quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Sábado XX do Tempo Comum

São Bernardo, abade e doutor da Igreja
Bto Georg Häfner, Presbítero, Mártir e Terceiro Carmelita

1ª Leitura (Ez 43,1-7): O Anjo levou-me até à porta do templo que está voltada para o oriente. A glória do Deus de Israel vinha do lado do oriente, com o rumor semelhante ao marulhar das águas caudalosas e a terra resplandecia com a sua glória. A visão que eu contemplava era semelhante à visão que eu tive quando ele veio para destruir a cidade e à que me tinha aparecido nas margens do rio Quebar. Então prostrei-me com o rosto em terra. A glória do Senhor entrou no templo pela porta que está voltada para o oriente. O espírito levantou-me e introduziu-me no átrio interior: a glória do Senhor enchia o templo. Então ouvi Alguém que me falava do interior do templo, enquanto o homem estava de pé junto de mim. E disse-me: «Filho do homem, é este o lugar do meu trono, o lugar onde assentam as plantas dos meus pés; aqui habitarei para sempre, no meio dos filhos de Israel».

Salmo Responsorial: 84
R. A glória do Senhor habitará na nossa terra.

Escutemos o que diz o Senhor: Deus fala de paz ao seu povo e aos seus fiéis. A sua salvação está perto dos que O temem e a sua glória habitará na nossa terra.

Encontraram-se a misericórdia e a fidelidade, abraçaram-se a paz e a justiça. A fidelidade vai germinar da terra e a justiça descerá do Céu.

O Senhor dará ainda o que é bom e a nossa terra produzirá os seus frutos. A justiça caminhará à sua frente e a paz seguirá os seus passos.

Aleluia. Um só é o vosso Pai, o Pai celeste; um só é o vosso mestre, Jesus Cristo. Aleluia.

Evangelho (Mt 23,1-12): Naquele tempo, Jesus falou às multidões e aos discípulos: “os escribas e os fariseus sentaram-se no lugar de Moisés para ensinar. Portanto, tudo o que eles vos disserem, fazei e observai, mas não imiteis suas ações! Pois eles falam e não praticam. Amarram fardos pesados e insuportáveis e os põem nos ombros dos outros, mas eles mesmos não querem movê-los, nem sequer com um dedo. Fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros, usam faixas bem largas com trechos da Lei e põem no manto franjas bem longas. Gostam do lugar de honra nos banquetes e dos primeiros assentos nas sinagogas, de serem cumprimentados nas praças públicas e de serem chamados de "Rabi". Quanto a vós, não vos façais chamar de "Rabi", pois um só é vosso Mestre e todos vós sois irmãos. Não chameis a ninguém na terra de "Pai", pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. Não deixeis que vos chamem de "Guia", pois um só é o vosso Guia, o Cristo. Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve. Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado».

«Quem se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado»

Rev. D. Antoni CAROL i Hostench (Sant Cugat del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, Jesus Cristo chama-nos novamente à humildade, é um convite para situarmos no lugar certo, que nos pertence: «Quanto a vós, não vos façais chamar de ‘rabi’, (...). Não chameis a ninguém na terra de ‘pai’, pois um só é vosso Pai, aquele que está nos céus. Não deixeis que vos chamem de ‘guia’, pois um só é o vosso Guia, o Cristo» (Mt 23,8-10). Antes de nos apropriar de todos esses títulos, procuremos dar graças a Deus, por tudo o que temos e que recebemos dele.

Como diz São Paulo, «Que tens que não tenhas recebido? Mas, se recebeste tudo que tens, por que, então, te glorias, como se não o tivesses recebido?» (I Cor 4,7). De maneira que, quando tenhamos consciência de ter agido corretamente, faremos bem em repetir: «Somos simples servos, fizemos o que devíamos fazer» (Lc 17,10).

O homem moderno padece de uma lamentável amnésia: vivemos e agimos como se fôssemos, nós mesmos, os autores da vida e os criadores do mundo. Ao contrário disto, Aristóteles provoca admiração, ele quem na sua teologia natural —desconhecia o conceito de "criação" (noção conhecida naqueles tempos somente pela Divina Revelação), ao menos, tinha claro que este mundo dependia da Divindade (a "causa incausada"). João Paulo II chama-nos a conservar a memória da dívida que temos contraída com nosso Deus: «É preciso que o homem dê honra ao Criador, oferecendo-lhe, em ação de graças e louvores, tudo o que dele tem recebido. O homem não pode perder o sentido desta dívida, que somente Ele, dentre todas as outras realidades terrestres, pode reconhecer».

Além do mais, pensando na vida sobrenatural, nossa colaboração — Ele não fará nada sem nossa autorização, sem nosso esforço!— consiste em não perturbar o trabalho do Espírito Santo: Deixar Deus fazer! Que a santidade não a "fabricamos" nós, mas Ele a outorga, Ele que é Mestre, Pai e Guia. Em todo caso, se acreditamos que somos e temos algo, esforcemo-nos em colocá-lo ao serviço dos outros: «o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve» (Mt 23,11).

Pensamentos para o Evangelho de hoje
«Haverá algo mais triste que um mestre quando a única forma que tem para salvar os seus discípulos seja a de lhes dizer para não se concentrarem na vida do que lhes fala? Acreditarão nas nossas obras mais do que em qualquer outro discurso» (São João Crisóstomo)

«A verdadeira originalidade do Novo Testamento não consiste nas novas ideias, mas sim, na própria figura de Cristo que dá a carne e o sangue aos [próprios] conceitos: um realismo inaudito» (Benedito XVI)

«Pela sua submissão a Maria e a José, assim como pelo seu trabalho humilde em Nazaré durante longos anos, Jesus dá-nos o exemplo da santidade na vida quotidiana da família e do trabalho» (Catecismo da Igreja Católica, nº 564)

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* O evangelho de hoje faz parte da longa crítica de Jesus contra os escribas e fariseus (Mt 23,1-39). Lucas e Marcos têm apenas alguns trechos desta crítica contra as lideranças religiosas da época. Só o evangelho de Mateus traz o discurso por inteiro. Este texto tão severo deixa entrever com era grande a polêmica das comunidades de Mateus com as comunidades dos judeus daquela época na Galileia e Síria.

* Ao ler estes textos fortemente contrários aos fariseus devemos tomar muito cuidado para não sermos injustos com o povo judeu. Nós cristãos, durante séculos, tivemos atitudes antijudaicas e, por isso mesmo, anticristãs. O que importa ao meditar estes textos é descobrir o seu objetivo: Jesus condena a incoerência e a falta de sinceridade no relacionamento com Deus e com o próximo. Ele está falando contra a hipocrisia tanto a deles de ontem, como a nossa de hoje!

* Mateus 23,1-3: O erro básico: dizem, mas não fazem, Jesus se dirige à multidão e aos discípulos e faz uma crítica aos escribas e fariseus. O motivo do ataque é a incoerência entre a palavra e a prática. Falam e não praticam. Jesus reconhece a autoridade e o conhecimento dos escribas. “Estão sentados na cátedra de Moisés. Por isso, observai o que eles mandam! Mas não imitai suas ações, pois dizem, mas não fazem!”

* Mateus 23,4-7: O erro básico se manifesta de várias maneiras. O erro básico é a incoerência: “Dizem, mas não fazem”.  Jesus enumera vários pontos que revelam a incoerência. Alguns escribas e fariseus impunham leis pesadas ao povo. Eles conheciam bem as leis, mas não as praticavam, nem usavam o seu conhecimento para aliviar a carga nos ombros do povo. Faziam tudo para serem vistos e elogiados, usavam roupas especiais de oração, gostavam dos lugares de honra e das saudações em praça pública. Queriam ser chamados de “Mestre!” Eles representavam um tipo de comunidade que mantinha, legitimava e alimentava as diferenças de classe e de posição social. Legitimava os privilégios dos grandes e a posição inferior dos pequenos. Ora, se há uma coisa de que Jesus não gostava é de aparências que enganam.

* Mateus 23,8-12: Como combater o erro básico. Como deve ser uma comunidade cristã? Todas as funções comunitárias devem ser assumidas como um serviço: “O maior entre você será aquele que serve!” A ninguém devem chamar de Mestre (Rabino), nem de Pai, nem de Guia. Pois a comunidade de Jesus deve manter, legitimar e alimentar não as diferenças, mas sim a fraternidade. Esta é a lei básica: “Vocês todos são irmãos e irmãs!” A fraternidade nasce da experiência de que Deus é Pai, o que faz de todos nós irmãos e irmãs. “Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado!”

* O grupo dos Fariseus. O grupo dos fariseus nasceu no século II antes de Cristo com a proposta de uma observância mais perfeita da Lei de Deus, sobretudo das prescrições da pureza. Eles eram mais abertos às novidades do que os saduceus. Por exemplo, aceitavam a fé na ressurreição e a fé nos anjos, coisa que os saduceus não aceitavam. A vida dos fariseus era um testemunho exemplar: rezavam e estudavam a lei durante oito horas por dia; trabalhavam durante oito horas para poder sobreviver; faziam descanso e lazer durante oito horas. Por isso, tinham grande liderança junto do povo. Deste modo, eles ajudaram o povo a conservar sua identidade e a não se perder, ao longo dos séculos.

* A mentalidade chamada farisaica.  Com o tempo, porém, os fariseus se agarraram ao poder e já não escutavam os apelos do povo nem deixavam o povo falar. A palavra “fariseu” significa “separado”. A observância deles era tão estrita e rigorosa, que eles se distanciavam do comum do povo. Por isso, eram chamados de “separados”. Daí nasce a expressão "mentalidade farisaica" É de pessoas que pensam poder conquistar a justiça através de uma observância estrita e rigorosa da Lei de Deus. Geralmente, são pessoas medrosas, que não têm coragem de assumir o risco da liberdade e da responsabilidade. Elas se escondem atrás das leis e das autoridades. Quando estas pessoas alcançam uma função de mando, tornam-se duras e insensíveis para esconder a sua imperfeição.

* Rabino, Guia, Mestre, Pai. São os quatro títulos que Jesus proíbe a gente de usar. Hoje, na igreja, os sacerdotes são chamados de “pai” (padre). Muitos estudam nas universidades da igreja e conquistam o título de “Doutor” (mestre). Muita gente faz direção espiritual e se aconselha com pessoas que são chamadas “Diretor espiritual” (guia). O que importa é que se tenha em conta o motivo que levou Jesus a proibir o uso destes títulos. Se forem usados para a pessoa se firmar numa posição de autoridade e de poder, ela estará errada e cai debaixo da crítica de Jesus. Se forem usados para alimentar e aprofundar a fraternidade e o serviço, não caem debaixo da crítica de Jesus.

Para um confronto pessoal
1. Quais as motivações que eu tenho para viver e trabalhar na comunidade?
2. Como a comunidade vem me ajudando a corrigir e melhorar minhas motivações?

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