segunda-feira, 18 de julho de 2022

SOLENIDADE DE NOSSO PAI SANTO ELIAS, PROFETA

1ª leitura: 1Rs 19,1-9.11-14 - Acab contou a Jezabel tudo que Elias tinha feito e como tinha passado ao fio da espada todos os profetas de Baal. Então Jezabel mandou um mensageiro a Elias para lhe dizer: “Os deuses me cumulem de castigos, se amanhã, a esta hora, eu não tiver feito contigo o mesmo que fizeste com a vida desses profetas”. Elias ficou com medo e, para salvar sua vida, partiu. Chegou a Bersabéia de Judá e ali deixou o seu servo. Depois, adentrou o deserto e caminhou o dia todo. Sentou-se, finalmente, debaixo de um junípero e pediu para si a morte, dizendo: “Agora basta, Senhor! Tira a minha vida, pois não sou melhor que meus pais”. E, deitando-se no chão, adormeceu à sombra do junípero. De repente, um anjo tocou-o e disse: “Levanta-te e come!” Ele abriu os olhos e viu junto à sua cabeça um pão assado na pedra e um jarro de água. Comeu, bebeu e tornou a dormir. Mas o anjo do Senhor veio pela segunda vez, tocou-o e disse: “Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer”. Elias levantou-se, comeu e bebeu, e, com a força desse alimento, andou quarenta dias e quarenta noites, até chegar ao Horeb, o monte de Deus. Chegando ali, entrou numa gruta, onde passou a noite. Então a palavra do Senhor veio a ele, dizendo: “Que fazes aqui, Elias?” Ele respondeu: “Estou ardendo de zelo pelo Senhor, Deus dos exércitos, porque os israelitas abandonaram tua aliança, demoliram teus altares, mataram à espada teus profetas. Só eu escapei; mas agora querem matar-me também”. O Senhor disse-lhe: “Sai e permanece sobre o monte diante do Senhor”. Então o Senhor passou. Antes do Senhor, porém, veio um vento impetuoso e forte, que desfazia as montanhas e quebrava os rochedos, mas o Senhor não estava no vento. Depois do vento houve um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto. Passado o terremoto, veio um fogo, mas o Senhor não estava no fogo. E depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa. Ouvindo isto, Elias cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da gruta. Ouviu, então, uma voz que dizia: “Que fazes aqui, Elias?”  Ele respondeu: “Estou ardendo de zelo pelo Senhor, Deus dos exércitos, porque os israelitas abandonaram tua aliança, demoliram teus altares e mataram à espada teus profetas. Só eu escapei. Mas, agora, querem matar-me também”.

Salmo de meditação
R: Diante dos meus olhos tenho presente o Senhor.

Protege-me, ó Deus: em ti me refugio. Eu digo ao Senhor: “És tu o meu Senhor, fora de ti não tenho bem algum”.

O Senhor é a minha parte da herança e meu cálice. Nas tuas mãos, a minha porção. Para mim a sorte caiu em lugares deliciosos, maravilhosa é minha herança.

Sempre coloco à minha frente o SENHOR, ele está à minha direita, não vacilo. Disso se alegra meu coração, exulta a minha alma; também meu corpo repousa seguro,

pois não vais abandonar minha vida no sepulcro, nem vais deixar que teu santo experimente a corrupção, O caminho da vida me indicarás, alegria plena à tua direita, para sempre.

2ª Leitura: 1Pd 1,8-12 - Sem terdes visto o Senhor, vós o amais. Sem que agora o estejais vendo, credes nele. Isto será para vós fonte de alegria inefável e gloriosa, pois obtereis aquilo em que acreditais: a vossa salvação.  Esta salvação tem sido objeto das investigações e meditações dos profetas. Eles profetizaram a respeito da graça que estava destinada para vós. Procuraram saber a que época e a que circunstâncias se referia o Espírito de Cristo, que estava neles, ao anunciar com antecedência os sofrimentos de Cristo e a glória que viria depois.  Foi-lhes revelado que não para si mesmos, mas para vós é que estavam ministrando esses ensinamentos, que agora são anunciados a vós. Agora vo-los anunciam aqueles que vos pregam a Boa Nova em virtude do Espírito Santo, enviado do céu; são revelações que até os anjos desejam contemplar!

Aleluia. “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!” Aleluia.

Evangelho: Lc 9,28b-36 - Naquele tempo, Jesus levou consigo Pedro, João e Tiago, e subiu à montanha para orar. Enquanto orava, seu rosto mudou de aparência e sua roupa ficou branca e brilhante. Dois homens conversavam com ele: eram Moisés e Elias. Apareceram revestidos de glória e conversavam sobre a saída deste mundo que Jesus iria consumar em Jerusalém. Pedro e os companheiros estavam com muito sono. Quando acordaram, viram a glória de Jesus e os dois homens que estavam com ele. E enquanto esses homens iam se afastando, Pedro disse a Jesus: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Nem sabia o que estava dizendo. Estava ainda falando, quando desceu uma nuvem que os cobriu com sua sombra. Ao entrarem na nuvem, os discípulos ficaram cheios de temor. E da nuvem saiu uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!” Enquanto a voz ressoava, Jesus ficou sozinho. Os discípulos ficaram calados e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.

“Este é o meu Filho, o Escolhido”.

O Evangelho de hoje nos traz mais uma ocasião extraordinária, a conhecida transfiguração de Jesus. Diz-se, nas outras versões evangélicas, que seu rosto resplandecia e suas vestes eram brancas como nunca se tinham visto. A conversa de Jesus com os grandes profetas do Antigo Testamento é, contudo, sobre a morte que sofrerá em Jerusalém.

É uma imagem que nos revela a essência contrastante do Cristianismo: de um lado, a grandeza de Deus, seu poder, sua luz; do outro, a morte de seu Filho, sua submissão ao poder humano, a cegueira do homem, que não O reconheceu.

A escolha de Jesus, de levar consigo apenas três de seus apóstolos, faz pensar que nem todos terão a chance de ver que, por trás de quem sofre, de quem dá a vida pela justiça, de quem se doa por bondade, por trás de cada um que, de alguma forma, se configura com o Jesus que padece em Jerusalém, está, na verdade, o poder de Deus, sua clareza e seu olhar completo e amoroso sobre a história da humanidade.

Por que poucos veem essa transfiguração? Creio ser necessária alguma caminhada, certa intimidade com Jesus, para perceber o mistério do Cristianismo, isto é, a possibilidade de conviverem luz e escuridão, amor e dor, paz e guerra…

É preciso escutar o que o Filho Amado diz. Ora, penso que ele tenha dito aos discípulos da necessidade de descer o monte e viver a oração na caminhada até Jerusalém. Também a nós, que enxergamos, através da discrição de Deus, sua presença grandiosa, Jesus afirma a incoerência que seria fazer três tendas, isto é, monopolizar a visão que tivemos da bondade de Deus, de sua grandeza e de sua luz.

É necessário, ao contrário, ao enxergar o amor de Deus, sua bondade, paz e alegria, levá-los a quem não os pode buscar em cima do monte. Isso se faz descendo o monte e entrando nos lugares mais arriscados. Nesse processo, muito importante ter em mente que a luz que de Deus nos vem, ao invés de nos fazer ver apenas, compromete-nos com a cegueira do próximo, que deve ser curada pelo meu testemunho vivo.

“Escutem o que ele diz!"

O nosso texto de hoje vem logo após o diálogo com Pedro e os discípulos, na estrada de Cesareia de Filipe, sobre quem era Jesus e como deveria ser o seu seguimento: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga” (9,23). Começando a passagem com as palavras: “oito dias após dizer essas palavras”, Lucas quer ligar estreitamente o texto com a mensagem anterior sobre o seguimento de Jesus até a cruz.

O texto destaca um aspecto de Jesus que é muito caro a Lucas - o fato que Ele era um homem de oração. Neste momento Ele “subiu à montanha para rezar” (v. 28). Durante a oração, aparecem Moisés e Elias, símbolos da Lei e dos Profetas, duas das figuras mais importantes do Antigo Testamento. Assim, Lucas mostra que Jesus está em continuidade com as Escrituras, isso é, o caminho que Jesus segue está de acordo com a vontade de Deus. Os dois personagens, tanto Moisés como Elias, eram profetas rejeitados e perseguidos no seu tempo - Lucas aqui vislumbra o destino de Jesus, de ser rejeitado, mas também de ser vindicado por Deus. Pedro, ao despertar do sono, faz uma sugestão descabida: “Mestre, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, uma outra para Moisés e outra para Elias” (v. 33). Claro, era bom ficar ali, em um momento místico, longe do dia a dia, da caminhada, das dúvidas, dos desentendimentos, da luta. Quem não quereria? Mas não era uma sugestão que Jesus pudesse aceitar. Terminado o momento de revelação, “Jesus estava sozinho” e no dia seguinte “desceram da montanha” (v. 37). Por tão gostoso que seja ficar no Monte Tabor, é preciso descer para enfrentar o caminho até o Monte Calvário! A experiência da Transfiguração está intimamente ligada com a experiência da Cruz! Quem sabe, talvez a experiência do Tabor desse a Jesus a coragem necessária para aguentar a experiência bem dolorida do Calvário!

Aplicando o texto e a sua mensagem a todos os cristãos, podemos deduzir que todos precisam subir o Monte Tabor para serem transfigurados, para depois descerem para “lavar os pés” dos irmãos e irmãs! Todos nós, seja qual for a nossa vocação, precisamos de momentos de oração profunda, de união especial com Deus. Isso torna-se cada vez mais importante no mundo atual de ritmo quase frenético, de estresse e correria. Temos que descobrir como criar espaços de tempo para respirarmos mais profundamente a presença de Deus, para renovarmos as nossas forças e o nosso ânimo. Estas experiências não devem ser “intimistas”; pelo contrário, devem aprofundar a nossa fé e o nosso seguimento, para que possamos seguir o exemplo d’Aquele que lavou os pés dos discípulos: “Eu, que sou o Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros” (Jo 13, 14).

Esse trecho pode nos ensinar a valorizar os momentos de “Tabor”, os momentos de paz, de reflexão, de oração. Pois, se formos coerentes com a nossa fé, teremos muitas vezes de fazer a experiência de “Calvário”! Somos fracos demais para aguentar esta experiência contando somente com as nossas próprias forças e recursos humanos - por isso, busquemos forças na oração, na Palavra de Deus, na meditação - sempre para que possamos retomar o caminho, como fizerem Jesus e os três discípulos! Para os momentos de dúvida e dificuldade, o texto nos traz o conselho melhor possível, através da voz que saiu da nuvem: “Este é o meu Filho, o Escolhido. Escutem o que ele diz!” (v. 35). Façamos isso, e venceremos os nossos Calvários!

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