quinta-feira, 1 de novembro de 2018

2 de novembro: Comemoração de todos os fiéis defuntos


1ª Leitura (Job 19, 1.23-27a): Job tomou a palavra e disse: «Quem dera que as minhas palavras fossem escritas num livro, ou gravadas em bronze com estilete de ferro, ou esculpidas em pedra para sempre! Eu sei que o meu Redentor está vivo e no último dia Se levantará sobre a terra. Revestido da minha pele, estarei de pé; na minha carne verei a Deus. Eu próprio O verei, meus olhos O hão de contemplar».

Salmo Responsorial: 26
R. Espero contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos.

O Senhor é minha luz e salvação: a quem hei de temer? O Senhor é o protetor da minha vida: de quem hei de ter medo?

Uma coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para gozar da suavidade do Senhor e visitar o seu santuário.

Ouvi, Senhor, a voz da minha súplica, tende compaixão de mim e atendei-me. A vossa face, Senhor, eu procuro: não escondais de mim o vosso rosto.

Espero vir a contemplar a bondade do Senhor na terra dos vivos. Confia no Senhor, sê forte. Tem coragem e confia no Senhor.

2ª Leitura (Rm 2 Cor 4, 14–5,1): Como sabemos, irmãos, Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele. Tudo isto é por vossa causa, para que uma graça mais abundante multiplique as ações de graças de um maior número de cristãos para glória de Deus. Por isso, não desanimamos. Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando, o homem interior vai-se renovando de dia para dia. Porque a ligeira aflição dum momento prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória. Não olhamos para as coisas visíveis, olhamos para as invisíveis: as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas. Bem sabemos que, se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna, que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens.

Aleluia. Bendito sejais, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelastes aos pequeninos os mistérios do reino. Aleluia.

Evangelho (Lc 23,33.39-43): Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali crucificaram Jesus e os malfeitores: um à sua direita e outro à sua esquerda. Um dos malfeitores crucificados o insultava, dizendo: Tu não és o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós! Mas o outro o repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando começares a reinar. Ele lhe respondeu: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso.

«Construís os túmulos dos profetas! No entanto, foram vossos pais que os mataram»

Fr. Agustí BOADAS Llavat OFM (Barcelona, Espanha)

Hoje, o Evangelho recorda o fato fundamental do Cristianismo: a morte e ressurreição de Jesus. Façamos nossa, agora, a oração do Bom Ladrão: Jesus, lembra-te de mim (Lc 23, 42). A Igreja não reza pelos santos como ora pelos defuntos, que dormem no Senhor, mas encomenda-se às orações daqueles e reza por estes, diz Sto. Agostinho num Sermão. Pelo menos uma vez por ano nós, os cristãos, questionamo-nos sobre o sentido da nossa vida e sobre o sentido da nossa morte e ressurreição. É no dia da comemoração dos fiéis defuntos, da qual Sto. Agostinho nos apontou a diferença em relação à festa de Todos os Santos.

Os sofrimentos da Humanidade são os sofrimentos da Igreja e têm em comum, sem dúvida, o fato de todo o sofrimento ser de algum modo privação de vida. Por isso a morte de um ser querido nos causa uma dor tão indescritível que nem a fé sozinha consegue aliviá-la. Assim, os homens sempre quiseram honrar os defuntos. Na verdade, a memória é uma forma de fazer com que os ausentes estejam presentes, de perpetuar a sua vida. Mas os mecanismos psicológicos e sociais, com o tempo, amortecem as recordações. E se, humanamente, esse fato pode levar à angústia, os cristãos, graças à ressurreição, têm paz. A vantagem de nela crermos é que nos permite confiar em que, apesar do esquecimento, voltaremos a encontrar-nos na outra vida.

Uma segunda vantagem de crermos consiste em que, ao recordar os defuntos, rezamos por eles. Fazemo-lo no nosso interior, na intimidade com Deus, e cada vez que rezamos juntos, na Eucaristia: não estamos sós perante o mistério da morte e da vida, antes o compartilhamos como membros do Corpo de Cristo. Mais ainda: ao ver a cruz, suspensa entre o céu e a terra, sabemos que se estabelece uma comunhão entre nós e os nossos defuntos. Por isso S. Francisco proclamou agradecido: Louvado sejas, Senhor, pela nossa irmã, a morte corporal.

Morramos com Cristo, para vivermos com Ele.

Do Livro de Santo Ambrósio (Sec. IV), bispo, sobre a morte de seu irmão Sátiro

«Vemos que também a morte pode ser lucro e a vida ser castigo. Por isso Paulo afirma: Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro. Que é Cristo, senão morte do corpo e espírito de vida? Morramos pois com Ele, para vivermos com Ele. Seja nosso exercício diário o amor da morte, a fim de que a nossa alma, pelo afastamento dos desejos corpóreos, aprenda a elevar se para as alturas, onde o prazer terreno não pode chegar nem atraí-la a si, e assim receba a imagem da morte para não incorrer no castigo da morte. A lei da carne contradiz a lei do espírito e quer submetê-la à lei do erro. Qual será o remédio para isto? Quem me libertará do meu corpo mortal? A graça de Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor.

Temos médico, apliquemos o remédio. O nosso remédio é a graça de Cristo, e o corpo mortal é o nosso próprio corpo. Por conseguinte, afastemo-nos do corpo para não nos afastarmos de Cristo. Embora vivamos no corpo, não sigamos o que é do corpo nem nos sujeitemos às exigências da natureza, mas prefiramos os dons da graça.

Que mais ainda? O mundo foi resgatado pela morte de um só. Cristo podia não ter morrido, se quisesse; mas julgou que não devia fugir à morte, como se fosse inútil; antes, considerou a como o melhor meio para nos salvar. A sua morte foi, portanto, a vida de todos. Recebemos o sinal sacramental da sua morte, anunciamos a sua morte na oração, proclamamos a sua morte na Eucaristia; a sua morte é vitória, é sacramento, é solenidade anual em todo o mundo.

Que diremos ainda da sua morte, depois de mostrarmos, com o exemplo divino, que só a morte conseguiu a imortalidade e se redimiu a si própria? Não devemos pois chorar a morte que é a causa da salvação universal; não devemos fugir à morte que o Filho de Deus não desprezou nem evitou.

Sem dúvida, a morte não fazia parte da natureza, mas tornou se natural; porque Deus não instituiu a morte ao princípio, mas deu a como remédio. Condenada pelo pecado a um trabalho contínuo e a lamentações insuportáveis, a vida dos homens começou a ser miserável. Deus teve de pôr fim a estes males, para que a morte restituísse o que a vida tinha perdido. Com efeito, a imortalidade seria mais penosa que benéfica, se não fosse promovida pela graça.

A nossa alma aspira a sair do estreito círculo desta vida, a libertar se do peso deste corpo terreno e a caminhar para aquela assembleia eterna onde só chegam os santos, para aí cantar o louvor de Deus, como cantam, segundo a leitura profética, os celestes tocadores da cítara: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor Deus omnipotente; justos e verdadeiros são os vossos caminhos, ó Rei das nações. Quem não há de temer e glorificar o vosso nome? Porque só Vós sois santo, e todos os povos virão adorar Vos. A nossa alma deseja partir deste mundo para contemplar as vossas núpcias eternas, ó Jesus, nas quais, por entre o cântico jubiloso de todos os eleitos, a Esposa é acompanhada da terra ao Céu – a Vós acorrerão todos os homens – já não sujeita ao mundo, mas unida ao Espírito.

Era isto que o santo David desejava, acima de tudo, contemplar e admirar, quando dizia: Uma só coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para viver na alegria do Senhor.»

A nossa verdadeira morada

(São Cipriano [c.200-258], bispo de Cartago e mártir).

«É conveniente nunca perdermos de vista, caros irmãos, que renunciamos ao mundo e que vivemos aqui em baixo como hóspedes de passagem, como estrangeiros (Heb11,13). Bendigamos o dia que atribui a cada um a sua verdadeira morada, e que, depois de nos ter arrancado a este mundo e libertado das suas amarras, nos conduz ao paraíso e ao Reino dos Céus. Quem não se apressaria em regressar à pátria depois ter passado algum tempo o estrangeiro? Quem [...] não desejaria um vento favorável para navegar, para mais rapidamente abraçar os seus? A nossa pátria é o paraíso; desde sempre, tivemos os patriarcas por pais.

Porque não nos apressamos então para ver a nossa pátria, porque não corremos para saudar os nossos pais? Temos uma multidão de entes queridos à nossa espera, pais, irmãos, filhos, já seguros da sua própria salvação mas preocupados ainda com a nossa; eles desejam ver-nos entre eles. [...] É lá que se encontra o coro glorioso dos apóstolos, a multidão entusiasmada dos profetas, o exército inumerável de mártires, coroados com o seu sucesso contra o inimigo e o sofrimento [...]; é lá que reinam as virgens [...]; é lá que, por último, são recompensados os homens que experimentaram compaixão, que multiplicaram os seus atos de caridade provendo às necessidades dos pobres e que, fiéis aos preceitos do Senhor, chegaram a elevar-se dos bens terrenos aos tesouros do céu. Apressemo-nos, por conseguinte em satisfazer a nossa impaciência de nos juntarmos a eles, e de comparecermos o mais rapidamente possível perante Cristo. Que Deus descubra em nós esta aspiração [...], Ele que concede a recompensa suprema da Sua glória aos que a desejaram com o maior ardor.»

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