quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

8 de dezembro: A Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria

Textos: Gênesis 3, 9-15.20; Efésios 1, 3-6.11-12; Lucas 1, 26-38.

Evangelho (Lc 1,26-38): Quando Isabel estava no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, a uma virgem prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi. A virgem se chamava Maria.  O anjo entrou onde ela estava e disse: «Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo». Ela perturbou-se com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. O anjo, então, disse: «Não tenhas medo, Maria! Encontraste graça junto a Deus. Conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande; será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai. Ele reinará para sempre sobre a descendência de Jacó, e o seu reino não terá fim». Maria, então, perguntou ao anjo: «Como acontecerá isso, se eu não conheço homem?». O anjo respondeu: «O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na sua velhice. Este já é o sexto mês daquela que era chamada estéril, pois para Deus nada é impossível». Maria disse: «Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua palavra». E o anjo retirou-se».

«Alegra-te, cheia de graça! O Senhor está contigo»

Rev. D. David COMPTE i Verdaguer (Manlleu, Barcelona, Espanha)

Hoje, o Evangelho toca um acorde de três notas. Três notas, nem sempre bem afinadas na nossa sociedade: a do fazer, a da amizade e a da coerência de vida. Hoje em dia, fazemos muitas coisas, mas, temos um projeto? Hoje, que navegamos na sociedade da comunicação, cabe nos nossos corações a solidão? Hoje, na era da informação, esta permite-nos formar a nossa personalidade?

Um projeto. Maria, uma mulher «prometida em casamento a um homem de nome José, da casa de Davi» (Lc 1,28). Maria tem um projeto. Evidentemente, de proporções humanas. Porém, Deus irrompe na sua vida para apresentar-lhe outro projeto... de proporções divinas. Também hoje, quer entrar em nossa vida e dar proporções divinas ao nosso dia-a-dia humano.

Uma presença. «Não tenhas medo, Maria!» (Lc 1,30). Não construamos de qualquer jeito! Não seja que a adição ao “fazer” esconda um vazio. O matrimônio, a vida de serviço, a profissão não têm de ser uma fuga para diante. «Cheia de graça! O Senhor está contigo» (Lc 1,28). Presença que acompanha e dá sentido. Confiança em Deus, que — por conseguinte— nos leva à confiança com os outros. Amizade com Deus que revigora a amizade com os outros.

Formar-nos. Hoje, recebemos tantos estímulos muitas vezes opostos, que é preciso dar forma e unidade à nossa vida. Maria, diz São Luís Maria Grignion, «é o molde vivo de Deus». Existem duas maneiras de fazer uma escultura, expõe Grignion: uma, a mais difícil, à base de batidas de cinzel. A outra, usando um molde. Esta é mais simples do que a primeira. Mas o sucesso depende de que a matéria seja maleável e o molde desenhe com perfeição a imagem. Maria é o molde perfeito. Procuramo-la, sendo matéria maleável?

A Imaculada Conceição

Pe. Antonio Rivero, L.C.

A Imaculada Conceição é o primeiro dos privilégios concedidos à Maria, com vista à sua futura maternidade divina. Privilégio e dom que a torna digna de ser toda de Deus e somente de Deus, desde o primeiro momento da sua concepção, dado que, desde então, foi preservada imune de toda mancha do pecado original, com o qual todos nascemos, herança dos nossos primeiros pais, Adão e Eva. Grande mistério!

Aprofundemos o mistério. A pobre razão humana dos teólogos, mesmo iluminada pela fé, levou muitos séculos para encontrar uma maneira de harmonizar o dogma da Imaculada Conceição, com a redenção universal de Cristo, que inclui todos os seres humanos, sem exceção, nem sequer a Mãe de Deus. Os cristãos, porém, que ignoram os tratados científicos, mas têm o sentido da fé que vem do mesmo Espírito Santo, já aceitavam alegremente, desde muitos séculos, a doutrina da Imaculada Conceição de Maria, e não davam ouvidos as objeções e as dificuldades que os estudiosos colocavam na mesma. Por outro lado, louvavam com alegria as razões de conveniência, embora não satisfizessem os teólogos, que preenchiam completamente o coração e a piedade dos fiéis. E repetiam, convencidos de que, se Deus pudesse fazer imaculada a Maria, e era conveniente que a fizesse, não há dúvida que assim o fez. Era impossível que a Rainha dos anjos, que iria esmagar a cabeça de Satanás (primeira leitura), estivesse sob seu controle, mesmo que fosse só por um momento. Também não era concebível que a mediadora necessária para a reconciliação do mundo com Deus, tivesse sido sua inimiga, nem sequer por um instante. Era impensável que Maria, por meio da qual a salvação veio a nós, dando-nos Cristo, tivesse sido concebida em pecado. Não podia ser possível que o sangue redentor de Cristo brotasse de uma fonte manchada por culpa.

Façamos um percorrido histórico pelo Oriente e Ocidente, sempre perguntando sobre este maravilhoso mistério. Esta festa foi celebrada pela primeira vez em algumas igrejas do Oriente, a partir do século VIII, na Irlanda desde o IX e na Inglaterra desde o século XI. Em seguida, ela se espalhou pela Espanha, França e Alemanha. Apesar de vários teólogos medievais questionarem ou terem negado o privilégio da Virgem, pelo que dissemos (Cristo redimiu todos), a Igreja proclamou oficialmente o dogma no século XIX, com o Papa Pio IX, esta doutrina que estava em sintonia com o senso sobrenatural do coração do cristão, continuou a se espalhar por todo o mundo. Assim, Maria não foi redimida se não pecou? A resposta dada pela Igreja e a teologia a este mistério é esta: Maria recebeu a graça preventiva que era para ser a Mãe do Redentor. A graça preventiva é mais sublime do que a graça redentora; esta supõe que existia uma mancha que Deus deveria ter limpado. Em Maria não aconteceu isto. Por isso, o anjo a chamou: “cheia de graça” (evangelho).

As três pessoas divinas derramaram a sua misericórdia sobre esta mulher, da estirpe humana. Primeiro, Deus Pai ao querer associá-la ao mistério da Encarnação e fazê-la Mãe do seu próprio Filho, escolhe uma mulher quem, desde a origem da sua existência, adornou de uma santidade esplendorosa. Segundo, Deus Filho, ao eleger a sua própria Mãe, devia mostrar para ela o amor do melhor dos filhos, de um filho que quer fazer para a sua mãe todo o bem possível, admitindo-a à participação dos seus tesouros e das suas riquezas; por isso, desde o primeiro instante da concepção a adornou com a mais alta pureza e santidade, não apagando uma mancha já contraída, mas preservando-a de todo pecado. E terceiro, Deus Espírito Santo, da sua parte, para formar em Maria o Verbo Encarnado e assim elevá-la à dignidade de Esposa sua, requeria uma criatura que sempre tivesse sido perfeitamente santa; não bastando para isso os dons correspondentes aos demais homens, desde toda a eternidade decidiu levar a término este privilegio que enriquecesse Maria com todas as graças imagináveis e a elevaria a uma santidade muito superior a de todos os anjos e santos juntos: “Toda formosa és, Maria, não há em Ti mancha original”, canta a Igreja.   
O que Maria fez diante deste plano maravilhoso e misericordioso de Deus? Maria não colocou obstáculos a Deus. Ao contrário, colocou-se em disposição Dele, desde a humildade, e deu o consentimento da sua fé ao anúncio da sua vocação. Aqui Maria demonstrou também a sua grande misericórdia para com o gênero humano. E assim aparece como as primícias da salvação, como a estrela da manhã que anuncia Cristo, “sol de justiça” (cf. Mal 3,20), como a primeira criatura surgida do poder redentor de Cristo, como aquela que foi redimida de modo eminente e misericordioso por Deus em atenção aos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano. O plano do Pai que queria enviar o seu Filho à humanidade exigia, para a mulher destinada a levá-lo no seu seio, uma perfeita santidade que fosse reflexo da santidade divina. Ela que não conheceu o pecado, está no centro desta inimizade entre o demônio e a estirpe humana redimida por Jesus Cristo, a estirpe dos filhos de Deus. Ela aparece no meio desta singular batalha como a aurora que anuncia a vitória definitiva da luz sobre a escuridão. Ela vai na frente desse grande peregrinar da Igreja rumo a casa do Pai. No meio das tempestades que por todas as partes nos açoitam, Ela, Mãe cheia de misericórdia, não abandona os homens que peregrinam no claro escuro da fé. Ela é sinal de segura esperança e ardente caridade.

A que nos convida esta solenidade da Imaculada Conceição para nós? São Paulo nos responde na segunda leitura de hoje, escrita aos efésios: o Pai nos elegeu desde a eternidade em Cristo para sermos santos e imaculados na sua presença no amor. Isto requer de nós uma luta ascética, que dura toda a nossa vida, contra o pecado. Sabemos que o pecado original, embora é cancelado pelo batismo, normalmente deixa no interior do homem uma desordem que tem de ser superada, deixa uma propensão ao pecado, que tem de ser vencida com a graça e com o esforço humano (Cf. Conc. Trid. Decretum De iustificatione cap.10). O homem se dá conta de que no seu interior, por ser criatura ferida pelo pecado, combatem-se duas forças antagônicas: o bem e o mal. Não tudo aquilo que nasce espontaneamente no interior do homem, é bom por si mesmo. Requer um sano e sério discernimento dos próprios pensamentos e intenções para escolher, à luz de Deus e da sua Palavra, aquilo que é bom e santo. Em consequência, a vida humana e cristã ser revela como uma “luta” contra o mal (Cf. Gaudium et spes 13,15). Uma luta na que Deus está da parte do homem e na qual o homem deve eleger livremente a parte de Deus. O cristão, pois, tem a missão de travar esse combate contra o pecado em si mesmo, mas ao mesmo tempo deve lutar para que os outros não caiam no pecado. Deve lutar para que a boa nova da salvação em Jesus Cristo, chegue a todos os homens. O cristão, assim, encontra-se com Maria, no centro dessa inimizade entre o demônio e a estirpe humana e a sua responsabilidade não é pequena na história da salvação. Com a sua vida e com a sua morte deve dar testemunho de que a salvação está presente em Cristo Jesus, caminho, verdade e vida, e que o amor de Deus é mais forte do que todo pecado. Somos colaboradores da misericórdia de Deus, lutando contra o pecado na nossa vida e na vida dos nossos irmãos.  

Finalmente, esta Solenidade nos compromete, se somos realmente filhos de Maria e criaturas remidas pelo sangue de Cristo, para sermos santos e irrepreensíveis diante dele pelo amor (segunda leitura). Em cada Eucaristia o Verbo Encarnado descerá junto a nós, de maneira análoga ao modo em que desceu ao puro ventre de Maria na Encarnação. Esperemos que o encontre limpo e puro.

Para refletir: luto contra o pecado, contra o demônio e contra as suas ciladas? Vigio atentamente para rejeitar as tentações que me oferece o mundo: o prazer desordenado, a avareza, o desenfreio sexual, as paixões? Tenho misericórdia do mundo diante das ameaças do maligno hoje: a manipulação genética, a corrupção da linguagem que chega a ser já uma guerra semântica, a ameaça de uma destruição total, o eclipse da razão diante de temas fundamentais como são a família, a defesa da vida desde a sua concepção até o seu término natural, o relativismo e o niilismo que conduzem à perda total dos valores?

Para rezar: Meditemos nestes versos:

Olhai hoje, resplandecente,
A Rainha celestial.
Olhai como treme o mal
E se esconde a serpente.

Vestida de sol ardente,
A lua por pedestal
E, qual coroa nupcial,
Doze estrelas na cabeça.

É a Serva e a Senhor,
A Virgem profetizada,
Do Sol nascente a Aurora.

Vem de graça cumulada,
Pois o seu Filho, em boa hora,
Quis fazê-la Imaculada.

Qualquer sugestão ou dúvida entre em contato com o Padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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