quinta-feira, 7 de junho de 2018

Solenidade do Sagrado Coração de Jesus


1ª Leitura: Os 11,1.3-4.8c-9

As breves linhas de Oséias reúnem ao mesmo tempo ternura e paixão vibrante, desprezo contido e vontade de salvar. Os homens amados por Deus, povo acumulado de amor e de cuidados, não corresponderam. Deus, que ama apaixonadamente, vencerá com seu amor a não-correspondência e a rebelião, reconduzirá a si os homens e fará com que amadureçam no amor. Os homens deverão entrar em si e compreender finalmente com que amor Deus os amou, como cuidou deles.

Será que nos tornamos, hoje em dia, tão insensíveis, tão incapazes de ver e sentir, a ponto de não percebermos que em torno de nós, dentro de nós, há um amor do qual provém tudo o que é bom, belo, verdadeiro e válido em nossas vidas?

O capítulo 11 de Oséias se distingue pela amplidão de horizontes e a elevação de pensamento. É aí apresentado o amor de Deus por Israel sob a imagem de um pai que alimenta, guia e ama seu filho. Este amor é tão grande que, apesar de Israel se ter tornado indigno dele, Deus não quer a punição mas a misericórdia.

A festa do Coração de Cristo nos convida a refletir: a pensar mais em nós do que nele, para chegarmos a entrever seu amor; a ver que somos fruto do seu amor, e que por isso devemos também ser amor para Ele. Dessa reflexão brotará um canto de libertação (cf. Salmo Responsorial: Is 12).

2ª Leitura: Ef 3,8-12.14-19

O desejo mais profundo do homem é amar e ser amado. Um amor não correspondido é um tormento tão grande que pode levar à loucura e ao suicídio. Não sem motivo, o Concílio nos lembra que "Deus não criou o homem deixando-o só; desde o princípio criou-os homem e mulher" (Gn 1,27), e a sua união constitui a primeira forma de comunhão de pessoas (GS 12).

A sede de felicidade é uma sede de amor, mas só um amor verdadeiro, grande, profundo, duradouro, torna feliz. E os homens, infelizmente, fazem com muita frequencia duas constatações: um amor verdadeiramente pleno não existe ou não pode durar, porque sempre truncado pela morte; o amor sofre todos os atentados que o degradam, aviltam, ferem, matam. E então deverão os homens permanecer assim para sempre frustrados? Será insaciável sua sede? A história da salvação nos diz que, sobretudo neste ponto, tem o homem necessidade de ser libertado, reintegrado, restaurado, redimido; que o homem deve aprender a amar com sinceridade e plenitude, mas que seu amor só será assim se integrado no amor de Deus; e ainda mais, que Deus se fez homem para ensinar aos homens, o que é o amor, como se ama.

Apesar de tudo - pelo menos diante da morte -, o homem sente medo terrível. Quem nos dará segurança? Quem pode satisfazer-nos em nosso desejo ardente de amar e ser plenamente amados? São Paulo sente este drama humano e escreve a povos que o sentiam duramente, porque envoltos em ideologias nada confortadoras, entre cultos e divindades torpes, cruéis ou tolas. A magnífica carta aos Efésios, ao contrário, faz com que os cristãos - convertidos do paganismo - sintam-se totalmente envoltos em um imenso, terno e forte amor, que ultrapassa todo conhecimento, e que cumula os homens da plenitude de Deus.

Os vv.8-12 propõem siteticamente o conteúdo daquele mistério oculto durante séculos, de que Paulo foi feito ministro. Seu conhecimento nos dá a nós, cristãos, a possibilidade de chegar até Deus (v.12;2,18; Rm 5,1-2). A grandeza deste mistério, porém, é tal que só o Pai nos pode dar, a nós, seus filhos, um conhecimento profundo dele, por meio do Espírito. Esta é a finalidade da oração de Paulo (vv.14-19). Compreender esse mistério significa compreender em toda a sua amplidão (v.18) o amor de Cristo (v.19). Ora, isto não é possível sem a força que vem do Espírito e sem o dom da fé e da caridade (vv. 16-17; Rm 5,5).

Na primeira e última página da vida terrena do homem, e na trama de todo o seu desenrolar, está escrito: Deus te ama e te salva em Cristo; e o destino eterno do homem é: feliz para sempre na plenitude de Amor que é Deus. Este testemunho, o cristão pode e deve dar a todos os homens.

Evangelho (Jo 19,31-37): Era o dia de preparação do sábado, e este seria solene. Para que os corpos não ficassem na cruz no sábado, os judeus pediram a Pilatos que mandasse quebrar as pernas dos crucificados e os tirasse da cruz. Os soldados foram e quebraram as pernas, primeiro a um dos crucificados com ele e depois ao outro.  Chegando a Jesus viram que já estava morto. Por isso, não lhe quebraram as pernas, mas um soldado golpeou-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu sangue e água. (Aquele que viu dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; ele sabe que fala a verdade, para que vós, também, acrediteis). Isto aconteceu para que se cumprisse a Escritura que diz: «Não quebrarão nenhum dos seus ossos». E um outro texto da Escritura diz: «Olharão para aquele que traspassaram».

«Um soldado golpeou lhe o lado com uma lança»

P. Raimondo M. SORGIA Mannai OP (San Domenico di Fiesole, Florencia, Italia)

Hoje se nos oferece ante os olhos corporais — melhor ainda, ante os “olhos interiores”, iluminados pela fé — a figura de Cristo que, acabado de morrer na Cruz, teve o costado aberto por uma lança infligida pelo centurião. «mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água.» (Jo 19,34). Espetáculo angustioso e, ao mesmo tempo muito eloquente! Não há mais o mínimo espaço para manter a tese de algum que afirma uma morte aparente: Jesus está certamente morto 100%. E mais, aquela misteriosa “água”, que não sairia de um corpo saudável, normal, nos indica segundo a medicina moderna que Cristo deve ter morrido a causa de um infarto ou, como diziam nossos antepassados, com o coração rebentado. Só neste caso se verifica a separação do soro dos glóbulos vermelhos. Isto explicaria aquele anômalo “sangue e água”.

Cristo, portanto, morreu verdadeiramente, e morreu seja a causa de nossos pecados seja por seu mais vivo e principal desejo: poder anular nossos pecados. «Com minha morte venci a morte e exaltei ao homem à sublimidade do céu» (Melitón de Sardis). Deus, que manteve a promessa de ressuscitar o seu Filho, manterá também a segunda promessa: ressuscitara-nos também a nós e nos elevará a sua própria direita. Mas põe uma condição mínima: crer Nele e deixarmos salvar por Ele. Deus não impõe a ninguém seu amor em detrimento da liberdade humana.

Em fim, sobre aquele Homem que sofreu a lançada em seu coração, «E diz em outra parte a Escritura: Olharão para aquele que transpassaram» (Jo 19,37), confirma-nos também o Apocalipse: «Ei-lo que vem com as nuvens. Todos os olhos o verão, mesmo aqueles que o traspassaram. Por sua causa, hão de lamentarem-se todas as raças da terra. Sim. Amém.» (Ap 1,7). Esta é uma sagrada exigência da Justiça divina: finalmente, também aqueles que o rejeitaram obstinadamente, deverão reconhecê-lo. Inclusive, o tirano autólatra, o assassino sem piedade, o ateu soberbo..., todos sem exceção se verão obrigados a ajoelhar-se ante Ele, reconhecendo-o como o verdadeiro, único Deus. Não é melhor, então, ser seus amigos desde agora?

"O Sagrado Coração é fonte inesgotável do amor de Deus para o mundo".

No Calvário, tudo parece acabado; e é verdade para os que crucificaram Jesus; mas o discípulo amado compreende que tudo começa agora num plano mais elevado. Vê o pleno significado daquele sacrifício; o verdadeiro cordeiro de Deus foi imolado na verdadeira Páscoa para a mais verdadeira e plena libertação dos homens da escravidão do ódio, do mal, do pecado: "Aquele dia era um dia solene"! É o amor que triunfa, que "se abre" (o coração traspassado é o símbolo disso) para derramar sobre os homens as fontes da graça (o sangue e a água, símbolo dos sacramentos), e finalmente os homens verão e compreenderão com que amor Deus os amou.

Porque o Pai preservou todos os seus ossos, o soldado fere-lhe o coração. O coração ferido de Cristo traduz o desígnio do Pai entregar o dom da vida do Filho até ao extremo, até à última gota de sangue e de água que ainda podia jorrar do seu corpo.

O golpe da lança depois da morte de Jesus é como o surgimento de todo o mistério pascal. Na ponta da lança se concentra e sintetiza toda a paixão e a cruz suportadas por Cristo. Ao gesto hostil, ofensivo e cruel, a resposta imediata do dom, do perdão, da graça. Uma fonte de vida nova, a gratuidade absoluta de Deus – misericórdia, perdão e redenção.

O sangue confirma a realidade do sacrifício de Cristo que, como cordeiro pascal, se ofereceu para a salvação do mundo (6,51). A água, símbolo do Espírito, atesta sua fecundidade espiritual (7,37-39). Com razão, muitos Padres viram na pagua o símbolo do batismo, e no sangue, o da Eucaristia. Em seguida, eles viram nos dois sacramentos o sinal da Igreja que, como nova Eva, nasceu do lado de Cristo.

O evangelista mostra todo o significado que vê naquilo que descreveu minuciosamente, afirmando que "o seu testemunho é verdadeiro e ele sabe que diz a verdade, para que vós também creiais".

A celebração de hoje é uma exaltação do Amor; mostra que tudo é devido ao amor; da criação à redenção, o eterno destino de glória na plenitude do Amor-Deus. Nada mais viril, nada mais forte do que o amor divino-humano do Cristo, nada mais valoroso, mais nobre do que reconhecer e retribuir este amor.

Para Refletir

A devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem a sua origem na própria Sagrada Escritura. O coração é um dos modos para falar do infinito amor de Deus por você. Este amor encontra seu ponto alto com a vinda de Jesus.

A devoção ao Sagrado Coração de um modo visível aparece em dois acontecimentos fortes do evangelho: o gesto de São João, discípulo amado, encostando a sua cabeça em Jesus durante a última ceia (cf. Jo 13,23); e na cruz, onde o soldado abriu o lado de Jesus com uma lança (cf. Jo 19,34). Em um temos o consolo pela dor da véspera de sua morte, e no outro, o sofrimento causado pelos pecados da humanidade.

Estes dois exemplos do evangelho nos ajudam a entender o apelo de Jesus feito em 1675 a Santa Margarida Maria Alacoque:

"Eis este coração que tanto tem amado os homens... não recebo da maior parte senão ingratidões, desprezos, ultrajes, sacrilégios, indiferenças... Eis que te peço que a primeira sexta-feira depois da oitava do Santíssimo Sacramento (Corpo de Deus) seja dedicada a uma festa especial para honrar o meu coração, comungando neste dia e dando-lhe a devida reparação por meio de um ato de desagravo, para reparar as indignidades que recebeu durante o tempo em que esteve exposto sobre os altares; E prometo-te que o Meu Coração se dilatará para derramar com abundância as influências de Seu divino Amor sobre os que tributem esta divina honra e que procurem que ela lhe seja prestada."

O papa João Paulo II sempre cultivou esta devoção, e a incentiva a todos que desejam crescer na amizade com Jesus. Em 1980, no dia do Sagrado Coração, afirmou: "Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a liturgia da Igreja concentra-se, com adoração e amor especial, em torno do mistério do Coração de Cristo. Quero hoje dirigir juntamente convosco o olhar dos nossos corações para o ministério desse Coração. Ele falou-me desde a minha juventude. Cada ano volto a este mistério no ritmo litúrgico do tempo da Igreja."

S. Bento Menni não se cansa de nos dizer: "O Coração de Jesus é nosso modelo, nossa força, nosso guia e nosso tudo… Descansemos n’Ele. O seu coração será o lugar do nosso repouso… Ele nos ensinará e nos dará força para imitarmos sua grande mansidão em todas as circunstâncias da vida".

No Coração de Jesus está expresso o núcleo essencial do cristianismo, em Cristo foi-nos revelada e comunicada toda a novidade revolucionária do Evangelho: o Amor que nos salva e nos faz viver já na eternidade de Deus. O evangelista João escreve: "Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça mas tenha a vida eterna" (Jo 3,6). Então, o seu Coração divino chama o nosso coração; convida-nos a sair de nós mesmos, a abandonar as nossas seguranças humanas para confiar nele e, seguindo o seu exemplo, a fazer de nós mesmos um dom de amor sem reservas. Sim, o seu Coração está aberto por nós e aos nossos olhos; e deste modo está aberto o Coração do próprio Deus!

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