V Centenário do Nascimento (1515-2015) |
Comentário: Fray Josep Mª MASSANA i Mola OFM (Barcelona,
Espanha)
Se alguém quer vir após
mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me
Hoje
é a primeira quinta-feira da Quaresma. Ainda temos fresca as cinzas que a
Igreja nos punha ontem sobre a testa, e que nos introduzia neste tempo santo,
que é uma trajetória de quarenta dias. Jesus, no Evangelho, nos ensina duas
rotas: o Via Crucis que Ele deve recorrer, e nosso caminho em seu seguimento.
Sua
senda é o Caminho da Cruz e da morte, mas também o de sua glorificação: «E acrescentou:
«O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes
dos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto, e ressuscitar no terceiro
dia» (Lc 9,22). Nossa senda, não é essencialmente diferente da de Jesus, e nos
assinala qual é a maneira de segui-lo: «Depois Jesus disse a todos: «Se alguém
quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga» (Lc
9,23).
Abraçado
a sua Cruz, Jesus seguia a Vontade do Pai; nós, carregando a nossa sobre os
ombros, o acompanhamos em sua Via Crucis.
O
caminho de Jesus se resume em três palavras: sofrimento, morte, ressurreição.
Nosso Sendero também é constituído por três aspectos (duas atitudes e a
essência da vocação cristã): negarmos a nós mesmos, tomar cada dia a cruz e acompanhar
a Jesus.
Se
alguém não se nega a si mesmo e não toma a cruz, quer afirmar-se e ser o mesmo,
quer «salvar sua vida», como diz Jesus. Mas, querendo salvá-la, a perderá. Em
compensação, quem não se esforça por evitar o sofrimento e a cruz, por causa de
Jesus, salvará sua vida. É o paradoxo do seguimento de Jesus: «De fato, que
adianta um homem ganhar o mundo inteiro, se perde e destrói a si mesmo? » (Lc
9,25).
Esta
palavra do Senhor, que encerra o Evangelho de hoje, agitou o coração de Santo
Inácio e provocou sua conversão: «Que aconteceria se eu fizesse o que fez São
Francisco e isso que fez Santo Domingo? ». Tomara que nesta Quaresma a mesma
palavra nos ajude também a converter-nos!
Reflexões de Frei Carlos
Mesters, O.Carm
*
Ontem entramos na Quaresma. Até agora a liturgia diária seguia o evangelho de
Marcos, passo a passo. A partir de hoje até o dia de Páscoa, a sequência das
leituras diárias será dada pela tradição antiga da quaresma com suas leituras
próprias, já fixas, que nos ajudarão a entrar no espírito da quaresma e da
preparação para a Páscoa. Já desde o primeiro dia, a perspectiva é a Paixão,
Morte e Ressurreição e o significado deste mistério para a nossa vida. É o que
nos é proposto pelo texto bem pequeno do evangelho de hoje. O texto fala da
paixão, morte e ressurreição de Jesus e afirma que o seguimento de Jesus
implica em carregar a cruz atrás de Jesus.
*
Pouco antes em Lucas 9,18-21, Jesus tinha perguntado: “Quem diz o povo que eu
sou?”. Eles responderam relatando as várias opiniões: - “João Batista”. - “Elias ou um dos antigos profetas”. Depois
de ouvir as opiniões dos outros, Jesus perguntou: “E vocês, quem dizem que eu
sou?”. Pedro respondeu: “O Cristo de Deus!”, ou seja, o senhor é aquele que o
povo está esperando! Jesus concordou com Pedro, mas proibiu de falar sobre isto
ao povo. Por que Jesus proibiu? É que naquele tempo todos esperavam o messias,
mas cada um do seu jeito: uns como rei, outros como sacerdote, doutor,
guerreiro, juiz, ou profeta! Jesus pensa diferente. Ele se identifica com o
messias servidor e sofredor, anunciado por Isaías (Is 42,1-9; 52,13-53,12).
*
O primeiro anúncio da paixão. Jesus
começa a ensinar que ele é o Messias Servidor e afirma que, como o Messias
Servidor anunciado por Isaías, será preso e morto no exercício da sua missão de
justiça (Is 49,4-9; 53,1-12). Lucas costuma seguir o evangelho de Marcos, mas
aqui ele omitiu a reação de Pedro que desaconselhava Jesus de pensar no messias
sofredor e omitiu também a dura resposta: “Vá embora Satanás! Você não pensa as
coisas de Deus, mas as dos homens!” Satanás é uma palavra hebraica que
significa acusador, aquele que afasta os outros do caminho de Deus. Jesus não
permite que Pedro o afaste da sua missão.
*
Condições para seguir Jesus. Jesus tira as conclusões que valem até hoje: Quem
quiser vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me! Naquele
tempo, a cruz era a pena de morte que o império romano impunha aos criminosos
marginais. Tomar a cruz e carregá-la atrás de Jesus era o mesmo que aceitar ser
marginalizado pelo sistema injusto que legitimava a injustiça. Era o mesmo que
romper com o sistema. Como dizia Paulo na carta aos Gálatas: “O mundo é um
crucificado para mim, e eu um crucificado para o mundo” (Gl 6,14). A Cruz não é
fatalismo, nem é exigência do Pai. A Cruz é a consequência do compromisso
livremente assumido por Jesus de revelar a Boa Nova de que Deus é Pai e que,
portanto, todos e todas devem ser aceitos e tratados como irmãos e irmãs. Por
causa deste anúncio revolucionário, ele foi perseguido e não teve medo de dar a
sua vida. Prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão.
Para um confronto
pessoal
1) Todos esperavam o messias, cada um do
seu jeito. Qual o messias que eu espero e que o povo hoje espera?
2) A condição para seguir Jesus é a
cruz. Como me situo frente às cruzes da vida?
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