sábado, 7 de novembro de 2015

XXXII Domingo do Tempo Ordinário

Textos: 1Re 17,10-16; Heb 9, 24-28; Mc 12,38-44

Beata Elisabete da Trindade
Virgem de nossa Ordem
Evangelho (Mt 25,1-13): Naquele tempo, ao ensinar, Jesus dizia: «Cuidado com os escribas! Eles fazem questão de andar com amplas túnicas e de serem cumprimentados nas praças, gostam dos primeiros assentos na sinagoga e dos lugares de honra nos banquetes. Mas devoram as casas das viúvas, enquanto ostentam longas orações. Por isso, serão julgados com mais rigor». Jesus estava sentado em frente do cofre das ofertas e observava como a multidão punha dinheiro no cofre. Muitos ricos depositavam muito. Chegou então uma pobre viúva e deu duas moedinhas. Jesus chamou os discípulos e disse: «Em verdade vos digo: esta viúva pobre deu mais do que todos os outros que depositaram no cofre. Pois todos eles deram do que tinham de sobra, ao passo que ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver».

«Todos eles deram do que tinham de sobra, ao passo que ela, da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver»

Pbro. José MARTÍNEZ Colín (Culiacán, México)

Hoje, o Evangelho apresenta-nos a Cristo como Mestre, e fala-nos do desprendimento que devemos viver. Um desprendimento, em primeiro lugar, da honra e do reconhecimento próprios, que por vezes vamos procurando: «Cuidado com (...) de serem cumprimentados nas praças, gostam dos primeiros assentos na sinagoga e dos lugares de honra nos banquetes» (cf. Mc 12,38-39). Neste sentido, Jesus previne-nos do mau exemplo dos escribas.

Desprendimento, em segundo lugar, das coisas materiais. Jesus louva à viúva pobre, ao mesmo tempo que lamenta a falsidade de outros: «Todos eles deram do que tinham de sobra, ao passo que ela [a viúva], da sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha para viver»» (Mc 12,44).

Quem não vive o desprendimento dos bens temporais vive cheio do seu próprio eu, e não pode amar. Em tal estado de alma não há espaço para os outros: nem compaixão, nem misericórdia, nem atenção para com o próximo.

Os santos dão-nos o exemplo. Eis aqui um feito da vida de São Pio X, quando ainda era bispo de Mântua. Um comerciante escreveu calunias contra o bispo. Muitos dos seus amigos aconselharam-no a denunciar judicialmente o caluniador, mas o futuro Papa respondeu-lhes: «Esse pobre homem necessita mais de oração do que de castigo». Não o acusou e rezou por ele.

Nem tudo ficou por aqui, mas depois de certo tempo, ao dito comerciante correram-lhe mal os negócios, e declarou-se a bancarrota. Todos os credores lhe caíram em cima, e ficou sem nada. Apenas uma pessoa foi em seu ajuda: foi o próprio bispo de Mântua quem, anonimamente, fez enviar um envelope com dinheiro ao comerciante, fazendo-o saber que aquele dinheiro vinha da Senhora mais misericordiosa, ou seja, da Virgem do Perpétuo Socorro.

Vivo realmente o desprendimento das realidades terrenas? Está o meu coração vazio de coisas? Pode o meu coração ver as necessidades dos outros? «O programa do cristão, o programa de Jesus, é um coração que vê? » (Benedito XVI).

Com quem queremos parecer-nos: com esses mestres da lei ou com a pobre viúva que dá a Deus generosamente, não as sobras, mas o que necessita para viver?

Pe. Antonio Rivero L.C.

Beato João Duns Scotus,
Presbítero da OFM
Duas das leituras de hoje- a primeira e a terceira- têm um protagonista idêntico: uma viúva, isto é, aquela que na sociedade antiga, toda baseada nos homens, é a pessoa socialmente mais exposta e mais carente de prestígio e de recursos. Porém, Cristo a coloca como exemplo de generosidade. Também o salmo de hoje defende a viúva.

Em primeiro lugar, vejamos primeiro esses mestres da lei. Cristo já os atacou no plano doutrinal; agora, faz o mesmo no plano da vida prática. Essas pessoas tão estimadas e admiradas pelo povo escondem, debaixo de um comportamento aparentemente irrepreensível, dois defeitos que faz inútil qualquer ato de culto: vaidade e avareza. A sua vaidade fica bem ressaltada com quatro pinceladas que encontram fácil confirmação nas fontes judaicas. A sua avareza é singularmente grave por levá-los à exploração dos mais indefesos, das viúvas, servindo-se precisamente do seu prestígio religioso. Em vez de ajudar os pobres e necessitados, como mandava já Êxodo 22,21, não duvidam em aproveitar-se deles descaradamente, recorrendo a uma devoção ostentosa, feita como espetáculo, para atrair a admiração e o respeito das pessoas. Nada pode existir de mais corrupto e abominável que um comportamento hipocritamente religioso em função de uma ambição sem escrúpulos. Vaidade e avareza não são só duas atitudes que viciam qualquer ato de culto, mas as atitudes que Jesus condenou várias vezes: em vez de reivindicar privilégios e honras, deveriam fazer-se os últimos e servidores de todos; em vez de oprimir e explorar os indefesos, deveriam compartilhar com os indigentes as suas próprias riquezas. Mas eles não faziam nada disso.

Em segundo lugar, vejamos agora a viúva. Jesus quer que os seus discípulos memorizem bem a lição desta pobre viúva. Aproxima-se tremendo do cofre do templo – exemplo de humildade, piedade e reverência perante Deus e perante as coisas de Deus! -. Não se atrevendo a falar, com um gesto bem eloquente nos dá um exemplo do que deve ser o verdadeiro ato de culto: ela deposita as suas duas únicas moedas - exemplo de generosidade! -. As suas duas únicas moedas levam o carimbo desse dom total que exige o primeiro mandamento e que pede todo verdadeiro ato de culto. O encontro com Deus não se consegue através duns ritos externos, mais ou menos suntuosos e vistosos, mas através desses gestos simples e silenciosos, que podem passar inclusive despercebidos, mas nos quais o homem deposita todas as suas seguranças para abandonar-se por completo nas mãos de Deus.  O que conta é um coração generoso, desprendido e confiante na ação divina, já que Deus não olha tanto o que damos, quanto o que reservamos para nós. Para Cristo vale mais a interioridade do coração desta viúva do que as aparências chamativas dos farsantes.

Finalmente, agora é o momento de olhar o nosso coração. Todos gostamos dos primeiros lugares, que nos louvem e sejamos importantes e santos. Todos gostamos do dinheiro. Gostamos de aparecer e chamar a atenção. Somo levados pelas aparências. Valorizamos os outros pelo que têm, não pelo que são. Ordinariamente tendemos a dar do que nos sobra, mas não queremos correr o risco de um futuro desconhecido, sem nenhuma segurança. Damos rápido, talvez, uma pequena esmola, para dar algo por dar..., porém entregar-nos, entregar o nosso tempo, o nosso trabalho, o nosso amor, dar do que necessitamos... Isso já é outra coisa! Interessante que depois de levar ao altar na santa missa o pão e o vinho para a Eucaristia, a única coisa que a introdução ao missal nos pede levar, não são as oferendas pitorescas, mais ou menos simbólicas, mas “dinheiro ou outras doações para os pobres ou para a igreja” (Instrução Geral Missal Romano 73). Também diz o seguinte: na Eucaristia não só “oferecem a vítima imaculada, mas que aprendam a oferecer-se a si mesmo” (Instrução Geral Missal Romano 79). Deus não se deixará ganhar em generosidade, se formos como essas boas mulheres viúvas que, desde a sua pobreza, e confiando Nele, dão tudo; se formos capazes de correr a aventura de dar o último que possuímos, Deus nos felicitará.

Para refletir: Com quem me pareço: com esses vaidosos e avarentos mestres da lei, ou com essa viúva generosa e humilde? Tenho vergonha de ver que Jesus está perto dos pobres? A quem se costuma dar os créditos: aos que têm ou aos que necessitam?

Para rezar: Senhor Jesus, que conheceis todos os nossos gestos e as nossas intenções mais ocultas, renovai-nos por dentro, para que sejamos agradáveis aos vossos olhos. Amém.  

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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