domingo, 5 de janeiro de 2020

7 de janeiro (Feira do Natal)


Evangelho (Mc 6,34-44): Ao sair do barco, Jesus viu uma grande multidão e encheu-se de compaixão por eles, porque eram como ovelhas que não têm pastor. E começou, então, a ensinar-lhes muitas coisas. Já estava ficando tarde, quando os discípulos se aproximaram de Jesus e disseram: «Este lugar é deserto e já é tarde. Despede-os, para que possam ir aos sítios e povoados vizinhos e comprar algo para comer» Mas ele respondeu: «Vós mesmos, dai-lhes de comer»! Os discípulos perguntaram: «Queres que gastemos duzentos denários para comprar pão e dar de comer a toda essa gente?» Jesus perguntou: «Quantos pães tendes?  Ide ver». Eles foram ver e disseram: «Cinco pães e dois peixes». Então, Jesus mandou que todos se sentassem, na relva verde, em grupos para a refeição. Todos se sentaram, em grupos de cem e de cinquenta. Em seguida, Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao céu, pronunciou a bênção, partiu os pães e ia dando-os aos discípulos, para que os distribuíssem. Dividiu, também, entre todos, os dois peixes. Todos comeram e ficaram saciados, e ainda encheram doze cestos de pedaços dos pães e dos peixes. Os que comeram dos pães foram cinco mil homens».

Porque eram como ovelhas que não têm pastor

Rev. D. Xavier SOBREVÍA i Vidal (Sant Boi de Llobregat, Barcelona, Espanha)

S. Raimundo de Peñafort, presbítero
Hoje, Jesus mostra-nos como Ele é sensível às necessidades das pessoas que saem ao seu encontro. Não pode encontrar-se com pessoas e passar indiferente perante as necessidades delas. O coração de Jesus se compadece ao ver a grande quantidade de gente que lhe seguia «como ovelhas que não têm pastor» (Mc 6,34). O Mestre deixa atrás os projetos prévios e começa a ensinar. Quantas vezes nós deixamos que a urgência ou a impaciência mandem sobre nossa conduta? Quantas vezes não queremos mudar de planos para atender necessidades imediatas e imprevistas? Jesus dá-nos exemplo de flexibilidade, de modificar a programação prévia e de estar disponível para pessoas que o seguem.

O tempo passa depressa. Quando você ama é fácil que o tempo passe muito depressa. E Jesus, que ama muito, está explicando a doutrina de uma maneira prolongada. Estava ficando tarde, os discípulos lhe avisaram ao Mestre, lhes preocupa que a multidão possa comer. Então Jesus faz uma proposta incrível: «Vós mesmos, dai-lhes de comer» (Mc 6,37). Não somente lhe preocupa dar o alimento espiritual com seus ensinos, senão também o alimento do corpo. Os discípulos põem dificuldades, que são reais, muito reais: Os pães custam muito dinheiro (cf. Mc 6,37). Vêm as dificuldades materiais, mas seus olhos ainda não reconhecem que quem lhes fala o pode tudo; lhes falta fé.

Jesus não manda fazer uma fila; faz sentar às pessoas em grupos. Comunitariamente descansarão e compartilharão. Pediu aos discípulos a comida que levavam: somente são cinco pães e dois peixes. Jesus os pega, invoca a benza de Deus e os reparte. Uma comida tão escassa que servirá para alimentar milhares de homens e ainda restarão doze cestas. Milagre que prefigura o alimento espiritual da Eucaristia, Pão de vida que se estende gratuitamente a todos os povos da Terra para dar vida e vida eterna.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm

* Sempre é bom olhar o contexto em que se encontra o texto do evangelho, pois ele traz luz para descobrir melhor o sentido. Pouco antes, em Mc 6,17-29, Marcos narrou o banquete de morte, promovido por Herodes com os grandes da Galileia, no palácio da Capital, durante o qual foi morto João Batista. Aqui, em Mc 6,30-44, descreve o banquete de vida, promovido por Jesus com o povo faminto da Galileia lá no deserto. O contraste deste contexto é grande e ilumina o texto.

* No evangelho de Marcos a multiplicação dos pães é muito importante. Ela aparece duas vezes: aqui em Mc 6,35-44 e em Mc 8,1-9. E o próprio Jesus faz questão de interrogar o discípulos a respeito da multiplicação dos pães (Mc 8,14-21). Por isso, vale a pena você pesquisar e refletir até descobrir em que consiste exatamente esta importância da multiplicação dos pães.

* Jesus tinha convidado os discípulos para descansar um pouco num lugar deserto (Mc 6,31). O povo percebeu que Jesus tinha ido para o outro lado do lago, foi atrás dele e chegou antes (Mc 6,33). Quando Jesus, ao descer do barco, viu aquela multidão esperando por ele, ficou com dó, “pois eles estavam como ovelhas sem pastor”. Esta frase evoca o salmo do bom pastor (Sl 23). Diante do povo sem pastor, Jesus esquece o descanso e começa a ensinar, começa a ser pastor. Com suas palavras ele orienta e guia o povo no deserto da vida, e o povo podia cantar: “O Senhor é meu pastor! Nada me falta!” (Sl 23,1).

* O tempo foi passando e começava a escurecer. Os discípulos estavam preocupados e pedem a Jesus para despedir o povo. Acham que lá no deserto não é possível conseguir comida para tanta gente. Jesus diz: “Deem vocês de comer ao povo!” Eles levam susto: “Então quer que vamos comprar pão por 200 denários?” (i.é, salário de 200 dias!) Os discípulos procuram a solução fora do povo e para o povo. Jesus não busca solução fora, mas dentro do povo e a partir do povo, pois pergunta: “Quantos pães vocês têm? Vão verificar!” A resposta é: “Cinco pães e dois peixes!” É pouco para tanta gente! Jesus manda o povo se acomodar em grupos e pede aos discípulos para distribuir os pães e os peixes. Todos comeram à vontade!

* É importante notar como Marcos descreve o fato. Ele diz: “Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, olhou para o céu, abençoou os pães e os partiu e deu aos seus discípulos, para que os distribuíssem”. Esta maneira de falar faz as comunidades pensar em que? Sem dúvida nenhuma, fazia pensar na eucaristia. Pois estas mesmas palavras eram usadas (até hoje) na celebração da Ceia do Senhor. Assim, Marcos sugere que a eucaristia deve levar à partilha. Ela é o pão da vida que dá coragem e leva a enfrentar os problemas do povo de maneira diferente, não a partir de fora, mas a partir de dentro do povo.

* Na maneira de descrever os fatos, Marcos evoca a Bíblia para iluminar o sentido dos fatos. Dar de comer ao povo faminto no deserto, foi Moisés quem o fez por primeiro (cf. Ex 16,1-36). E pedir para o povo se organizar em grupos de 50 e 100 lembra o recenseamento do povo no deserto depois da saída do Egito (cf. Nm, cap. 1 a 4). Marcos sugere assim que Jesus é o novo Moisés. O povo das comunidades conhecia o Antigo Testamento, e para o bom entendedor meia palavra já bastava. Assim, eles iam descobrindo, aos poucos, o mistério que envolvia a pessoa de Jesus.

Para um confronto pessoal
1. Jesus esqueceu o descanso para poder servir ao povo. Que mensagem eu encontro aqui para mim?
2. Se houvesse partilha hoje, não haveria fome no mundo. Que posso fazer eu?

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