sábado, 12 de janeiro de 2019

Batismo do Senhor


1ª Leitura (Is 42, 1-4.6-7): Diz o Senhor: «Eis o meu servo, a quem Eu protejo, o meu eleito, enlevo da minha alma. Sobre ele fiz repousar o meu espírito, para que leve a justiça às nações. Não gritará, nem levantará a voz, nem se fará ouvir nas praças; não quebrará a cana fendida, nem apagará a torcida que ainda fumega: proclamará fielmente a justiça. Não desfalecerá nem desistirá, enquanto não estabelecer a justiça na terra, a doutrina que as ilhas longínquas esperam. Fui Eu, o Senhor, que te chamei segundo a justiça; tomei-te pela mão, formei-te e fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão os que habitam nas trevas».

Salmo Responsorial: 28
R. O Senhor abençoará o seu povo na paz.

Tributai ao Senhor, filhos de Deus, tributai ao Senhor glória e poder. Tributai ao Senhor a glória do seu nome, adorai o Senhor com ornamentos sagrados.

A voz do Senhor ressoa sobre as nuvens, o Senhor está sobre a vastidão das águas. A voz do Senhor é poderosa, a voz do Senhor é majestosa.

A majestade de Deus faz ecoar o seu trovão e no seu templo todos clamam: Glória! Sobre as águas do dilúvio senta-Se o Senhor, o Senhor senta-Se como Rei eterno.

2ª Leitura (At 10, 34-38): Naqueles dias, Pedro tomou a palavra e disse: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz acepção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável. Ele enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando a paz por Jesus Cristo, que é o Senhor de todos. Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia, a começar pela Galileia, depois do baptismo que João pregou: Deus ungiu com a força do Espírito Santo a Jesus de Nazaré, que passou fazendo o bem e curando todos os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele».

Aleluia. Abriram-se os céus e ouviu-se a voz do Pai: «Este é o meu Filho muito amado: escutai-O». Aleluia.

Evangelho (Lc 3,15-16.21-22): Como o povo estivesse na expectativa, todos se perguntavam interiormente se João era ou não o Cristo, e ele respondia a todos: «Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desatar a correia de as suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo». Enquanto todo o povo estava batizado. Quando Jesus, também batizado, se pôs em oração, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele, em forma corpórea, como uma pomba. E do céu veio uma voz: «Tu és o meu filho amado; em ti está meu pleno agrado».

«Tu és o meu filho amado; em ti está meu pleno agrado»

+ Pe. Joan BUSQUETS i Masana (Sabadell, Barcelona, Espanha)

Hoje contemplamos Jesus já adulto. O menino da Manjedoura faz-se homem completo, maduro e respeitável e, chega o momento em que deve trabalhar na obra que o Pai lhe confiou. É assim como o encontramos no Jordão no momento de começar esta labor. Outro mais na fila daqueles contemporâneos seus que iam ouvir a João e lhe pedir o banho do batismo, com signo de purificação e renovação interior.

Ali, Jesus é descoberto e assinalado por Deus: «Enquanto todo o povo estava batizado Quando Jesus, também batizado, se pôs em oração, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele, em forma corpórea, como uma pomba. E do céu veio uma voz: “Tu és o meu filho amado; em ti está meu pleno agrado» (Lc 3,21-22). É o primeiro ato da sua vida pública, sua investidura como Messias.

É também o prefácio de seu modo de agir: Não agirá com violência, nem com gritos e aspereza, senão com silêncio e suavidade. Não cortará a canha quebrada, senão que a ajudará a se manter firme. Abrirá o olhos aos cegos e liberará os cativos. Os sinais messiânicos que descrevia Isaías, cumprir-se-ão nele. Nós somos os beneficiários de tudo isso porque, como lemos hoje na carta de São Paulo: «Ele nos salvou, não por causa dos atos de justiça que tivéssemos praticado, mas por sua misericórdia, mediante o banho da regeneração e renovação do Espírito Santo. Este Espírito, ele o derramou copiosamente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador para que, justificados pela sua graça, nos tornemos, na esperança, herdeiros da vida eterna» (Tit 3,5-7).

A festa do Batismo de Jesus deve nos ajudar a lembrar nosso próprio Batismo e compromissos que por nós tomaram nossos pais e padrinhos ao nos apresentar na Igreja para nos fazer discípulos de Jesus: «O Batismo nos liberou de todos os males, que são os pecados, mas com a graça de Deus devemos cumprir com bondade» (S. Cesáreo de Arles).

«…em Ti pus toda a minha complacência»

P. Luciano Miguel, sdb

Sto Hilário de Poitiers, bispo
A festa do Batismo do Senhor dá início ao Tempo comum, após toda a dinâmica celebrativa do Natal. Jesus, de repente, cresce para a sua missão, para o anúncio do Reino. Agora é “homem novo”, “filho muito amado”, predileção de Deus. É agora aquele a quem todo o crente deve seguir, assumindo radicalmente as suas atitudes e o seu projeto. É pelo Espírito que se revela a verdadeira identidade de Jesus: ser Filho. A sua missão na história e o seu destino são compromisso na obra do Pai. E Ele sabe que consequência terá esta missão e este compromisso: a salvação de todos os homens na abundância da sua vida sem fim.

João tomou a palavra e disse-lhes: «Eu batizo-vos com água, mas vai chegar quem é mais forte do que eu, do qual não sou digno de desatar as correias das sandálias.

João prima, como sempre, pela honestidade, verdade e humildade: ele não é o Messias, afirma-o com todas as letras. Marca perfeitamente a diferença quase abismal entre os dois, entre o seu batismo e o do Messias que o povo espera e que já está perto. Põe Jesus mesmo no topo, pois nem sequer nas correias das sandálias d’Ele, João é digno de tocar.
A honestidade e a humildade de João hoje soam a escândalo. Perante tanta ânsia de poder mesmo aniquilando a dignidade do outro, frente à ânsia de aparecer e de parecer que hoje permeiam o sector público e privado, certamente haveria quem não deixaria perder a oportunidade de João Batista para subir na escala social. No momento presente ninguém pode negar esta triste realidade. Como reajo eu a tais comportamentos? Acusando? Condenando? Desesperando? Ou procurando ir contra a corrente mesmo nas coisas e factos mais insignificantes? Ou pior ainda, deixando-me arrastar por essa corrente? O meu sentir íntimo e agir exterior são tais que interpelam positivamente as pessoas que vivem ao meu lado?

Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo.

João explica ao povo a diferença entre o seu baptismo apenas de água e o do Messias que seria no Espírito e no fogo. Ou seja, enquanto o dele apenas era um convite à conversão, o de Jesus teria capacidade para os purificar e lhes perdoar os pecados. Mais tarde Jesus recordá-lo-á a Nicodemos: “Quem não renascer pelo Espírito…”
É pelo Espírito Santo que Deus atua nos sacramentos. Nós apenas costumamos fixar-nos na parte visível, mas essa não é a principal. Como adultos, procuramos reviver o grande acontecimento do nosso Batismo? Tomamos consciência que, a um dado momento, assumimos livre e responsavelmente a realidade do nosso Batismo que os nossos pais e padrinhos prometeram em nosso nome? Que projeção tem o Batismo, início da nossa filiação divina, na vida de cristãos que levamos? Sentimo-nos comprometidos com as promessas aí feitas? Sentimo-nos batizados e habitados pelo Espírito?

Quando todo o povo recebeu o batismo, Jesus também foi batizado;

O Evangelho apenas nos indica a sucessão dos acontecimentos. Jesus parece dar a vez a todos, ficando Ele para o fim. Mesmo assim em nada se faz notar diferente dos outros. Embora sendo Filho de Deus, alinha-se ao lado de todos aqueles que necessitavam de um batismo de penitência e conversão. Tremendo exemplo de humildade e de comunhão conosco. Aceita o Batismo de água para o transformar em Batismo também de Espírito Santo.
Inserindo-se no grupo de João Batista, e submetendo-se a um ato público de humilhação, Jesus como que abre um novo estilo de esperar o Messias. Já não são apenas os Judeus mas também os pagãos que vêm escutar João e batizar-se. O batismo de Jesus como que abre as portas à universalidade de filhos de Deus. Se Santo Agostinho diz que “Jesus foi batizar-se para nos deixar uma fonte de limpeza: desde que Ele desceu ao rio a água tudo purifica”, São Paulo avança mais e afirma que “todos os que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo; já não há judeu nem grego…”. O Batismo de Jesus passa a ser o anúncio do “homem novo” em que todos nós nos tornamos ao sermos batizados. É o universalismo da salvação.

E, enquanto orava, o Céu abriu-se e o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma corporal, como uma pomba.

São Lucas associa aqui o Batismo e a oração. Como em várias outras passagens do seu Evangelho, é nos momentos em que Jesus reza que a glória de Deus se manifesta mais visivelmente. Aqui é o céu que se abre e o Espírito Santo desce em forma de pomba. Batismo, oração e Espírito Santo são inseparáveis.
A oração cria um ambiente adaptado para a revelação de Deus e ao mesmo tempo apresenta-nos a Jesus na sua plena humanidade, necessitando confiar-se ao Pai para conhecer qual era a sua missão e como realizá-la plenamente. A comunhão entre Jesus e o Espírito torna-se aqui mais que evidente. Por isso João diz que Jesus nos batizará “com o Espírito e com o fogo”. Jesus atua no Espírito e pelo Espírito. Temos consciência que não é apenas no Batismo mas em todos os Sacramentos que o Espírito está presente e atuante? Como O sentimos, por exemplo, na Eucaristia e na Reconciliação? O Espírito não desce apenas sobre Jesus mas permanece em Jesus. Temos consciência que também está em nós?

E do Céu fez-se ouvir uma voz: «Tu és o meu Filho muito amado: em Ti pus toda a minha complacência».

O Céu abre-se para descer o Espírito Santo e a voz que, pelo seu conteúdo, é evidentemente a do Pai. E assim no Batismo de Jesus torna-se presente a Santíssima Trindade. “Fez-se ouvir uma voz”. Quem a ouviu? Quem captou a divindade que o Pai confere ao Filho com estas palavras? Para além de toda a dimensão visível e audível, o texto encerra uma grande manifestação do Deus Uno e Trino.
Antes vimos a comunhão de Jesus com o Espírito Santo. Agora trata-se da comunhão com o Pai. Jesus inicia com o Batismo - e com a ternura especial do Pai -, a sua missão de servo sofredor: a sua vida pública. De onde vem esta “complacência”? Precisamente da atitude do Filho que em tudo procura cumprir a vontade do Pai. São Paulo recorda-nos: “Pelo Batismo sepultamo-nos juntamente com Ele, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos nós também numa vida nova”. “Vida nova”, “fazer a vontade do Pai”, “Viver como batizados”. Aceitamos estes desafios?

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