sexta-feira, 8 de abril de 2016

III domingo da Páscoa

Textos: Atos 5, 27b-32.40b-41; Ap 5, 11-14; Jo 21, 1-19

Evangelho (Jo 21,1-19): Depois disso, Jesus apareceu de novo aos discípulos, à beira do mar de Tiberíades. A aparição foi assim: Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Gêmeo, Natanael, de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e outros dois discípulos dele. Simão Pedro disse a eles: «Eu vou pescar». Eles disseram: «Nós vamos contigo». Saíram, entraram no barco, mas não pescaram nada naquela noite.  Já de manhã, Jesus estava aí na praia, mas os discípulos não sabiam que era Jesus. Ele perguntou: «Filhinhos, tendes alguma coisa para comer?». Responderam: «Não». Ele lhes disse: «Lançai a rede à direita do barco e achareis». Eles lançaram a rede e não conseguiam puxá-la para fora, por causa da quantidade de peixes. Então, o discípulo que Jesus mais amava disse a Pedro: «É o Senhor!». Simão Pedro, ouvindo dizer que era o Senhor, vestiu e arregaçou a túnica (pois estava nu) e lançou-se ao mar. Os outros discípulos vieram com o barco, arrastando as redes com os peixes. Na realidade, não estavam longe da terra, mas somente uns cem metros.  Quando chegaram a terra, viram umas brasas preparadas, com peixe em cima e pão. Jesus disse-lhes: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes». Então, Simão Pedro subiu e arrastou a rede para terra. Estava cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e apesar de tantos peixes, a rede não se rasgou. Jesus disse-lhes: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar quem era ele, pois sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-se, tomou o pão e deu a eles. E fez a mesma coisa com o peixe. Esta foi a terceira vez que Jesus, ressuscitado dos mortos, apareceu aos discípulos.  Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu me amas mais do que estes?». Pedro respondeu: «Sim, Senhor, tu sabes que te amo». Jesus lhe disse: «Cuida dos meus cordeiros». E disse-lhe, pela segunda vez: «Simão, filho de João, tu me amas?». Pedro respondeu: «Sim, Senhor, tu sabes que te amo». Jesus lhe disse: «Sê pastor das minhas ovelhas». Pela terceira vez, perguntou a Pedro: «Simão, filho de João, tu me amas?». Pedro ficou triste, porque lhe perguntou pela terceira vez se era seu amigo. E respondeu: «Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo». Jesus disse-lhe: «Cuida das minhas ovelhas. Em verdade, em verdade, te digo: quando eras jovem, tu mesmo amarravas teu cinto e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te porá o cinto e te levará para onde não queres ir». (Disse isso para dar a entender com que morte Pedro iria glorificar a Deus). E acrescentou: «Segue-me».

«Jesus disse-lhes: ‘Vinde comer’»

Rev. D. Jaume GONZÁLEZ i Padrós (Barcelona, Espanha)

Hoje, terceiro Domingo da Páscoa, contemplamos ainda as aparições do Ressuscitado, este ano, segundo o evangelista João, no impressionante versículo vinte e um, todo ele impregnado de referências sacramentais, muito vivas para a comunidade cristã da primeira geração, a mesma que recolheu o testemunho evangélico dos próprios Apóstolos.

Eles, depois dos acontecimentos da Páscoa, parece que retornam às suas ocupações habituais, como se tivessem esquecido que o Mestre os tinha convertido em “pescadores de homens”. Um erro que o evangelista reconhece, constatando que - apesar de se terem esforçado— «não pescaram nada» (Jo 21,3). Era a noite dos discípulos. Apesar disso, ao amanhecer, a presença conhecida do Senhor dá a volta a toda a cena. Simão Pedro, que antes tinha tomado a iniciativa na pesca infrutuosa, agora recolhe a rede cheia: cento e cinquenta e três peixes foi o resultado, número que representa a soma dos valores numéricos de Simão (76) e de ikhthys (=peixe, 77). Significativo!

Assim, quando sob o olhar do Senhor glorificado e com a sua autoridade, os Apóstolos, com a primazia de Pedro - manifestada na tripla profissão de amor ao Senhor— exercem a sua missão evangelizadora, produz-se o milagre: “pescam homens”. Os peixes, uma vez pescados, morrem quando são sacados do seu meio. Assim também os seres humanos morrem sem que ninguém os resgate da obscuridade e da asfixia, de uma existência afastada de Deus e envolvida no absurdo, lavando-os à luz, ao ar e ao calor da vida. Da vida de Cristo, que ele mesmo alimenta desde a praia da sua gloria, figura esplêndida da vida sacramental da Igreja e, primordialmente, da Eucaristia. Nela o Senhor dá pessoalmente o pão e, com ele, dá-se a si próprio, como indica a presença do peixe, que para a primeira comunidade cristã era um símbolo de Cristo e, portanto, do cristão.

Testemunhar Cristo ressuscitado diante de todos com coragem e atrevimento.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Síntese da mensagem: A ressurreição de Cristo é fonte de entusiasmo, força e valentia para dar testemunho, se for preciso com o sangue, diante de todos, desse maravilhoso fato: “O Deus dos nossos pais ressuscitou Jesus, o qual vós matastes pregando-o numa cruz… Nós somos testemunhas” (1ªleitura). Hoje é a terceira aparição de Jesus ressuscitado aos seus discípulos para confirmá-los na fé, na confiança e no amor. E desta maneira possam viver num “Amém” sustenido e sem bemóis. 

Em primeiro lugar, testemunhar Cristo requer uma experiência profunda do amor de Cristo na nossa vida (evangelho). Perguntemos, se não, a Pedro hoje. Ninguém dá testemunho valente de alguém a quem não ama, de quem não está convencido. E o amor pressupõe o conhecimento, pois ninguém ama o que não conhece. O amor pode passar por momentos de descalabro, como aconteceu com Pedro na Paixão do Senhor, que o negou três vezes, por debilidade e por confiar em si mesmo. Mas a ressurreição de Cristo curou o seu coração, deu-lhe novo ardor e renovou por três vezes esse amor que tinha caído. No caso de Pedro confirmou-o no Primado da caridade: apascentar os cordeiros e as ovelhas de Cristo, e não a si mesmo. Só se Pedro- e depois dele os seus sucessores, os Papas- presidir na caridade, então sim poderá testemunhar esse Cristo ressuscitado totalmente entregue a todos. Agora entendemos o imenso e puxado esforço do Papa Francisco por se aproximar de todos, por ganhar todos para a causa de Cristo: judeus, muçulmanos, protestantes, anglicanos e demais chefes de outras religiões, sem encher-se de soberba para defender o seu primado com as unhas e com a caneta em ação, como alguns ultraconservadores- “mais papistas do que o Papa sempre teve” – querem e até exigem? Será o amor e mais convincente testemunho que demos de Cristo ressuscitado: amor que é bondade, mansidão, paciência, misericórdia, compreensão. Amor que é olhar para o outro e me interessar por ele. Amor que não se impõe, que não é grosseiro nem cuspe na cara nem dá pontapés. Neste ano da misericórdia devemos pedir a Cristo ressuscitado que nos encha da sua ternura para que o nosso testemunho Dele seja digno de crédito e muitos se aproximem de Cristo vivo que vem refletido em cada um de nós.

Em segundo lugar, testemunhar Cristo nem sempre será fácil (1ª leitura e Evangelho). Encontraremos resistências, proibir-nos-ão falar de Cristo, burlar-se-ão de nós, ameaçar-nos-ão. Isto não está acontecendo já nas terras onde cristãos são mortos, por extremistas do Estado Islâmico, pelo simples fato de crer em Cristo: Síria, Iraque, Bangladesh…? Um autêntico inferno estão sofrendo pelo nome de Cristo! Experimentaremos também que a nossa pesca é inútil, estéril, e tiramos as redes sem nada (Evangelho): pais de família que tiram as redes dos seus filhos vazias, sem fé, sem amor… quando não quebradas pelos estragos da droga, do consumismo e do relativismo. Esposas comprometidas com a sua fé que jogam uma e outra a rede da fidelidade à direita e à esquerda para conquistar o esposo, e nada.  Missionários e missionárias que vem a que a semente se malogra em tantos corações, e se sentem desanimados e sem forças. Redes vazias de virtude, em tantos grupos paroquiais, ou, pior, cheias de ambições, de intrigas, de desavenças, de críticas. Congregações religiosas que experimentam a esterilidade de vocações por falta de identidade ou a aversão de tantos jovens para dar um “sim” generoso e firme, quando lhes propõem as exigências de Cristo ressuscitado. É nesses momentos quando Cristo nos diz: “Lançai as redes à direita da barca e encontrareis peixes”. É o momento para renovar a nossa fé e a nossa confiança na palavra do Senhor. Ele vive e nos diz: “Trazei alguns peixes dos que acabais de pescar… pois as brasas estão preparadas”! 

Finalmente, testemunhar Cristo significa renovar o nosso contínuo “Amém” (2ª leitura) a Deus, ao crescimento nas virtudes cristãs e aos valores humanos. “Amém” significa assentimento, conformidade e obediência ao que a outra pessoa faz ou diz. Significa a força, a firmeza, a solidez, a estabilidade, a duração, a credibilidade, a fidelidade, a segurança total. Esta palavra procede do hebraico אמן (“em verdade”, “certamente”) pronunciado āmēn. A raiz desta palavra indica firmeza e segurança, e em hebraico coincide com a raiz da palavra “fé”. Dizer “Amém” implica um grande compromisso, é fazer uma profissão de fé, é dizer a Deus que sim, que estamos de acordo com tudo o que Ele nos diz, é repetir-lhe uma e outra vez que vamos ser fiéis com Ele, é assegurar a nossa esperança. Amém, quando a dor ou a doença tocar a porta da nossa casa, por permissão de Deus. Amém, quando um contratempo frustrou os nossos planos. Amém, na saúde e na doença. Amém, na riqueza e na pobreza. Amém, no êxito e na fracasso. Amém, na primavera, verão, outono e inverno. Amém, na infância, na adolescência, na juventude, na idade madura e na velhice. Amém, quando Deus nos enche de consolos e de presentes, e também quando experimentamos a noite escura da alma. Amém, ao terminar as nossas orações e o nosso trabalho. Amém, quando Deus nos abençoa com o quarto ou quinto filho, ou quando não nos abençoa, e nos pede adotar um filho de coração. Amém, quando um pobre nos visita e nos tende a mão para que lhe demos, não do que nos sobra, mas inclusive, do que necessitamos. Amém, quando iniciamos o dia e quando o terminamos. Amém, quando a morte se aproxime devagarzinho do nosso quarto para nos levar à presença de Deus.   

Para refletir: Como está o meu testemunho de Cristo ressuscitado: é corajoso e decidido, ou opaco e fraco? Como reajo diante das dificuldades que a vida me apresenta ou diante do que Deus permite? Vivo num contínuo “Amém” sustenido, ou com muitos bemóis de inseguranças, dúvidas, desânimos?

Para rezar: Senhor, concedei-nos a fé. A fé que arranca a máscara do mundo e faz ver Deus em todas as coisas, a fé que faz ver tudo sob outra luz: que nos mostra a grandeza de Deus e nos faz descobrir a nossa pequenez; Senhor, concedei-nos esta fé, que nos faz empreender tudo o que Deus quer sem duvidar, sem vergonha nem temor, sem retroceder nunca. A fé pela que não tememos nem os perigos, nem a dor, nem a morte; que sabe caminhar pela vida com calma, paz e uma profunda alegria e que estabelece no nosso espírito um desprendimento absoluto com relação a tudo, fora de Vós. Amém.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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