quinta-feira, 31 de agosto de 2017

XXII Domingo Tempo Comum, Semana

Textos: Jr 20, 7-9; Rm 12, 1-2; Mt 16, 21-27

Evangelho (Mt 16,21-27): A partir de então, Jesus começou a mostrar aos discípulos que era necessário ele ir a Jerusalém, sofrer muito da parte dos anciãos, sumos sacerdotes e escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar. Então Pedro o chamou de lado e começou a censurá-lo: «Deus não permita tal coisa, Senhor! Que isto nunca te aconteça!» Jesus, porém, voltou-se para Pedro e disse: «Vai para trás de mim, satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!». Então Jesus disse aos discípulos: «Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá; e quem perder sua vida por causa de mim a encontrará. De fato, que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida? Ou que poderá alguém dar em troca da própria vida? Pois o Filho do Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada um de acordo com a sua conduta».

«Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me»

Rev. D. Joaquim MESEGUER García (Sant Quirze del Vallès, Barcelona, Espanha)

Hoje, contemplamos Pedro — figura emblemática e grande testemunho e mestre da fé — também como homem de carne e osso, com virtudes e debilidades, como cada um de nós. Devemos agradecer aos evangelistas o fato de nos terem apresentado a personalidade dos primeiros seguidores de Jesus com realismo. Pedro, que faz uma excelente confissão de fé — como vemos no Evangelho do XXI Domingo — e merece um grande elogio por parte de Jesus e a promessa da autoridade máxima dentro da Igreja (cf. Mt 16,16-19), recebe também do Mestre uma severa reprimenda, porque no caminho da fé ainda tem muito que aprender: «Vai para trás de mim, satanás! Tu estás sendo para mim uma pedra de tropeço, pois não tens em mente as coisas de Deus, e sim, as dos homens!» (Mt 16,23).

Ouvir a reprimenda de Jesus a Pedro é um bom motivo para fazer um exame de consciência sobre a nossa forma de ser cristão. Somos de verdade fiéis aos ensinamentos de Jesus Cristo, até ao ponto de pensarmos realmente como Deus, ou preferimos moldar-nos à forma de pensar e aos critérios deste mundo? Ao longo da história, os filhos da Igreja caímos na tentação de pensar segundo o mundo, de nos apoiarmos nas riquezas materiais, de procurarmos com afinco o poder político e o prestigio social; e por vezes movem-nos mais os interesses mundanos que o espírito do Evangelho. Perante estes fatos, volta a se apresentar-nos a pergunta: «De fato, que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se perde a própria vida?» (Mt 16,26).

Depois de ter posto as coisas bem claras, Jesus ensinou-nos o que quer dizer pensar como Deus: amar, com tudo o que isso comporta de renuncia pelo bem do próximo. Por isso o seguir a Cristo passa pela cruz. É um segui-lo entranhável, porque «com a presença de um amigo e capitão tão bom como Cristo Jesus, que se pôs na vanguarda dos sofrimentos, tudo se pode sofrer: ajuda-nos e anima; não falha nunca, é um verdadeiro amigo» (Santa Teresa de Ávila). E…, quando a cruz é signo de amor sincero, converte-se em luminosa e signo de salvação.

“Ou pensamos como Deus, ou pensamos como o mundo”

Pe. Antonio Rivero L.C.

São Gregório Magno, Papa
Quando Jesus anuncia por primeira vez que vai a Jerusalém para padecer e que será entregue à morte ali, e ressuscitará ao terceiro dia, se encontra com a reação, de boa fé, mas exagerada, de Pedro que quer impedir esse fracasso a Cristo. A resposta de Jesus hoje não é certamente de louvor, como no domingo passado, mas uma das mais duras palavras que saíram da boca de Jesus: “Afasta-te de mim, Satanás”. Cristo o convida- nos convida- a pensar como Deus e não como os homens.

Em primeiro lugar, os homens, pensamos de ordinário em clave de êxito, e não de fracasso. E, quando o êxito não vem, nos invade a depressão, o desânimo e a tristeza. Perguntemos se não é assim, ao profeta Jeremias na primeira leitura. Profeta do tempo final do desterro e figura de Jesus no seu caminho de paixão, e de todo cristão que quiser ser consequente com a sua fé. Era jovem e o ministério que lhe foi conferido não era nada fácil: anunciar desgraças, se nos mudavam de conduta e inclusive de planos políticos de alianças. Ninguém deu bola. Perseguiram-no e o ridicularizaram. Não encontrou apoio nem na sua família nem na sociedade. Jeremias sofreu angustia, crise pessoal e pensou em abandonar a sua missão profética. Que fácil acomodar-se às palavras dos governantes e do povo para ganhar o êxito e o aplauso! Os profetas verdadeiros, os cristãos verdadeiros, não costumam ser populares e frequentemente terminam mal por denunciar injustiças. Nesses momentos, olhemos Cristo no Getsemani.

Em segundo lugar, os homens, pensamos de ordinário em clave de poder e ambição, e não de humildade e desprendimento. Não entra na cabeça de Pedro a ideia da humilhação, do despojo, do último lugar. Não tinha entendido que toda autoridade deve ser exercida como serviço, e não como domínio. Faltava tanto para amadurecer. Pensamos como homens e não como Deus. E quando Pedro entendeu, enfrentou todo tipo de perseguições, até a morte final em Roma, em tempos de Nero, como testemunha de Cristo. Os projetos humanos vão por outros caminhos, de vantagens materiais e manipulações para poder prosperar e ser mais que os outros e dominar quantos mais, melhor. Mas os projetos de Deus são outros.

Finalmente, os homens, pensamos de ordinário em clave de comodidade, e não de cruz. Nem Pedro nem nós gostamos da cruz, já seja ela física-doenças-, moral-abandono, calúnia, incompreensão - ou espiritual - noites escuras da alma que nada e nem sente; somente existe um túnel escuro. Quem gosta da cruz? Jesus já nos avisou. Não nos prometeu que o seu seguimento seria fácil e cômodo. “Carrega a cruz e segue-me”. Preferimos um cristianismo “ao cardápio”, aceitando algumas coisas do evangelho e omitindo outros. Queremos Tabor, não Calvário. Queremos consolo e euforia, não renuncia nem sacrifício. A cruz que temos, talvez, como enfeite nas paredes ou pendurada no pescoço. Mas que essa cruz penetre nas nossas carnes e nos nossos corações, de jeito nenhum. São Paulo nos dá a clave na segunda leitura de hoje aos romanos para quando nos visitar a cruz de Cristo: oferecer-nos a Deus como oferenda viva, santa e agradável a Deus. Somente assim pensaremos como Deus.

Para refletir: Pensamos como Deus em matéria de negócios, de moral sexual, de política, de relações humanas? Diz o papa Francisco: “O mundanismo espiritual que se esconde detrás de aparências de religiosidade e inclusive de amor à Igreja, é buscar, em lugar da glória do Senhor, a glória humana e o bem estar pessoal… Se invadisse a Igreja (este mundanismo) seria infinitamente mais desastroso do que qualquer outro mundanismo simplesmente moral” (Evangelii gaudium, n. 93).

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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