sexta-feira, 23 de outubro de 2020

XXX Domingo do Tempo Comum

 Santo Antônio de Sant’Ana Galvão, Presbítero

1ª Leitura (Ex 22,20-26): Aquele que oferecer sacrifícios a outros deuses fora do Senhor, será votado ao interdito. Não maltratarás o estrangeiro e não o oprimirás, porque foste estrangeiro no Egito. Não prejudicareis a viúva e o órfão. Se os prejudicardes, eles clamarão a mim e eu os ouvirei; minha cólera se inflamará e vos farei perecer pela espada; vossas mulheres ficarão viúvas e vossos filhos, órfãos. Se emprestares dinheiro a alguém do meu povo, ao pobre que está contigo, não lhe serás como um credor: não lhe exigirás juros. Se tomares como penhor o manto de teu próximo, devolver-lho-ás antes do pôr-do-sol.

Salmo Responsorial - 17/18

R. Eu vos amo, ó Senhor, sois minha força e salvação.

Eu vos amo, ó Senhor! Sois minha força, minha rocha, meu refúgio e salvador! Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, minha força e poderosa salvação.

Ó meu Deus, sois o rochedo que me abriga, meu escudo e proteção: em vós espero! Invocarei o meu Senhor: a ele a glória! E dos meus perseguidores serei salvo!

Viva o Senhor! Bendito seja o meu rochedo! E louvado seja Deus, meu salvador!  Concedeis ao vosso rei grandes vitórias e mostrais misericórdia ao vosso ungido.

2ª Leitura (1Tes 1,5-10): O nosso Evangelho vos foi pregado não somente por palavra, mas também com poder, com o Espírito Santo e com plena convicção. Sabeis o que temos sido entre vós para a vossa salvação. E vós vos fizestes imitadores nossos e do Senhor, ao receberdes a palavra, apesar das muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo, de sorte que vos tornastes modelo para todos os fiéis da Macedônia e da Acaia. Em verdade, partindo de vós, não só ressoou a palavra do Senhor pela Macedônia e Acaia, mas também se propagou a fama de vossa fé em Deus por toda parte, de maneira que não temos necessidade de dizer coisa alguma. De fato, a nosso respeito, conta-se por toda parte qual foi o acolhimento que da vossa parte tivemos, e como abandonastes os ídolos e vos convertestes a Deus, para servirdes ao Deus vivo e verdadeiro, e aguardardes dos céus seu Filho que Deus ressuscitou dos mortos, Jesus, que nos livra da ira iminente.

Aleluia. Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e a ele nós viremos. Aleluia.

Evangelho (Mt 22,34-40): Os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então se reuniram, e um deles, um doutor da Lei, perguntou-lhe, para experimentá-lo: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?» Ele respondeu: «Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento!’ Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é semelhante: ‘Amarás teu próximo como a ti mesmo’. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos».

«Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração (…) Amarás teu próximo como a ti mesmo»

Dr. Johannes VILAR (Köln, Alemanha)

Hoje, a Igreja recorda-nos um resume da nossa “atitude de vida” «Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos» (Mt 22,40). São Mateus e São Marcos o põem nos lábios de Jesus Cristo; São Lucas nos de um fariseu. Sempre em forma de diálogo. Provavelmente fariam várias vezes, perguntas similares ao Senhor. Jesus responde com o princípio do Shema: oração composta por duas citações do Deuterômio e uma dos Números, que os judeus fervorosos recitavam pelo menos duas vezes por dia: «Ouve Israel! O Senhor teu Deus (…)». Recitando-a tem-se consciência de Deus no trabalho quotidiano, ao mesmo tempo em que nos recorda o mais importante da nossa vida: Amar a Deus sobre todos os “deusezinhos” e ao próximo como a si mesmo. Depois ao terminar a Última Ceia, e com o exemplo do lava-pés, Jesus pronuncia “um mandamento novo”: amarmo-nos como Ele nos ama, com a “força divina” (cf. Jo 14,34-35).

É mesmo necessária a decisão de praticar de fato este dulcíssimo mandamento — mais que um mandamento é elevação e capacidade — no trato com os outros: homens e coisas, trabalho e descanso, espírito e matéria, porque tudo é criatura de Deus.

Por outro lado, ao ser impregnados pelo Amor de Deus, que nos toca em todo o nosso ser, ficamos capacitados para responder “ao divino”, a este Amor. Deus Misericordioso não apenas tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29), mas também nos diviniza, torna-nos “participes” (apenas Jesus é Filho por Natureza) da natureza divina; somos filhos do pai, no Filho, pelo Espírito Santo. São Josémaria gostava de falar de “endeusamento”, palavra muito enraizada nos Padres da Igreja. Por exemplo, escrevia São Basílio: «Assim como os corpos claros e transparentes, quando recebem a luz, começam a irradiar luz por si próprios, assim reluzem os que foram iluminados pelo Espírito. Isto leva ao dom da graça, alegria interminável, permanência em Deus… e a meta máxima: o Endeusamento». Desejemo-lo!

O primeiro mandamento é amar a Deus. O segundo, amar o próximo.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

A pergunta que o doutor da lei faz para Jesus no evangelho de hoje sobre qual é o maior mandamento da lei é muito oportuna, pois os judeus tinham centenários de preceitos: exatamente 365 “negativos” (começam com um “não…”) e 248 “positivos” (começam com um “deves…”). Toda sociedade tende a multiplicar com o tempo as suas leis e normas, e às vezes sem necessidade. E hoje Jesus nos dá a chave para ser cristãos: dois mandamentos que se reduzem no amor; amar a Deus e amar o próximo.

Em primeiro lugar, o amor de Deus não consiste em sentir a vertigem do divino: um gosto espiritual na comunhão, duas emoções que estremecem, três Ave-Marias noturnas, quatro lágrimas, cinco procissões… e nove primeiras sextas-feiras de mês. Não. Amar a Deus é centrar a minha vida em Deus: o que pensa Deus, o que diz Deus, o que Deus quer… E eu, a mesma coisa. O que Deus está me pedindo, não o que está pedindo para o vizinho! Agora, sem dar voltas ao assunto! Já, sem fingir de surdo! E aqui está, obras, que isso é o amor. Amar a Deus é abandonar os ídolos e nos converter ao Deus vivo e verdadeiro, para servi-lo (segunda leitura).

Em segundo lugar, amar os demais é centrar a minha vida nos demais: uma aceitação (são como são), um respeito (são o que são), uma transigência (são como podem), uma tolerância (não dão mais de si), um compromisso foragido pelo seu pão, pela sua justiça, sua escola, seus seguros, a sua liberdade. Obras, e o que não são obras é pecado, egoísmo, fábula. Trata-se, pois, de dar e dar-se, de negar-se e abnegar-se, de sair do eu e passar ao você. Chegar ao ponto de poder dizer com honradez: “amo muito você”. Não é dizer “gosto de você”, cuja tradução honrada é “te desejo”, “te necessito”, “você é boa gente”, “você faz conta de mim”, etc… que pertencem a linguagem zoológica e instintiva. Amar os demais é cuidar das viúvas e dos órfãos, dar dinheiro ao pobre, cobrir o nu (primeira leitura).

Finalmente, tudo o que não seja interpretar assim o mandamento do duplo amor é um erro, um egoísmo e um pecado. Isto é, assinar com a assinatura de pagão durante toda a vida. Se amarmos nestas duas vertentes, poderemos dizer com santo Agostinho: “Ama e faze o que quiseres. Se calas, cala por amor; se perdoas, perdoa por amor; tem a raiz do amor no fundo do teu coração: desta maneira somente pode sair o que é bom” (Comentário a Primeira Epístola de São João, 7). E para aprender a amar temos que olhar a Cristo, expressão viva deste preceito do amor. Com a sua própria vida nos ensinou o mandamento único da caridade que tem, como uma moeda, as duas caras que explicamos: o amor a Deus e o amor ao próximo. Cristo amou antes de tudo o seu Pai, na aceitação e cumprimento perfeito da sua vontade, entregando a sua vida para reparar a glória de Deus pisoteada pelos homens e assim saldar a nossa dívida contraída, que era bem alta. E amou os homens, fazendo-se carne para nos salvar e perdoando deste modo os nossos pecados: “Não existe outra causa da Encarnação que somente uma: Ele nos viu derrubados na terra e viu que íamos sofrer, oprimidos pela tirania da morte, e se compadeceu de nós” (São João Crisóstomo).

Para refletir: posso dizer que amo a Deus sobre todas as coisas? Como demonstro: só com palavras ou também com obras, “pois obras são amores e não boas razões”? Posso dizer que amo o próximo, mínimo como eu me amo? Posso dizer que amo o próximo como Cristo o ama? Demonstro isto com a minha paciência, bondade, misericórdia, doação, preocupação sincera por ele, uma ajuda concreta? 

Para rezar: Senhor, que me deixe amar por Vós, para que depois possa amar-Vos como mereceis e amar o próximo, como Vós o amais. Perdoai-me tanto egoísmo na minha vida, o contrário do amor. Que nunca esqueça que “ao final da vida serei examinado do amor e pelo Amor”.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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