quinta-feira, 27 de agosto de 2015

XXII Domingo do Tempo Comum

Textos: Dt 4, 1-2, 6-8; Tg 1, 17-18. 21-27; Mc 7, 1-8. 14-15. 21-23

Evangelho (Mc 7,1-8.14-15.21-23): Os fariseus e alguns escribas vindos de Jerusalém ajuntaram-se em torno de Jesus. Eles perceberam que alguns dos seus discípulos comiam com as mãos impuras, isto é, sem lavá-las. Ora, os fariseus e os judeus em geral, apegados à tradição dos antigos, não comem sem terem lavado as mãos até o cotovelo. Bem assim, chegando da praça, eles não comem nada sem a lavação ritual. E seguem ainda outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras, vasilhas de metal, camas. Os fariseus e os escribas perguntaram a Jesus: «Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas tomam a refeição com as mãos impuras?». Ele disse: «O profeta Isaías bem profetizou a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: 'Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. É inútil o culto que me prestam, as doutrinas que ensinam não passam de preceitos humanos'. Vós abandonais o mandamento de Deus e vos apegais à tradição humana». Chamando outra vez a multidão, dizia: «Escutai-me, vós todos, e compreendei!. Nada que, de fora, entra na pessoa pode torná-la impura. O que sai da pessoa é que a torna impura. Pois é de dentro, do coração humano, que saem as más intenções: imoralidade sexual, roubos, homicídios, adultérios, ambições desmedidas, perversidades, fraude, devassidão, inveja, calúnia, orgulho e insensatez. Todas essas coisas saem de dentro, e são elas que tornam alguém impuro».

«Vós abandonais o mandamento de Deus e vos apegais à tradição humana»

Rev. D. Josep Lluís SOCÍAS i Bruguera  (Badalona, Barcelona, Espanha)

Hoje, a palavra do Senhor ajuda-nos a perceber que acima dos costumes humanos estão os Mandamentos de Deus. De facto, com o passar do tempo, é fácil nós distorcermos os conselhos evangélicos e, dando-nos ou não conta, substituir os Mandamentos ou então afogá-los com uma exagerada meticulosidade: «chegando da praça, eles não comem nada sem a lavação ritual. E seguem ainda outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras, vasilhas de metal?» (Mc 7,4). É por isso que a gente simples, com um sentimento popular comum, não fez caso dos doutores da lei nem dos fariseus, que sobrepunham especulações humanas à Palavra de Deus. Jesus aplica a denúncia profética de Isaías contra os religiosamente hipócritas («O profeta Isaías bem profetizou a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ?Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim»: (Mc 7,6)).

Nos últimos anos, João Paulo II, ao pedir perdão em nome da Igreja por todas as coisas negativas que os seus filhos tinham feito ao longo da história, manifestou-o no sentido de que «nos tínhamos separado do Evangelho».

«Nada que, de fora, entra na pessoa pode torná-la impura. O que sai da pessoa é que a torna impura» (Mc 7,15), diz-nos Jesus. Só o que sai do coração do homem, desde a interioridade consciente da pessoa humana, nos pode fazer mal. Esta malícia é que causa dano a toda a Humanidade e a cada um. A religiosidade não consiste precisamente em lavar as mãos (recordemos Pilatos que entrega Jesus Cristo à morte!), mas em manter puro o coração.

Dito de uma maneira positiva, é o que nos diz santa Teresa do Menino Jesus nos seus Manuscritos biográficos: «Quando contemplava o corpo místico de Cristo (?) compreendi que a Igreja tem um coração (?) entusiasmado de amor». De um coração que ama surgem as obras bem feitas que ajudam em concreto a quem precisa («Porque tive fome, e me destes de comer?»: Mt 25,35).

Em que consiste a verdadeira religião?

Pe. Antonio Rivero, L.C.

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
A nossa religião não está feita de exterioridades, como acreditavam fariseus os quais Cristo trata com tanta dureza no evangelho, até o ponto de querer agradar a Deus e ganhar a salvação. Essas “coisas” num princípio foram enfeites da religião, logo adversários da religião e finalmente suplantaram a religião.

Em primeiro lugar, a verdadeira religião não é de lábios para fora. “Este povo me honra com os lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Isa 29,13). Substituímos muitas vezes a verdadeira religião com ritos, costumes, piedades, tradições. Ouvir missa, batizar a criatura, fazer a primeira comunhão, casar-se na igreja, ajoelhar-se no confessionário, enterrar um morto cristãmente, peregrinações e procissões, etc. Religião não é só isso. Essas são coisas da religião, mas não a religião. Prova disso é que nem sempre existiram essas “coisas”, mas sempre existiu a religião. Outras vezes foram outros costumes, ritos, tradições... mas a religião foi a mesma. Cristo não está desprezando as normas de vida dos judeus: Ele disse que não tinha vindo para abolir a lei, mas dar cumprimento e levá-la à perfeição. Jesus interiorizou essa lei, para nos conformarmos com a aparência exterior. Jesus condena o legalismo formalista, sem alma, sem sensibilidade, sem caridade, que escraviza mais do que liberta.

Em segundo lugar, a verdadeira religião é a fé em Jesus vivo, morto, ressuscitado, glorificado, Filho de Deus. Fe é a atitude transcendental do coração do homem, para quem Jesus é tudo, como a sua escala de valores e de princípios, as suas esperanças eternas, os seus destinos... A atitude transcendental é a obediência a Deus, o seguimento dos ditames da consciência reta e o serviço desinteressado aos homens. A fé, pois, é a atitude transcendental do coração como estilo de vida: sem essa fé não existe nem missa nem sacramentos nem teologia nem moral... que valham, mas com essa fé em Deus missa e sacramento e piedades... fazem a religião florida e formosa. Ou seja, pessoas que creem, mais que praticantes é o que Deus quer. E se são praticantes, é porque dão vida à prática e espírito à letra, que de por si só mataria. Isto é, que à missa, aos sacramentos e às piedades colocam alma, espírito, coração e vida ou aqui nem homem nem religião nem nada. 

Finalmente, vamos concretizar tudo isto. Por exemplo, algumas primeiras comunhões são agora suntuosas como um casamento, e isso é um escândalo econômico, social e religioso. Essa é a verdadeira religião? Alguns casamentos são agora um rito tão secularizado como uma festa social e isso é uma degradação, a humilhação e o desprestigio do sacramento. Religião verdadeira? E assim as confissões mecânicas, as comunhões mercantis: “vou oferecer esta comunhão para conseguir esta ou aquela graça para...”. O que dizer então de procissões ou peregrinações que parecem mais uma feira onde se vende de tudo, sendo um gesto exterior de algo profundo do coração? Religião verdadeira? Agora entendemos porque Jesus foi tão duro com estes fariseus ritualistas que cifravam a religião em práticas exteriores e não na fé em Deus. Por isso Jesus, entre o homem e o sábado, ficava com o homem, para quem ai está o sábado; não ao contrário. Por isso, Jesus deu uma mão ao homem religioso e sentou a mão no homem ritualista (cf. Mc 2,27). No ano, no mês e no dia, em que Jesus disse-evangelho de hoje- que as coisas externas não fazem mal o homem, mas as internas oriundas do coração são que o tornam bom, mau, regular, santo, etc..., nesse momento Jesus pronunciou “uma das maiores frases em toda a história das religiões” (Montefiore). Frase que se dirige ao coração do homem- no sentido bíblico da expressão-, isto é, à inteligência, à vontade e ao sentimento do homem... Essa é a verdadeira religião, que Jesus, o Filho de Deus, veio para nos ensinar.

Para refletir: Sou homem religioso ou somente ritualista? Ritualista ou espiritualista? Crente ou só cumpridor? Vivo nessa atitude transcendental, em obediência a Deus, no seguimento da consciência reta e no serviço desinteressado aos homens? Fujamos do farisaísmo e do ritualismo sem fé e sem alma (evangelho), para ser gratos a Deus (salmo). Foram os “praticantes” os que levaram Cristo à cruz e o crucificaram. Onde estava a fé desses “piedosos praticantes”?

Para rezar: Fazei-me entender que me conheceis inteiramente, pois sois o meu Criador, e sabes de todas as minhas coisas. E sois Vós, Senhor, quem me transformais, quem instruis, quem me modelais, quem me perfeccionais, quem fazeis de mim o vosso filho, quem me ama e quem me salva. Finalmente, Senhor, fazei-me cair confiado e esperançado nas vossas mãos e, como uma criança nos braços do seu pai, eu durma no vosso colo.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail:  arivero@legionaries.org

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