sábado, 28 de novembro de 2015

I Domingo do Advento

I Domingo do Advento

Textos: Jer 33, 14-16; 1 Tess 3, 12-4,2; Lc 21, 25-28.34-36

Evangelho (Lc 21, 25-28.34-36) - «Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vão suceder ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. Então, hão de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela devassidão, a embriagues e as preocupações da vida, e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele sobrevirá sobre todos os que habitam a terra inteira. Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para terdes a força de vos livrar de tudo o que vai acontecer e poderdes estar firmes na presença do Filho do homem.»

INTRODUCAO AO CICLO C - EVANGELHO DE LUCAS

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Darei algumas pinceladas para entender melhor São Lucas, evangelista que nos acompanhará durante todo este ciclo C.

Cada evangelista tem o seu próprio estilo e finalidade teleológica. Lucas, embora se serviu de fontes anteriores, sobretudo de Marcos, faz do seu jeito, com originalidade, e nos transmite bastantes páginas exclusivas, como os relatos da infância de Jesus, as parábolas do bom samaritano e do filho pródigo, os discípulos de Emaús.

Poderíamos resumir assim as características de Lucas:
1. Lucas vê a história da salvação em três tempos: primeiro, o Antigo Testamento, até a chegada de João Batista; segundo, o tempo de Jesus; e o terceiro, o tempo da Igreja, que continua a missão de Jesus até o final dos tempos (Atos dos Apóstolos).
2. Nesta história da salvação, o protagonista invisível é o Espírito Santo.
3. Lucas é o evangelista mais universalista: a salvação é para todos, também para os romanos e os samaritanos.
4. Lucas também é o evangelista da misericórdia: Deus perdoa e se alegra da volta do pecador.
5. A vida cristã para Lucas consiste em seguir Cristo.
6. Lucas, finalmente, é o evangelista que mais nos fala da Virgem Maria.
Agora façamos um resumo do primeiro domingo do advento.

Avivar o desejo de sair com confiança ao encontro de Cristo, acompanhados das boas obras e de uma vida santa.

Começamos o Advento, tempo de espero para rememorar o maior evento ocorrido na história: a vinda de Deus ao mundo mediante a Encarnação. A primeira vinda em Belém foi na simplicidade e na humildade. A segunda e última será precedida por sinais. Por isso nos urge que nos preparemos com boas obras e como convém (2ª leitura) para receber ambas as vindas: Cristo deitado num presépio e Cristo no final dos tempos. É verdade, vivemos em tensão entre a vinda do passado e a do futuro, não por fugir do hoje, mas porque é de sábios ter em consideração de onde viemos e aonde vamos.

Em primeiro lugar, temo muito que não nos competirá presenciar sentados no chão o grandioso espetáculo deste evangelho de Lucas que nos fala do futuro do mundo. Antes tem acontecer três coisas, que levam já muitos séculos sem serem cumpridas; primeira, a pregação do Evangelho em todo o mundo (cf. Mt 24, 14); segunda, a apostasia das nações evangelizadas (cf. 2 Tess 2,3) e a terceira, a conversão dos judeus ao Evangelho (Ecle 48, 1-11; Rm 11, 1-12; 9, 4-5). Em seguida, o fim do mundo. Cumpriram-se estas três coisas? Não. Tantas nações que não conhecem ainda o Evangelho. É verdade, existem apostasias aqui e acolá de indivíduos, mas não de todas as nações inteiras. Logicamente, alguns judeus, graças a Deus, converteram-se, mas não todos. Portanto, aqueles profetas de desgraças que pregam o fim imediato do mundo não tem fundamento. Falta, falta. Deus é rico em misericórdia e nos dá tempo para nos preparar em profundidade para esta última vinda gloriosa com boas obras e retas. A intenção de Jesus, portanto, não é catastrófica, pelo contrário, é de esperança: a sua vinda deve produzir alegria e confiança, pois se aproxima a nossa total libertação. 

Em segundo lugar, será Jeremias na segunda leitura quem, séculos antes de Cristo, e no meio de circunstâncias trágicas para o seu povo, também anunciou palavras de esperança: “Deus nos enviará um Salvador”. O profeta anuncia a salvação e a paz para todos, que se realizou em Cristo Jesus. Chega de tanto medo! Faz bem olhar para frente com valentia e continuar caminhando com esta esperança que é Cristo Jesus. Acordados e de pé (Evangelho), porque encontraremos ladrões no caminho que tratarão de nos assaltar. Acordados, para que não percamos a mente com o vício, a bebida e a preocupação do dinheiro. O Advento é um excelente despertador, porque tendemos a dormir, a cair na preguiça, bloqueados por mil preocupações desta vida, e não temos conectado o “wifi” aos valores do espírito para poder crescer neste Advento em virtudes e boas obras de caridade, justiça, solidariedade, procurando o nosso irmão necessitado, descartado, jogado no cantinho, discriminado, ferido... e transmitir-lhe a ternura de Deus trazida e infundida por Cristo aos nossos corações desde o dia do batismo.       

Finalmente, comecemos o Advento da mão de Maria Santíssima, mãe da esperança. Ela também teve o seu Advento. Ela esperou durante nove meses ver com os seus próprios olhos Aquele em quem cria e de quem esperava tudo. Quantas boas obras não fez Maria durante esse primeiro Advento, sintetizadas nos três meses em que serviu sua prima Isabel, que estava grávida e necessitava de umas mãos disponíveis, de uns olhos abertos e de uns lábios piedosos! Por isso, a Igreja e cada um de nós, devemos olhar para Maria e unir-nos a Ela para aprender a esperar. Maria é a Mãe da esperança. Não só nos há de dispor convenientemente para aguardar o Menino Jesus, mas que também nos há de preparar adequadamente de tal modo que estejamos prevenidos para a sua segunda vinda, com o coração custodiado por esta Mãe. Aguardemos todos da mão desta Mãe a consumação dos séculos e a segunda vinda do Senhor. Assim Cristo nos reconhecerá que somos dos seus porque temos a marca da Mãe Maria, que é a sua Mãe e nossa Mãe.   

Para refletir: Quais coisas enfraquecem a minha esperança? O que faço para superá-las? O que é o que habitualmente afirma a minha esperança cristã? Recorro a ela nos momentos de dificuldade? Como posso me preparar melhor neste Advento? Quais obras boas, concretas eu estou disposto a fazer neste tempo de graça?

Para rezar: Maria, caminhai pertinho de mim neste Advento. Acompanhai-me, boa Mãe, fortalecei a minha esperança para que sejais o motor da minha entrega, o poço onde beber para continuar adiante, o refúgio onde descansar e recobrar forças. Recobrai a minha esperança ao projeto do Pai. Dai-me firmeza e até teimosia para continuar adiante. Enchei o meu coração da esperança que liberta para viver o amor solidário. O que se espera se consegue com o esforço, com o trabalho e com a vida. Confio-me em vossas mãos, Mãe do Advento, para que me façais forte na fé, comprometido na solidariedade e firme, muito firme, na esperança do Reino. Amém. 

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

«A vossa libertação está próxima... vigiai e orai em todo o tempo»

Ir. Anabela Silva fma

Btos Dionisio da Natividade e Redento do Cruz
Mártires de nossa Ordem
O Evangelho de hoje introduz-nos no novo tempo litúrgico: o tempo de Advento. O texto evangélico propõe um discurso apocalíptico, feito por Jesus aos seus discípulos, colocando-os diante de um tema problemático: o fim dos tempos. A linguagem apocalíptica não tem a função de assustar o crente avisando-o de uma iminente catástrofe, mas de despertar para algo de extraordinário, de novo, do qual não se está à espera. Apocalipse significa de fato “revelação”.

Introduzindo-nos nesta realidade, a Palavra de Deus, com tom firme e decidido, podemos mesmo dizer “escatológico”, convida-nos a considerar que o fim da nossa vida é alcançar Aquele que nos criou. Na esperança deste encontro podemos confiar que Deus, tomando a iniciativa, é o primeiro a dar o passo para facilitar o encontro: cada vez que é Advento, o Filho do Homem vem ao nosso encontro.

O Advento é todo orientado para o Natal. Este tempo forte não tem razão de ser senão como período propício para nos abrirmos ao dom da Encarnação de Deus, e de dentro de nós sai o desejo expresso de toda a Igreja «Vem, Senhor, Jesus». Assim como virá no fim dos tempos, o Emanuel, Deus- conosco, mais uma vez vem para encarnar no nosso hoje. Cada um deve preparar-se para a Sua vinda, acolher os sinais, encaminhar-se para um encontro que terá de viver dentro de si.

A passagem do Evangelho ajuda-nos a reconhecer que no nosso dia-a-dia podem estar hábitos e comportamentos pouco favoráveis ao encontro com Deus, que podem ser transformados em atitudes mais coerentes para recebê-lo. Devemos afinar a nossa escuta e abrir o nosso coração para procurar, entre o “ruído” das montras enfeitadas e iluminadas, da publicidade aliciante, do exagero dos embrulhos e fitinhas, a verdade do Natal, o dom de Jesus para nós. Devemos reservar ao encontro com Deus um espaço importante do nosso viver, para estarmos preparados quando formos convidados a aproximarmos de Deus com a nossa humanidade.

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar.”.
Neste breve versículo descreve-se a situação do homem que não conhece Deus, que não O sente como Pai, que ignora que o seu ser vem d’Ele e para Ele regressa. Um homem assim não pode ser mais que uma pessoa angustiada pelo medo. Todos os sinais no sol, na lua, nas estrelas, na terra e no mar, eco dos nossos medos internos, entre os quais a morte, são acontecimentos naturais. O seu caráter trágico é fruto do pecado, que nos prende ao finito mais do que ao infinito e nos faz temer, mais do que desejar a vinda do Filho do Homem.
Os sinais cósmicos representam, no Evangelho de Lucas, o vértice externo de tudo o que acontece no nosso coração, que é um murmurar de tantos cansaços da vida, pelo medo do futuro. Acontece muitas vezes vivermos com ansiedade, preocupados com mil problemas, angustiados pelo tempo que passa. Receamos caminhar para a finitude da vida (a morte é um fim, não um começo). Em nós vive o mesmo medo de Adão ao ouvir os passos de Deus no jardim, identificando-O como um juiz e não como um Pai. Redimensionando os nossos medos podemos viver cada dia em plenitude, sem temermos o futuro, evitando pôr as nossas seguranças no que não é eterno.

Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vão suceder ao universo, pois as forças celestes serão abaladas.
Jesus leva os discípulos a refletir no seu grande medo: como os homens de hoje, vivem assustados pensando no último dia. Como pode tal acontecer? Isto acontece porque pensam que o Nada, o Vazio habita o Universo, porque se deixam guiar pela finitude e não tanto pelo desejo da vida eterna. Na realidade, as forças celestes que serão abaladas serão as forças do Inimigo, que Jesus já tinha visto mais vezes rondar os discípulos a quando das suas pregações (cf. Lc 10, 18).
Hoje mais do que nunca temos a sensação de viver num mundo complexo e difícil, onde os sinais do Mal parecem ser mais numerosos do que os sinais de Bem. Somos bombardeados de notícias terríveis, próximas e distantes. Temos conhecimento que tantas pessoas continuam a viver à sombra das previsões do fim do mundo. Diante do Mal permanecemos, por vezes, sem respostas, parece que não sabemos para onde ir, de não conseguirmos ser protagonistas da nossa vida… mas uma verdade é certa: todo aquele que investiu tudo no mundo presente, vê, com terror, o desmoronar de todos os seus bens e de todas as suas esperanças. Pelo contrário, aquele que investiu tudo nos bens do céu vê chegar a felicidade eterna.

Então, hão de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória.
Jesus esclarece finalmente que os sinais que referiu, escondem/ revelam a sua Vinda. Cristo virá numa nuvem, lugar bíblico do ser de Deus. A sua visão rasgará todos os medos e angústias. Será a luz e a verdade definitivas que vencerão as trevas e a mentira. Finalmente, Jesus será visível para cada um na sua verdade, revestido de poder e de glória, aquela glória antecipada em Belém, realizada em Jerusalém; Ele será tudo em todos.
Os sinais de sofrimento e de morte com os quais nos debatemos ao longo da vida, alertam-nos para a caducidade da nossa existência. Este limite, porém não é a palavra última sobre nós: por vezes não compreendemos que o nosso “fim”, na realidade, corresponde ao “fim” da vida, mas para entrar na Eternidade, e graças Aquele que vem ao nosso encontro. Podemos compreendê-lo se colocarmos a nossa confiança, a nossa esperança no Senhor que vem. E vem para conhecermos o verdadeiro rosto de Deus, o rosto da Misericórdia, onde se manifesta todo o poder e glória do Deus de Jesus Cristo.

Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.
Diante do mal exterior e interior, Jesus convida a acolhermos uma sabedoria, a descobrir os sinais da Sua vinda. Os obstáculos/ dificuldades da vida são inevitáveis, e por vezes é preciso atravessá-los para se entrar no Seu Reino, olhá-los de frente, olhos nos olhos, como Ele fez. De fato, enquanto o homem angustiado e receoso se curva sobre os seus medos, o homem que confia volta-se para o Céu e fixa o seu olhar em Deus.
Nos momentos mais duros e complicados da vida não podemos desistir e entregarmo-nos; é preciso “levantar a cabeça”, nunca baixá-la, para descobrirmos a estrada, mesmo que escura, para reconhecer os sinais de Vida, uma Vida sem fim. No sofrimento e na dor, atravessando caminhos de morte, o discípulo tem a certeza e sabe que Cristo não o abandona, mas o liberta do medo e da própria morte, de uma vida terrena que acaba, para introduzi-lo na vida eterna. Esta é a libertação que Jesus prometeu e a cumprirá, como nos mostrou com a Sua ressurreição.

Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela devassidão, a embriagues e as preocupações da vida, e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele sobrevirá sobre todos os que habitam a terra inteira.
Jesus explica com muita clareza que quem espera de verdade a libertação, deve mudar de rota: preparar-se, fazer espaço, libertar-se de apegos vãos, recusar distrações não saudáveis, manter o coração livre de condicionamentos, principalmente daqueles típicos de quem é rico mas insensato: comida, bebidas, ócio, prazer (cf. Lc 12, 19.45). Tudo pode cair no engano das tentações: quem as contempla cai dentro, é surpreendido na sua própria armadilha, vive do hoje e não se prepara para o amanhã. O dia final chegará; para quem não se preparou será um drama.
O coração do homem é o centro da sua vida; pode dilatá-la ou atrofiá-la, segundo a direção que escolhe. Sabemos que existem experiências libertadoras, outras que encarceram. Um coração que pulsa por Deus não mede o empenho, sabe que não pode funcionar na lógica do se/ se, mas deve escolher. O dia será inesperado, imprevisível, por isso é preciso prepará-lo bem: Deus quer encontrar-nos sempre prontos a dizer- Lhe Sim, não só com as palavras, mas também e sobretudo com a vida.

Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para terdes a força de vos livrar de tudo o que vai acontecer e poderdes estar firmes na presença do Filho do homem.
O convite é mais uma vez claro: vigiar e orar em todo o tempo. Convite feito aos seus discípulos e hoje é dirigido também a nós, mais uma vez: vigiai e orai. Vigiar na Bíblia significa estar atentos a tudo o que pode acontecer, permanecer para aquilo que o Senhor pedir. Quem vigia nunca é apanhado de surpresa; o seu vigiar não é vazio, mas cheio de oração. A oração fortalece a alma, dá força, faz-nos dirigir a Deus como Pai e prepara-nos para o encontro com o Filho.
Vigilância e oração são atitudes típicas do tempo de Advento, levam-nos ao encontro, fazem-nos caminhar “direitos”, de cabeça levantada, fazem-nos viver com plenitude a nossa dignidade de filhos. Quem reza está sempre pronto: o orante tem os olhos voltados para o Senhor (cf. Sal 25, 15). A vinda do Filho do homem não é algo de tremendo: a sua vinda é o cumprimento do nosso maior desejo, a estrada de regresso a casa. O segredo de uma vigilância espiritual, de uma liberdade plena e de abertura ao Senhor, é a contínua oração do coração. A oração é a arma mais poderosa para enfrentar as adversidades do mundo.

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