sábado, 26 de novembro de 2022

Domingo IV do Advento


1ª Leitura (Is 7,10-14): Naqueles dias, o Senhor mandou ao rei Acaz a seguinte mensagem: «Pede um sinal ao Senhor teu Deus, quer nas profundezas do abismo, quer lá em cima nas alturas». Acaz respondeu: «Não pedirei, não porei o Senhor à prova». Então Isaías disse: «Escutai, casa de David: Não vos basta que andeis a molestar os homens para quererdes também molestar o meu Deus? Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: a virgem conceberá e dará à luz um filho e o seu nome será Emanuel».

Salmo Responsorial: 23
R. Venha o Senhor: é Ele o rei glorioso.

Do Senhor é a terra e o que nela existe, o mundo e quantos nele habitam. Ele a fundou sobre os mares e a consolidou sobre as águas.

Quem poderá subir à montanha do Senhor? Quem habitará no seu santuário? O que tem as mãos inocentes e o coração puro, que não invocou o seu nome em vão nem jurou falso.

Este será abençoado pelo Senhor e recompensado por Deus, seu Salvador. Esta é a geração dos que O procuram, que procuram a face do Deus de Jacó.

2ª Leitura (Rom 1,1-7): Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por chamamento divino, escolhido para o Evangelho que Deus tinha de antemão prometido pelos profetas nas Sagradas Escrituras, acerca de seu Filho, nascido, segundo a carne, da descendência de David, mas, segundo o Espírito que santifica, constituído Filho de Deus em todo o seu poder pela sua ressurreição de entre os mortos: Ele é Jesus Cristo, Nosso Senhor. Por Ele recebemos a graça e a missão de apóstolo, a fim de levarmos todos os gentios a obedecerem à fé, para honra do seu nome, dos quais fazeis parte também vós, chamados por Jesus Cristo. A todos os que habitam em Roma, amados por Deus e chamados a serem santos, a graça e a paz de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo.

Aleluia. Ó Adonai, guia da casa de Israel, / que aparecestes a Moisés na sarça ardente / e lhe destes vossa lei sobre o Sinai: / vinde salvar-nos com o braço poderoso!” Aleluia.

 Evangelho (Mt 1,18-24): Ora, a origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, pensou em despedi-la secretamente. Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: «José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados». Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: « Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: ‘Deus-conosco’». Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa.


«Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado»

+ Rev. D. Pere GRAU i Andreu (Les Planes, Barcelona, Espanha)

Hoje a liturgia da Palavra convida-nos a considerar e a admirar a figura de são José, um homem verdadeiramente bom. De Maria, a Mãe de Deus se diz que era bendita entre todas as mulheres (cf. Lc 1,42). De José se escreveu que era justo (cf. Mt 1,19).

Todos devemos a Deus Pai Criador a nossa identidade individual como pessoas feitas à sua imagem e semelhança, com real liberdade e radical. Como a resposta a esta liberdade podemos dar glória a Deus, como se merece ou, também podemos fazer de nós mesmos, alguma coisa não agradável aos olhos de Deus.

Não duvidemos de que José, com o seu trabalho, com o seu compromisso familiar e social ganhou o “Coração” do Criador, consideremo-lo como homem de confiança na colaboração da Redenção humana por meio do seu Filho feito homem como nós.
 
Apreendemos, pois, de são José sua fidelidade —provada já desde o princípio— e o seu bom comportamento durante o resto da sua vida, unida —intimamente—a Jesus e a Maria.

É padroeiro e intercessor para todos os pais, biológicos ou não, que neste mundo ajudaram a seus filhos a dar uma resposta semelhante à de ele. É o padroeiro da Igreja, como identidade ligada estreitamente ao seu Filho e, continuamos a ouvir as palavras de Maria quando encontra o Menino Jesus que se havia “perdido” no Templo: «O teu pai e eu...» (Lc 2,48).

Com Maria, nossa Mãe, encontramos a José como pai. Santa Teresa de Jesus deixou escrito: «Tomei por advogado e senhor ao glorioso são José e encomendei-me muito a ele (...). Não me lembro que lhe haja suplicado alguma coisa que a haja deixado de fazer».

Especialmente é pai para aqueles que tendo escutado a chamada do Senhor a ocupar, pelo ministério sacerdotal, o lugar que nos cede Jesus Cristo para o bem da Igreja. —São José glorioso: protege as nossas famílias, protege as nossas comunidades; protege a todos aqueles que ouviram a chamada à vocação sacerdotal... E que haja muitos.

Ele salvará o povo dos seus pecados.

Escrito por P. Américo, no site DOMUS IESU

Este trecho evangélico de S. Mateus está obviamente relacionado com a primeira leitura de hoje, pois faz dela uma citação praticamente à letra. Pese embora o facto de que o nascimento de Jesus exclua por completo o concurso humano, no entanto, no plano jurídico e social, por assim dizer, Ele é «assumido», através de José, como descendente e «filho de David». José, como é compreensível, tem muitas dificuldades em compreender o que se está a passar - como as tinha tido Maria no ato da anunciação - mas, depois de, no meio dum sonho, ter chegado ao conhecimento da vontade de Deus, reconhece, de bom grado, Jesus como seu filho. Então, dando-lhe o nome (segundo a versão de Mateus, é a José que cabe atribuir o nome ao Menino), transmite-lhe todos os direitos dum descendente da casa de David. Seja como for, o episódio (pontual, é verdade) parece-me que tem também a intenção e o condão de «demonstrar» que a salvação, que é exclusiva de Deus, não se concretiza, no entanto, sem a cooperação do homem. E isso é também verdade na sua aplicação. Ou seja, a salvação de Deus são será nossa salvação a não ser quando a acolhermos como tal.

* Deus-conosco, Deus-para-nós. O Messias está inserido na nossa história e, por conseguinte, o seu reconhecimento como tal está também sujeito às contingências próprias de tudo quanto é humano. Se é verdade que, como diziam os antigos, a natureza não dá saltos, não é menos verdade que, como regra, também não há saltos bruscos no processo do conhecimento.

O reconhecimento da messianidade de Jesus segue o mesmo processo que seguiu a sua passagem terrestre. Dele se diz que se fez «carne». Nesse sentido, em termos bíblicos, ao contrário do que possa parecer, não há necessariamente antagonismo entre «carne» e «espírito». Esta dicotomia, que persiste ainda nossa cultura de índole judaico-cristã, é muito mais de origem grega do que de origem bíblica. À cultura chamada «ocidental» chegou e lançou raízes esta divisão do homem em matéria e espírito. Mas a visão bíblica não é bem essa. Para a Bíblia, o homem é ao mesmo tempo matéria e espírito. O que, de resto, até é compreensível e defensável em teoria segundo os parâmetros da cultura bíblica.

Quando deparamos nas páginas bíblicas com o binómio «carne-espírito», não se trata necessária e propriamente duma contraposição e muito menos duma oposição, mas sim duma constatação que diz respeito à totalidade do homem como tal. Esses termos não têm que ser entendidos necessariamente no seu sentido imediato, mas sim como uma espécie de estado de alma. Ou seja, o homem «carnal» é aquele (matéria e espírito) cuja existência é pautada por tudo aquilo que conduz à morte; e o homem «espiritual» é aquele (matéria e espírito) cuja existência é pautada por tudo aquilo que conduz à vida.

Por isso, quando lemos no evangelista João, logo no prólogo do seu Evangelho (cf. Jo 1,14), que o «Verbo se fez carne», devemos entender simplesmente que o Verbo assumiu a natureza humana (tornou-se um ser humano, material e espiritual ao mesmo tempo), para restituir novamente ao homem a sua situação de «espírito», no sentido de lhe transmitir de novo aquele gérmen de vida que o liberta dos laços que o prendem à morte.

* Jesus: Filho de Deus e filho do homem. Mas, deixando de parte estas considerações filosofejantes que, se calhar, pouco interesse têm para o teor destes comentários, importa realçar a condição do Verbo simultaneamente como Filho de Deus e como filho do homem (ser humano). É enquanto tal que o Verbo estabelece a ponte entre Deus e os homens. Com efeito, Ele sempre foi Deus desde toda a eternidade (como professa S. João no prólogo do seu Evangelho), mas foi também plenamente homem, porque, a partir e durante um determinado período histórico, Ele assumiu também todos os condicionalismos inerentes à natureza humana.

É que, bem-vistas as coisas, tenho por certo que só pode estabelecer esta ponte de contacto entre o Infinito e o finito alguém que seja ao mesmo tempo verdadeiro Deus e verdadeiro homem (como, de resto, se aprende na catequese). O finito (natureza humana compreendida naturalmente), por mais perfeito que seja, nunca poderá ter a capacidade de estabelecer contacto com o Infinito. Isso só é possível, de facto, se o próprio Infinito tomar a decisão de estabelecer esse contacto. «Nascido da descendência de David, segundo a carne, e constituído Filho de Deus... pela ressurreição de entre os mortos» (Rm 1,3-4) é uma outra forma de Paulo traduzir a mesma ideia.

* Mas as dúvidas subsistem.  Estes pressupostos lançam a base para a mensagem fundamental da narração evangélica deste dia, que fala do nascimento de Jesus em circunstâncias extraordinárias. Obviamente, Mateus não estava em condições de utilizar o tipo de linguagem (teológica) utilizada por nós e que, só muito mais tarde, começou a fazer parte da cultura cristã. De qualquer forma, o que ele quer dizer é que tudo se passa fora dos esquemas normais. Tanto é que nem sequer José, a quem é dado o título de justo, está em condições de entender.

O evangelista Mateus provavelmente não se pôs tantas perguntas como nós para narrar estes acontecimentos: Porque é que José queria abandonar Maria em segredo se a própria Lei lho permitia fazer abertamente? Porque é que Maria não contou logo como é que as coisas se tinham passado? Ou tê-las-á contado e, mesmo assim, a situação não ficou esclarecida? Ou, ao contrário, a intenção de Mateus era muito mais simples, de tal maneira que nem sequer suspeitou de que iria criar tantas complicações aos estudiosos com a sua descrição? Seja como for, a verdade é que, no texto de Mateus, há alguns factos que são claros e peremptórios: aquele era um nascimento muito especial, pelo que adveio uma intervenção extraordinária por parte de Deus; esse Jesus era, ao mesmo tempo, «Emanuel» (ou seja, «Deus-conosco») e descendente de David, através da paternidade que lhe era outorgada por José, longínquo descendente da casa de David.

Em conclusão, o evangelista Mateus utiliza vários instrumentos, digamos assim, para nos transmitir que, afinal, o nascimento de Jesus (que significa «o Senhor salva» e, por isso mesmo, Salvador) se insere naquilo a que teologicamente se designa por «mistério da Encarnação». Por outras palavras, o próprio Deus faz-se «sócio» e companheiro de viagem, encarnando na pessoa de Jesus de Nazaré, nascido de Maria e perfilhado por José.

* Obra-prima de Deus. As razões ou desígnios por que Deus se «dá ao trabalho» de prescindir, por assim dizer, de todas as suas prerrogativas divinas (cf. Fl 2,7), para se fazer um de nós, eu não os compreendo. O que posso é  suspeitar de que tenha sido por amor (e o amor, capaz de fazer coisas impossíveis, não se explica). Mas duma coisa estou absolutamente certo: Deus até pode fazer o impossível (passe a expressão contraditória) porque «a Deus nada é impossível» (cf. Lc 1,37).

Ora, se, baseado na fé, eu partir do princípio de que a Deus nada é impossível, então não vejo por que lhe seria impossível fazer-se também homem e, mais, também não custa nada a admitir que o pudesse fazer pela colaboração e pelo «sim» duma Virgem que, apesar de ser mãe, não deixa de ser virgem. Partindo desse princípio como premissa, é claro que a Deus não é impossível fazer com que uma virgem seja mãe, sem por isso deixar de ser virgem. É claro que, em linha de princípio, Ele também poderia ter encarnado através dum processo normal de gestação. Não haveria no caso nenhuma impossibilidade ontológica, digamos assim. Isso é certo, mas que melhor forma de Deus acentuar a sua intervenção absolutamente excecional na história da humanidade senão também através dum nascimento por via excecional, como é o que se celebra com a festa do Natal de Jesus?

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