé. Ele poderia ser Natanael (Bartolomeu). De facto, esta última profissão de fé, feita por Tomé, corresponde à primeira, feita por Natanael, no início do evangelho de João (1,45-51). Além disso, o seu carácter e o comportamento são surpreendentemente semelhantes. Finalmente, os dois nomes aparecem relativamente próximos na lista dos Doze (ver Mateus 10,3; Atos 1,13; e também João 21,2).
 
Este gémeo incógnito dá lugar à afirmação de que Tomé é “o gémeo de cada um de nós” (Tonino Bello). Tomé consola-nos nas nossas dúvidas como crentes. Nele nos espelhamos e, através dos seus olhos e mãos, nós também “vemos” e “tocamos” o corpo do Ressuscitado. Uma interpretação que tem o seu encanto!….
 
Tomé, um “duplo”? - Na Bíblia, o mais famoso par de gémeos é o de Esaú e Jacob (Génesis 25,24-28), antagonistas eternos, expressão da dicotomia e polaridade da condição humana. Será que Tomé (o ‘duplo’!) traz dentro de si o antagonismo desta dualidade? Capaz, por vezes, de gestos de grande generosidade e coragem, enquanto outras vezes é incrédulo e teimoso. Mas quando confrontado com o Mestre, a sua profunda identidade como crente que proclama a sua fé com prontidão e convicção emerge novamente.
 
Tomé traz consigo o seu “gémeo”. O Evangelho apócrifo de Tomé sublinha esta duplicidade: “Antes eras um, mas tornaste-te dois” (n.º 11). “Jesus disse: ‘Quando de dois vos tornardes um, então sereis os filhos de Adão'” (n°105). Tomé é a imagem de todos nós. Também nós carregamos dentro de nós um tal ‘gémeo’, defensor inflexível e firme das suas próprias ideias, obstinado e caprichoso nas suas atitudes.
 
Estas duas realidades ou ‘criaturas’ (o velho e o novo Adão) coexistem mal, em contraste, por vezes em guerra aberta, nos nossos corações. Quem nunca experimentou o sofrimento desta laceração interior?
 
Agora, Tomé tem a coragem de enfrentar esta realidade. Ele permite que o seu lado sombrio, adverso e “descrente” se revele, e isso leva-o a confrontar-se com Jesus. Ele aceita o desafio lançado pela sua interioridade “rebelde” que exige ver e tocar… Leva-a a Jesus. E, perante as evidências, o “milagre” acontece: os dois “Tomés” tornam-se um só e proclamam a mesma fé: “Meu Senhor e meu Deus”!
 
Infelizmente, isto não é o que acontece conosco. As nossas comunidades cristãs são formadas quase exclusivamente pelos ‘bons gémeos’, submissos, mas também … passivos e amorfos! A esses corpos falta vitalidade! O facto é que eles não estão presentes em toda a sua ‘totalidade’. A parte energética, instintiva, a parte que precisaria de ser evangelizada, não aparece no ‘encontro’ com Cristo.
 
Jesus disse que veio para os pecadores, mas as nossas igrejas são frequentadas pelos ‘justos’ que … não sentem a necessidade de se converter! Aquele que deveria converter-se, o outro gémeo, o “pecador”, deixamo-lo tranquilamente em casa. É domingo, e ele aproveita para “descansar” e confia o dia ao “gémeo bom”. Na segunda-feira, então, o gémeo dos instintos e paixões estará em plena forma para assumir de novo o comando.
 
Jesus em busca de Tomé - Oxalá Jesus tivesse muitos Tomé! Na celebração dominical, é sobretudo deles que o Senhor vem em busca… Eles serão os seus “gémeos”! Deus procura homens e mulheres “reais”, que se relacionam com Ele como são: pecadores que “sofrem” na sua própria carne a tirania dos instintos. Crentes que não têm vergonha de aparecer com este lado incrédulo e resistente à graça. Que não vêm para causar uma boa impressão na “assembleia dos crentes”, mas para se encontrar com o Doutor da Misericórdia Divina e ser curados. É destes que Jesus se torna irmão!
 
O mundo precisa do testemunho de crentes honestos, capazes de reconhecer os seus erros, dúvidas e dificuldades, que não escondem a sua “duplicidade” atrás de uma fachada de “respeitabilidade” farisaica.
 
A missão também precisa de discípulos autênticos e não “de pescoço torcido”! De missionários que olham diretamente para a realidade do sofrimento e tocam com as mãos as feridas dos crucificados de hoje!…
 
Tomé convida-nos a reconciliar a nossa duplicidade para fazer a Páscoa! - Palavra de Jesus, segundo o … Evangelho de Tomé (No. 22.27): “Quando fizerdes de dois um e quando tornardes o interior como o exterior e o exterior como o interior, a parte de acima como a de baixo, e fizerdes do homem e da mulher uma só coisa (…), então entrareis no Reino!”

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