sábado, 14 de fevereiro de 2015

VI domingo do Tempo Ordinário

Textos: Lev 13, 1-2.44-46; 1 Cor 10, 31-11,1; Mc 1, 40-45

Evangelho (Mc 1,40-45): Um leproso aproximou-se de Jesus e, de joelhos, suplicava-lhe: «Se queres, tens o poder de purificar-me!». Jesus encheu-se de compaixão, e estendendo a mão sobre ele, o tocou, dizendo: «Eu quero, fica purificado». Imediatamente a lepra desapareceu, e ele ficou purificado. Jesus, com severidade, despediu-o e recomendou-lhe: «Não contes nada a ninguém! Mas vai mostrar-te ao sacerdote e apresenta, por tua purificação, a oferenda prescrita por Moisés. Isso lhes servirá de testemunho». Ele, porém, assim que partiu, começou a proclamar e a divulgar muito este acontecimento, de modo que Jesus já não podia entrar, publicamente, na cidade. Ele ficava fora, em lugares desertos, mas de toda parte vinham a ele».

Comentário: Rev. D. Ferran JARABO i Carbonell (Agullana, Girona, Espanha)

Se queres, tens o poder de purificar-me.

Hoje o Evangelho convida-nos a contemplar a fé deste leproso. Sabemos que, em tempos de Jesus, os leprosos estavam marginados socialmente e considerados impuros. A cura do leproso é, antecipadamente, uma visão da salvação proposta por Jesus a todos, e um chamado a abrir-lhe o nosso coração para que Ele o transforme.

A sucessão dos fatos é clara. Primeiro, o leproso pede a cura e professa a sua fé: «Se queres, tens o poder de purificar-me!» (Mc 1,40). Em segundo lugar, Jesus — que literalmente rende-se ante nossa fé— cura-o («Eu quero, fica purificado»), e pede-lhe seguir o que a lei prescreve, ao mesmo tempo pede-lhe silencio. Mas, finalmente, o leproso sente-se impulsionado a «proclamar e a divulgar muito este acontecimento» (Mc 1,45). Em certa maneira desobedece à última indicação de Jesus, mas o encontro com o Salvador provoca-lhe um sentimento que a boca não pode silenciar.

Nossa vida parece-se à do leproso. Às vezes vivemos, pelo pecado, separados de Deus e da comunidade. Mas este Evangelho anima-nos oferecendo-nos um modelo: professar nossa fé íntegra em Jesus, abrir-lhe totalmente nosso coração, e uma vez curados pelo Espírito, ir a todas as partes a proclamar que temos nos encontrado com o Senhor. Este é o efeito do sacramento da Reconciliação, o sacramento da alegria.

Como bem afirma São Anselmo: «A alma deve-se esquecer dela mesma e permanecer totalmente em Jesus Cristo, que tem morto para fazer-nos morrer ao pecado, e tem ressuscitado para fazer-nos ressuscitar para as obras de justiça». Jesus quer que percorramos o caminho com Ele, quer curar-nos. Como respondemos? Temos que ir ao seu encontro com a humildade do leproso e deixar que Ele ajude-nos a rejeitar o pecado para viver sua Justiça

A pior lepra na nossa vida é a lepra do pecado que carcome a nossa alma, nos afasta de Deus, nos marginaliza dos homens e mata as nossas mais nobres aspirações.

Pe. Antonio Rivero, L.C.

Se Cristo não tivesse vindo, todos continuaríamos leprosos. E com a lepra a maldição. E com a maldição, a condenação. Porém Cristo nos curou e nos cura mediante os sacramentos que realizam o que significam. E com Cristo, a salvação.

Em primeiro lugar, no tempo bíblico a lepra - parece que chamavam assim praticamente todas as doenças da pele - era a enfermidade mais temida e a que mais reação contrária produzia. Causava desfigurações e mutilações repulsivas. O Levítico por higiene e também porque atribuíam este mal aos pecados da pessoa, prescrevia uma marginação realmente dura. No tempo de Jesus, o leproso era expulso de casa, da casa para a rua, da cidade para o campo e da sociedade ao sepulcro. Era obrigado por lei a andar em farrapos e cabeludo, dar alerta com gritos aos transeuntes quando se aproximava e morar nos sepulcros vazios. E tudo porque era um enfermo de alto risco, que contagiava o que o tocasse, e um imputo legal sem direitos à comunidade de culto, porque tornava impuro tudo o que tocasse. Um grande cristão do nosso tempo Raul Follereau, lutou titanicamente pela sua erradicação, e ainda hoje a Fundação Anesvad insiste incansável na conscientização sobre ela. Herói indiscutível desta enfermidade foi o Beato Damião, de Molokai, missionário contagiado de lepra cuidando dos leprosos. O bacilo da lepra, conhecido pelo nome do seu descobridor, “Hansen”, não foi descoberto até 1874. Porém, foi uma freira francesa, Ir. Maria Zuzanne, a que achou o soro eficaz para combater a lepra, que leva o nome da descobridora, “Microbacterium Marianum”. Hoje a lepra está mais controlada. Mas tem como companhia outros males parecidos, como a AIDS, que invade grandes regiões do mundo.

Em segundo lugar, na Idade Media, o sacerdote pendurava a estola no pescoço, empunhava o crucifixo bem alto, colocava o leproso no templo e celebrava para ele o ofício dos defuntos. Então os arquitetos de templos e catedrais deixavam uns orifícios nas paredes, os buraquinhos dos leprosos, para que eles pudessem assistir a missa sem entrar na igreja. Logo, terminando a missa, isolavam-no nos lazaretos, hospitais imundos onde pudessem tranquilamente morrer de nojo. E na Idade Pós-moderna, que é a nossa, o que fazemos com os leprosos de ontem que são os contagiados de AIDS hoje? A AIDS se contagia só de sangue a sangue: pelas relações sexuais, pelas transfusões, pelas agulhas de drogados contagiados e pela gestação da mãe ao filho. A AIDS começou as suas andanças pelas nações em 1981. Em 1987 tínhamos 5 milhões de enfermos de AIDS no mundo; no ano seguinte já eram 10 milhões. E hoje? Tenebroso e de dar arrepio. A AIDS é a peste negra hoje em dia, a que em 1384 esvaziou os conventos de Marseille e Caracassone, dizimou Europa, destruiu duas gerações e deixou por terminar as torres das catedrais de Colônia e Estrasburgo. O enfermo da AIDS de hoje é o leproso de ontem.

Finalmente, a pior lepra é a do pecado. Necessitamos que Cristo nos toque. Jesus tocou o leproso, que fazia muitos anos que não tinha experimentado nem um só contato, desde que a sua mãe o acariciava quando era criança. Agora está sentindo o cálido afeto do tato da mão todo bondade e ternura de Jesus, enquanto toda uma oleada de vida eletrizou todo o seu corpo. E mudaram os papéis: o leproso ficou limpo e Jesus, segundo a lei do Levítico, impuro: “quem tocar um impuro fica contaminado, porque o impuro transmite a sua impureza” (1,5). São Paulo relaciona a lepra com o pecado, e nos diz assim: “o que não conheceu pecado, se fez pecado no nosso lugar, para que fossemos justiça de Deus Nele” (2 Cor 5,21). Sem, a pior lepra é a do pecado. Lepra de mente, quando pensamos coisas indignas. Lepra de olhos, quando olhamos o que não devemos olhar. Lepra de coração, quando odiamos e desejamos o mal, o a mulher ou o varão que não nos corresponde. Lepra de mãos, quando brigamos ou quando não compartilhamos. Lepra dos pés, quando transitamos pelos lugares tenebrosos. E com esta lepra do pecado vêm todas as consequências: afastamo-nos de Deus, afastamo-nos dos homens, matamos a nossa alma, e os demais males do mundo. E por que Deus nos envia de novo o Dilúvio (Gen6) ou faz cair fogo sobre as novas Sodomas e Gomorras (Gen 19)? O Pai ama tanto o mundo que faz o seu Filho leproso, para que os homens sintam a calor e a ternura de Deus nas suas carnes.  

Para refletir:
1. Qual lepra invade a minha vida?
2. O que estou esperando para me aproximar de Cristo para gritar que me cure na confissão?
3. Por que não ajudo os outros irmãos leprosos para que eles se aproximem de Cristo?

Para rezar: Senhor, se quiserdes, podereis limpar-me. E se me curardes, contarei a todos os que me circundam, tende isso por seguro, Senhor.

Qualquer sugestão ou dúvida podem se comunicar com o padre Antonio neste e-mail: arivero@legionaries.org

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