segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Terça-feira da 28ª semana do Tempo Comum

Evangelho (Lc 11,37-41): Naquele tempo, enquanto Jesus estava falando, um fariseu o convidou para jantar em sua casa. Jesus foi e pôs-se à mesa. O fariseu ficou admirado ao ver que ele não tinha feito a lavação ritual antes da refeição. O Senhor disse-lhe: Vós, fariseus, limpais por fora o copo e a travessa, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades. Insensatos! Aquele que fez o exterior não fez também o interior? Antes, dai em esmola o que está dentro, e tudo ficará puro para vós.

Comentário: Rev. D. Pedro IGLESIAS Martínez (Rubí, Barcelona, Espanha)

Antes, dai em esmola o que está dentro, e tudo ficará puro para vós.

Hoje, o evangelista situa a Jesus num banquete: Um fariseu rogou-lhe que fora a comer com ele (Lc 11,37). A boa hora teve tal ocorrência! Que cara deveu pôr o anfitrião quando o convidado saltou a norma ritual de se lavar (que não era um preceito da Lei, senão da tradição dos antigos rabinos) e, além disso, lhes censurou categoricamente a ele e ao seu grupo social. O fariseu não acertou no dia e, o comportamento de Jesus, como dizemos hoje, não foi politicamente correto.

Os evangelhos mostram-nos que ao Senhor lhe importava pouco o que dirão e o politicamente correto; por isso, pese a quem pese, ambas as coisas não devem ser norma de atuação de quem se considere cristão. Jesus condena claramente a atuação própria da dupla moral, a hipocrisia que procura conveniência ou o engano: Vós, fariseus, limpais por fora o copo e a travessa, mas o vosso interior está cheio de roubos e maldades (Lc 11,39). Como sempre, a Palavra de Deus nos interpela sobre usos e costumes de nossa vida quotidiana, na que acabamos convertendo em valores ciladas que tentam dissimular os pecados de soberbia, egoísmo e orgulho, numa tentativa de globalizar a moral no politicamente correto, para não destoar e não ficar marginados, sem que importe o preço a pagar, nem como enegreçamos nossa alma, pois, afinal de contas, todo mundo o faz.

Dizia São Basílio que de nada deve fugir o homem prudente tanto como de viver segundo a opinião dos demais. Se somos testemunhas de Cristo, temos de saber que a verdade sempre é e será verdade, ainda que chovam chuços. Esta é nossa missão no meio dos homens com quem compartilhamos a vida, tentando nos manter limpos segundo o modelo de homem que Deus nos revela em Cristo. A limpeza do espírito passa acima das formas sociais e, se em algum momento surge-nos a dúvida, lembre-se que os limpos de coração verão a Deus. Que a cada um escolha o objetivo de sua mirada para toda a eternidade.

Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.

* No evangelho de hoje continua o relacionamento tenso entre Jesus e as autoridades religiosas daquele tempo. Apesar de tenso, havia algo de familiar entre Jesus e os fariseus. Convidado para jantar na casa deles, Jesus aceita o convite. Jesus não perde a liberdade diante deles, nem os fariseus diante de Jesus.

* Lucas 11,37-38: Admiração do fariseu diante da liberdade de Jesus
“Enquanto Jesus falava, um fariseu o convidou para jantar em casa. Jesus entrou, e se pôs à mesa. O fariseu ficou admirado ao ver que Jesus não tinha lavado as mãos antes da refeição”. Jesus aceita o convite para jantar na casa do fariseu, mas não muda o seu modo de agir, pois se senta à mesma sem lavar as mãos. Nem o fariseu muda de atitude frente a Jesus, pois expressa a sua admiração pelo fato de Jesus não lavar as mãos. Naquele tempo, lavar as mãos antes das refeições era uma obrigação religiosa, imposta ao povo em nome da pureza, exigida pela lei de Deus. O fariseu estranhou o fato de Jesus não observar esta norma religiosa. Mesmo assim, apesar de totalmente diferentes, o fariseu e Jesus tinham algo em comum: a seriedade de vida. O jeito de viver dos fariseus era assim: cada dia, dedicavam oito horas ao estudo e à meditação da lei de Deus, outras oito horas ao trabalho para poder sobreviver com a família e oito horas ao descanso. Este testemunho sério da sua vida dava a eles uma grande liderança popular. Talvez seja por isso, que, apesar de totalmente diferentes, os dois, Jesus e os fariseus, se entendiam e se criticavam mutuamente, sem perder a possibilidade do diálogo.

* Lucas 11,39-41: A resposta de Jesus
“Vocês, fariseus, limpam o copo e o prato por fora, mas o interior de vocês está cheio de roubo e maldade. Gente sem juízo! Aquele que fez o exterior, não fez também o interior? Antes, deem em esmola o que vocês possuem, e tudo ficará puro para vocês”. Os fariseus observavam a lei ao pé da letra. Olhavam só a letra e, por isso, eram incapazes de perceber o espírito da lei, o objetivo que a observância da lei queria alcançar na vida das pessoas. Por exemplo, na lei está escrito: “Ame o seu próximo como a si mesmo” (Lv 19,18). E eles comentavam: “Devemos amar o próximo, sim, mas só o próximo, os outros não!” E daí nascia a discussão em torno da questão: “Quem é meu próximo?” (Lc 10,29) O apóstolo Paulo escreve na sua segunda carta aos Coríntios: “A letra mata, é o espírito que dá vida à letra” (2Cor 3,6). No Sermão da Montanha, Jesus critica os que observam a letra da lei mas transgridem o espírito da lei (Mt 5,20). Para ser fiel ao que Deus pede de nós não basta observar só a letra da lei. Isto seria o mesmo que limpar o copo e o prato por fora e deixar o interior cheio de sujeira: roubo e maldade. Não basta não matar, não roubar, não cometer adultério, não jurar. Só observa plenamente a lei de Deus aquele que, para além da letra, vai até à raiz e arranca de dentro de si os desejos de “roubo e de maldade” que possam levar ao assassinato, ao roubo, ao adultério. É na prática do amor que se realiza a plenitude da lei (cf. Mt 5,21-48).

Para um confronto pessoal
1) Nossa Igreja hoje merece esta acusação de Jesus contra os escribas e fariseus? Eu mereço?
2) Respeitar a seriedade de vida dos outros que pensam diferente de nós pode facilitar o diálogo tão necessário e tão difícil hoje em dia. Como pratico o diálogo na família, no trabalho e na comunidade?

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