quarta-feira, 29 de outubro de 2014

V Centenário Teresiano

UNIDADE DE VIDA.
          
O problema formativo e vital mais grave de um cristão comprometido é, possivelmente, como integrar em harmoniosa unidade a ação e a oração, o compromisso e o culto a Deus, a luta e a contemplação.
Em Teresa não há esta contradição, nem oposição e nem sequer primazia de uma e subordinação de outra. Não há outro dilema do que amar ou não amar. Nem outra primazia do que a do amor. Só o amor tem valor absoluto. Só o amor conta. “Só o amor dá valor a todas as coisas e, que seja tão grande que nenhuma lhe estorve a amar, é o mais necessário” Quando se põe a salvo o amor, qualquer forma em que se expresse — oração ou apostolado — adquire o valor pleno da expressão de fé.
Teresa não procede nestes casos por oposição exclusivista (ação ou contemplação) mas por integração amorosa (oração e ação). Um mesmo amor, estas duas expressões complementares, cada uma das quais matiza e põe em relevo um aspecto da vocação cristã ao amor.
A oração e a ação são imanentes um ao outro: um apóstolo é orante ou deixa de ser apóstolo

A ORAÇÃO FORJA APÓSTOLOS:

A oração descobre-nos o homem como destinatário de tudo o que Deus nos deu.
O homem só aparece como próximo, como irmão, no coração de Deus. “Não chegaremos a ter com perfeição o amor do próximo, se não nascer da raiz do amor de Deus.”
Teresa acredita que é possível assegurar o “ser de Deus” para que o “ser para o homem” adquira todo o seu realismo, toda a sua radical idade.
A identificação do “ser de Deus” é a única maneira de identificar cristãmente o “ser para o homem”, dando-lhe conteúdo.
A oração é para servir. “Ande a verdade em vossos corações pela oração ... e vereis claramente o amor que somos obrigadas a ter ao próximo”
A oração capacita e fortalece para o serviço. “Não para gozar, mas sim para ter essas forças para servir, desejemos e ocupemo-nos da oração” Quanto mais adiante estão na oração, mais acodem às necessidades do próximo”.
A oração mete a alma no tormento pelos outros: “Não há presente maior que Deus possa dar-nos do que uma vida que seja imitando a que viveu seu Filho”.
Entrar em Deus é fazer a descoberta de seu amor pelo homem. Por isso, amá-lo é converter-se ao homem.
A oração é força de e para o serviço. O serviço é a medida da oração, é o que a autentica e o que a expressa. — “Não pode haver descanso para os que chegam ao cume do processo de oração”
A comunhão com Deus é comunhão com o Deus que ama os homens, é comunhão de serviço, solidariedade no compromisso.
O que conta para Teresa no apostolado não são as obras, mas a qualidade do testemunho.

A ORAÇÃO É APOSTÓLICA:

Palavra mais apropriadamente teresiana: a oração em si mesma é um serviço apostólico. - “Todas ocupadas em oração pelos defensores da Igreja e pregadores que a defendem”
A oração de Teresa e de suas freiras sempre foi fundada num grande cuidado pelo aumento da fé católica. Teresa não vai à oração para se santificar, para se tomar melhor, mas para que os outros aproveitem, para servir e fazer algo pelo próximo. — “A vossa oração há de ser para o proveito das almas”.
Na oração é apóstola. E testemunha. A oração é uma alma apostólica, força posta ao serviço da unidade e da vitalização da Igreja.
Nada prova tanto a verdadeira oração como a sede de almas que comporta. E a prova de sua autenticidade.

O APOSTOLADO É EXPRESSÃO DE AMOR:

Como não se improvisa amor e compromisso de serviço, também não se improvisa o apóstolo.
O apóstolo forma-se em longas horas de intimidade com o Mestre. Ele não transmite uma doutrina, comunica uma Vida; não anuncia verdades, mas proclama a Verdade de uma pessoa. O apóstolo fala do que viu e ouviu.
O apóstolo tem que ir se fazendo, aprofundando na própria experiência de Deus, sem se deixar enganar pelo serviço apostólico — “Pois o que mais havemos de procurar ao princípio é de cuidar só da nossa própria alma fazendo de conta que não há na terra sendo Deus e ela”. — Não é egoísmo, é prudência.
“Quem quiser fazer algum bem, precisa ter as virtudes muito fortes”. — explicar-se-ia a nossa escassa eficiência apostólica e por-se-ia o problema pastoral, não tanto como questão de programas e métodos, de escassez de operários, mas como questão de qualidade, de profundidade no apóstolo enviado.
As pressas para fazer apostolado são tentações para abortar o apóstolo de amanhã.
“As obras de Deus não se medem pelo tempo” — não são as obras e o tempo que fazem o apóstolo, que medem a estatura apostólica de uma pessoa, mas a raiz donde saem, a qualidade do seu amor. Teresa converte, por isso a pressa de fazer em pressa de ser.

APOSTOLADO E CRESCIMENTO ESPIRITUAL:

Deus Não está sujeito aos caminhos que o homem traça para chegar a Ele. E Ele quem abre os caminhos. “Não precisa a alma de procurar os caminhos nem de os escolher ... Vós, Senhor meu, tomais esse cuidado de a guiar por onde mais lhe aproveita”.
Não é falta de tempo para orar que impede o adiantamento espiritual, mas a falta de amor.
Não é o excesso de apostolado que atenta contra a vida do Espírito, mas o excesso de egoísmo, que tanto pode se dar na oração como nos compromissos apostólicos.
“Para alcançar a verdadeira união ... fazer que a minha vontade seja uma com a de Deus”
“O verdadeiro amante em toda parte ama e sempre se lembra do Amada Triste coisa seria que só pelos cantos se pudesse fazer oração”.
A oração é o exercício do amor. Se se assegura o amor, há oração, com ou sem solidão.
O trabalho pode encurtar o tempo da oração, mas não a própria oração, a sua intensidade penetrante, e por isso mesmo, transformante e renovadora. — “O que aproveita à alma não é o largo tempo de oração.  Não é o tempo, “mas o amor que dá valor às coisas”.
Porém, o que deveras trabalha na obra de Deus experimenta sempre dentro de si a necessidade do encontro com o Amado a sós.

UNIDADE DE VIDA:

O apostolado começa quando a oração é, mais do que um tempo, uma vida. E a oração atinge realmente Deus quando faz estremecer o homem com as exigências do compromisso e do serviço, de ação em favor do próximo — “crede-me que Marta e Maria hão de andar sempre juntas”.
Para Teresa, o tipo puro de cristão não é o contemplativo ou o apóstolo, mas o resultado de união existencial de oração e compromisso.
A unidade de vida significa que o homem, seja qual for o tão que realize, está todo ele presente, desde dentro, a Deus e aos homens, em unidade de amor. Estar presente de verdade diante de Deus e com Deus e diante dos homens e com os homens simultaneamente.
“Na atividade ... opera o interior”
“Só o amor é que dá valor a todas as nossas obras” — é ele quem realiza e dá valor e unidade à nossa vida.

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