segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

Domingo VII do Tempo Comum

Stos Francisco e Jacinta Marto, leigos

1ª Leitura (1Sam 26,2.7-9.12-13.22-23): Naqueles dias, Saul, rei de Israel, pôs-se a caminho e desceu ao deserto de Zif com três mil homens escolhidos de Israel, para irem em busca de David no deserto. David e Abisaí penetraram de noite no meio das tropas: Saul estava deitado a dormir no acampamento, com a lança cravada na terra à sua cabeceira; Abner e a sua gente dormia à volta dele. Então Abisaí disse a David: «Deus entregou-te hoje nas mãos o teu inimigo. Deixa que de um só golpe eu o crave na terra com a sua lança e não terei de o atingir segunda vez». Mas David respondeu a Abisaí: «Não o mates. Quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar impune?». David levou da cabeceira de Saul a lança e o cantil e os dois foram-se embora. Ninguém viu, ninguém soube, ninguém acordou. Todos dormiam, por causa do sono profundo que o Senhor tinha feito cair sobre eles. David passou ao lado oposto e ficou ao longe, no cimo do monte, de sorte que uma grande distância os separava. Então David exclamou: «Aqui está a lança do rei. Um dos servos venha buscá-la. O Senhor retribuirá a cada um segundo a sua justiça e fidelidade. Ele entregou-te hoje nas minhas mãos e eu não quis atentar contra o ungido do Senhor».

Salmo Responsorial: 102

R. O Senhor é clemente e cheio de compaixão.

Bendiz, ó minha alma, o Senhor e todo o meu ser bendiga o seu nome santo. Bendiz, ó minha alma, o Senhor e não esqueças nenhum dos seus benefícios.

Ele perdoa todos os teus pecados e cura as tuas enfermidades; salva da morte a tua vida e coroa-te de graça e misericórdia.

O Senhor é clemente e compassivo, paciente e cheio de bondade; não nos tratou segundo os nossos pecados, nem nos castigou segundo as nossas culpas.

Como o Oriente dista do Ocidente, assim Ele afasta de nós os nossos pecados; como um pai se compadece dos seus filhos, assim o Senhor Se compadece dos que O temem.

2ª Leitura (1Cor 15,45-49): Irmãos: O primeiro homem, Adão, foi criado como um ser vivo; o último Adão tornou-se um espírito que dá vida. O primeiro não foi o espiritual, mas o natural; depois é que veio o espiritual. O primeiro homem, tirado da terra, é terreno; o segundo homem veio do Céu. O homem que veio da terra é o modelo dos homens terrenos; o homem que veio do Céu é o modelo dos homens celestes. E assim como trouxemos em nós a imagem do homem terreno, traremos também em nós a imagem do homem celeste.

Aleluia. Dou-vos um mandamento novo, diz o Senhor: amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. Aleluia.

Evangelho (Lc 6,27-38): Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: «A vós, porém, que me escutais, eu digo: amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam. Falai bem dos que falam mal de vós e orai por aqueles que vos caluniam. Se alguém te bater numa face, oferece também a outra. E se alguém tomar o teu manto, deixa levar também a túnica. Dá a quem te pedir e, se alguém tirar do que é teu, não peças de volta. Assim como desejais que os outros vos tratem, tratai-os do mesmo modo. Se amais somente aqueles que vos amam, que generosidade é essa? Até os pecadores amam aqueles que os amam. E se fazeis o bem somente aos que vos fazem o bem, que generosidade é essa? Os pecadores também agem assim. E se prestais ajuda somente àqueles de quem esperais receber, que generosidade é essa? Até os pecadores prestam ajuda aos pecadores, para receberem o equivalente. Amai os vossos inimigos, fazei o bem e prestai ajuda sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande. Sereis filhos do Altíssimo, porque ele é bondoso também para com os ingratos e maus. Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados. Dai e vos será dado. Uma medida boa, socada, sacudida e transbordante será colocada na dobra da vossa veste, pois a medida que usardes para os outros, servirá também para vós».

«Sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso»

Rev. D. Jaume AYMAR i Ragolta (Badalona, Barcelona, Espanha)

Hoje, no Evangelho, o Senhor pede-nos duas vezes que amemos os nossos inimigos. E oferece, seguidamente, três situações concretas e positivas deste mandamento: fazei o bem aos que vos odeiam, benzei aos que vos maldizem e orai por aqueles que vos caluniam. É um mandamento que parece difícil de cumprir: como podemos amar os que não nos amam? Mais ainda, como podemos amar aqueles que temos a certeza de que nos querem mal? Chegar a amar desta maneira é um dom de Deus, mas é preciso que estejamos abertos a Ele. Bem pensado, amar os inimigos é humanamente falando, a coisa mais sábia que podemos fazer: o inimigo amado sente-se desarmado; amá-lo pode ser condição da possibilidade de deixar de ser inimigo. Jesus continua nesta mesma linha, dizendo: «Se alguém te bater numa face, oferece também a outra» (Lc, 6,29). Poderia parecer um excesso de mansidão. Mas, que fez Jesus quando foi esbofeteado na sua Paixão? Certamente não contra-atacou, mas respondeu com tal firmeza, cheia de caridade, que deve ter surpreendido aquele servo irado: «Se falei mal, mostra em que falei mal; e se falei certo, por que me bates?» (Jo 18,22-23).

Todas as religiões têm uma máxima de ouro: «Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti». Jesus é o único que a fórmula de modo positivo: «Assim como desejais que os outros vos tratem, tratai-os do mesmo modo» (Lc 6,31). Esta regra de ouro constitui o fundamento de toda a moral. São João Crisóstomo, comentando este versículo, ensina-nos: «Ainda há mais, porque Jesus não disse somente: desejai todo o bem para os outros, mas fazei o bem aos outros»; logo, a máxima de ouro proposta por Jesus não pode reduzir-se a um mero desejo, mas tem que se traduzir em obras.

Pensamentos para o Evangelho de hoje

«Cristo, ao revelar o amor-misericórdia de Deus, exigia também aos homens que se deixassem guiar na sua vida pelo amor e pela misericórdia» (São João Paulo II)

«O inimigo é alguém a quem devo amar. No coração de Deus não há0 inimigos, Deus tem filhos. Nós levantamos muros, construímos barreiras e classificamos às pessoas. Deus tem filhos» (Francisco)

«No sermão da montanha, o Senhor lembra o preceito: ‘Não matarás’ (Mt 5,21), e acrescenta-lhe a proibição da ira, do ódio e da vingança. Mais ainda: Cristo exige do seu discípulo que ofereça a outra face (36), que ame os seus inimigos (37) (…)» (Catecismo da Igreja Católica, nº 2.262)

Perdoai e sereis perdoados.

Temos um texto paralelo em Mateus (cf. Mt 5,38-48), inserido na seção do que eu chamaria «Constituição do Cristão» (cc. 5-7 de Mateus). O trecho de Lucas vem logo a seguir ao tema das chamadas «Bem-aventuranças». O facto de Mateus colocar esse discurso num monte e Lucas numa planície não tem muito a ver com o conteúdo. Em todo o caso, é bem possível que se tratasse de um texto que constituía como que um resumo da doutrina que era transmitida «em bloco» pelos primeiros evangelizadores. Bom, mas isto é só uma conjectura minha, embora me pareça que este trecho tem precisamente o condão de explicitar aquilo que tinha sido dito nas Bem-aventuranças. Seja como for, insisto, trata-se de uma espécie de código de comportamento que distingue o cristão de quem o não é. O cristão, de facto, não se pode limitar a conduzir o seu procedimento com base no instinto e no sabor do momento. Além disso, o modo de ser e o comportamento do cristão não estão sujeitos a contrapartidas. Em todo o caso, se é certo que, rigorosamente, ele não deve agir com o fim de receber uma recompensa, por outro lado, também não deixa de ser certo que, como diz a sabedoria popular, «Deus nunca se deixa vencer em generosidade». Ora isso, como é óbvio, significa que, mesmo sem estar à espera de contrapartida, o cristão não tem motivo para não estar tranquilo ou com medo de ficar a perder. Quem aposta em Deus, tem tudo e isso basta

Amar o inimigo? É a única forma...

A revolução do amor - A pessoa que acreditou no anúncio, ou seja, naquilo que Deus fez em Jesus (querigma), pergunta espontaneamente: e agora, o que devo fazer? Como é que tenho que viver? A resposta é a seguinte: deve haver correspondência entre o que Deus fez e o que o homem deve fazer.

A vida e a obra de Jesus é a expressão histórico-concreta do ato de amor totalmente gratuito e universal (enquanto ainda éramos pecadores, Ele amou-nos primeiro) com que Deus se doa à humanidade e em que revela o que é. Por isso, o cristão deve amar com um amor gratuito e universal, «porque» Deus em Cristo nos amou assim.

Amar como Deus nos amou. - A mesma capacidade de amar nos foi dada pelo facto de primeiro termos sido objeto de amor. Parece assim claro que o princípio da vida moral do cristão - o amor gratuito e universal, ou caridade - não se pode compreender fora do Evangelho. Lucas, no texto evangélico deste domingo, não anuncia este princípio de forma abstrata, mas de forma concreta, recolhendo uma série de ditos de Jesus.

Todos estes preceitos são indicações que nos são apresentadas de forma dramática pela referência a situações de facto, sobre a qualidade e a direção do agir humano com vista à sua conformidade com o agir divino: «Sede misericordiosos como é misericordioso o vosso Pai» (Lc 6,36). As expressões de Jesus metem mede pela radicalidade e exigência...

Sinais do Reino de Deus - O que Jesus manda de forma categórica nos seus ditos recolhidos neste «discurso» não é com certeza tudo o que deve guiar toda a vida do cristão, nem pretende sê-lo. Seja como for, tudo quanto é dito é uma série de «sintomas», de sinais, de exemplos do que acontece quando o Reino de Deus irrompe neste mundo ainda dominado pelo pecado e pela morte.

Jesus diz de alguma forma: quero mostrar-vos, com alguns exemplos, como é a vida nova. E o que Eu assim vos mostro vós deveis transformá-lo em todos os sectores da vida. Vós mesmos deveis ser sinais do Reino de Deus que vem, sinais colocados para indicar que algo já aconteceu. Deve aparecer aos olhos do mundo, pela vossa vida e por todos os seus aspectos, que o Reino de Deus já teve início (cf. 2ª leitura).

Fazer «stop» à violência. - Um dos problemas mais graves de hoje é a violência. Há um modo novo «mágico» de considerar a realidade, de desresponsabilizar a pessoa, dizendo que a causa de todos os males está fora da pessoa, que está na sociedade, nas estruturas, na hereditariedade, no inconsciente coletivo.

Isso é verdade, mas não é toda a verdade. O homem continua a ser, não obstante tudo, livre. O mal entrou e entra no mundo por um ato de liberdade do homem. Não é verdade que a pessoa seja intrinsecamente inocente e que o mal venha todo de fora. Mais: se é verdade que não devemos nunca deixar de nos empenharmos para tornar as condições externas de vida mais humanizantes e não desumanizantes, é também verdade que nunca devemos deixar de fazer apelo à consciência da pessoa, à sua liberdade. O homem é, ao mesmo tempo, vítima e assassino.

Interromper a cadeia - A violência, como todo o mal, tem uma sua lógica, cria uma cadeia, põe em movimento uma «proliferação». É preciso que alguém rompa o aro, que interrompa a proliferação. É preciso que haja alguém que seja o primeiro a amar; que aceite ser a vítima sem ser assassino; que ame, não obstante tudo, que ame sem ser amado.

Cristo é a vítima inocente que interrompeu, ou melhor, que rompeu esta cadeia. O cristão, transformado intimamente por Cristo, tornado novo, inicia uma nova lógica com um ato de amor gratuito e universal.

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