quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Quinta-feira da 22ª semana do Tempo Comum

São Gregório Magno, Papa
Evangelho (Lc 5,1-11): Certo dia, Jesus estava à beira do lago de Genesaré, e a multidão se comprimia a seu redor para ouvir a Palavra de Deus. Ele viu dois barcos à beira do lago; os pescadores tinham descido e lavavam as redes. Subiu num dos barcos, o de Simão, e pediu que se afastasse um pouco da terra. Sentado, desde o barco, ensinava as multidões. Quando acabou de falar, disse a Simão: «Avança mais para o fundo, e ali lançai vossas redes para a pesca». Simão respondeu: «Mestre, trabalhamos a noite inteira e não pegamos nada. Mas, pela tua palavra, lançarei as redes». Agindo assim, pegaram tamanha quantidade de peixes que as redes se rompiam. Fizeram sinal aos companheiros do outro barco, para que viessem ajudá-los. Eles vieram e encheram os dois barcos a ponto de quase afundarem. Vendo isso, Simão Pedro caiu de joelhos diante de Jesus, dizendo: «Afasta-te de mim, Senhor, porque sou um pecador!». Ele e todos os que estavam com ele ficaram espantados com a quantidade de peixes que tinham pescado. O mesmo ocorreu a Tiago e João, filhos de Zebedeu e sócios de Simão. Jesus disse a Simão: «Não tenhas medo! De agora em diante serás pescador de homens!». Eles levaram os barcos para a margem, deixaram tudo e seguiram Jesus.

«Avança mais para o fundo»

Rev. D. Pedro IGLESIAS Martínez  (Rubí, Barcelona, Espanha)

Hoje, continua a surpreender-nos comprovar como aqueles pescadores foram capazes de deixar os seus trabalhos, as suas famílias, e seguir Jesus («Deixaram tudo e seguiram Jesus»: Lc 5,11), precisamente quando Este se manifesta diante deles como um excepcional colaborador para o negócio que lhes dá o sustento. Se Jesus de Nazaré nos fizesse a proposta a nós, no nosso século XXI..., Teríamos a coragem daqueles homens? Seriamos capazes de perceber qual é verdadeiro lucro?

Nós os cristãos acreditamos que Cristo está eternamente presente; por isso, esse Cristo que está ressuscitado pede-nos, já não a Pedro, a João ou a Tiago, mas ao Francisco, ao José Manuel, a Paula, e a todos e cada um de nós que dizemos que Ele é o Senhor, repito, pede-nos desde o texto de Lucas que o acolhamos no barco da nossa vida, porque quer descansar junto de nós; pede-nos que O deixemos servir-se de nós, que lhe permitamos mostrar até onde orientar a nossa existência para ser fecundos no meio de uma sociedade cada vez mais distanciada e necessitada da Boa Nova. A proposta é atraente, só nos falta saber e querer despojar-nos dos nossos medos, dos nossos “o que dirão" e tomar rumo a águas mais profundas, que é o mesmo que dizer, a horizontes mais distantes do que aqueles que constrangem o nosso quotidiano medíocre de perturbações e desânimos. «Quem tropeça no caminho, por pouco que avance, sempre se aproxima da meta; quem corre fora dele, quanto mais corre mais se afasta da meta» (S. Tomás de Aquino).

«Duc in altum»; «Avança mais para o fundo» (Lc 5,4): Não nos queremos nas costas de um mundo que vive olhando para o seu umbigo! A nossa navegação pelos mares da vida nos conduzirá até atracar na terra prometida, a singrar nesse Céu esperado que é o regalo do Pai, mas indivisivelmente, também trabalho do homem — teu, meu — ao serviço dos outros no barco da Igreja. Cristo conhece bem os pesqueiros, de nós depende: ou no porto do nosso egoísmo, ou em direção aos Seus horizontes.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
* O evangelho de hoje traz a segunda parte do “Sermão da Planície”. Na primeira parte (Lc 6,20-26), Jesus se dirigia aos discípulos (Lc 6,20). Na segunda parte (Lc 6,27-49), ele se dirige “a vocês que me escutam”, isto é, àquela multidão imensa de pobres e doentes, vinda de todos os lados (Lc 6,17-19).

* Lucas 6,27-30: Amar os inimigos!
As palavras que Jesus dirige a este povo são exigentes e difíceis: amar os inimigos, não amaldiçoar, oferecer a outra face a quem bate no rosto, não reclamar quando alguém toma o que é nosso. Tomadas ao pé da letra, estas frases parecem favorecer os ricos que roubam. Mas nem o próprio Jesus as observou ao pé da letra. Quando o soldado lhe bateu no rosto, não ofereceu a outra face, mas reagiu com firmeza. “Se falei errado, prove! Se falei certo, porque me bates?” (Jo 18,22-23). Então, como entender estas palavras? Os versículos seguintes ajudam a entender o que Jesus quer ensinar.

* Lucas 6,31-36: A Regra de Ouro! Imitar Deus
Duas frases de Jesus ajudam a entender o que ele quis ensinar. A primeira frase é a assim chamada Regra de Ouro: "O que vocês desejam que os outros lhes façam, façam vocês a eles!” (Lc 6,31). A segunda frase é: "Procurem ser misericordiosos como o Pai do céu é misericordioso!" (Lc 6,36). Estas duas frases mostram que Jesus não quer simplesmente virar a mesa ou inverter a situação, pois aí nada mudaria. Ele quer mudar o sistema. O Novo que ele quer construir vem da nova experiência de Deus como Pai cheio de ternura que acolhe a todos! As palavras de ameaça contra os ricos não podem ser ocasião para os pobres se vingarem. Jesus manda ter a atitude contrária: "Amai os vossos inimigos!" O amor não pode depender do que eu recebo do outro. O amor verdadeiro deve querer o bem do outro independentemente do que ele ou ela faz por mim. O amor deve ser criativo, pois assim é o amor de Deus por nós: "Procurem ser misericordiosos como o Pai do céu é misericordioso!".  Mateus diz a mesma coisa com outras palavras: “Sede perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito” (Mt 5,48). Nunca ninguém poderá chegar a dizer: Hoje fui perfeito como o Pai do céu é perfeito! Fui misericordioso como o Pai do céu é misericordioso”. Estaremos sempre abaixo da medida que Jesus colocou diante de nós.

* No evangelho de Lucas, a Regra de Ouro diz: "O que vocês desejam que os outros lhes façam, façam vocês a eles!” (Lc 6,31) O evangelho de Mateus traz uma formulação um pouco diferente: "Tudo o que vocês desejam que os outros façam a vocês, façam vocês também a eles” e acrescenta: “Pois nisso consistem a Lei e os Profetas" (Mt 7,12). Praticamente todas as religiões do mundo inteiro tem a mesma Regra de ouro com formulações diversas. Sinal de que aqui se expressa uma intuição ou um desejo universal que nasce do fundo do coração humano.

* Lucas 6,37-38: A medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês.
"Não julguem, e vocês não serão julgados; não condenem, e não serão condenados; perdoem, e serão perdoados. Deem, e será dado a vocês; colocarão nos braços de vocês uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante. Porque a mesma medida que vocês usarem para os outros, será usada para vocês”. São quatro conselhos: dois na forma negativa: não julgar, não condenar; e dois na forma positiva: perdoar e doar com medida abundante. Quando diz “e será dado a vocês”, Jesus alude ao tratamento que Deus quer ter para conosco. Mas quando a nossa maneira de tratar os outros é mesquinha, Deus não pode usar para conosco a medida abundante e transbordante que Ele gostaria de usar.

* Celebrar a visita de Deus
O Sermão da Planície ou Sermão da Montanha, desde o seu começo, leva os ouvintes a fazer uma escolha, uma opção, a favor dos pobres. No Antigo Testamento, várias vezes, Deus colocou o povo diante da mesma escolha de bênção ou de maldição. Ao povo era concedida a liberdade para escolher: "Eu lhes propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolha, portanto, a vida, para que você e seus descendentes possam viver" (Dt 30,19). Não é Deus quem condena, mas é o próprio povo de acordo com a escolha que fará entre a vida e a morte, entre o bem e o mal. Estes momentos de escolha são os momentos da visita de Deus ao seu povo (Gn 21,1; 50,24-25; Ex 3,16; 32,34; Jr 29,10; Sl 59,6; Sl 65,10; Sl 80,15, Sl 106,4). Lucas é o único evangelista a empregar esta imagem da visita de Deus (Lc 1,68. 78; 7,16; 19,44; At 15,16). Para Lucas Jesus é a visita de Deus que coloca o povo diante da escolha da bênção ou da maldição: "Felizes vocês, pobres!" e "Ai de vocês, ricos!" Mas o povo não reconheceu a visita de Deus (Lc 19,44).

Para um confronto pessoal
1) Será que nós olhamos a vida e as pessoas com o mesmo olhar de Jesus?
2) O que quer dizer hoje "ser misericordioso como o Pai do céu é misericordioso"?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

DEIXE AQUI SEU SUA SUGESTÃO