sábado, 15 de junho de 2019

Solenidade da Santíssima Trindade


Textos: Prov 8, 22-31; Rom 5, 1-5; Jo 16, 12-15

Evangelho (Jo 16,12-15): «Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de compreender agora. Quando ele vier, o Espírito da Verdade, vos guiará em toda a verdade. Ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo quanto tiver ouvido e vos anunciará o que há de vir. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu para vos anunciar. Tudo que o Pai tem é meu. Por isso, eu vos disse que ele receberá do que é meu para vos anunciar».

«Quando ele vier, o Espírito da Verdade, vos guiará em toda a verdade»

+ Cardenal Jorge MEJÍA Arquivista e Bibliotecário de la S.R.I. (Città del Vaticano, Vaticano)

Hoje, celebramos a solenidade do mistério central da nossa fé, do qual tudo procede e para o qual tudo se dirige. O mistério da unidade de Deus e, simultaneamente, a sua subsistência em três Pessoas iguais e distintas. Pai, Filho e Espírito Santo: a unidade na comunhão e a comunhão na unidade. É muito conveniente que nós, os cristãos estejamos conscientes, neste grande dia, de que este mistério está presente nas nossas vidas: desde o Batismo —que recebemos em nome da Santíssima Trindade — até à nossa participação na Eucaristia, que se realiza para glória do Pai, pelo Seu Filho Jesus Cristo, graças ao Espírito Santo. E é o sinal pelo qual nos reconhecemos como cristãos: o Sinal da Cruz, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

A missão do Filho, Jesus Cristo, consiste na revelação do Pai, do qual é imagem perfeita, e no dom do Espírito, também revelado pelo Filho. A leitura do Evangelho, hoje proclamada, no-lo mostra: o Filho tudo recebe do Pai em perfeita unidade: «Tudo que o Pai tem é meu», e o Espirito recebe do Pai e do Filho o que Ele é. «Por isso, eu vos disse — disse Jesus — ‘que ele receberá do que é meu para vos anunciar’» (Jo 16,15). E noutra passagem deste mesmo discurso (15,26): «Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim».

Aprendamos esta grande e consoladora verdade: A Santíssima Trindade, longe de se colocar à parte, distante e inacessível, vem até nós, habita em nós e transforma-nos em seus interlocutores. E isto por meio do Espirito, que assim nos guia até à verdade total (cf. Jo 16,13). A incomparável “dignidade do cristão”, da qual S. Leão Magno fala várias vezes, é esta: possuir em si mesmo o mistério de Deus e, então, ter já na terra a própria “cidadania” no céu, quer dizer, no seio da Santíssima Trindade.

Quem é Deus?

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Toda a nossa vida cristã gira- ou deveria girar- ao redor da Santíssima Trindade. Levantamo-nos e deitamos no nome da Trindade. Trabalhamos e sofremos no nome da Trindade. Celebramos e participamos nos sacramentos e fazemos oração no nome da Trindade. Comemos e compartilhamos o nosso pão no nome da Trindade Santa. Toda a nossa vida deveria ser um diálogo entre nós e o Pai, feito por meio de Jesus Cristo, à luz e com o sustento do Espírito Santo.

Em primeiro lugar, um pouco de história. Conta São Gregório de Nisa, que nos seus tempos do século IV era impossível ir à praça do mercado para comprar pão, às termas para tomar uma sauna, aos cambistas para falar de dinheiro, etc., sem agarrar-se uns e outros pelos cabelos ao tocar o tema do mistério da Trindade. Informam os historiados que Constantino tinha o seu império em dois partidos mal trilhados: os arianos, cujo chefe Arrio, clérigo sem mitra nem báculo, dizia que o Pai é Deus, mas o Filho não; e os atanásios, cujo chefe, Atanásio, clérigo também sem mitra nem báculo, dizia que o Filho é tão Deus como o Pai. E aquilo era “guerra civil” à vista. Conta a história da Igreja que o imperador Constantino, já suspeitoso e com um império desse jeito na boca da amargura, convocou o primeiro concílio ecumênico para que os bispos da Igreja se batessem o cobre pela Trindade e, para aproveitar, salvassem para ele o império. 20 de maio do ano 325 na cidade de Niceia, na Turquia asiática: o imperador Constantino- coroa imperial na cabeça, manto de rabo arrastando, como um paquete oriental- entrou na sala conciliar por entre as 318 mitras e báculos dos padres sinodais, subiu no estrado e parabenizou o legado do Papa Silvestre I, que era espanhol: o grande Ósio, bispo de Córdoba. Ali, por conta da Trindade, o Papa estava jogando a unidade da Igreja e Constantino a unidade do império. Niceia, 19 de junho de 325: o grande Ósio saiu com essa palavra mágica, luminosa e clave, e solucionou o problema: “homoúsious” (=consubstancial). O Filho, pois, e consubstancial ao Pai e vice-versa, isto é, o Filho é Deus igual que o Pai. Fim do Concílio. E diz que o historiador eclesiástico, Eusébio de Cesareia, que Constantino deu aos bispos um banquete imperial e aos seus súditos uma ordem imperial: ou aceitação do concilio ou desterro para a vida inteira.

Em segundo lugar, como se aproximam os teólogos deste mistério da Trindade? Observam pelas miragens que o Pai, em efeito, exerce autoridade sobre o Filho e sobre os homens. Autoridade que não é autoritarismo. Paternidade que não é paternalismo que mima, chateia e não faz crescer os filhos. E lhe diz ao Filho: essa é a situação dos homens e este é o meu plano de redenção, e o redentor és Tu. E nos diz: eu sou o Pai que os amo e quero a felicidade de todos vocês: mas cumpram os meus mandados para sejam felizes e assim me façam feliz. Continuam os teólogos e observam o Filho e a sua obediência, que è uma, grande e livre (mas sem jugo nem flechas, como no escudo espanhol). E escutam o Filho dizer: “Eu faço sempre a vontade do meu Pai” (Jo 8,29), “o Pai e eu somos um” (Jo 10,30), “… levo a tua lei no meu coração” (Heb 10,7 e Salmo 39,9). E não cansados de refletir e meditar, os teólogos ouvem o barulho das asas em movimento do Espírito, que no voo rasante sobrevoou o caos prévio à criação do mundo, que falou a mesma coisa aos patriarcas nas grandes teofanias e aos profetas e dirigentes de Israel, que desceu sobre Jesus e às águas do Jordão, que chegou aos apóstolos no borde do furacão. O Espírito é energia, vitalidade, atividade. É luz que nos guiará à verdade completa (evangelho).

Finalmente, nós, por sermos batizados, somos portadores da Trindade. Rápido se percebe quando uma pessoa está cheia desse Deus e valoriza o espiritual mais do que o material, a alma mais do que o corpo, o céu mais do que a terra, o próximo como a Deus e a Deus mais do que ninguém e sobre todas as coisas. Esse Deus Uno e Trino devemos adorar com toda a alma; amar com todo o coração; agradecer com todo o nosso ser e corresponder levando uma vida segundo o Espírito. Por ser portadores da Trindade até nos gloriamos dos sofrimentos, pois sabemos que o sofrimento gera a paciência, a paciência gera a virtude sólida, a virtude sólida gera a esperança, pois Deus nos infundiu o amor nos nossos corações por meio do Espírito (2ª leitura). E vivemos felizes, pois as delícias desse Deus Uno e Trino são estar com os filhos dos homens (1ª leitura).

Para refletir: Aceito Deus como mistério? Rezo a Deus em termos vagos, ou me relaciono de pessoa a pessoa com o Pai, ou com Jesus, ou com o Espírito Santo? Fasso tudo em nome da Santíssima Trindade: trabalho, estudo, descanso, sofrimento, êxito e fracasso?

Para rezar: Hino das primeiras Vésperas da Solenidade da Santíssima Trindade:

Meu Deus, Trindade a quem adoro!
A Igreja nos submerge no vosso mistério;
Confessamos-vos e vos bendizemos,
Senhor Deus nosso.

Como um rio no mar da vossa grandeza,
O tempo desemboca no hoje eterno,
O pequeno se anega no infinito,
Senhor, Deus nosso.

Ó, Palavra do Pai, vos escutamos;
Ó, Pai, olhai o rosto do vosso Verbo;
Ó, Espírito de amor, vinde a nós;
Senhor, Deus nosso.

Meu Deus, Trindade a quem adoro!
Fazei das nossas almas vosso céu,
Levai-nos ao lar onde Vós habitais,
Senhor, Deus nosso.

Glória ao Pai, e ao Filho, e ao Espírito:
Fonte de gozo pleno e verdadeiro,
Ao Criador do céu e da terra,
Senhor, Deus nosso. Amém.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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