quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Sexta-feira da 20ª semana do Tempo Comum

São Pio X, papa

1ª Leitura (Ez 37,1-14): Naqueles dias, a mão do Senhor pairou sobre mim e o Senhor levou-me pelo seu espírito e colocou-me no meio de um vale que estava coberto de ossos. Fez-me andar à volta deles em todos os sentidos: os ossos eram em grande número, na superfície do vale, e estavam completamente ressequidos. Disse-me o Senhor: «Filho do homem, poderão reviver estes ossos?». Eu respondi: «Senhor Deus, Vós o sabeis». Então Ele disse-me: «Profetiza acerca destes ossos e diz-lhes: Ossos ressequidos, escutai a palavra do Senhor. Eis o que diz o Senhor Deus a estes ossos: Vou introduzir em vós o espírito e revivereis. Hei de cobrir-vos de nervos, encher-vos de carne e revestir-vos de pele. Infundirei em vós o espírito e revivereis. Então sabereis que Eu sou o Senhor». Eu profetizei, segundo a ordem recebida. Quando eu estava a profetizar, ouvi um rumor e vi um movimento entre os ossos que se aproximavam uns dos outros. Vi que se tinham coberto de nervos, que a carne crescera e a pele os revestia; mas não havia espírito neles. Disse-me o Senhor: «Profetiza ao espírito, profetiza, filho do homem, e diz ao espírito: Eis o que diz o Senhor Deus: Vem dos quatro ventos, ó espírito, e sopra sobre estes mortos, para que tornem a viver». Eu profetizei, como o Senhor me ordenara, e o espírito entrou naqueles mortos; eles voltaram à vida e puseram-se de pé: era um exército muito numeroso. Então o Senhor disse-me: «Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eles afirmaram: ‘Os nossos ossos estão ressequidos, desvaneceu-se a nossa esperança, estamos perdidos’. Por isso, profetiza e diz-lhes: Assim fala o Senhor Deus: Abrirei os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar, meu povo, para vos reconduzir à terra de Israel. Haveis de reconhecer que Eu sou o Senhor, quando Eu abrir os vossos túmulos e deles vos fizer ressuscitar, meu povo. Infundirei em vós o meu espírito e revivereis. Hei de fixar-vos na vossa terra e reconhecereis que Eu, o Senhor, digo e faço».

Salmo Responsorial: 106

R. Dai graças ao Senhor, porque é eterna a sua misericórdia.

Digam aqueles que o Senhor resgatou, os que Ele libertou do poder do inimigo; os que Ele reuniu de todas as terras, do Oriente e do Ocidente, do Norte e do Sul.

Erravam na solidão do deserto, sem caminho para cidade onde habitar. Devorados pela fome e pela sede, sentiam desfalecer-lhes a vida.

Na sua angústia invocaram o Senhor e Ele salvou-os da aflição. Conduziu-os por caminho direito até uma cidade onde habitassem.

Graças ao Senhor pela sua misericórdia, pelos seus prodígios em favor dos homens. Porque Ele deu de beber aos que tinham sede e saciou os que tinham fome.

Aleluia. Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, guiai-me na vossa verdade. Aleluia.

Evangelho (Mt 22,34-40): Naquele tempo, os fariseus ouviram dizer que Jesus tinha feito calar os saduceus. Então se reuniram, e um deles, um doutor da Lei, perguntou-lhe, para experimentá-lo: «Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?». Ele respondeu: «Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. Ora, o segundo lhe é semelhante: Amarás teu próximo como a ti mesmo. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos».

«Amarás o Senhor, teu Deus (...)Amarás teu próximo»

Rev. D. Pere CALMELL i Turet (Barcelona, Espanha)

Hoje, o Mestre da Lei pergunta a Jesus: «Qual é o mandamento mais importante da Lei?» (Mt 22,36), o mais importante, o primeiro. A resposta, porém, fala do primeiro mandamento e do segundo, que lhe «é semelhante» (Mt 22,39). Dois elos inseparáveis, que são uma coisa só. Inseparáveis, mas uma primeira e outra segunda, uma de ouro, outra de prata. O Senhor nos leva ao âmago da catequese cristã, porque «toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos» (Mt 22,40).

Eis aqui a razão de ser do comentário clássico sobre as duas madeiras da Cruz do Senhor: a que está fincada na terra é a verticalidade, que olha na direção do Céu, a Deus. O transverso representa a horizontalidade, a relação com nossos iguais. Também nesta imagem há um primeiro e um segundo. A horizontalidade estaria em nível da terra, se antes não possuíssemos uma haste na vertical e, quando mais queremos elevar o nível dos nossos serviços aos nossos semelhantes —a horizontalidade— mais elevado deve ser nosso amor a Deus. Do contrário, virá facilmente o desânimo, a inconstância, a exigência de compensações quaisquer que elas sejam. Disse S. João da Cruz: «Quanto mais ama uma alma, mais perfeita é naquilo que ama; daqui que essa alma, que já é perfeita, toda ela é amor e, todas suas ações são amor».

De fato, nos santos que conhecemos vemos como o amor a Deus, que sabem manifestar-lhe de muitas maneiras, lhes outorga uma grande iniciativa no momento de ajudar o próximo. Peçamos hoje à Virgem Santíssima que nos encha de desejo de surpreender ao Nosso Senhor com obras e palavras de afeto. Assim nosso coração será capaz de descobrir como surpreender com algum detalhe simpático aos que vivem e trabalham ao nosso lado e, não somente fazer isso nos dias assinalados, que isso todos sabem como agir. Surpreender!  Forma prática de pensar menos em nós mesmos.

Reflexão

a. O texto se ilumina. Jesus está em Jerusalém e, especificamente no Templo, onde há um confronto entre ele e seus adversários, sumos sacerdotes e escribas (20,18; 21,15), entre os sumos sacerdotes e os anciãos do povo (21,23) e entre os sumos sacerdotes e os fariseus (21,45). O ponto de controvérsia do debate é: a identidade de Jesus ou do filho de David, a origem de sua identidade, e, portanto, a questão sobre a natureza do reino de Deus. O evangelista apresenta este entrelaçamento de debates com uma sequência de controvérsias que apresentam um ritmo crescente: o tributo que se deve pagar a César (22,15-22), a ressurreição dos mortos (22,23-33), o maior mandamento (22,34-40), o Messias, o filho e Senhor de Davi (22,41-46). Os protagonistas das três primeiras discussões são expoentes do judaísmo oficial que tentam colocar Jesus em dificuldades sobre questões cruciais. Estas disputas são dirigidas a Jesus como "Mestre" (rabi), este título diz ao leitor sobre o entendimento que os interlocutores têm de Jesus. Mas Jesus aproveita a oportunidade para levá-los a perguntar-se uma questão mais crucial: a última tomada de posição sobre sua identidade (22,41-46).

b. O maior mandamento. Na esteira dos saduceus que os precederam, novamente, os fariseus propõem a Jesus uma questão entre as mais evidentes: o maior mandamento. Dado que os rabinos sempre evidenciavam a multiplicidade das prescrições (248 mandamentos), foi feita a pergunta a Jesus sobre qual é o preceito fundamental. No entanto, os próprios rabinos tinham criado uma verdadeira casuística para reduzi-los tanto quanto possível: David elenca onze (Sl 15,2-5), Isaías, seis (Is 33,15), Miquéias, três (Mi 6,8), Amós, dois (Am 5,4) e Habacuc, apenas um (Hab 2,4). Mas na intenção dos fariseus a questão vai além da pura casuística, trata-se da própria essência das prescrições. Jesus respondendo une o amor a Deus e o amor ao próximo, ao ponto de fundi-los em um só, mesmo sem renunciar a dar prioridade ao primeiro, ao qual subordina de modo estreito o segundo. Na verdade todas as prescrições da lei chegavam a 613, são postos em relação com este único mandamento: a lei inteira encontra significado e fundamento naquele amor. Jesus faz um processo de simplificação de todos os preceitos da lei: aquele que põe em prática o mandamento do amor não só está de acordo com a lei, mas também com os profetas (v. 40). No entanto, a novidade da resposta não está tanto no conteúdo material como na sua realização: em Jesus, o amor a Deus e ao próximo encontram o seu contexto próprio, sua última solidez. Isso quer dizer que o amor a Deus e ao próximo, mostrado e realizado de alguma forma em sua pessoa, direciona o homem a colocar-se diante de Deus e dos outros mediante o amor. O único mandamento em dois, o amor a Deus e ao próximo, se tornam os pilares principais, não só das Escrituras, mas também da vida do cristão.

Para um confronto pessoal

1. O amor a Deus e ao próximo é para você apenas um vago sentimento, uma emoção, um estímulo passageiro ou uma realidade que envolve toda a sua pessoa: coração, vontade, inteligência e traço humano?

2. Você foi criado para amar. Você está ciente de que a sua realização acontece no amar a Deus com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente? Tal amor exige uma constatação de caridade para com os irmãos e as suas situações de vida. Você vive isto na prática diária?

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