quinta-feira, 20 de julho de 2017

Sexta-feira da 15ª semana do Tempo Comum

São Lourenço de Bríndisi
Presbítero e Doutor
Evangelho (Mt 12,1-8): Naquele tempo, num dia de sábado, Jesus passou pelas plantações de trigo. Seus discípulos estavam com fome e começaram a arrancar espigas para comer. Vendo isso, os fariseus disseram-lhe: «Olha, os teus discípulos fazem o que não é permitido fazer em dia de sábado!». Jesus respondeu: «Nunca lestes o que fez Davi, quando ele teve fome e seus companheiros também? Ele entrou na casa de Deus e todos comeram os pães da oferenda, que nem a ele, nem aos seus companheiros era permitido comer, mas unicamente aos sacerdotes? Ou nunca lestes na Lei, que em dia de sábado, no templo, os sacerdotes violam o sábado e não são culpados? Ora, eu vos digo: aqui está quem é maior do que o templo. Se tivésseis chegado a compreender o que significa, ‘Misericórdia eu quero, não sacrifícios’, não condenaríeis inocentes. De fato, o Filho do Homem é Senhor do sábado».

«Misericórdia eu quero, não sacrifícios»

Rev. D. Josep RIBOT i Margarit (Tarragona, Espanha)

Hoje, o Senhor se aproxima do campo cultivado da sua vida, para recolher frutos de sua santidade. Encontrará caridade, amor a Deus e aos demais? Jesus, que corrige a casuística meticulosa dos rabinos que tornava insuportável a lei do descanso sabático, por acaso terá que lhe lembrar que a ele só interessa o seu coração, a sua capacidade de amar?

«Olha, os teus discípulos fazem o que não é permitido fazer em dia de sábado!» (Mt 12,2). Disseram-Lhe isto convencido, isso é o que é incrível. Como proibir alguém de fazer o bem sempre? Alguma coisa deve-lhe lembrar que nada o desculpa de não ajudar aos demais. A caridade verdadeira respeita as exigências da justiça, evitando a arbitrariedade ou o capricho, mas impede o rigorismo, que mata o espírito da lei de Deus, que é um convite contínuo a amar, a dar-se aos demais.

«Misericórdia eu quero, não sacrifícios» (Mt 12,7). Repete-o muitas vezes, para gravá-lo em teu coração: Deus, rico em misericórdia, nos quer misericordiosos. «Que próximo Deus está de quem confessa sua misericórdia! Sim, Deus não anda longe dos contritos de coração» (Santo Agostinho). E quão longe estamos de Deus quando permitimos que o nosso coração se endureça como uma pedra!

Jesus Cristo acusou os fariseus de condenar os inocentes. Grave acusação. E você? Você se interessa de verdade pelas coisas dos demais? Os julga com carinho, com simpatia, como quem julga a um amigo ou a um irmão? Procure não perder o norte da sua vida.

Peça à Virgem que o faça misericordioso, que saiba perdoar. Seja benévolo. E se descobre na sua vida algum detalhe que destoe dessa disposição de fundo, agora é um bom momento para retificar, formulando algum propósito eficaz.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* No evangelho de hoje veremos de perto um dos muitos conflitos entre Jesus e as autoridades religiosas da época. São conflitos em torno das práticas religiosas daquele tempo: jejum, pureza, observância do sábado, etc. Colocados em termos de hoje seriam conflitos como, por exemplo, casamento de pessoas divorciadas, amizade com prostitutas, acolher os homossexuais, comungar sem estar casado na igreja, faltar à missa no domingo, não fazer jejum na Sexta-feira Santa. São muitos os conflitos: em casa, na escola, no trabalho, na comunidade, na igreja, na vida pessoal, na sociedade. Conflitos de crescimento, de relacionamento, de idade, de mentalidade. Tantos! Viver a vida sem conflito é impossível. O conflito faz parte da vida e já aparece no nosso próprio nascimento. Nascemos com dor de parto. Os conflitos não são acidentes na estrada, mas são parte integrante do caminho, do processo de conversão. O que chama atenção é a maneira como Jesus enfrenta os conflitos. Na discussão com os adversários, não se tratava de ele obter razão contra eles, mas sim de fazer prevalecer a experiência que ele, Jesus, tinha de Deus como Pai e Mãe. A imagem de Deus dos outros era a de um juiz severo que só ameaçava e condenava. Jesus procurava fazer prevalecer a misericórdia sobre a observância cega de normas e de leis que não tinham mais nada a ver com o objetivo da Lei que é a prática do amor.

*  Mateus 12,1-2: Colher trigo em dia de sábado e a crítica dos fariseus
Num dia de sábado, os discípulos passavam pelas plantações e abriam caminho arrancando espigas para come-las. Estavam com fome. Os fariseus chegam e invocam a Bíblia para dizer que os discípulos estão cometendo uma transgressão da lei do Sábado (cf Ex 20,8-11). Jesus também usa a Bíblia e responde evocando três exemplos tirados da Escritura: (1) de Davi, (2) da legislação sobre o trabalho dos sacerdotes no templo e (3) da ação do profeta Oséias, ou seja, ele cita um livro histórico, um livro legislativo e um livro profético.

*  Mateus 12,3-4: O exemplo de Davi
Jesus lembra que o próprio Davi também fez uma coisa proibida pela lei, pois tirou os pães sagrados do templo e os deu de comer aos soldados que estavam com fome (1 Sm 21,2-7). Nenhum fariseu teria coragem de criticar o rei Davi!

*  Mateus 12,5-6: O exemplo dos sacerdotes
Acusado pelas autoridades religiosas, Jesus argumenta a partir do que elas mesmas, as próprias autoridades religiosas, fazem em dia de sábado. No templo de Jerusalém, em dia de sábado, os sacerdotes trabalham muito mais do que nos dias de semana, pois devem sacrificar os animais para os sacrifícios, devem limpar, varrer, carregar peso, degolar os animais etc. E ninguém dizia que era contra a lei, pois achavam normal. A própria lei os obrigava a fazer isto (Nm 28,9-10).

*  Mateus 12,7: O exemplo do profeta
Jesus cita a frase do profeta Oséias: Quero misericórdia e não sacrifício. A palavra misericórdia significa ter o coração (cor) na miséria (miseri) dos outros, ou seja, a pessoa misericordiosa deve estar bem perto do sofrimento das pessoas, deve identificar-se com elas. A palavra sacrifício significa fazer (fício) com que uma coisa fique consagrada (sacri), ou seja, quem oferece um sacrifício separa o objeto sacrificado do uso profano e o distancia da vida diária do povo. Se os fariseus tivessem em si este olhar do profeta Oséias, saberiam que o sacrifício mais agradável a Deus não a pessoa consagrada viver distanciada da realidade, mas sim ela colocar o coração inteiramente consagrado para aliviar a miséria dos irmãos e das irmãs. Eles não teriam condenado como culpados os que, na realidade eram inocentes.

*  Mateus 12,8: O Filho do Homem é dono do sábado
Jesus termina com esta frase: o Filho do Homem é dono até do sábado! Jesus, ele mesmo, é o critério da interpretação da Lei de Deus.Jesus conhecia a Bíblia de cor e salteado, e a invocava para mostrar que os argumentos dos outros não tinham fundamento. Naquele tempo, não havia Bíblias impressas como temos hoje em dia. Em cada comunidade só havia uma única Bíblia, escrita a mão, que ficava na sinagoga. Se Jesus conhecia tão bem a Bíblia, é sinal de que ele, durante os trinta anos de vida em Nazaré, deve ter participado intensamente da vida da comunidade, onde todo sábado se liam as escrituras. A nova experiência de Deus como Pai fazia com que Jesus chegasse a descobrir melhor qual tinha sido a intenção de Deus ao decretar as leis do Antigo Testamento. Convivendo com o povo da Galiléia durante trinta anos em Nazaré e sentindo na pele a opressão e a exclusão de tantos irmãos e irmãs em nome da Lei de Deus, Jesus deve ter percebido que isto não podia ser o sentido daquelas leis. Se Deus é Pai, então ele acolhe a todos como filhos e filhas. Se Deus é Pai, então nós temos que ser irmãos e irmãs uns dos outros. Foi o que Jesus viveu e pregou, desde o começo até o fim. A Lei deve estar a serviço da vida e da fraternidade. “O ser humano não foi feito para o sábado, mas o sábado para o ser humano” (Mc 2,27). Foi por causa da sua fidelidade a esta mensagem que Jesus foi preso e condenado à morte. Ele incomodou o sistema, e o sistema se defendeu, usando a força contra Jesus, pois ele queria a Lei a serviço da vida, e não vice-versa. Ainda falta muito para nós termos a mesma familiaridade com a Bíblia e a mesma participação na comunidade como Jesus.

Para um confronto pessoal
1. Que tipo de conflitos você vive na família, na sociedade e na igreja? Quais os conflitos em torno de práticas religiosas que, hoje, trazem sofrimento para as pessoas e são motivo de muita discussão e polêmica? Qual a imagem de Deus que está por trás de todos estes preconceitos, normas e proibições?
2. O que o conflito já ensinou a você nestes anos todos?  Qual a mensagem que você tira de tudo isto para as nossas comunidades de hoje?

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