quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Sexta-feira da 5ª semana do Tempo Comum

V Centenário do Nascimento (1515-2015)
Evangelho (Mc 7,31-37): Jesus deixou de novo a região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole. Trouxeram-lhe, então, um homem que era surdo e mal podia falar, e pediram que impusesse as mãos sobre ele. Levando-o à parte, longe da multidão, Jesus pôs os dedos nos seus ouvidos, cuspiu, e com a saliva tocou-lhe a língua. Olhando para o céu, suspirou e disse: «Efatá!» — que quer dizer: «Abre-te». Imediatamente, os ouvidos do homem se abriram, sua língua soltou-se e ele começou a falar corretamente. Jesus recomendou, com insistência, que não contassem o ocorrido para ninguém. Contudo, quanto mais ele insistia, mais eles o anunciavam. Cheios de grande admiração, diziam: «Tudo ele tem feito bem. Faz os surdos ouvirem e os mudos falarem».

Comentário: Rev. D. Joan MARQUÉS i Suriñach (Vilamarí, Girona, Espanha)

Tudo ele tem feito bem

Hoje o Evangelho apresenta-nos um milagre de Jesus: fez voltar a ouvir e destravou a língua a um surdo. A gente ficou admirada e dizia: «Tudo ele tem feito bem» (Mc 7,37).

Esta é a biografia de Jesus feita pelos seus contemporâneos. Uma biografia curta e completa. Quem é Jesus? É aquele que tudo tem feito bem. No duplo sentido da palavra: no que e no como, na substância e na maneira. É aquele que só fez boas obras, e que realizou bem as boas obras, de uma maneira perfeita, bem acabada. Jesus é uma pessoa que tudo faz bem, por que só faz ações boas e aquilo que faz deixa-o acabado. Não entrega nada a meio fazer; e não espera a depois para terminar.

Procure também você deixar as coisas totalmente terminadas agora: a oração; o trato com os familiares e as outras pessoas; o trabalho; o apostolado; a formação espiritual e profissional; etc. Seja exigente consigo mesmo, e seja também exigente, suavemente com quem depende de você. Não tolere trabalhos mal feitos. Deus não gosta e incomodam ao próximo. Não tenha essa atitude para ficar bem, nem porque é o que más rende, humanamente; senão porque a Deus não lhe agradam as obras más nem as obras “boas” mal feitas. A Sagrada Escritura afirma: «Suas obras são perfeitas» (Dt 32,4). E o Senhor através de Moisés, manifesta ao Povo de Israel: «Nenhuma coisa, porém, que tiver defeito oferecereis, porque não será aceita a vosso favor» (Lev 22,20). Pede a ajuda maternal da Virgem Maria. Ela, como Jesus, também fez tudo bem feito.

São Josemaria oferece-nos o segredo para consegui-lo: «Faz o que deves e está no que fazes». É essa a sua maneira de atuar?

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

No evangelho de hoje, Jesus cura um surdo que gaguejava. Este episódio é pouco conhecido. No episódio da Mulher Cananéia, Jesus ultrapassou as fronteiras do território nacional e acolheu uma mulher estrangeira que não era do povo e com a qual era proibido conversar. A mesma abertura continua no evangelho de hoje.

* Marcos 7,31. A região da Decápole
“Jesus saiu de novo da região de Tiro, passou por Sidônia e continuou até o mar da Galileia, atravessando a região da Decápole”. Decápole significa, literalmente, Dez Cidades. Era uma região de dez cidades ao sudeste da Galileia, cuja população era pagã.

* Marcos 7,31-35. Abrir o ouvido e soltar a língua.
Um surdo gago é levado a Jesus. O jeito de curar é diferente. O povo queria que Jesus apenas impusesse as mãos sobre ele. Mas Jesus foi muito além do pedido. Ele levou o homem para longe da multidão, colocou os dedos nas orelhas e com saliva tocou na língua, olhou para o céu, fez um suspiro profundo e disse: “Éfata!”, isto é, “Abra-se!” No mesmo instante, os ouvidos do surdo se abriram, a língua se desprendeu e o homem começou a falar corretamente. Jesus quer que o povo abra o ouvido e solte a língua!

* Marcos 7,36-37: Jesus não quer publicidade.
“Jesus recomendou com insistência que não contassem nada a ninguém. No entanto, quanto mais ele recomendava, mais eles pregavam. Estavam muito impressionados e diziam: "Jesus faz bem todas as coisas. Faz os surdos ouvir e os mudos falar". Ele proíbe a divulgação da cura, mas não adiantou. Quem teve experiência de Jesus, vai contar para os outros, queira ou não queira! As pessoas que assistiram à cura começaram a proclamar o que tinham visto e resumiram a Boa Notícia assim: "Jesus faz bem todas as coisas. Faz os surdos ouvir e os mudos falar". Esta afirmação do povo faz lembrar a criação, onde se diz: “Deus viu que tudo era muito bom!”(Gn 1,31). E evoca ainda a profecia de Isaías, onde este diz que no futuro os surdos vão ouvir e os mudos vão falar (Is 29,28; 35,5. cf Mt 11,5).

* A recomendação de não contar nada a ninguém.
Às vezes, se exagera a atenção que o evangelho de Marcos atribui à proibição de divulgar a cura, como se Jesus tivesse um segredo a ser preservado. Na maioria das vezes que Jesus faz um milagre, ele não pede silêncio. Uma vez até pediu publicidade (Mc 5,19). Algumas vezes, porém, ele dá ordem para não divulgar a cura (Mc 1,44; 5,43; 7,36; 8,26), mas ele obtém o resultado contrário. Quanto mais proíbe, tanto mais a Boa Nova se espalha (Mc 1,28.45; 3,7-8; 7,36-37). Não adianta proibir! Pois a força interna da Boa Nova é tão grande que ela se divulga por si mesma!

* Abertura crescente no evangelho de Marcos
Ao longo das páginas do evangelho de Marcos há uma abertura crescente em direção aos outros povos. Assim, Marcos leva os leitores e as leitoras a abrir-se, aos poucos, para a realidade do mundo ao redor e a superar os preconceitos que impediam a convivência pacífica entre os povos. Na sua passagem pela Decápole, região pagã, Jesus atende ao pedido do povo do lugar e cura um surdo gago. Ele não tem medo de contaminar-se com a impureza de um pagão, pois ao curá-lo, toca-lhe os ouvidos e a língua. Enquanto as autoridades dos judeus e os próprios discípulos têm dificuldades de escutar e entender, um pagão que era surdo e gago passa a ouvir e a falar pelo toque de Jesus. Lembra o cântico do servo “O Senhor Iahweh abriu-me os ouvidos e eu não fui rebelde” (Is 50,4-5). Ao expulsar os vendedores do templo, Jesus critica o comércio injusto e afirma que o templo deve ser casa de oração para todos os povos (Mc 11,17). Na parábola dos vinhateiros homicidas, Marcos faz alusão ao fato de que a mensagem será tirada do povo eleito, os judeus, e será dada aos outros, aos pagãos (Mc 12,1-12). Depois da morte de Jesus, Marcos apresenta a profissão de fé de um pagão ao pé da cruz. Ao citar o centurião romano e seu reconhecimento de Jesus como Filho de Deus, está dizendo que o pagão é mais fiel do que os discípulos e mais fiel do que os judeus (Mc 15,39). A abertura para os pagãos aparece de maneira muito clara na ordem final dada por Jesus aos discípulos, depois da sua ressurreição: ”Ide por todo o mundo, proclamai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15).

Para um confronto pessoal
1. Jesus teve muita abertura para as pessoas de outra raça, de outra religião e de outros costumes. Será que nós cristãos hoje temos a mesma abertura? Será que eu tenho?
2. Definição da Boa Nova: “Jesus fez bem todas as coisas!” Sou Boa Nova de Deus para os outros?

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